domingo, 7 de setembro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Foram eles os responsáveis pela Petrobras ter sido entregue à uma quadrilha. Eles não podem fugir dessa responsabilidade. Isso não pode ser algo esclarecido apenas pelos escalões inferiores da empresa. É um problema da presidência da República. Os presidentes possuem uma vinculação direta com a empresa. Também não podemos nos esquecer que Dilma foi presidente do Conselho Deliberativo. Todos os presidentes e diretores que lá entraram foram nomeados por eles. Lula e Dilma não podem se omitir. A Petrobras não é uma empresa qualquer.

Roberto Freire é presidente nacional do PPS e deputado federal (SP). Declaração em entrevista, S. Paulo, 6 de setembro de 2014.

Delação de ex-diretor da Petrobrás gera apreensão em campanha de Dilma

• Paulo Roberto Costa citou como beneficiários de propina o ministro Edison Lobão, os ex-governadores Sergio Cabral (RJ) e Eduardo Campos (PE) e a atual governadora Roseana Sarney (MA), além de parlamentares aliados, afirma revista ‘Veja’

Ricardo Galhardo, Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A 28 dias da eleição, as revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal, colocaram em alerta o Palácio do Planalto e o comando da campanha da presidente Dilma Rousseff. Após Costa denunciar um esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás, beneficiando cinco partidos, incluindo o PT e o PMDB, petistas temem que o tema da corrupção domine a disputa de agora em diante e ressuscite no eleitorado a memória do mensalão.

Em depoimentos à Polícia Federal na tentativa de fechar um acordo de delação premiada, Costa citou como beneficiários de um esquema de propinas na estatal o ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto, e políticos de partidos aliados à presidente Dilma, de acordo com a revista Veja. Na lista estão o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e o secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto.

São listados ainda seis senadores e pelo menos 25 deputados federais, entre os quais os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como antecipou o portal www.estadao.com.br, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI) e os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC) e o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte.

A suspeita é de que o esquema – com pagamento de uma comissão de 3% sobre o valor de cada contrato da Petrobrás assinado durante a passagem de Costa pela estatal (2004 a 2012) – abastecia as campanhas eleitorais. A reportagem da revista não traz detalhes nem documentos que comprovem a participação dos políticos mencionados.

Defensiva. Embora o discurso oficial no comitê da reeleição de Dilma seja o de minimizar as denúncias feitas por Costa, sob o argumento de que ele não apresentou provas, ministros e dirigentes do PT admitem que o escândalo pode empurrar a presidente para a defensiva no momento em que sua principal adversária, a ex-ministra Marina Silva (PSB), parou de crescer, como indicam as mais recentes pesquisas de intenção de voto.

Dilma foi surpreendida na sexta-feira com o teor da delação premiada de Costa. Ela pediu informações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ainda na sexta-feira, mas ele não teve acesso ao depoimento do ex-diretor, preso pela Polícia Federal no rastro da Operação Lava Jato.
Insatisfeita, Dilma convocou uma reunião de emergência, à noite, com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio da Alvorada, para avaliar o impacto das denúncias em sua campanha. Em São Paulo, neste sábado, 6, ela conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Auxiliares de Dilma a orientaram a demonstrar compromisso com a apuração dos fatos, para neutralizar a agenda negativa. Foi por isso que, em entrevista neste sábado, 6, em São Paulo, a presidente afirmou que vai aguardar as explicações necessárias para tomar medidas efetivas. “Eu gostaria de saber direitinho quais são as informações prestadas nestas condições. Eu te asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Agora, não com base em especulação”, insistiu.

O diagnóstico no Planalto é o de que as acusações de Costa, se comprovadas, causarão um terremoto político na base aliada do governo, mas também na campanha de Marina Silva (PSB) devido à inclusão de Eduardo Campos na lista. Podem derrubar, ainda, a estratégia do PT de colar nos rivais o carimbo de “inimigos da Petrobrás”.

Instituição. Em Maceió neste sábado, 6, o vice-presidente da República, Michel Temer, que é presidente nacional do PMDB, afirmou que o caso não fere o partido “enquanto instituição”. “O PMDB, enquanto instituição, não tem nada a ver com isso”, afirmou. “A chamada delação premiada tem esses problemas, lança nomes. Ainda bem que está no STF. Quem vai conduzir isso é um ministro da melhor qualificação moral, intelectual e profissional”, disse, referindo-se ao ministro Teori Zavascki, que deve homologar o acordo de delação premiada.

Temer também avaliou que as novas denúncias terão efeito “zero” sobre a campanha de Dilma. “Não tem nada a ver com ela. O depoente, ou delator, até se mostra irritado com a atuação da Dilma, pelo que vi”, afirmou.

Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobrás na época da compra da refinaria de Pasadena (EUA). À PF, Costa disse que houve pagamento de propina nesse negócio, que causou prejuízo de US$ 792 milhões à empresa, de acordo com o Tribunal de Contas da União. Em março, o Estado revelou que Dilma votou a favor da compra da refinaria, quando comandava o conselho da estatal. Ela alegou que só aprovou a transação porque recebeu relatório “falho” sobre o assunto.

Propina da Petrobrás inclui governadores e ministro, diz revista

• Em depoimento de delação premiada, ex-diretor Paulo Roberto Costa cita envolvimento de Edison Lobão, Sérgio Cabral, Roseana Sarney e Eduardo Campos; nome de Renan foi antecipado pelo 'Estadão'

- O Estado de S. Paulo

Governadores de três Estados que receberam investimentos da Petrobrás – Eduardo Campos, de Pernambuco, Sérgio Cabral, do Rio, e Roseana Sarney, do Maranhão – foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, em depoimentos à Polícia Federal, como supostos beneficiários do esquema de desvios de recursos e lavagem de dinheiro investigado na Operação Lava Jato. O ex-governador e então candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, morreu em um acidente aéreo no dia 13 de agosto, no litoral paulita.

Segundo informa a revista Veja desta semana, também estão na lista de citados por Costa o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além de seis senadores e pelo menos 25 deputados federais. O portal estadão.com.br antecipou, na tarde de sexta-feira, 5, que o ex-diretor havia revelado à PF os nomes de pelo menos 30 parlamentares que teriam recebido dinheiro do esquema. Entre eles, estaria o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

De acordo com a revista, Paulo Roberto Costa também teria mencionado o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), além dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR). Entre os deputados, estariam Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC).
Foram citados ainda pelo ex-diretor da estatal o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que faria a “ponte” do esquema com o partido. O nome de Vaccari já havia aparecido nas investigações da Operação Lava Jato. Ele teria visitado empresas do doleiro Alberto Youssef, a principal engrenagem do esquema investigado na operação da PF.

Nas conversas com a PF, o ex-diretor teria dito que, quando estava na Petrobrás, entre 2004 e 2012, conversou diretamente com o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para tratar de assuntos da empresa. Nos bastidores políticos, Costa era apontado como um homem que resolvia problemas.

Segundo a revista, Costa demonstrou “mágoa” em relação à presidente Dilma Rousseff, que foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil na época em que ele atuava na estatal. Isso porque ela ataca abertamente os ex-diretores pegos na investigação, embora tenha sido indiretamente beneficiada pelo esquema. O esquema, diz a revista, teria funcionado até 2012, servindo para garantir a base de apoio político a Dilma no Congresso nos dois primeiros anos de seu mandato. Mas, até o momento, Costa nada disse que incriminasse a presidente.

O conteúdo das conversas com o ex-presidente Lula ainda será detalhado pelo ex-diretor. Da mesma forma, ele ainda vai explicar a participação de cada um dos políticos no esquema.

Nas mais de 40 horas de depoimentos, dados num esquema de delação premiada, Costa tem ajudado os investigadores a mapearem o esquema que se instalou na Petrobrás. Ele confirmou o que já era suspeita: que, para fechar contratos com a estatal, as empresas eram obrigadas a pagar um “pedágio”.

Esses recursos eram “lavados”, com a ajuda de Youssef, e depois utilizados para irrigar a base aliada do governo no Congresso.

Esse esquema teria funcionado, por exemplo, na compra da refinaria de Pasadena (EUA), que causou prejuízo de US$ 792 milhões para a estatal, segundo o Tribunal de Contas da União. Segundo a revista, Costa teria dito que esse negócio também serviu para distribuir recursos a partidos aliados. A compra da refinaria passou a ser investigada por duas CPIs depois que o Estado revelou, em março, que o negócio teve a bênção de Dilma, então presidente do conselho de administração da estatal. Pasadena será tema de depoimento específico. O delegado responsável vai a Curitiba, onde Costa está preso, para ouvi-lo.

A Veja diz que Costa decidiu contar o que sabe porque teme repetir a história do publicitário Marcos Valério. Operador do mensalão, Valério optou pelo silêncio e acabou condenado a quase 40 anos de prisão.

As informações de Costa estão sendo repassadas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal. Eles entraram no caso porque as denúncias atingem políticos com direito a foro privilegiado.

Uruguai. Em outra reportagem, a revista relata negócios suspeitos no ramo imobiliário de outro ex-diretor da Petrobrás investigado no caso Pasadena, Nestor Cerveró. O apartamento em que ele viveu durante cinco anos na zona sul do Rio, avaliado em R$ 7,5 milhões, pertence a uma offshore uruguaia que tem como representante no Brasil o advogado Marcelo Oliveira Mello, que seria amigo do ex-diretor.

Dilma quer mais informações sobre denúncias contra PT e partidos da base

• Paulo Roberto Costa apontou ligação de parlamentares, governadores e um ministro com desvios de dinheiro da estatal

Danilo Fariello, Simone Iglesias, Vinícius Sassine, Maria Lima, Chico Otávio e Washington Luiz - O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff disse que precisa de mais informações sobre as novas denúncias do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, envolvendo políticos em um esquema de corrupção na estatal, para tomar "as providências cabíveis". Numa série de depoimentos após acordo de delação premiada, o ex-diretor apontou o envolvimento de deputados, senadores, governadores e de pelo menos um ministro com desvios de dinheiro de contratos da estatal com grandes empresas.

Ao chegar para um encontro com mulheres, em São Paulo, a presidente disse:

- Gostaria de saber direito quais são as informações prestadas nessas condições (processo criptografado e depoimentos sigilosos) e asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Não com base em especulações. Acho que as informações são essenciais e são devidas ao governo. Caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas - disse ela, encerrando a entrevista antes do evento.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), vai solicitar na segunda-feira a convocação de uma reunião de emergência para deliberar sobre as novas denúncias envolvendo a empresa ao presidente da CMPI da Petrobras, senador Vital do Regô (PMDB-PB). O parlamentar vai também enviar requerimento pedindo cópias de todos os depoimentos prestados à Polícia Federal por Paulo Roberto Costa, incluindo os vídeos.

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, fez um discurso duro contra as denúncias. Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, o tucano disse que o país está vivendo um "mensalão 2". Segundo ele, dinheiro público está sendo usado "para sustentar gente de poder".

- O Brasil acordou perplexo com o grau das denúncias. Estamos vivendo um mensalão dois, com dinheiro público sendo sugado para sustentar gente de poder. Poucas vezes na história desse país vimos tanta desfaçatez - disse ele.

Conforme noticiou hoje O GLOBO, “Folha de S. Paulo” e o “Estado de S. Paulo”, ex-diretor da Petrobras apontou o nome de pelo menos 25 políticos de cinco partidos em depoimento à Polícia Federal, em Curitiba, após acordo de delação premiada. Um dos principais focos da investigação da PF e do Ministério Público Federal são contratos de empreiteiras com a refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco. Segundo a Receita Federal, empreiteiras com contratos com a refinaria repassaram entre 2009 e 2013 R$ 90 milhões para a MO Consultoria, empresa do doleiro Alberto Youssef, acusado de lavagem de dinheiro. Os valores seriam repassados a políticos para financiamento de partidos, como uma espécie de continuação do mensalão.

Reportagem publicada neste sábado pela revista “Veja” afirma que Costa citou os nomes dos ex-governadores Sergio Cabral (RJ), Eduardo Campos (PE) e da atual governadora Roseana Sarney (MA). Nos três estados, a Petrobras mantém investimentos bilionários. Segundo a revista, o nome do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves.

A reportagem não indica todos os nomes citados no depoimento, mas entre os parlamentares estão os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMBD-RR) e os deputados João Pizzolatti (PP-SC), Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Mario Negromonte (PP-BA), além do secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto.

Políticos envolvidos nas denúncias negam qualquer relação com o esquema de corrupção e recebimento de propina. Em nota, o ex-governador Sérgio Cabral disse que, quando foi eleito, em 2006 Paulo Roberto já era diretor da Petrobras. Ele garantiu que, durante sete anos e três meses, "jamais indicou ou interferiu nas nomeações do governo federal, tampouco nas decisões gerenciais da Petrobras". O ex-governador repudiou a inclusão de seu nome "em qualquer dos fatos supostamente relatados pelo ex-diretor".

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), afirma ter ficado indignada com as denúncias e que nunca participou de “nenhum esquema de corrupção”. Roseana diz que tomará “todas as medias cabíveis” para defender sua honra.

Em Maceió, durante ato de campanha, o presidente do Senado negou as acusações e disse que a delação premiada foi usada para fins políticos.

- Acho que a delação premiada, quando se faz para atingir pessoas e beneficiar outras, tem que agravar a pena. Acho que esse é o aprendizado que o Brasil vai passar. Há o uso político claro da delação premiada.

Também em Maceió, o vice-presidente, Michel Temer, defendeu cautela sobre as novas denúncias.

- Tudo isso está agora no Supremo Tribunal Federal. O PMDB, enquanto instituição, não tem nada a ver com isso. A delação premiada tem os seus problemas. E isso precisa ser levado com muito cuidado para que não haja acusações que possa a vir a ser infundadas.

Quando perguntado se as denúncias afetariam a campanha à reeleição de Dilma, ele disse:

- Zero. Não afeta a campanha da Dilma.

O secretário de Finanças do PT trata de “mentirosas” as declarações do ex-diretor. Vaccari afirma nunca ter ido à sede da estatal e que não arrecada recursos em empresas do governo porque é proibido pela lei. Em nota, o tesoureiro petista diz que nunca “tratou de assunto relativo ao partido com o senhor Paulo Roberto Costa. Assim, é absolutamente mentirosa a declaração de que tenha havido qualquer tratativa, seja pessoal, por e-mail ou mesmo telefônica, com o referido senhor a respeito de doações financeiras ou qualquer outro assunto.”

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirmou “repudiar” o que chamou de “insinuações” feitas pela revista. Por meio de nota, o senador “nega ter recebido qualquer recurso por meio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto e que conhece o diretor de maneira institucional”.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), citado como beneficiário do esquema, disse que não conhecia e que não "operava" com Costa. Em nota, ele sustentou que nunca fez qualquer negociação com o ex-diretor da Petrobras.

– Não vou falar sobre esse assunto, pois o que eu falar é que vai virar notícia. Vou tratar desse assunto depois da eleição. Existe uma campanha (da revista "Veja") contra mim, é uma sacanagem. Eu nem sabia desses contratos (das empreiteiras com a Petrobras) – disse o parlamentar.

A reportagem não conseguiu contato com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Ciro Nogueira, presidente do PP; e com deputado federal João Pizzolatti (PP-SC). A reportagem tentou falar com eles por meio de ligações telefônicas e mensagens de texto. O ministro Edson Lobão (Minas e Energia) também não foi localizado.

Suspeitas de compra de imóvel de Cerveró em Ipanema
Segundo a revista “Veja”, o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, envolvido na polêmica da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, teria alugado durante cinco anos um apartamento em Ipanema, no Rio, adquirido por uma empresa uruguaia e posteriormente transferido para um laranja, segundo reportagem da revista “Veja” desta semana.

De acordo com a revista, o imóvel foi comprado pela empresa Jolmey Soceidad Anonima, aberta em 2008 em Montevidéu. Ainda naquele ano, a empresa uruguaia passou a ser representada no Brasil por Marcelo Oliveira Mello, que atuou no departamento jurídico da Braspetro – subsidiária extinta que foi incorporada pela área internacional da Petrobras.

Segundo a revista, três meses após a aquisição do apartamento pela empresa uruguaia representada por Mello, uma administradora imobiliária teria alugado o imóvel para Patrícia, esposa de Cerveró. O advogado disse à revista que o imóvel ter sido alugado ao ex-colega fora “coincidência”.

Outra reportagem da revista revela que a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff - ligado a integrantes da ex-diretoria da Petrobras -, Meire Poza, foi ameaçada por um suposto advogado ligado a construtoras envolvidas no esquema do doleiro. Meire Poza tornou-se testemunha da Polícia Federal em investigações sobre a quadrilha de Youssef.

Aécio: “Estamos vivendo um mensalão 2'”

• Candidato do PSDB à Presidência comentou novas denúncias no interior de São Paulo

O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, fez neste sábado um discurso duro sobre as novas denúncias de que políticos se beneficiavam de um esquema de corrupção dentro da Petrobras. Numa série de depoimentos após acordo de delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa apontou o envolvimento de vários políticos, entre eles, deputados, senadores, governadores e de pelo menos um ministro com desvios de dinheiro de contratos da estatal com grandes empresas.

Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, o tucano disse que o país está vivendo um "mensalão 2". Segundo ele, o dinheiro público está sendo usado "para sustentar gente de poder".

- O Brasil acordou perplexo com o grau das denúncias. Estamos vivendo um “mensalão 2”, com dinheiro público sendo suado para sustentar gente de poder. Poucas vezes na história desse país vimos tanta desfaçatez - disse ele, em evento ao lado do governador Geraldo Alckmin, do candidato ao Senado, José Serra, e do vice, Aloysio Nunes Ferreira.

Para Aécio, as denúncias mostram um cenário vergonhoso.

- Só existe um instrumento para limpar a história da vida pública: investigação aprofundada. Vimos que, nesses últimos nove anos, o mensalão continua a existir e as lideranças do PT é que levaram a isso.

Sobre o envolvimento do nome de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco morto num acidente aéreo em 13 de agosto, Aécio foi cauteloso:

- Tenho todo cuidado para falar sobre isso porque não tive acesso às investigações mais especificamente.

Em sua conta no Facebook, o candidato à presidência postou um vídeo onde comentou as denúncias : “É fundamental que essas investigações possam ir ainda mais a fundo, para que os verdadeiros responsáveis pelo assalto às empresas brasileiras sejam punidos de forma exemplar. Estamos disputando essas eleições contra um grupo que utiliza o dinheiro sujo da corrupção para manter-se no poder. Por isso, eu acredito que chegou a hora de darmos um basta a isso e tirarmos, de forma definitiva, o PT do poder”.

Marina Silva chama de 'ilações' as denúncias que envolvem Eduardo Campos

• Candidata do PSB à Presidência disse que prefere aguardar as investigações sobre a Petrobras

- Agência A Tarde

BRUMADO (BA) – A candidata do PSB à Presidência Marina Silva chamou de “ilação” a denúncia de envolvimento do nome do governador de Pernambuco Eduardo Campos no suposto esquema de desvio de dinheiro da Petrobras denunciado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, após acordo de delação premiada. A informação foi publicada neste sábado pela revista “Veja”.

Segundo ela, o investimento da Petrobras no estado governado por Campos, que morreu em acidente aéreo no último dia 13, não daria direito de incluir o então candidato no rol dos que cometeram supostas “irregularidades".

Cautelosa, Marina Silva declarou que vai aguardar as apurações dos “desmandos da Petrobras”. Para ela, cabe ao governo federal explicar a “má governança que ele fez na Petrobras, levando essa empresa que sempre foi exitosa e respeitada dentro e fora do Brasil a quase uma total falência”. A candidata devolveu ainda as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a suposta ideia da candidata do PSB de colocar a exploração da camada do pré-sal em segundo plano, caso seja eleita.

- Quem ameaça o pré-sal é a corrupção que está assolando a Petrobras - afirmou.

Neste sábado, Marina, seu vice Beto Albuquerque, as candidatas ao governo, Lídice da Mata, e ao senado, Eliana Calmon, participaram de uma caminhada pelas ruas de Brumado, cidade do sudoeste baiano. Em seguida, todos se concentraram na região central da cidade para um comício. Com a praça cheia, Marina disse que seus adversários estariam tentando plantar várias inverdades a seu respeito, mas salientou que uma pessoa que teria passado “por tantas agruras nesta vida” não iria nunca acabar com o principal programa social do atual governo, o Bolsa Família.

- Quem pensa dessa forma está totalmente equivocado. Vamos sim é ampliá-lo e melhorá-lo ainda mais - prometeu a candidata, que afirmou que não pretende modificar os programas de construção de ferrovias federais e que vai provocar “a pororoca da mudança”.

O evento em Brumado começou com atraso porque Marina não quis que o avião que transportava sua comitiva pousasse no aeroporto da cidade, que pertence a uma mineradora. Preferiu desembarcar na vizinha cidade de Vitória da Conquista, onde teria agenda na parte da tarde, e seguir de carro numa viagem de duas horas para Brumado, para o primeiro evento de sua passagem pelo Sudoeste Baiano. De Vitória da Conquista, após outro comício, ela seguiu para o Ceará.

PPS pede reunião de emergência na CPI Mista

• PSDB também quer que denúncias de Costa sejam investigadas na comissão

- O Globo

BRASÍLIA - O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), disse que vai solicitar na segunda-feira ao presidente da CPI Mista da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a convocação de uma reunião de emergência para discutir as novas denúncias envolvendo a estatal.

O parlamentar também vai enviar requerimento pedindo cópias de todos os depoimentos prestados por Paulo Roberto Costa, incluindo os vídeos. Em nota, Bueno defendeu ainda que os conselhos de Ética da Câmara e do Senado investiguem os parlamentares envolvidos nas denúncias.

O presidente do PPS também se pronunciou sobre as denúncias. Roberto Freire, disse que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff são responsáveis diretos pelos esquemas de corrupção envolvendo a Petrobras. Em nota, Freire, que apoia a candidatura de Marina, cobrou que os dois deem satisfações sobre o caso: "Foram eles os responsáveis pela Petrobras ter sido entregue a uma quadrilha. Eles não podem fugir dessa responsabilidade. Isso não pode ser algo esclarecido apenas pelos escalões inferiores da empresa. É um problema da Presidência da República. Os presidentes possuem vinculação direta com a empresa. Também não podemos nos esquecer de que Dilma foi presidente do Conselho Deliberativo".

O coordenador jurídico da campanha de Aécio, deputado Carlos Sampaio (SP), disse que apresentará dois requerimentos na CPMI da Petrobras para que sejam apuradas as denúncias.


O delator entrega os nomes

• O ex diretor Paulo Roberto Costa lista mais de trinta políticos envolvidos com a corrupção na Petrobras e põe o governo no centro de um escanda lo de proporções idênticas às do mensalão.

Rodrigo Rangel - Veja

O engenheiro Paulo Roberto Costa já foi um dos homens mais poderosos da República. Indicado pelo mensaleiro José Janene (PP), ele ocupou a diretoria de Abastecimento e refino da Petrobras entre 2004 e 2012. Nesse período, passaram por seu gabinete decisões sobre aluguel de plataformas e navios, manutenção de gasodutos e construção de refinarias — e, junto com elas, interesses bilionários que despertavam a atenção de governos, parlamentares e empreiteiras. Paulinho, como era chamado pelo ex-presidente Lula, soube servir a tantos e tão variados senhores que, como de costume, logo passou a ser cortejado por eles. No Congresso, PT, PMDB e PP disputavam sua paternidade, tratavam-no como um afilhado dileto e elogiavam sua eficiência. Paulo Roberto era um exemplo a ser seguido, segundo seus padrinhos políticos. Foi assim até março deste ano, quando a Polícia Federal prendeu o ex-diretor sob a acusação de participar de um megaesquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef. Antes festejado, Paulo Roberto passou a assombrar os partidos, transformando-se num fantasma capaz de implodir candidaturas de relevo e jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão. E isso aconteceu.

As investigações já haviam revelado a existência de uma ampla rede de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da empresa, grandes empreiteiras, doleiros e políticos importantes. Funcionava assim: para terem acesso aos milionários contratos da estatal, as empreiteiras eram instadas a reverter parte de seus lucros aos cofres da organização. O dinheiro, depois de devidamente lavado por doleiros, era distribuído entre os políticos e os partidos da chamada base de sustentação do governo. Apesar das sólidas evidências que surgiram, faltava o elo mais importante da cadeia: a lista dos beneficiados, os corruptos, o nome de quem recebia ou se locupletava de alguma forma do esquema de arrecadação de propina. Não falta mais. Por medo de ser apontado como o único e principal responsável pelo esquema de corrupção que superfaturou e desviou recursos de projetos da Petrobras, Paulo Roberto topou negociar os termos de um acordo de delação premiada, instrumento legal pelo qual acusados têm direito à redução de pena ou até mesmo ao perdão judicial se colaborarem com as investigações, e identificou aqueles que seriam seus mais influentes parceiros.

Uma série de depoimentos do ex-diretor à Polícia Federal explica essa reviravolta e ajuda a esclarecer por que Paulo Roberto era tão admirado quando despachava na Petrobras e, agora, já atrás das grades, é tão temido na Praça dos Três Poderes. Colhidos desde o dia 29 de agosto, eles renderam mais de quarenta horas de conversas gravadas e, mais importante, deram aos delegados e procuradores um cardápio de políticos que, segundo o ex-diretor, se refestelaram nos poços bilionários da Petrobras. Aos investigadores, ele disse que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal. A alta octanagem das declarações provocou, de imediato, uma mudança na estratégia de investigação. Por envolver políticos detentores de foro privilegiado, que só podem ser processados nos tribunais superiores, o assunto passou a ser acompanhado pelo gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pelo Supremo Tribunal Federal.

Nos últimos dias, VEJA obteve detalhes de uma parte significativa das declarações prestadas pelo ex-diretor. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção. E o caso dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Entre os senadores estão Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR), o eterno líder de qualquer governo. Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos mais ativos integrantes da bancada do PP na Casa. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mário Negromonte, também do PP, é outro citado por Paulo Roberto como destinatário da propina. Da lista de três governadores citados pelo ex-diretor, todos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República, morto no mês passado em um acidente aéreo.

Pelo acordo, Paulo Roberto se comprometeu a detalhar o envolvimento de cada um dos políticos no esquema. Até por isso, estima-se que, para esgotar o que ele tem a dizer, pelo menos mais três semanas de depoimentos serão necessárias. Sobre o PT, ele afirmou que o operador encarregado de fazer a ponte com o esquema era o tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, cujo nome já havia aparecido nas investigações como personagem de negócios suspeitos do doleiro Alberto Youssef. Ao elaborar a lista de políticos e partidos envolvidos e empreiteiras que participavam do esquema (veja reportagem na pág. 70) e descrever a maneira como a propina era transposta de um lado para outro por vias clandestinas, Paulo Roberto Costa vem ajudando os investigadores a montar um quebra-cabeça cuja imagem, ao final, lembrará em muito outro grande escândalo recente da política: o esquema funcionou a pleno vapor nos últimos três governos do PT e tinha como objetivo manter intacta e fiel a base de sustentação no Congresso Nacional. Ao irrigar o caixa das siglas aliadas e o bolso de seus integrantes, a engrenagem ajudava a manter firme as alianças. Qualquer semelhança com o mensalão, portanto, não é mera coincidência — com a diferença de que, agora, as cifras giram na casa dos bilhões. Nas declarações que forneceu à polícia, Paulo Roberto não mede esforços para mostrar quanto era poderoso na estrutura criminosa. Já nas primeiras oitivas, ele fez questão de dizer que, na época em que era diretor da Petrobras, conversava frequentemente com o então presidente Lula — e costumava tratar com ele de assuntos da companhia. "Por várias vezes, tratei diretamente com o presidente Lula", declarou, numa das primeiras conversas com os investigadores. Da caixa de segredos de Paulo Roberto ainda há muito mais a sair. Ele se comprometeu a detalhar o conteúdo das conversas com o ex-presidente.

Os depoimentos têm sido colhidos por temas — e um deles, já programado, servirá para esclarecer um assunto que virou emblema da barafunda em que a Petrobras foi metida: a controversa compra da refinaria de Pasadena, no Estado americano do Texas. A estatal brasileira, como se sabe, gastou 1,2 bilhão de dólares num complexo que, pouco antes, havia sido arrematado por 42,5 milhões. Junto com Nestor Cerveró, seu colega de diretoria, Paulo Roberto foi um dos responsáveis por costurar o negócio. Em conversas preliminares, o agora delator admitiu aquilo de que já se desconfiava: segundo ele, a operação de aquisição de Pasadena também serviu para abastecer o caixa de partidos e para pagar propina a alguns dos envolvidos na transação. Nos próximos dias, Paulo Roberto prestará um depoimento específico sobre o assunto, em que deverá contar como o negócio foi engendrado e como o dinheiro pago a mais pela Petrobras foi parar em mãos erradas. O delegado encarregado do inquérito sobre Pasadena, que corre em Brasília, irá a Curitiba especialmente para ouvir o ex-diretor. Até meados da semana passada, ele não havia feito nenhuma acusação formal contra a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff, mas, sempre que havia alguma menção a ela, demonstrava mágoa profunda, e lembrava que na base das operações estão os políticos que apoiam o governo.

Aos mais próximos, por mais de uma vez ele se queixou da postura da petista. O argumento sempre foi o mesmo: ela ataca publicamente ex-diretores da Petrobras sem considerar que, politicamente, era beneficiária das engrenagens clandestinas que funcionavam na companhia, uma vez que o dinheiro sujo proveniente de lá ajudava a bancar a base de sustentação do governo no Congresso. Por que o ex-diretor resolveu contar o que sabe? A pessoas próximas ele confidenciou que não gostaria de repetir a história de Marcos Valério, o operador do mensalão, condenado a quarenta anos de cadeia enquanto os cabeças do esquema já estão à beira de deixar a prisão. A saída, então, foi partir para a delação premiada. O primeiro depoimento foi prestado na sexta-feira 29 de agosto. Desde então, as sessões para ouvi-lo têm sido diárias.

No prédio da Polícia Federal em Curitiba, Paulo Roberto Costa vem sendo interrogado por delegados e procuradores. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Ao final de cada sessão, todo o material é lacrado. Os arquivos são criptografados para evitar vazamentos. Tamanho cuidado não é por acaso: as revelações que emergem dos depoimentos de Paulo Roberto são explosivas e têm potencial para causar um terremoto político em Brasília. Já nos primeiros depoimentos, ele esmiuçou a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras. Admitiu, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, de contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes legendas da base aliada do governo. Em outras palavras, Paulo Roberto confirmou a existência de um megaesquema de cobrança de propina que funcionava no coração da maior companhia da América Latina — e confessou que a sua poderosa diretoria estava a serviço da engrenagem criminosa.

O esquema se estendia, segundo ele, a outras diretorias da Petrobras, e cada partido tinha seus encarregados de fazer a interligação entre os negócios e a política. O ex-diretor citou o PP, o PMDB e o PT como os principais beneficiários do propinoduto. Pouco antes de topar a delação premiada, Paulo Roberto fez chegar a seus velhos conhecidos uma declaração assustadora, especialmente para aqueles cujos nomes estarão nas urnas nas eleições de outubro. "Se eu falar, não vai ter eleição", disse. Perguntado pelos investigadores sobre o que queria dizer com a declaração, fez um pequeno reparo: "Pode até ter eleição, mas o estrago será grande". E começou a contar o que sabia.

Em busca dos inalcançáveis
O instrumento da delação premiada, se bem aplicado, pode demolir organizações e punir criminosos que se mantêm inalcançáveis pelos métodos convencionais de investigação. Mal usado, pode servir aos bandidos como arma para atingir inimigos ou destruir reputações. Na década de 80, a Itália era refém do crime organizado. As máfias controlavam empresas e tinham representantes infiltrados nos mais altos escalões da política. A oferta de perdão judicial aos delatores ajudou a desmontar a gigantesca estrutura que subjugava o Estado. Uma experiência semelhante será testada com Paulo Roberto Costa. 0 ex-diretor se ofereceu para fazer o acordo de delação premiada. Os termos precisam ser chancelados por um juiz. Os responsáveis pelo caso entenderam que o melhor caminho era levá-lo diretamente ao Supremo Tribunal Federal, dado o grande número de acusados com foro privilegiado.

A tarefa caberá ao ministro Teori Zavascki, que também deverá relatar eventuais processos decorrentes da investigação. Pelo acordo, Paulo Roberto se obriga a contar o que sabe, identificar seus parceiros de crime. Se as informações prestadas forem consideradas úteis, no fim do processo ele poderá ser beneficiado com uma redução de pena ou até mesmo o perdão judicial. Ao longo da delação, além de ouvirem o que o réu tem a dizer, os investigadores se encarregam de cruzar as informações com outras provas do processo. A ideia é que, no final, eles tenham elementos suficientes para levar todos os envolvidos a julgamento. Paulo Roberto também se comprometeu a abrir mão dos bens que acumulou com dinheiro desviado e a pagar uma multa. Enquanto durar a delação, ele ficará preso em uma cela isolada, mas pode ser libertado tão logo seja encerrada a fase de depoimentos.

Manobras impedem evolução de investigações no Congresso

• Desde 2009, CPIs pedidas por oposição esbarram em governistas

Chico Otavio – O Globo

RIO - As tentativas de investigar a Petrobras, com a abertura de comissões parlamentares de inquérito (CPIs), enfrentam, desde 2009, dificuldades para evoluir no Congresso Nacional. Supostas fraudes na construção e reforma de plataformas, desvio de recursos dos royalties da exploração do petróleo e uso político de verbas de patrocínio cultural engrossam a lista de casos que chegaram com alarde ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados, mas foram perdendo a força com o tempo até serem esquecidos, abafados por manobras da base governista.

Há cinco anos, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) conseguiu reunir 32 assinaturas para protocolar um pedido de abertura de CPI no Senado. Para convencer os colegas, ele tinha em mãos os resultados de investigações e auditorias da Polícia Federal, Procuradoria da República e Tribunal de Contas da União, todas apontando problemas na gestão da estatal. Os auditores do TCU encontraram, por exemplo, sobrepreços e critérios de medição inadequados na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e na reforma da refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná.

Mas a CPI, dominada pelos governistas, isentou a Petrobras de responsabilidades, como concluiu o relatório assinado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). A nova investida da oposição, em 2012, teve como alvo a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, que contou com relatório escrito pelo ex-diretor Nestor Cerveró. A essa altura, já envolvida em denúncias de irregularidades. Desta vez, o mesmo Álvaro Dias, antes de pedir uma CPI, optou por protocolar representação da Procuradoria Geral da República, cobrando abertura de inquérito civil administrativo e penal para o caso.

No ano seguinte, reportagem publicada pela revista "Época", na qual o lobista João Augusto Rezende Henriques revelou um suposto esquema de cobrança de propinas, destinadas a políticos, em troca de contratos na Petrobras, motivou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) a solicitar explicações do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. O esquema teria funcionado entre os anos de 2008 e 2012.

Agora, opositores e governistas se confrontam outra vez na CPI da Petrobras. Enquanto a presidente Dilma Rousseff sustenta que denúncias devem ser apuradas, "mas não podemos permitir, como brasileiros que amam e defendem seu país, que se utilizem de problemas, mesmo que graves, para tentar destruir a imagem da nossa maior empresa", novas manobras de sua base de apoio atrapalham as investigações.

Um vídeo divulgado recentemente pela revista "Veja" mostra uma reunião entre o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, na qual os presentes teriam acertado repassar aos dirigentes da Petrobras investigados pela CPI as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores, evitando assim que fossem pegos de surpresa. Barrocas revela no vídeo que até um gabarito teria sido distribuído para impedir que houvesse contradições nos depoimentos, entre os quais o do ex-dirigente da estatal Nestor Cerveró, autor do relatório que levou a Petrobras a comprar Pasadena.

As revelações de Paulo Roberto Costa sobre a existência de uma espécie de mensalão da Petrobras vão aumentar a tensão no Congresso. A Petrobras, procurada neste sábado para comentar a reportagem, informou, por intermédio da assessoria de Comunicação Social, que não se pronunciaria.

*Fernando Henrique Cardoso: A encruzilhada da mudança

- O Estado de S. Paulo

Não é a primeira vez que o Brasil se vê desafiado pelas encruzilhadas da História. Os eleitores escolherão caminhos de mudança, uns mais bem pavimentados, outros potencialmente acidentados. Manter as coisas como estão não é boa alternativa, como já está claro para a maioria.

Não é segredo para ninguém que a candidata Dilma Rousseff, independentemente das boas intenções que tenha - e as tem -, embarcou num desvio que está custando caro a ela e ao País. A partir da crise de 2008, ainda no governo Lula, como ministra todo-poderosa, Dilma (e Guido Mantega, ou sei lá quais outros ideólogos) definiu uma "nova matriz econômica" para o Brasil. Acontece que a nova matriz era velha e não produziu o feitiço esperado. Repetiu-se o erro de pensar que misturando ingredientes - gasto público solto, política monetária leniente, crédito público a mil, isenções fiscais aqui e acolá, microgerenciamento das decisões empresariais, etc. - e agitando o caldeirão da política econômica o governo asseguraria o milagre do crescimento contínuo e a felicidade geral do povo. As preocupações contrárias foram consideradas fórmulas velhas, "ortodoxas", monetaristas, submissas ao Fundo Monetário Internacional (FMI), propensas a fazer o ajuste fiscal à custa do povo.

Os resultados estão à vista, e em mau momento: o das eleições. O produto interno bruto (PIB) não cresce, antes se contrai, a inflação roça o teto da meta e só não o ultrapassa porque há preços artificialmente represados pelo governo; a indústria diminui de tamanho e perde competitividade; e os investimentos despencam juntamente com a confiança das empresas no governo. Pudera, o superávit primário virou pó, apesar dos artifícios contábeis e das "pedaladas fiscais"; os bancos públicos, chamados a injetar anabolizantes creditícios na economia e a bancar o voluntarismo do governo no setor elétrico, encontram-se expostos a créditos de qualidade duvidosa, criando dúvidas adicionais sobre a situação fiscal do País; a Petrobrás e a Eletrobrás, igualmente submetidas ao voluntarismo governamental, perderam valor e capacidade de inversão; as reservas do Banco Central encontram-se comprometidas pelos swaps cambiais (quase US$ 100 bilhões); e por aí vai. Cáspite! - como se dizia nas histórias em quadrinho dos anos 1940. É encrenca para não botar defeito.

Diante dessa situação, o que propõe a candidata Dilma? O mesmo, com mais propaganda. Desfia um rosário de realizações, sem se dar conta de que o calo aperta na má gerência, no aparelhamento desenfreado da administração por partidos políticos, na baixa qualidade dos serviços públicos de educação, saúde e transporte e nos casos de corrupção sistêmica, nas obras inacabadas e no desperdício do dinheiro público. Ah, sim, também nos impostos, que, mais do que elevados, são mal utilizados. Dá para ganhar eleições desse jeito? Mesmo Lula parece arrependido de ter indicado candidatos-postes cujas luzes não acendem...

Daí a responsabilidade por construir caminhos para um futuro melhor recair nos ombros das oposições, que se deparam com uma encruzilhada. Um caminho aponta uma estrada pavimentada pela experiência, pelas realizações. Outro, como se faz nos lançamentos de empreendimentos imobiliários, mostra fotos de maquetes tomadas com lente grande-angular: aparece o melhor no foco e se esfumam no horizonte as dimensões das dificuldades reais. A questão não é a foto da partida, é o percurso para levar a uma construção sólida.

Na tradição personalista de sempre (seria da política velha?), os dados eleitorais parecem mostrar a formação de um vagalhão. As intenções da candidata oposicionista são boas, mas o político, já dizia Weber há um século, não é como o pregador. A este bastam a convicção e a boa palavra. Como nos Evangelhos: aquele que acreditar em mim encontrará a salvação. O político, além da crença, precisa construir os caminhos da "salvação", que será sempre terrena e imperfeita. O desafio está no fazer, e não nas palavras. Há "bons" e "maus" entre as pessoas, assim como há lados "bons" e "maus" numa mesma pessoa. Valem as aspas porque há valores e interesses que para uns são "bons" e para outros, "maus".

Além disso, na política não se trata só de pessoas, mas do que elas representam. Na vida pública o objetivo não é somar os "bons" e alinhá-los contra os "maus", em confronto definitivo. Trata-se de organizar forças ao redor de ideias e de interesses que, ainda que contraditórios em alguns pontos, possam compor-se e formar uma maioria para governar por um período determinado de tempo em torno de objetivos claros que, se alcançados, possam beneficiar o País.

A candidata Marina Silva, se vencer a eleição, será capaz de tal proeza? Tomara, mas ainda é uma incógnita. Sem negar-lhe méritos pessoais e políticos, é recente a sua conversão a algumas das teses há muito sustentadas pela oposição que não tem medo de dizer o seu nome.

Aécio Neves representa essa oposição que vem junta há muitos anos. Sobre a sua capacidade de mobilizar e coordenar equipes técnicas, organizar e liderar maiorias políticas, não cabe dúvida. Ele a demonstrou reiteradas vezes como deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados e governador do Estado de Minas Gerais.

Enfim, escolheremos o caminho mais seguro ou, no embalo da velha tradição personalista, embarcaremos na direção de mares nunca dantes navegados? Embora a opção em causa seja diferente de outras que nos levaram a impasses e desastres no passado, prefiro manter-me firme ao lado de quem já passou por provas que o capacitam a governar com grandeza, com competência, e a obter os apoios necessários para tirar o País do labirinto lulopetista.

*Sociólogo, foi presidente da República

Merval Pereira: O fato novo

- O Globo

Não podia ter chegado em pior momento para a presidente Dilma a bomba sobre o esquema de corrupção de políticos montado na Petrobras durante 8 anos em governos petistas. A presidente esboçava uma reação para resistir à investida de Marina, e agora está novamente travada pelos fatos.

Marina tem no episódio a prova material de que a “velha política” transformou o Congresso em um balcão de negócios, mas a confirmação de suas denúncias veio junto com a inclusão do ex-governador Eduardo Campos na lista dos beneficiários das negociações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Esse é um empecilho e tanto para a exploração do caso, mesmo que esteja implícito que a candidata não tem nada a ver com os fatos acontecidos antes de ela, por constrangimentos políticos que lhe foram impostos, aderir ao PSB, inclusive o jato que veio junto, ao que tudo indica, nesse mesmo pacote.

Se fosse a candidata da Rede Sustentabilidade, Marina estaria hoje livre, leve e solta para empunhar a bandeira da nova política em contraponto às nebulosas transações que seus adversários comandam nos bastidores políticos de Brasília. Mas terá que pisar em ovos para usar a artilharia pesada que lhe caiu no colo sem que o fogo amigo a atinja.

Quem poderá se beneficiar da situação é o candidato do PSDB Aécio Neves, que precisava de um fato novo para turbinar sua campanha, e ele chegou pela delação premiada do ex-diretor da Petrobras. Não é possível dizer agora se mais essa denúncia de roubalheira institucional será suficiente para recolocá-lo na disputa, mas ele tem a vantagem no momento de poder atacar tanto Marina quanto Dilma, reforçando a ideia central de sua campanha de que ele é a mudança segura.

A presidente Dilma dificilmente perderá votos do núcleo duro petista, que vota nela mesmo de olhos e narizes fechados, e considera normais esses esquemas corruptos. Veremos agora de que tamanho é o apoio da candidata Marina Silva, e qual a intensidade da revolta de eleitores que estavam fora da eleição por vontade própria e retornaram devido à sua presença.

Aécio poderá tentar retomar eleitores que foram para Marina, que também receberá eleitores que voltaram para Dilma e poderão ficar sensíveis a mais esses escândalo. Tudo dependerá de como Marina usará esse episódio.

Quem é Marina de fato, desde a eleição de 2010, já estará convencido de que ela foi apanhada em uma armadilha montada pela “velha política” de que Eduardo Campos se utilizava antes de romper com o governo petista. E a perdoará por isso, entendendo que não tem condições de romper agora com o esquema político que a acolheu em momento difícil.

Ainda mais tendo como vice um político orgânico do PSB. Muitos que foram para ela em busca de um refúgio poderão se convencer de que Aécio Neves é a melhor oposição, e muitos outros podem desistir mais uma vez de votar, convencidos pelos fatos de que são todos farinha do mesmo saco.

O certo é que a presidente Dilma, que ensaiava uma reação levada pela máquina partidária e pelos militantes petistas, está novamente enredada em um esquema político deletério. Se é verdade que ensaiava retirar do fundo da gaveta a imagem da faxineira ética do início de seu governo para reforçar o combate à corrupção, agora vai ter que desistir da ideia.

Já era uma proposta desesperada, pois as contradições são evidentes entre a faxineira e a atual presidente que colocou de volta no ministério praticamente todos os que enxotara, e agora é inviável.

Também fica sem sentido a tentativa do presidente do PT Rui Falcão de insinuar que Marina pretende privatizar a Petrobras e os bancos públicos, uma acusação reciclada que por si só mostra a falta de argumentos do partido na disputa política com Marina.

O novo escândalo da Petrobras vai reviver a ideia de Aécio Neves de reestatizar a Petrobras, que foi tomada de assalto por forças políticas da base aliada governista, sob o comando do PT.

Como disse muito bem o presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, aliás um dos acusados de estar envolvido no esquema de corrupção, “a Petrobras é petista”.

Dora Kramer: Cai o pano

- O Estado de S. Paulo

O efeito da delação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa no resultado das eleições realmente é o menor dos problemas diante do conteúdo do que ele tem revelado à polícia e ao Ministério Público na última semana.

A preocupação deve pertencer a quem precise arcar com as consequências. O importante para o País é que uma situação dessa gravidade produza consequência à altura.

Em resumo, durante oito anos - de 2004 a 2012 - os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para funcionários, partidos e políticos. Uma espécie de mensalão 2.0.

Desta vez, no entanto, o acusador envolve em sua rede de relações gente grande da República: os presidentes da Câmara e do Senado, ministros de Estado, senadores, governadores e até o ex-presidente Luiz Inácio da Silva com quem, segundo ele, costumava se reunir frequentemente.

Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, numa entrevista à Folha de S.Paulo, a primeira reação dos acusados foi desmentir e tentar desqualificar a denúncia. Até que veio a CPI dos Correios.

Escaldado, no início deste ano o governo não deixou que prosperassem as duas comissões de inquérito instaladas no Congresso para investigar os negócios da Petrobrás. Lula mesmo aconselhou o PT a "ir para cima" da oposição a fim de evitar a repetição do episódio.

Agora a coisa é mais complicada. Enquanto a história estava no âmbito do Congresso saiu tudo como planejado. Deputados e senadores da base governista prestaram-se à farsa de maneira obediente. A ponto de deixarem que depoimentos de ex-diretores, presidente e ex-presidente da Petrobrás tivessem perguntas e respostas previamente combinados.

No dia 10 de junho, no intervalo entre uma prisão e outra, Costa foi à CPI. Fez uma defesa ardorosa da lisura ética vigente na empresa e disse o seguinte: "Pode se fazer uma auditoria por 50 anos na Petrobrás que não vai se achar nada de ilegal porque não há nada de ilegal". Suas excelências mais que depressa se deram por satisfeitas.

Teria ficado tudo por isso mesmo se dias depois o juiz Sérgio Moro não tivesse mandado prender Paulo Roberto Costa de novo. Ele havia ficado na cadeia durante 59 dias, foi solto por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, e preso em 19 de junho por ter escondido a existência de uma conta na Suíça e um passaporte português.

Em dois meses Costa se convenceu de que poderia ir pelo mesmo caminho de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão. Quando quis fazer acordo de delação premiada, o operador do mensalão não tinha mais nada a oferecer à Justiça porque o esquema já estava desvendado.
No dia 22 de agosto, o ex-diretor da Petrobrás decidiu fazer o acordo. Com o processo no início, não havendo ninguém denunciado, era o momento propício para ele oferecer o que os investigadores precisavam: os autores e as provas dos crimes.

Por isso é que as coisas agora ficam mais complicadas para o lado dos acusados. Os desmentidos serão difíceis. Para que obtenha o benefício da redução da pena ou mesmo o perdão judicial, Paulo Roberto Costa terá necessariamente de fornecer informações verdadeiras, comprovadas, que sirvam para provar a materialidade e a autoria dos crimes.

Por menos do que isso não sairá da prisão. Depois que forem encerrados os interrogatórios e apresentadas as provas o Ministério Público examinará e cruzará todos os dados. Em seguida, dará seu parecer sobre a concessão do benefício que será maior ou menor dependendo da contribuição que a delação tiver dado para a elucidação do caso, cabendo a decisão final ao ministro Teori Zavascki.

Eliane Cantanhêde: O novo mensalão

- Folha de S. Paulo

Se a Petrobras entrou na eleição de 2010 para aniquilar as chances do PSDB, ela já entrava na de 2014 para enfraquecer a posição do PT e se torna agora um canhão contra o governo e os governistas.

O ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, que sabe das coisas, aproximou-se do PT, mas está longe de ser um quadro do partido como Delúbio Soares, que aguentou o tranco e foi para o abatedouro sem entregar o resto da boiada.

Com a delação premiada, o ex-diretor deixou claro que sua prioridade é salvar o que for possível da própria pele. Joga uma profusão de nomes e siglas nas páginas da Justiça e nos ares da eleição. Aliás, já que falamos de Delúbio, uma peça-chave nas denúncias é o novo tesoureiro do PT. Está um salve-se quem puder.

Na reta final da campanha, com Marina Silva na cola de Dilma Rousseff e ameaçando o seu antigo partido, o PT. Haja coração! Lula que o diga. Se está complicado para Dilma, seu primeiro poste, e péssimo para Alexandre Padilha, sua derradeira tentativa de poste, pode ficar pior. Tende a chegar no coração do PT e é improvável que Lula passe incólume.

Se a Petrobras já era um campo minado para a imagem de gestora de Dilma, as novas histórias que saem da boca de Paulo Roberto explodem num outro campo muito delicado para os governos do PT: o da ética. Certo ou errado, o fato é que o mensalão, o deputado amigão do doleiro, o vereador aliado ao PCC e as peripécias dos aliados minaram a aura e o discurso petista construídos em décadas. Cada coisa nova só reforça a sensação que se generalizou. E a "coisa", desta vez, é cabeluda.

O único e frágil alívio para Lula, Dilma e o PT é que a citação a Eduardo Campos embaralha as cartas e deixa Marina sem artilharia para atacar, sobretudo depois da história mal contada do avião da campanha do PSB. É difícil reverter o quadro crítico para Aécio Neves, mas, no mínimo, o tucano deve estar pensando: quem ri por último ri melhor.

João Bosco Rabello: O 'verdadeiro' mensalão

- O Estado de S. Paulo

A história política no Brasil não deixa dúvidas quanto aos danos eleitorais provocados por denúncias de corrupção, especialmente aquelas com elementos que lhes dotam de consistência, ainda que dependente de investigações mais aprofundadas.

Não só nas campanhas esse efeito se verifica. Atinge também governos já eleitos, com maior ou menor intensidade, durante ou após seus mandatos, como no impeachment de Fernando Collor e no mensalão, que enterrou o sonho de reeleição no primeiro turno acalentado pelo PT, para ficar nos exemplos recentes.

A campanha atual, já nos seus 30 dias finais, é alcançada pelas primeiras consequências de uma investigação sob condução judicial, que o governo tentou a todo custo, com êxito, sustar na instância parlamentar, obstruindo a CPI da Petrobrás.

As informações prestadas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, sob o regime da delação premiada, tem potencial devastador e sua influência na eleição começa agora. O dano só poderá ser medido após conhecida a extensão de suas denúncias.

Pelo que já se sabe, o que Costa narra aos seus inquiridores é que a operação montada dentro da Petrobrás reproduz o mecanismo do mensalão, em volume bem maior, com os mesmos partidos da base governista - PT, PP e PMDB -, que tiveram dirigentes condenados e presos.

Por isso, nos meios políticos , o esquema da Petrobrás é tratado como uma extensão do mensalão, por reproduzir meios, fins e personagens envolvidos em desvios de recursos públicos para financiamento de campanhas e também para enriquecimento pessoal.

O processo do mensalão foi conduzido pelo ex-ministro Joaquim Barbosa com base em valores amplamente comprovados, o que reduziu significativamente o montante real desviado. Foi uma opção por trabalhar judicialmente com o que efetivamente se tinha e não com aquilo que se sabia, mas que demandaria mais tempo para materializar.

Por essa razão, o que desponta das investigações na Petrobrás, tem dimensão muito maior que o escândalo de compra de apoio parlamentar. Já vinha sendo chamado de "o verdadeiro mensalão" nos ambientes políticos da capital.

É bastante provável que o temido depoimento de Costa, finalmente iniciado, atinja em cheio a candidatura governista, ampliando o apoio à candidata do PSB, Marina Silva.

A menos que a menção do ex-diretor a Eduardo Campos se desdobre em revelações graves sobre o ex-governador, a partir da refinaria de Abreu e Lima.

A campanha, já influenciada pelo acidente aéreo de Campos, pode recomeçar pela segunda vez, para vertigem geral de partidos e candidatos.

Luiz Carlos Azedo: Era caguete, sim!

• Pelo menos, um ministro, seis senadores, 25 deputados federais e três governadores teriam recebido dinheiro desviado da estatal. Supostamente, os políticos ficavam com 3% do valor dos contratos da Petrobras

- Correio Braziliense

Desde março, já se sabia que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa era o homem-bomba da operação Lava-Jato e que o caso poderia levar a um strike na política nacional, por causa do envolvimento de muitos políticos com ele e o doleiro Alberto Youssef. Ambos estão presos na Polícia Federal em Curitiba. Pressionado pela família e por provas irrefutáveis apreendidas pela PF, Costa resolveu falar mais do que aquele defunto caguete do samba de Bezerra da Silva, que entregava até com o dedão do pé.

Neste fim de semana, a revista Veja revelou que, pelo menos, um ministro, seis senadores, 25 deputados federais e três governadores receberam dinheiro desviado da estatal. Supostamente, os políticos ficavam com 3% do valor dos contratos da Petrobras na época em que Costa era diretor da estatal — entre 2004 e 2012 —, segundo o relato do ex-diretor da Petrobras a procuradores e policiais.

O diretor decidiu colaborar com as autoridades para reduzir a pena, que poderia alcançar 30 anos. Apontou políticos do PT, do PMDB e do PP, que compõem a coalizão da presidente Dilma Rousseff. Ao ser preso, chegou a dizer que não haveria eleições neste ano se revelasse tudo o que sabe. Em agosto, Costa deu com a língua nos dentes, como se diz na gíria policial.

O vazamento do depoimento, porém, pode ter implicações para o processo, que corre em segredo de justiça e acabou de chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o ministro Teori Zavascki homologue o acordo de delação premiada feito pelo executivo com os procuradores e o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso.

Advogados dos demais envolvidos querem anular o acordo e o próprio processo por vícios de procedimento nas investigações. Cabe ao STF autorizar a investigação dos políticos. Documentos fornecidos pelas autoridades da Suíça revelam que Costa e seus familiares tinham contas bancárias naquele país que totalizavam US$ 23 milhões.

Campanha eleitoral
Ninguém sabe qual será o impacto do escândalo na campanha eleitoral, uma vez que a presidente Dilma foi ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da estatal. No caso da compra superfaturada de Pasadena, que reaparece no depoimento de Paulo Roberto Costa, Dilma disse que fora enganada pelo parecer técnico do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para aprovar a compra da refinaria no Texas (EUA).

Ontem, durante o horário eleitoral, o programa de Dilma voltou a atacar Marina Silva com a insinuação de que ela quer acabar com o pré-sal. Na propaganda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece num palanque em Pernambuco dizendo que não vai deixar que isso aconteça, nem que tenha de mergulhar no fundo do mar para extrair petróleo.

A volta dos escândalos da Petrobras a telejornais e programas dos adversários de Dilma tem potencial para atrapalhar os planos de recuperação da imagem da candidata petista e de seu governo, num momento em que sua campanha recupera terreno.

Os índices de aprovação do governo e de rejeição à presidente da República melhoraram com a propaganda na tevê. Ontem, em São Paulo, Dilma disse que precisa saber “direitinho” quais são as informações prestadas por Paulo Roberto antes de tomar “as providências cabíveis”.

Em Pernambuco, Marina criticou a “má governança” da Petrobras e disse aguardar as investigações. Já o tucano Aécio desceu a borduna no governo, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo: chamou o caso de “mensalão 2” e cobrou apuração imediata e punição dos envolvidos.

Muito atacada tanto por Dilma como pela maioria dos candidatos de oposição, principalmente o tucano Aécio Neves, Marina Silva perdeu terreno para a petista na disputa de segundo turno, embora continue empatada tecnicamente no primeiro.

Pesquisa Sensus divulgada pela revista Isto é neste fim de semana, porém, mostra que Marina mantém a vantagem: 29,5% das intenções de voto no primeiro turno, empatada tecnicamente com a presidenta Dilma, que tem 29,8%. Aécio tem 15,2%.

Em eventual segundo turno, entretanto, Marina venceria Dilma, com 47,6% contra 32,8% dos votos válidos, uma diferença de 14,8 pontos percentuais. Na simulação com Aécio, Dilma aparece com 39,3% dos votos e o tucano, com 35,4%.

José Casado: Governo e PT perderam a bússola da campanha

• ‘Sobram razões para temor’

Primeira consequência das revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao Ministério Público Federal, na tentativa de garantir benefícios previstos na lei de delação premiada extensivos aos familiares: o governo, o PT e a presidente-candidata Dilma Rousseff perderam a bússola no planejamento da campanha a 26 dias da eleição.

Até a manhã de sexta-feira, no Palácio do Planalto e no comando do PT debatia-se uma miríade de táticas regionais para tentar levar Dilma imediatamente a outro patamar nas pesquisas. O objetivo era reduzir a grande diferença (de sete pontos percentuais) que a separa de Marina Silva (PSB) na preferência dos eleitores para a disputa em segundo turno. A vantagem de Marina não é pequena: equivale à soma do eleitorado dos estados do Centro-Oeste, ou seja, 10 milhões de votos.

Mudou tudo, a partir do vazamento de informações sobre as denúncias do ex-diretor da Petrobras contra políticos do PT, PMDB, PP, PR e PTB. Ontem, de passagem por São Paulo, a candidata dissimulou e prometeu tomar “providências cabíveis” no dia em que souber de alguma coisa.

Para o Palácio do Planalto e o comando do PT, a principal dificuldade agora é como conter danos à candidatura de Dilma, porque o caso só tende a crescer às vésperas do pleito(o rito entre a Procuradoria e o Supremo Tribunal Federal obedece a um calendário de 20 dias para formalização de inquérito, coincidindo com a semana da eleição.)

Sobram razões para temor. Entre elas está uma irrefutável linha do tempo: Paulo Roberto Costa ocupou a Diretoria de Abastecimento da Petrobras — em pelo menos duas dezenas de ocasiões, foi presidente interino—, durante os nove anos nos quais Dilma apareceu como a voz de comando na estatal, em sucessivos papéis de ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração, chefe da Casa Civil de Lula e presidente da República.

O enredo protagonizado por Costa e associados começou no governo Lula, em 2003, quando o chefe da Casa Civil José Dirceu se dedicava à construção da “maior base política do Ocidente”. Sob patrocínio do PP do então deputado José Janene, indiciado no mensalão, ele transformou Abastecimento numa diretoria autônoma, com apoio do então presidente Sérgio Gabrielli, o “embaixador” de Lula na estatal. Depois, Costa passou a representar um condomínio partidário (PT-PMDB-PP-PTB-PR) cujo poder de influência nos negócios da Petrobras se estende do Brasil à África.

A Costa foi entregue, entre outros, o maior empreendimento da empresa, a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Durante sete anos (de 2004 a 2012), ele e Gabrielli mantiveram sob sigilo o orçamento de contratação de serviços e equipamentos para essa refinaria, cujos custos subiram nove vezes e até novembro devem somar US$ 20,1 bilhões. Inúmeras vezes o Tribunal de Contas da União pediu planos e estimativas de custos, mas só começou a recebê-los no ano passado. A estatal ocultou até os estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental do empreendimento.

Costa e Gabrielli sempre contaram com respaldo governamental. No Congresso, Costa se tornou conhecido como caso raro de diretor de estatal com bancada própria. Sabe-se, agora, que eram pelo menos 25 parlamentares federais — entre eles, caciques do PMDB e do PT fluminenses. Coincidência ou não, alguns figuraram em episódios investigados na CPI dos Correios — inclusive em manobras com fundos de pensão estatais —, mas, por variadas razões, ficaram à margem do processo do mensalão.

Se é imprevisível a dimensão do impacto das denúncias na disputa presidencial, é certo que a presidente-candidata passa ao centro do alvo dos adversários. Certa, também, é a tendência à rápida difusão do caso pelo interior do país: há 7,3 mil candidatos a uma das vagas disponíveis na Câmara e no Senado, e pelo menos 25 parlamentares federais estão na vitrine, citados por Costa como beneficiários de propinas.

Até ontem, vazaram poucos nomes de políticos. No conjunto, o que já é conhecido sugere algo muito mais amplo do que a listagem de mensaleiros e suas mesadas. Até porque na Petrobras desvios de quantias inferiores a US$ 10 milhões são quase um problema menor, de “assuntos internos”. Trata-se de uma empresa com cerca de cinco mil fornecedores cujos contratos geralmente ascendem a US$ 100 milhões.

O TCU, por exemplo, há quatro anos investiga superfaturamentos a partir de US$ 400 milhões em contratos de obras, equipamentos e serviços da refinaria de Pernambuco.

Os valores manejados por Costa na estatal em benefício do condomínio partidário governista tendem a pontuar com um tom de escândalo a reta final desta campanha eleitoral.

*Gaudêncio Torquato: Aristocracia à brasileira?

- O Estado de S. Paulo

Governar com os melhores quadros. Na floresta política dominada pelas árvores dos ismos - patrimonialismo, mandonismo, caciquismo, nepotismo, grupismo, fisiologismo - e devastada pelo fogo da corrupção que consome parcela das nossas riquezas, a ideia de convocar uma casta de notáveis para o desafiante empreendimento de governar o País até parece medida simpática. Poucos haverão de levantar a voz contra tão eloquente demonstração de civismo. Pressupõe-se que os "melhores" a serem chamados para as tarefas governativas integrarão uma plêiade de sábios, cultores da moral e da ética, experientes, espelhos de uma vida regrada de bons exemplos. Onde estariam esses luminares? Em partidos políticos, nas organizações sociais, no universo produtivo, enfim, nos mais diferentes ambientes da vida nacional. Esse é um compromisso de Marina Silva, caso seja vitoriosa no pleito de outubro.

Seria viável reunir um núcleo de dirigentes com essa diferenciada qualificação sem afetar as instituições nacionais e manter o equilíbrio do triângulo do poder, que, convenhamos, tem sido submetido nos últimos tempos a tantas tensões? Uma reflexão se faz necessária. Primeiro, vale reconhecer que não se pode acusá-la de fazer promessa eleitoreira, com interesse em tirar proveito da tese que a insere numa posição apartidária independente, sob a aplaudida intenção de procurar os melhores e tomar distância dos piores. Ao recorrer à ideia com frequência, reforça a impressão de sinceridade. A ex-seringueira acriana chega a denominar perfis, jogando uns no fogo do inferno (os identificados com a velha política) e glorificando outros com hosanas celestiais (os aparentados com a nova política).

Um "governo dos melhores", como se sabe, constitui uma das três formas clássicas de governar, sendo a primeira, a aristocracia, a que confere o poder às mãos dos áristoi, os melhores; as outras formas são a monarquia (monos, único, e arché, comando) e a democracia (kratos e demos, poder do povo). Esses tipos puros conduzem, na visão do filósofo Políbio, que se inspirou na República, de Platão, e na Política, de Aristóteles, a três tipos corrompidos - tirania, oligarquia e demagogia -, sistemas que têm povoado a História ao longo dos tempos. No caso brasileiro, não é novidade a pletora de oligarcas que fincam pé nos vãos da República desde sua origem.

Ao se comprometer a governar com os melhores, Marina mostra a intenção de resgatar as virtudes da sabedoria, da integridade e do conhecimento, inerentes ao original termo aristocracia na República ideal desenhada por Platão. Ora, pinçar quadros perfeitos, sábios, possuidores da verdade, íntegros, dentro de uma cultura política permeada por mazelas históricas parece missão impossível. Afinal, as (poucas) figuras denominadas, caso aceitem a missão oferecida por uma mandatária-mor com intenção de recriar uma "aristocracia brasileira" (não se entenda isso de maneira pejorativa), seriam aprovadas pelos partidos que as abrigam?

Imaginemos a engenharia administrativa. Marina pede as planilhas e escolhe: três representantes de um partido, quatro de outro, dois de um terceiro, e assim por diante. Seleciona "os melhores". As siglas aceitariam a convocação unilateral de alguns feita pelo Palácio do Planalto? Pouco provável. 

Mais uma observação: a tríade do poder, arquitetada pelo barão de Montesquieu, está em plena vigência por estas plagas. A estabilidade de um regime requer que a correlação das forças sociais possa expressar-se nas instituições políticas. Os escolhidos pelo povo - não necessariamente os "melhores quadros" - são também legítimos representantes da sociedade e qualquer arranjo institucional voltado para a governabilidade há de considerar sua condição. Noutros termos, as chamadas bancadas do "baixo clero" também representam (e como) o povo. Qualquer iniciativa no sentido de forçar uma facção política (os qualificados) a prevalecer sobre as demais será antidemocrática. Há de se considerar, para efeito de garantia de governabilidade, o princípio de correlação de forças. Sem tal premissa a estabilidade de governos vai para o brejo.

Já se disse que os 513 deputados federais retratam fielmente a cara esburacada do País. Escolher os bem-compostos, os fluentes, os preparados, enfim, os mais qualificados para compor as estruturas governativas até pode constituir disposição do Poder Executivo. Porém tal iniciativa, mesmo carregando bom senso, haverá de ganhar endosso de partidos e, caso os escolhidos integrem entidades de intermediação social, delas devem receber o passaporte para compor a moldura administrativa. Vale lembrar que a harmonia alcançada pelos governos resulta da aplicação de certas capacidades, dentre elas, a extrativa, que abriga a extração de recursos necessários ao seu funcionamento, aqui entendidos não apenas os meios econômicos e financeiros, mas os suportes e apoios políticos (não só dos melhores). Desvios nessa vertente produzem tensões.

Por último é oportuno levantar o véu que cobre nossa cultura política. Nela se verão manchas de toda ordem: costumes do passado; desvios gerados pelo declínio dos mecanismos da política (partidos sem doutrina), infidelidade partidária, invasão da coisa pública pelo interesse privado, distorções no sistema de votação (vota-se num candidato e se elege outro), distorção na representação (o voto em alguns Estados vale mais que em outros), cooptação imoral de eleitores, Parlamento refém do Executivo, presidencialismo de índole imperial, etc. Portanto, o compromisso central de um governante deve contemplar a reforma do sistema político e sua remodelação implicará necessariamente mudanças no modelo de administração pública, dentro da qual se implantará a meritocracia.

Eis o cerne da questão posta pela candidata Marina Silva quando invoca a pretensão de "governar com os melhores".

*Jornalista, professor titular da USP

Ferreira Gullar: Quem manda sou eu

• O que me chocou foi que a imposição de que a chamem de presidenta não é um simples capricho

- Folha de S. Paulo /Ilustrada

Vejo com muita simpatia o fato de mulheres assumirem altos cargos na administração pública e, particularmente, a chefia do governo de alguns países, como já aconteceu na Inglaterra, na Alemanha e no Chile, sendo que, nestes últimos, as mesmas mulheres foram reconduzidas, pelo voto, à presidência do país.

Se não vi com a mesma simpatia a ascensão de Dilma Rousseff à Presidência do Brasil foi porque se tratava de uma invenção do Lula. Além do mais, ela insiste em ser chamada de presidenta. Mas se trata de mulher íntegra, ainda que durona.

Não sei se ela sabe, mas chamá-la de presidenta é motivo de troça por muita gente, até mesmo por muitos daqueles que votaram nela. É que se trata, ao mesmo tempo, de uma imposição tola, descabida, já que ninguém em sua vida, antes de Dilma, jamais chamou uma mulher de presidenta, palavra feia, que até parece um insulto.

Confesso que eu mesmo me sinto constrangido quando vejo, na televisão, um senador, um deputado, um ministro, dirigir-se a ela chamando-a de presidenta. Esse meu constrangimento vem de saber que nenhum daqueles senhores, por sua livre e espontânea vontade, a chamaria assim.

Claro, porque nenhum deles --que já andam pela casa dos 50, 60 anos ou mais-- nunca pronunciou, durante toda a sua vida, a palavra presidenta em vez de presidente. Se agora o fazem é porque ela os obriga a isso, e ai daquele que a desobedecer.

Agora, pensemos. O cara é senador ou deputado, estudou, formou-se na faculdade, tem mulher, filhos e amigos que nunca o ouviram pronunciar essa inusitada palavra e, de repente, o escutam dizendo isso, sabendo que se trata de uma imposição da Dilma. É um troço chato ou não é?

Acredito que, no começo, quando se entendeu que a partir de então seria presidenta, e não mais presidente, as pessoas que foram obrigadas a assim chamá-la não escaparam de uma gozação. Ao chegar em casa, alguns devem ter sido gozados pela família: "Pai, o que deu em você para chamar a Dilma de presidenta?". E os amigos? E a gerente do banco: "Quer dizer que agora, em vez de gerente, sou gerenta?".

Que poderia ele fazer, senão rir encabulado: "Nada disso, a senhora continua sendo minha gerente, não se preocupe!". E caíram os dois na gargalhada. Aí a gerente falou: "Mas o que deu na cabeça dessa mulher? Querer ser chamada de presidenta! Pois se alguém me chamar de gerenta, não leva um tostão deste banco!".

No princípio pensei tratar-se de uma esquisitice da Dilma ou, quem sabe, um modo extravagante de afirmar o seu feminismo --que vem manifestando desde o primeiro dia de seu governo, ao entregar alguns cargos importantes não a homens, mas a mulheres.

Espero que não me considerem machista por gostar das mulheres e confiar em seu desempenho quando atuam nos mais diversos campos de atividade. É claro que não basta ser mulher para ser competente e honesta, mas tampouco tem sentido pensar, como antigamente, que as mulheres só servem para cuidar da casa e dos filhos.

E é por pensar assim que tampouco me agrada o feminismo sectário, que parece orientar as nomeações feitas por Dilma para cargos importantes. Como a atuação dessas senhoras nem sempre se mostrou muito brilhante, fica a impressão de que não foram escolhidas por sua competência, e sim por pertencerem ao sexo feminino.

Mas até aí essas decisões da presidente não me chocaram. O que me chocou mesmo foi constatar que a imposição de que a chamem de presidenta não é um simples capricho; é, na verdade, a expressão de um temperamento impositivo que não conhece limites.

É o que se deduz da lei por ela assinada que obriga o país inteiro a submeter-se a uma tolice: trata-se da lei nº 12.605/12, de 3 de abril de 2012, que diz o seguinte: "As instituições de ensino público e privado expedirão diplomas e certificados com a flexão de gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada".

Ou seja, gostando ou não, em vez de gerente você será gerenta, em vez de assistente será assistenta, em vez de tenente será tenenta, em vez de correspondente será correspondenta, e por aí vai. Acontece que essa lei é de 2012 e parece que não pegou. Pois é, felizmente, no Brasil nem toda lei pega.