segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Quero deixar aqui uma palavra de homenagem especial a um amigo querido, um homem honrado e digno, abatido por uma tragédia no meio da campanha. Ao Eduardo, seus ideais e sonhos, a minha reverência. É hora de unirmos forças para levar seus sonhos em frente. A minha candidatura não é mais apenas de um partido político ou de um conjunto de alianças, mas a daqueles que acreditam que é possível dar ao Brasil um governo que una decência e eficiência.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República, discurso ontem em BH. O Globo, 6.10.2014.

Aécio enfrentará Dilma; Marina sinaliza apoio ao tucano

Dilma e Aécio fazem 2º turno e buscam aliança com Marina

• Caciques das duas siglas, como Lula e FH, são trunfos na negociação para tentar atrair PSB e ex-senadora

Chico Otavio, Fernanda Krakovics, Junia Gama, Maria Silva, Silvia Amorim e Simone Iglesias – O Globo

RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves vão protagonizar, a partir de hoje, a quarta disputa consecutiva entre PT e PSDB no segundo turno de uma sucessão presidencial. E ambos recomeçam a disputa correndo atrás do legado de 22 milhões de votos de Marina Silva (PSB), que pode ser decisivo no dia 26 de outubro. A importância de Marina pode ser medida pelas estrelas destacadas para convencê-la. Pelo PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique vai procurar a candidata para garantir o seu apoio a Aécio. Pelo PT, coordenadores do comitê eleitoral de Dilma defendem que Lula converse com a ex-senadora na tentativa de garantir, pelo menos,sua neutralidade, como na eleição de 2010. A abertura das urnas confirmou as eleições presidenciais de 2014 como uma das mais disputadas da História recente do país.

Com 99,8% dos votos apurados até as 22h33m, Dilma liderava a apuração, com 41,6% dos votos válidos, seguida de Aécio, que chegou aos 33,6% numa virada eletrizante sobre Marina. Mas os 21,3% obtidos pela candidata do PSB são, agora, o patrimônio mais cobiçado por tucanos e petistas. Resta saber se os votos de Marina são iguais aos votos do PSB ou a candidata é maior do que o partido. Marina faz mistério sobre o caminho a ser tomado, mas deu pistas de que a discussão sobre eventual apoio terá como base o programa de campanha herdado de Eduardo Campos.

Em seu discurso ontem à noite, a ex-senadora deu sinais de que a condição para fechar uma aliança passaria pela incorporação, por parte de Aécio, de pontos do programa de governo do PSB. O PSB pode tomar uma decisão sem esperar pela ex-senadora. Dirigentes do partido devem se reunir no início da semana para "tomar o pulso do partido e identificar qual será a tendência majoritária ". A neutralidade, dizem, está descartada. Aécio, apesar da empolgação com o resultado, entra no segundo turno amargando uma derrota em seu estado natal, Minas Gerais, onde o candidato do PT, Fernando Pimentel, elegeu-se governador no primeiro turno encerrando uma longa hegemonia tucana.

Mas o PT também viu o ex-ministro Alexandre Padilha, seu candidato ao governo de São Paulo, maior e mais importante colégio eleitoral do país, terminar a disputa — vencida por Geraldo Alckmin, do PSDB — com um pífio terceiro lugar. As mágoas provocadas pelos ataques no primeiro turno da disputa e o indisfarçável descompasso entre Dilma e os dirigentes do PSB serão os principais obstáculos a serem superados pelos dois partidos. Dilma passou o último mês e meio de campanha empenhada em desconstruir a imagem da adversária, a quem chegou a acusar de mentir e ter desvio de caráter. Mas Aécio também não foi amistoso com a ex-senadora, atacando-a por não ter deixado o PT quando o mensalão ganhava contornos de escândalo.

Alckmin, que tem vice do PSB, negociará apoio
Aécio, na entrevista coletiva de ontem, após a confirmação do resultado, fez publicamente uma homenagem póstuma a Eduardo Campos, morto no dia 13 de agosto. No primeiro dia de campanha no segundo turno, o tucano desembarca hoje na capital paulista para reunião coma coordenação da campanha. Alckmin fará aponte com lideranças do PSB no estado pela proximidade que tem com lideranças do partido. O vice de Alckmin é do PSB, Márcio França (PSB), e o prefeito mais importante do partido no estado é Jonas Donizete (Campinas), também muito próximo do governador. Numa eventual neutralidade de Marina, a campanha de Aécio espera que, ao menos em São Paulo, o partido marche com ele. Mesmo interesse existe em relação ao PSB de Pernambuco, onde uma declaração de voto da viúva de Campos, Renata, é um desejo de Aécio.

No estado, ele teve o seu pior desempenho no país. Já os petistas vão procurar o presidente do PSB, Roberto Amaral, que foi ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula. Amaral, que será reconduzido à Presidência do partido no dia 13, nunca escondeu a simpatia pelos petistas. Também serão visitados os governadores do Espírito Santo, Renato Casagrande, e da Paraíba, Ricardo Coutinho, além da família Capiberibe, do Amapá. Para além dos eventuais apoios amealhados para o segundo turno, a campanha de Dilma aposta que ela herdará naturalmente uma parcela de votos de Marina. Eles contam com eleitores tradicionais do PT, principalmente da classe C, que estavam com a ex-senadora, e com os eleitores mais à esquerda. — A Marina é outra espécie, ela é não é do nosso partido, é da Rede.

O PSB terá uma posição que não necessariamente será a mesma dela. Se for igual, melhor ainda. Mas ela pode querer fazer como fez em 2010 e o PSB não irá ficar neutro em uma eleição presidencial — afirma um integrante da cúpula socialista. Embora o vice de Dilma, Michel Temer, seja presidente do PMDB, a candidata petista também terá dificuldade na busca de apoio do partido. Ela não deve poder contar com setores do PMDB que apoiaram Marina no primeiro turno . Isso porque os peemedebistas do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, que estavam com a candidata do PSB, são oposição ao governo da presidente e têm afinidade com o tucano. No Rio, o grupo peemedebista que apoiou Aécio teve um bom resultado eleitoral e deverá intensificar o movimento Aezão, como ficou conhecida a campanha do tucano no estado .

Antes mesmo da divulgação do resultado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), aliado de Marina, anunciou ontem apoio ao tucano, em texto repleto de críticas ao governo Dilma. "Hoje, o povo brasileiro referendou o caminho de mudança, ao levar o país ao segundo turno das eleições presidenciais. Não podemos titubear e nem nos dividir . (...) Aécio representa a possibilidade real de virarmos a página de um ciclo que se esgotou — socialmente , economicamente e politicamente ", diz texto.

Gilberto Carvalho já faz contatos com o PSB
A aposta do PSDB é que as negociações avancem com o coordenador da campanha de Marina, o ex-tucano Walter Feldman, e o vice-governador eleito de São Paulo, na chapa de Alckmin, Márcio França.—No segundo turno de 2010 , fui com o Feldman, em nome do Serra, falar com o Alfredo Sirkis e com o PV pedir o apoio da Marina. E o argumento que nós dois levamos era justamente deque era preciso a união das oposições para derrotar o petismo no poder. Espero que o Feldman tenha bem presente os argumentos que levamos a Marina, que acabou liberando o PV e ficando neutra.

Mas hoje a situação é outra e esperamos que a decisão seja outra — disse Aloysio Nunes,candidato a vice na chapa de Aécio. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) telefonou após a consolidação do resultado para Amaral e pediu apoio do PSB à reeleição. Quanto a Marina, Carvalho afirmou que "naturalmente" dirigentes do PT e da campanha vão procurá-la.— Claro que vamos procurá-la. Falei com Amaral e ele quer construir um caminho conosco. Mas pediu calma e tempo para conversar com o partido — afirmou

PSB
A campanha de Dilma Rousseff buscará o apoio do PSB através de políticos próximos ao PT, como o presidente da sigla, Roberto Amaral, e de outros dirigentes socialistas, como o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, que enfrentará o tucano Cassio Cunha Lima no segundo turno.

Família de Eduardo Campos
Outro canal para chegar a Marina é a família do ex-governador, que até agosto era o candidato do PSB a presidente. Embora tenham se distanciado nesta campanha, Aécio mantinha boa relação com Campos. No PT, há defensores dessa reaproximação. Campos foi ministro de Lula.

Marina Silva
O PSDB vai procurar Walter Feldman, um dos políticos mais próximos à ex-senadora e que, até 2013, era deputado tucano.O s tucanos querem que o ex-presidente FH procure Marina.No PT, há quem defenda que Lula fale com ela para obter, pelo menos, sua neutralidade.

Pastor Everaldo
O candidato do PSC à Presidência tornou-se um radical opositor do governo do PT e também é considerado pelos tucanos como um apoio provável a Aécio Neves. Nos debates ocorridos neste primeiro turno, Pastor Everaldo aproveitou suas intervenções para atacar o governo Dilma.

Eduardo Jorge
O candidato do PV à Presidência foi secretário municipal de Meio Ambiente na gestão de José Serrana prefeitura de São Paulo e é um dos apoios que o PSDB buscará neste segundo turno. O verde também tem boa relação com Aécio Neves, de quem foi colega na Câmara dos Deputados.

PPS
Os tucanos dão como certo o apoio do PPS. O presidente nacional do partido, Roberto Freire, é crítico ferrenho do PT e das gestões petistas e, apesar de nesta eleição ter se aliado à candidata do PSB, Marina Silva, sempre teve relações próximas com o PSDB.

Aécio faz aceno a Marina, que sinaliza apoio a ‘mudança’

• Campanha tucana vai usar alianças estaduais com PSB para atrair Marina; na propaganda, meta é separar governo Dilma do de Lula

Pedro Venceslau, Débora Bergamasco, Isadora Peron, Denise Chrispim Marin, Suzana Inhesta e Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo

No primeiro pronunciamento que fez depois de confirmada sua passagem para o segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, homenageou o ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante e campanha, e afagou Marina Silva, candidata do PSB que terminou o 1.º turno em 3.º lugar na disputa. Os tucanos acreditam que o discurso mudancista da ex-ministra poderá levá-la a apoiar Aécio.

No seu discurso após o resultado, em São Paulo, Marina fez o que foi interpretado como um aceno ao candidato oposicionista ao afirmar que os brasileiros mostraram nas urnas que não concordam com os rumos tomados pelo atual governo da presidente Dilma Rousseff (PT). “O Brasil deu sinais de que não quer mais o que está aí”, disse Marina, sem citar nomes.

Em Belo Horizonte, o candidato do PSDB, foi na mesma linha: também sem citar Marina, afirmou: “É hora de unirmos forças. Minha candidatura não é de um partido político”.

Aécio ainda fez afagos explícitos à ex-ministra, mas disse que não tinha conversado com ela. O tucano reiterou os elogios feitos pela manhã, ao votar na capital mineira. “Tenho enorme respeito pessoal pela ex-ministra, mas não posso antecipar apoio.”

O candidato do PSDB iniciou sua fala destacando os ideais de Campos. “Quero deixar uma palavra de homenagem a um homem público honrado, que foi abatido por uma tragédia no meio dessa campanha, o Eduardo. Seus ideais e seus sonhos têm a minha deferência”, disse Aécio.

Segundo aliados de Aécio, interlocutores do candidato tentarão se aproximar de Renata Campos, viúva de Campos, para que ela faça uma ponte com a candidata do PSB. “Tenho um enorme respeito por ela (Renata), mas não tenho nenhum encontro marcado. Sou muito cauteloso em relação a isso.”

Apesar da sinalização, Marina disse que os partidos da coligação vão se reunir nos próximos dias para tomar uma decisão oficial. O anúncio deve acontecer até a próxima sexta-feira.

“O programa é a base de qualquer diálogo neste segundo momento”, afirmou. Segundo ela, o documento que apresentou à sociedade - e que foi alvo de diversas críticas tanto de petistas quanto de tucanos - “é coerente com outro caminho, com outra maneira de caminhar”.

O posicionamento de Marina, que foi filiada ao PT por mais de duas décadas, surpreendeu aliados mais próximos. Antes de a ex-ministra chegar ao local onde fez seu pronunciamento oficial, na zona oeste de São Paulo, a maioria apostava que ela ficaria neutra na disputa, como fez em 2010.

Questionada por jornalistas se tomaria essa mesma decisão, ela afirmou que ao se aliar a Eduardo Campos no ano passado, depois de o Tribunal Superior Eleitoral negar o registro do seu novo partido, foi um sinal de que estaria disposta a tomar posições. “Eu assumi a postura de não me recolher numa anticandidatura, o que pode indicar uma tendência. Assumi o compromisso da mudança indo apoiar Eduardo Campos”, disse.

Críticas. Segundo integrantes da campanha, as fortes críticas que Marina sofreu do PT desde que assumiu a candidatura após a morte de Campos, em meados de agosto, serão levadas em conta na hora de tomar a decisão.

Pessoalmente, o vice da chapa, Beto Albuquerque, disse que não iria aceitar apoiar a reeleição de Dilma após a onda de ataques petista. “Eu não sou cara de levar desaforo para casa. Nem de esquecer calúnias, vilanias ou mesmo boatos contra a nossa candidatura”, disse.

Apesar da derrota surpreendente nas urnas, Marina não demonstrou abatimento durante o seu pronunciamento.

Ela aproveitou o momento para agradecer o apoio da militância, da família e da coordenação da campanha.

Reunião.Aécio disse que amanhã terá uma reunião com os coordenadores da campanha em São Paulo para preparar suas agendas de viagens. Questionado se manteria a estratégia de atacar a gestão da presidente Dilma no 2.º turno, Aécio disse que não faz a “política do ódio”.

Dilma lidera e enfrenta Aécio, que arranca com votos de SP

• Presidente tem menos votos no primeiro turno do que em 2010, e senador tucano passa Marina com resultado surpreendente

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentará o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais, marcado para o próximo dia 26. O candidato tucano ultrapassou na reta final da campanha a ex-senadora Marina Silva (PSB), que parecia uma ameaça à reeleição de Dilma quando entrou tardiamente na corrida presidencial, em agosto.

Dilma chegou na frente, mas seu desempenho foi pior do que no primeiro turno das eleições de 2010. A presidente recebeu 42% dos votos válidos neste domingo (5). Foi o pior resultado obtido pelo líder de uma disputa presidencial desde 1989. Há quatro anos, Dilma obteve 47% dos votos no primeiro turno.

Tratado com descrédito até poucos dias atrás, Aécio saiu das urnas com 34% dos votos, mais do que os 33% obtidos há quatro anos pelo ex-governador José Serra, adversário de Dilma em 2010. Marina conseguiu 21%, mais do que os 19% que alcançou em 2010, quando concorreu pelo PV.

Aécio obteve votação muito superior à que os institutos de pesquisa indicavam na véspera da eleição. Segundo o Datafolha, o candidato tucano tinha 26% das intenções de votos válidos no sábado. Na avaliação do instituto, a diferença sugere que a arrancada na reta final fez muitos eleitores optarem por Aécio na última hora no domingo.

O confronto entre Dilma e Aécio transformará a eleição presidencial deste ano em mais um capítulo da histórica rivalidade entre o PT e o PSDB, os partidos políticos que controlaram o poder central nas últimas duas décadas.

Esta será a sexta eleição presidencial em que petistas e tucanos duelam. Os tucanos ganharam duas, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), principal fiador da candidatura de Aécio. Os petistas venceram três vezes, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma.

A polarização entre petistas e tucanos era um dos alvos principais de Marina, que assumiu a candidatura após a morte do ex-governador Eduardo Campos e tentou se viabilizar como uma terceira força capaz de renovar o sistema político brasileiro, no embalo das manifestações que agitaram o país em 2013.

Nos próximos dias, Dilma e Aécio começarão a disputar o espólio eleitoral de Marina. Segundo o Datafolha, 59% dos eleitores que a apoiavam na véspera da eleição pretendiam votar em Aécio se ele passasse para o segundo turno. Outros 24% dos marineiros disseram preferir Dilma.

Três de cada dez votos obtidos por Aécio foram paulistas. Os tucanos mandam em São Paulo há quase duas décadas, e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito domingo. O Nordeste garantiu a liderança de Dilma. De cada dez votos que ela obteve, quatro vieram da região.

Os petistas impuseram uma derrota aos tucanos em Minas Gerais. No Estado que Aécio governou por dois mandatos, o ex-ministro Fernando Pimentel (PT) foi eleito.

Marina critica agressividade do PT e indica apoio a Aécio

• Terceira colocada fala em "mudança qualificada" e diz que país sinalizou rejeição à situação

• Presidente do PSB defende união com petistas, mas posição é minoritária dentro da aliança marinista

Marina Dias, Ranier Bragon - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Fora do segundo turno, Marina Silva indicou na noite deste domingo (5), em sua primeira manifestação pública após a abertura das urnas, que apoiará o tucano Aécio Neves contra a presidente Dilma Rousseff (PT).

A candidata do PSB criticou a "inédita e despropositada agressividade" da campanha petista e afirmou: "O Brasil sinalizou claramente que não concorda com o que está aí".

Em seguida, lembrou sua posição em outubro de 2013, quando descartou ficar fora da disputa pelo Palácio do Planalto após ver fracassada a criação de seu partido.

"Minha postura quando não foi feito o registro da Rede, de não me recolher numa anticandidatura, pode ser uma tendência", disse, em resposta sobre se permaneceria neutra entre Dilma e Aécio.

Em 2010, quando também ficou em terceiro na eleição presidencial, Marina não optou por nenhum dos dois candidatos finalistas.

"Sabemos que uma boa parte do Brasil, desde 2010, vem dando sustentação a uma mudança que seja qualificada [...] Não dá para tergiversar com o sentimento do eleitor", afirmou.

Durante entrevista num espaço de eventos em São Paulo, Marina afirmou, porém, que discutirá o eventual apoio com os partidos que sustentaram sua candidatura e que a afinidade com seu programa de governo é a "base para qualquer diálogo".

Marina caiu 12 pontos nas pesquisas após sofrer forte ataque na TV da campanha de Dilma. Aécio também investiu contra a pessebista.

"Estou aqui não como uma derrotada, mas como alguém que sabe que não teve que abrir mão dos princípios para ganhar a eleição", disse a ex-senadora, arrancando aplausos da militância.

Apesar da inclinação de Marina, há setores do PSB que defendem o apoio a Dilma, entre eles o presidente do partido, Roberto Amaral.

Em reunião antes do evento, a ex-senadora discutiu os termos de seu pronunciamento com um pequeno grupo de assessores e familiares.

Nessa reunião ficou claro que a posição pró-Dilma é minoritária. "Confesso que é muito difícil pensar em votar na Dilma depois do que sofremos", afirmou o vice de Marina, Beto Albuquerque.

Um dos partidos aliados à então candidata, o PPS, já defende abertamente a adesão ao tucano. A expectativa é que a decisão seja anunciada até quarta-feira (8).

Mesmo tendo detectado a curva de crescimento de Aécio, o resultado final deixou muitos marineiros perplexos com a queda na reta final. Em números e percentual, a pessebista teve resultado muito próximo ao de 2010, quando foi candidata pelo PV.

Questionada sobre seu futuro político, disse: "Em determinados momentos, temos de esperar pela história".

A Marina que chegou ao primeiro turno neste domingo não era a mesma de 20 de agosto, quando foi oficializada candidata. A comoção pela morte de Eduardo Campos, sete dias antes, deu lugar à euforia de favorita, quando a primeira pesquisa após a tragédia que matou o ex-governador de Pernambuco indicou que ela era a única capaz de vencer Dilma.

Após os ataques de PT e PSDB, tentou recuperar fôlego com viagens ao Nordeste e ao Sul, mas os números não respondiam. Ficou mais arredia, mais magra e mais rouca.

Beto Albuquerque diz ter dificuldade para apoiar Dilma

• Vice na chapa de Marina Silva à presidência da República aguarda posição coletiva do PSB para confirmar apoio

Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O vice na chapa de Marina Silva, deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), corroborou a sinalização da candidata de inclinação a apoiar o candidato tucano Aécio Neves, mas marcando de forma dura a defesa por uma aliança que se baseie no programa de governo da coligação. "Eu pessoalmente tenho muita dificuldade (de apoiar a Dilma). Eu como gaúcho não sou um homem de levar desaforo para casa. Nem de esquecer calúnias e vilanias como foram criadas contra a nossa candidatura", afirmou. Mas ressaltou ser uma postura pessoal e que o PSB ainda se reunirá para tirar uma posição coletiva.

Sobre o programa, disse ser importante adotar uma postura firme antes de fechar qualquer apoio. "Vamos ver agora se vão ter uma leitura diferente do nosso programa, temos que saber se isso é honesto. Em 2010 a Marina entregou para a 'Dona Dilma', que assinou inclusive a incorporação de uma série de questões do programa e que depois foi ignorado. A velha política para ganhar apoio topa qualquer coisa e depois não cumpre. Nós não vamos entrar nesse jogo do me engana que eu gosto."

E ressaltou que é importante avançar para um conceito de oposição além daquele incorporado pelo PSDB. "Nós marcamos oposição não apenas ao governo, que é uma característica com Aécio. Nós marcamos uma oposição a essa velha política que tem uma expressão muito forte que aí está."

Beto também fez menção ao desempenho da candidatura, reforçando o discurso de Marina de que não saem derrotados das urnas. "Eu e a Marina não ganhamos no segundo turno, mas vamos dormir tranquilos hoje. Nossos eleitores não foram eleitores de voto útil, mas foram eleitores de um programa de governo. Nós vamos manter isso", concluiu.

Fernando Henrique diz que vai buscar apoio de Marina a Aécio

• Ex-presidente cobra coerência e afirma que PT é adversário comum

Ronaldo D"Ercole – O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que espera ter o apoio de Marina Silva (PSB) à candidatura de Aécio Neves (PSDB) na disputa do segundo turno da eleição contra a presidente Dilma Rousseff (PT). Para Fernando Henrique, a adesão de Marina à campanha tucana é uma questão de coerência.

- As pessoas têm de ter coerência, você não pode deixar de ver quem é o adversário principal. E o adversário principal neste momento é o PT, representado pela presidente Dilma Rousseff - afirmou o ex-presidente, pouco antes de votar, no final da manhã.

"Aécio mostrou perseverança"
Fernando Henrique disse que até aquele momento não havia conversado com a candidata do PSB - "porque não era o momento" -, mas que, uma vez confirmada a passagem de Aécio ao 2º turno, procuraria Marina. Mesmo porque, lembrou, ele próprio já vinha defendendo uma coalizão das duas candidaturas num eventual segundo turno contra Dilma.

- Eu disse isso há muito tempo, claro que tem de saber em que momento. Neste momento (ontem pela manhã), nem se discute o assunto. Mas, o Aécio ganhando, a Marina tem de vir para o nosso lado. Eu não tenho dúvida, antes de qualquer liderança, o eleitorado vai se unir - disse ele, acrescentando: - É preciso também falar com o PSB, não só com a Marina.

Indagado se manteria a posição caso Marina fosse ao segundo turno, Fernando Henrique disse que sim. Para o ex-presidente, o fato de Aécio ter conseguido reagir, depois de ter perdido muito espaço com a ascensão de Marina Silva em agosto, após a morte de Eduardo Campos, é algo que o fortalece para a disputa do segundo turno.

- E muito. Ninguém vence na véspera, é no dia. E eu senti isso na pele, perdi para o Jânio (Quadros, na disputa pela prefeitura de São Paulo) apesar de todas as pesquisas. E o Aécio mostrou perseverança, isso ficou visível no debate, (mostrou) que ele domina os temas - disse ele: - Minha expectativa é a melhor possível, porque segundo turno é uma nova eleição, e acho que está na hora de a gente dar uma virada no Brasil.

Ao indicar a presidente Dilma e o PT como os adversários a serem vencidos, Fernando Henrique listou equívocos do governo. Particularmente os erros na economia, que devem afetar as políticas sociais, tão caras ao governo.

- Quem vai sofrer é o povo. E, diferentemente do que diz a propaganda (do PT), nós (a oposição) é que podemos garantir a continuidade das políticas sociais, porque sabemos como mexer na economia para o país continuar crescendo.

Já em tom de campanha, ele citou a Petrobras e atacou a forma de administrar do PT, "nomeando só partidários e permitindo que haja o que houve, essa roubalheira".

FHC pedirá apoio do PSB no 2º turno

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que vai procurar pessoalmente a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, para pedir apoio ao tucano Aécio Neves no segundo turno.

"Espero o apoio de Marina. O adversário principal neste momento é o PT, representado por Dilma Rousseff (PT). Está na hora de dar uma virada no Brasil", afirmou FHC, logo após votar em um colégio de São Paulo, na manhã deste domingo.

Ele também irá procurar as principais lideranças do PSB.

Na visão do ex-presidente, os eleitores de Marina tendem a se juntar aos de Aécio, "como ocorreria no caso oposto [se a candidata fosse para o segundo turno] porque sabem que é preciso mudar".

Já no primeiro discurso após o resultado, Aécio deixou clara a sua principal preocupação: o temor de desmobilização do tucanato em alguns dos principais colégios eleitorais do país.

"Nós estamos apenas na metade da travessia. Portanto, não vamos nos dispersar", disse, parafraseando seu avô, Tancredo Neves.

Outro desafio do tucano será reverter o resultado que obteve no primeiro turno em Minas Gerais, seu reduto eleitoral. Ele ficou atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) no Estado e viu seu candidato ao governo, Pimenta da Veiga (PSDB), ser derrotado pelo petista Fernando Pimentel.

Aécio não definiu ainda onde lançará sua campanha no segundo turno. Há expectativa de que ele faça um ato em Pernambuco, terra do ex-governador Eduardo Campos, e onde Marina Silva ficou em primeiro lugar na eleição presidencial.

Aécio homenageia Campos e acena a Marina

• "Todos que quiserem contribuir são bem-vindos. Tenho enorme respeito pela Marina ", diz tucano após resultado

Maria Lima – O Globo

BELO HORIZONTE- Uma hora depois do término da apuração do 1º turno, o candidato do PSDB, Aécio Neves, fez um pronunciamento chamando as forças que querem derrotar o projeto do PT a se juntar a ele no 2º turno contra Dilma Rousseff. Aécio fez uma homenagem emocionada a Eduardo Campos, morto em acidente aéreo, e prometeu continuar honrando seus ideais de decência e democracia, e projetos que buscava para o Brasil. A primeira viagem de Aécio no 2º turno ser á para Recife.

— Quero deixar aqui uma palavra de homenagem especial a um amigo querido, um homem honrado e digno, abatido por uma tragédia no meio da campanha. Ao Eduardo, seus ideais e sonhos, a minha reverência. É hora de unirmos forças para levar seus sonhos em frente. A minha candidatura não é mais apenas de um partido político ou de um conjunto de alianças, mas a daqueles que acreditam que é possível dar ao Brasil um governo que una decência e eficiência — discursou Aécio, no que foi visto como um gesto em relação ao 2º turno. Aécio disse que não entrará na estratégia do PT de fazer uma campanha de ódio, e repetiu uma frase do avô Tancredo Neves: — Nós estamos apenas na metade da travessia, portanto não vamos nos dispersar .

"Vou respeitar o tempo de marina"
O tucano hoje estará de novo nas ruas e, durante entrevista coletiva, convidou a ex-senadora Marina Silva a se integrar à aliança. Não tinha havido até o meio da noite nenhum conta to com Marina, e Aécio afirmou que iria respeitar o tempo dela. Também não tinha havido ainda conta to com a viúva de Campos, Renata, considerada peça fundamental na eventual adesão do PSB à sua candidatura. —Todos que quiserem e puderem contribuir com esse projeto são bem-vindos . Tenho um enorme respeito pela Marina, e vamos esperar seu tempo. A vitória hoje foi do povo, foi a vitória da mudança, vamos continuar unidos. Nosso projeto é generoso, e a ele podem se som ar todos que querem a mudança. Não ganhei nada ainda, a mudança começa hoje, aqui em Minas Gerais — disse Aécio.

Hoje, às 14h, ele se reúne com o comando da campanha em SP para fechar a agenda das próximas semanas. O Nordeste, onde precisa recuperar a diferença enorme para Dilma, pode ser o alvo. Ao agradecer a Pimenta da Veiga, candidato do PSDB ao governo de Minas derrotado para Fernando Pimentel (PT), Aécio sinalizou com uma trégua e desejou sucesso ao petista vitorioso pelo "enorme amor que tenho por essa terra". Pimentel e Aécio já foram aliados no passado, e em Minas uma parte do eleitorado aderiu ao "Pimentécio": voto no petista para o governo e no tucano para presidente . 

Sobre a polarização PT X PSDB tão criticada por Marina, Aécio disse que vai continuar batendo nos problemas do governo Dilma, mas que sua disputa não é contra pessoas, e sim, a favor do Brasil:

— Não faço a política do ódio e do medo. Não acho que o adversário tem de ser abatido a qualquer custo. Sou um democrata. Minhas companheiras serão a verdade e a coragem. Quando questionado sobre a baixa votação no Nordeste e em estados como o Rio, Aécio disse que não imaginava ter uma votação tão expressiva como a que foi registrada. — Eu me sinto um grande vitorioso. Todos os números do Brasil estão muito acima de todas as expectativas. Não vou privilegiar uma região. No Nordeste vou ter mais tempo para debater nosso ousado projeto para a região — disse, pedindo que os governadores eleitos aliados não desmobilizem as estruturas.

Logo cedo, ao acompanhar a votação dos candidatos ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, e ao Senado, Antonio Anastasia, Aécio debitou a sua virada a uma batalha diária , e disse que não era a "zebra" da eleição. Vestindo uma camisa azul, cor do PSDB, combinada com a mulher Letícia Weber, o presidenciável foi aplaudido ao re dor do colégio estadual Central, onde votou: — Não sou a zebra ou azarão , eu sou um determinado . Sou um brasileiro que não desiste nunca. Perguntado se em algum momento pensou que não daria para virar o jogo, Aécio disse que sempre teve fé que recuperaria o espaço perdido:

— Minha fé interior , minha confiança e minha determinação não mudaram nunca. Nunca perdi a confiança porque sempre compreendi que temos o melhor projeto para o Brasil. Porque esse sentimento de mudança que permeia a sociedade brasileira, e ele é amplo, pressupõe não apenas a derrota do PT , que é essencial, mas a introdução de um projeto capaz de permitir ao Brasil voltar a crescer , controlando a inflação , melhorando nossos indicadores sociais , resgatando nossa capacidade de atrair o capital privado como parceiro da nossa infraestrutura, por exemplo . Sempre acreditei e sempre confiei, mas uma campanha é feita de altos e baixos. Depois da votação, Aécio almoçou na casa de um parente e depois se isolou no apartamento, só com a mulher e os filhos, para acompanhar a apuração. 

Governador de Pernambuco declara apoio a Aécio

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), declarou na noite deste domingo apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da disputa presidencial. A decisão foi tomada na véspera do encontro da cúpula do PSB estadual, previsto para esta segunda-feira.

"A surpreendente ascensão de Aécio Neves nos últimos dias do processo eleitoral para a Presidência da República refletem o seu excelente desempenho nos debates eleitorais e o credenciam para representar as forças de oposição no segundo turno do pleito presidencial. Vou defender esta tese junto aos companheiros do Diretório Regional do PSB e, também, como integrante do Diretório Nacional, vou indicar o nome de Aécio Neves para apreciação da Executiva Nacional", declarou em nota o governador. Lyra faz parte do grupo de Eduardo Campos, morto no último dia 13 de agosto, mas foi preterido por este na disputa para o governo do Estado. O escolhido pelo presidenciável, Paulo Câmara, foi eleito em primeiro turno.

"O Brasil enfrenta um momento muito delicado em sua economia e, também, um esgarçamento no seu tecido político. É fundamental lutarmos para o país voltar a crescer e indispensável uma reforma política. Creio que Aécio Neves conquistou a condição de liderar este momento da política nacional", ressalta Lyra Neto.

Na noite deste domingo, Câmara, governador eleito de Pernambuco, afirmou que nesta segunda-feira a cúpula nacional da legenda será informada sobre uma posição do PSB local.

"Nós não tivemos na eleição presidencial o resultado que gostaríamos de ter. Nossa candidata Marina Silva foi vencedora aqui no Estado de Pernambucano, mas não teve a vaga no segundo turno. Nós temos responsabilidade como partido político de nos posicionarmos. Vamos nos reunir amanhã, mais tardar, com a direção local e tirar a posição de Pernambuco, que será apresentada ao PSB Nacional, para que juntos a gente decida o que é melhor para o Brasil", afirmou Câmara em entrevista coletiva realizada num hotel no bairro de Boa Viagem.

Ricardo Noblat: A escolha de Marina

"Desvio de dinheiro é natural e intrínseco ao serviço público" - Cid Gomes, governador do Ceará

- O Globo

Marina Silva, candidata do PSB a presidente da República, jogara a toalha há dez dias. Foi quando comentou com um dos seus conselheiros: "Levadas em conta as circunstâncias que marcaram minha entrada na campanha, já fui longe demais." Voltou ao assunto depois do debate entre os presidenciáveis promovido pela TV Globo na última quinta-feira. Admitiu desanimada: "Eu estar onde estou já é um milagre.

É CLARO QUE não estava satisfeita com seu desempenho. Conformada? É quase certo que sim. Queria ganhar naturalmente. Mas repetia que a ganhar perdendo preferia perder ganhando. Um jogo de palavras. Não só um jogo. Cadê dinheiro para pagar as despesas sempre crescentes da campanha? Dinheiro até poderia existir. Estrutura montada para administrar a campanha com eficiência, jamais existiu.

CADÊ MATERIAL de propaganda? Até daria tempo para produzi-lo. Para fazê-lo chegar às mãos de eleitores em todo o país... Impossível. Foram queimados mais de 50 milhões de "santinhos" com Marina de candidata a vice-presidente . Ela evitava dizer que se sentia mal acolhida pela facção do PSB liderada por Roberto Amaral, o presidente em exercício do partido desde a morte de Eduardo Campos.

LEVARÁ MAIS algum tempo para que Marina reconheça os muitos erros que cometeu — se é que o fará. O primeiro e mais barulhento dos erros foi autorizar a divulgação do seu programa de governo sem ter lido com rigor a versão final. Acabou sendo obrigada a retificá-lo. E pagou por isso um preço elevado. Desgastou-se. Acusaram-na — e com razão — de dizer uma coisa hoje e de se desmentir amanhã.

O SEGUNDO ERRO grave foi não abdicar da posição de se manter distante de políticos que julgava indignos de sua companhia. Um deles: Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que acabaria reeleito no primeiro turno. Marina liderou as pesquisas de intenção de voto em São Paulo. Depois foi desbancada por Dilma. Por fim, autorizou a impressão de suas fotos junto com as de Alckmin. Era tarde. E, no entanto ...

NO ENTANTO, teria sido tão fácil para ela, uma vez Eduardo morto, recuar de certos dogmas que apregoara sem ônus como candidata a vice... A maioria dos eleitores compreenderia se ela dissesse: "Em respeito à memória de Eduardo, assumo como meus todos os compromissos assumidos por ele." E ainda poderia se permitir, de fato, a respeitar alguns e a esquecer de outros porventura difíceis de engolir .

TUDO INDIC A que Marina não repetirá o comportamento que adotou na eleição presidencial de 2010, quando foi a terceira candidata mais votada e negou seu apoio a qualquer um dos finalistas do segundo turno — Dilma e José Serra. Para ser coerente com o que disse sobre Dilma, apoiará Aécio se ele adotar parte do seu programa de governo. Aécio pagará qualquer preço pelo apoio de Marina. E com razão.

NA ÚL TIMA SEMANA de campanha, Aécio disparou na frente de Marina e quase atropelou Dilma na reta de chegada. Pôde fazer isso, sobretudo, graças aos votos de mineiros e de paulistas. Nenhum instituto de pesquisa foi capaz de antecipar o tamanho da ojeriza nacional ao PT. O partido, praticamente, acabou varrido do Sul do país onde perdeu as eleições para governador e senador.

A VALER O que ensina a história das eleições majoritárias de 1994 para cá, o candidato a se eleger no segundo turno será o mais votado no primeiro. Portanto, alô, alô, Dilma! Mande passar a faixa presidencial. Mas, pensando melhor, não mande.

Dora Kramer: Nunca antes

- O Estado de S. Paulo

Em matéria de sobe e desce, surpresas e vaivéns, nada se compara a esta eleição que, no dia da votação, desmentiu o que parecia o único dado previsível: a disputa acirrada pela vaga no segundo turno.
As urnas mostraram o tucano Aécio Neves em larga dianteira em relação a Marina Silva e muito próximo da presidente Dilma Rousseff, de quem aparecia muito distante nas pesquisas. O segundo turno reproduzirá mais uma vez a polarização entre PT e PSDB, desta vez com uma diferença muito mais apertada.

O PT não esperava o resultado e sentiu o tranco. No momento em que foram liberados os primeiros números já mostrando o cenário de Aécio com votos em patamar bem acima do previsto, deputados petistas que estavam nos estúdios na TV Bandeirantes não escondiam o abatimento. "O caldo vai engrossar", comentou Arlindo Chinaglia.

A reação deixa muito claro que a preferência era a de que a adversária fosse Marina. Sendo Aécio, a guerra vai acontecer em terreno já conhecido pelo eleitorado: a comparação dos governos tucanos e petistas. Isso sem contar o que as campanhas não revelam sobre as armas de grosso calibre e baixíssimo nível que ninguém sabe no que exatamente consistem, mas todo mundo desconfia que mesmo se não existirem, de algum modo podem ser fabricadas.

Mal se definiu o resultado, as atenções se voltaram para a decisão de Marina a respeito do apoio (ou não) a Aécio. Segundo Walter Feldman, a definição sairá no máximo em cinco dias e terá critério exclusivamente político.

"Temos de pensar no que é melhor para o Brasil", dizia ele no domingo à noite, minutos antes de se reunir com Marina Silva e alguns companheiros de PSB.

Com isso, Feldman quer dizer que não deve pesar nenhum tipo de rancor por causa dos ataques feitos no primeiro turno. Ele fala em relação à campanha do PSDB, partido ao qual pertenceu e do qual ainda é próximo.

Outros preferem aproximação com o PT. Entre eles o presidente do PSB, Roberto Amaral. E os petistas, já na noite de domingo, se preparavam para procurar o partido em busca de apoio.

Será difícil a legenda conseguir uma posição de unidade. Mas, para Aécio, o importante não seria a orientação do PSB, mas um posicionamento de Marina, cujos eleitores em sua maioria disseram na última pesquisa antes da eleição que não votariam no PT nem no PSDB.

José Roberto de Toledo: A onda virou avalanche

- O Estado de S. Paulo

O resultado do 1.º turno é muito ruim para Dilma Rousseff (PT). A presidente fez uma vantagem muito menor do que a esperada sobre Aécio Neves (PSDB), cerca de 8 milhões de votos. Em 2010, ela abriu quase o dobro disso, foram 12 milhões a mais do que o tucano José Serra. Por sua vez, Marina Silva (PSB) praticamente voltou ao seu patamar de quatro anos atrás. O que ela teve a mais veio de Pernambuco, herdado de Eduardo Campos.

A missão de Dilma é a mais difícil de um candidato a presidente do PT desde 1998. Em quantidade de votos, sua vantagem equivale à de Lula em 2006, mas com uma diferença fundamental: o ex-presidente ficara a 1,4 ponto de se eleger no primeiro turno. Dilma está a 9 pontos da reeleição. Faltam-lhe 9 milhões de votos.

A petista vai precisar dos pouco mais de 2 milhões de votos de Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) e pelo menos 7 milhões dos 22 milhões de votos de Marina. Ou seja, Dilma precisa de 32%, ou 1 a cada 3 eleitores da candidata do PSB. Na última simulação de segundo turno, a petista conseguia 20%, 1 de 5.

Já Aécio, que chegou a convocar uma entrevista coletiva para dizer que não renunciaria à candidatura em setembro, teve um desempenho melhor do que o de Serra em 2010. O eleitor mudancista migrou em massa para ele nos metros finais da corrida eleitoral quando percebeu que Marina não tinha mais chances.

Por pelo menos um mês, Marina surfou sozinha a maior onda de opinião pública em muitos anos no Brasil, mas caiu da prancha e acabou na areia. Como o movimento que a carregou, sua candidatura sucumbiu ao peso das próprias contradições.

As mesmas razões que levaram a comunidade de negócios a flertar com a campanha de Marina à Presidência fizeram ela fraquejar nas pesquisas de intenção de voto quando a disputa esquentou.

Empresários e operadores do mercado financeiro enxergaram em Marina mais do que uma candidata aberta ao diálogo e disposta a ouvir opiniões divergentes - diferentemente da irredutibilidade de Dilma Rousseff (PT). Com ou sem razão, projetaram a imagem de alguém que, por falta de um partido, precisaria de mais suporte de terceiros e se tornaria assim permeável a influências externas. É como se imaginassem que poderiam tutelá-la.

O problema foi que a opinião pública pensou a mesma coisa, com sinais trocados. Quem se deixa tutelar não é um líder confiável. A partir das idas e vindas em relação ao seu programa de governo, colou na imagem pública de Marina a ideia de que ela é volúvel. Era a favor do casamento gay, depois não era mais. Saiu do PT para o PV, depois para a Rede e, por falta de opção, entrou no PSB. Tudo em um espaço de tempo muito curto.

Não houve um evento catastrófico, mas a sucessão de pequenos desgastes. Sua candidatura não implodiu, foi desconstruída a marretadas, a cada inserção de 30 segundos dos adversários na TV. Fixaram-lhe a imagem de uma candidata sem estrutura partidária, sem equipe e sem firmeza de propósito.

A campanha de Marina era a sobreposição mal costurada do estafe herdado de Eduardo Campos com o séquito da Rede. Seu comando mudou de estratégia no meio da corrida. Primeiro pintou-a de vítima. No fim, tentou vesti-la de guerreira. Deu no que deu. Nem que tivesse sido Aécio a se vestir de amarelo no debate da Globo, a queda de Marina não teria sido interrompida nem seus ex-futuros-eleitores teriam deixado de cair no colo do tucano. Depois que a avalanche começa, não há nada que consiga pará-la.

O embate de Dilma com Aécio nas próximas três semanas será uma reprise do filme que o eleitor cansou de ver em 2006 e 2010: Norte/Nordeste contra Sudeste/Centro-Oeste, interior contra capitais, pobres contra ricos, menos escolarizados contra mais escolarizados. O final é incerto, mas o enredo será o mesmo de sempre: uma mistura de farsa e suspense com momentos de terror.

Valdo Cruz: Saudades de Marina

- Folha de S. Paulo

Duas grandes ausências e muitas surpresas foram as marcas desta eleição. A maior delas, a disparada final do tucano Aécio Neves, que deixou petistas perplexos e os leva a sentir saudades antecipadas da adversária Marina Silva.

Entre as ausências, Eduardo Campos (PSB) fez falta. Sua partida precoce empobreceu o debate, que virou campeonato de desconstrução de imagem promovido pelo PT.

A eleição ficou também mais pobre porque os manifestantes de junho de 2013 não deram as caras na campanha de 2014. Faltou o colorido das ruas, algo que agradou e muito a turma da velha política. Culpa da violência de uns radicais.

Classificada como um milagre, a maior surpresa se materializou. Auxiliado pelos ataques petistas a Marina, o tucano atropelou a ambientalista na reta final e vai ao segundo turno da disputa, abrindo uma frente considerável em São Paulo.

Sai do primeiro turno revigorado, o que assusta o PT, mas com um gosto de vitória misturado com um sentimento de derrota. Se ganha entre paulistas com folga, perde no seu Estado, munição a ser usada pela campanha de Dilma contra ele. Na linha de quem conhece Aécio Neves não vota em peso no senador mineiro.

Em Minas, confirmou-se a surpresa que veio se construindo ao longo da campanha. O petista Fernando Pimentel acaba com o reinado de 12 anos dos tucanos no Estado. Vira um dos principais trunfos de Dilma na fase final. Logo ele, que era tão criticado pela cúpula do PT.

A presidente já disse ao amigo que vai precisar muito dele no segundo turno. Eleito governador, vai ter muito trabalho para ajudar na reeleição de Dilma. Aécio, depois de deixar Minas em segundo plano, conseguiu recuperar terreno nos últimos dias.

Agora, enfim, será a vez de o tucano virar alvo da máquina petista de desconstrução de imagem, que afia suas garras. Já o PSDB conta o acervo das maracutaias da Petrobras. Será um segundo turno sangrento.

Simon Schwartzman:A armadilha da mediocridade

• Não será mais possível crescer como se fez até aqui, é preciso redirecionar a política econômica e social

- Folha de S. Paulo

Os economistas falam da "armadilha da renda média", de países que, como o Brasil, conseguiram chegar aos US$ 10 mil ou US$ 12 mil por habitante por ano, mas não conseguem chegar perto dos US$ 30 mil a US$ 50 mil, como os países desenvolvidos. Um outro nome seria a armadilha da mediocridade.

O Brasil chegou aonde está graças às exportações de minérios e produtos agrícolas e ao crescimento da indústria e dos serviços que acompanharam a expansão das cidades. Fez parte desta história a ampliação da Previdência Social, dos serviços de saúde e da escolaridade. Para os governos, bastava cobrar impostos e distribuir para quem solicitasse conforme a força de cada um, dos políticos amigos às indústrias protegidas, passando pelos funcionários públicos e sindicatos, e chegando aos pobres com o Bolsa Família.

Esse tipo de crescimento já não tem como continuar. Acabou a migração do campo para as cidades, mas a violência urbana parece fora de controle e o transporte público é péssimo. A desigualdade vinha caindo, mas já não cai mais. A miséria se reduziu, mas a pobreza continua. Já quase não se morre de diarreia, mas o SUS mal consegue atender os enfermos de câncer e do coração. Já não há crianças fora da escola, mas elas mal aprendem. O acesso ao ensino superior cresceu com mais dinheiro para as universidades públicas, cotas, bolsas e crédito educativo, mas a qualidade da maioria dos cursos é ruim e as vantagens de ter um diploma são cada vez menores.

Os economistas sabem muito do que precisa ser feito para sair dessa armadilha: equilibrar as contas públicas, fortalecer a capacidade regulatória do Estado, abrir as empresas à competição internacional, criar regras claras para o uso de incentivos públicos e garantir ao setor privado a segurança jurídica necessária para seus investimentos. Mas isso não basta, porque o "custo Brasil" não vem somente do protecionismo, dos entraves burocráticos e da má qualidade da infraestrutura física, mas, sobretudo, da ausência de uma população bem-educada e capacitada, da condição de vida precária das cidades e da incerteza gerada por um sistema político desmoralizado.

Não será mais possível continuar crescendo e se desenvolvendo como se fez até aqui. Para sair da armadilha da mediocridade, é preciso redirecionar a política econômica e social, mas também olhar em volta, para os países que conseguiram superar essa barreira, e ver o que têm a nos ensinar sobre educação, saúde, proteção à velhice, gestão dos espaços urbanos, política ambiental, política energética, modernização do Estado e reforma do sistema político.

Nestas eleições, a grande pergunta é quais candidatos continuam olhando para trás, fazendo e prometendo mais do mesmo, satisfeitos com o que temos, e quais têm as condições de abrir espaço para um país capaz de avançar nestes novos caminhos. Para todos será uma longa aprendizagem, sujeita a erros e acertos. Mas não há dúvida de que está na hora de renovar.

Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio de Janeiro e ex-presidente do IBGE

Renato Janine Ribeiro: Muita coisa precisa mudar

• Devemos separar eleições federais e estaduais

- Valor Econômico

Muita coisa precisa mudar no formato das campanhas. Não sou dos que consideram nosso sistema eleitoral uma calamidade. O problema maior está nas escolhas legislativas. O senador tem mandato muito longo e uma boa chance de passar o cargo, em algum momento, a suplentes desconhecidos de quem votou neles. Deputados e vereadores são escolhidos com os eleitores sabendo pouco a seu respeito. Mas nossas eleições presidenciais me parecem quase modelares.

Após a experiência Collor de eleição solteira, passamos a casar a escolha do presidente e do legislativo federal. Um aventureiro terá dificuldade de vencer. Ao longo de um ano, pelo menos, os principais postulantes são submetidos a uma bateria de questionamentos - quase um bombardeio - que no final das contas faz que só os realmente capazes permaneçam: os que têm a melhor liderança política. A governabilidade geralmente se define antes da eleição. Quem não tiver apoios consistentes dificilmente chega lá. Sem demérito para Marina Silva, ela é a exceção confirmando a regra. Assumiu a candidatura a pouco tempo do pleito, e com isso foi poupada do pior: algo como os três anos de ataques a Dilma, os 12 meses de ataques a Aécio - que foram chamados de tudo o que é ruim, mas sobreviveram. Mesmo assim, em menos de 50 dias, bastante coisa se discutiu e se soube a respeito de Marina, seus méritos, suas limitações. É assim que tem de ser.

Mas, feito o elogio, muito precisa mudar. O pior é a relação entre o candidato e o eleitor, que é o ponto central de tudo. Os contatos presenciais, como os comícios, foram perdendo importância. A propaganda se faz cada vez mais pela televisão, rádio e internet. E aqui temos várias questões. Começo pelo horário eleitoral. Na eleição aos cargos majoritários de presidente, governador, prefeito e senador, os postulantes passam por uma grande exposição, mas sem debate e com frequência dizendo tudo igual. Apela-se à emoção mais do que à razão. Daí que as campanhas custem caro, dando dinheiro a marqueteiros, quimeras vazias a eleitores e contratos polpudos a financiadores. Isso tem de ser revisto.

Em poucos anos, poderíamos chegar a uma campanha de formato novo. O candidato se reuniria com grupos de eleitores para discussões focadas, transmitidas pela internet. A rede mundial substituiria com vantagem a televisão, baixando os custos com marqueteiros. Isso dispensaria os grandes financiadores de campanha, que são o que corrompe o sistema político, e fortaleceria o compromisso do candidato com um eleitor que será também um e-leitor. Um ano atrás, tínhamos 110 milhões de internautas e 130 milhões de eleitores. Logo teremos mais internautas do que votantes. A meta da inclusão digital deve garantir que todo cidadão tenha terá acesso à internet.

Segundo ponto: os debates precisam ser uma pedra de toque da campanha. Neles, os candidatos são expostos a um contraditório que não tem lugar no horário gratuito. Mas os debates não têm passado de shows, às vezes de má educação. Até presenciamos bate-bocas, como no debate da Record em que Levy Fidelix surfou na homofobia. Infelizmente, com isso o que guardamos na memória é o folclore. A meu ver, o melhor da campanha foram as entrevistas - duras - de William Bonner e Patrícia Poeta. 

Mas ficamos numa situação difícil. Se jornalistas comandam o debate, há o risco de facilitarem para um lado, não sendo poucos os casos de parcialidade deles. Já se um candidato pergunta para outro, podem fazer tabelinha ou, mesmo, ignorar o tema proposto. Aécio Neves, interrogado sobre o episódio em que recusou fazer o teste do bafômetro, mudou rápido de assunto. E Everaldo chegou, no debate final, a simplesmente ignorar o tema que lhe cabia e perguntar a Aécio outro inteiramente diferente - o que levou Bonner a passar um pito no pastor. Penso que precisa haver muitos debates e que devem constituir uma viga-mestra da campanha, mas o formato atual ainda não é satisfatório.

Terceiro: separar as eleições federais das estaduais. Sou contra a proposta de coincidência entre todas as eleições - incluindo até mesmo as municipais. Ora, se o número de cargos em disputa num ano como o atual já é alto, dificultando a boa escolha, por que e para que aumentá-lo? E sobretudo, este ano mostra que tudo se concentrou na eleição presidencial. Os governadores passaram batido. Vamos votar neles com pouca discussão. Para não falar dos parlamentares.

Uma solução simples seria realizar dois pleitos em sequência. Por exemplo, as eleições estaduais seriam em setembro, após dois meses de campanha, e as federais em novembro. Ou vice-versa. Teríamos então um período eleitoral mais longo, mas nem tanto assim. O eleitor ungiria governantes em separado, com maior tempo para discutir seus nomes e propostas, mas perto o bastante para que uns e outros representem o mesmo momento histórico.

Poderíamos, além disso, aproximar a eleição e a posse dos eleitos. Não há razão para ficarmos de dois a três meses com um governante que já foi substituído pela vontade popular. Nos países parlamentaristas, a posse é no dia seguinte à eleição. Seria bem razoável iniciar o mandato uns 15 dias após o segundo turno.

Finalmente, isso credenciaria o eleito a participar da decisão sobre o orçamento para seu primeiro ano de governo. Hoje, ele assume com uma lei orçamentária feita pelo Executivo e Legislativo em final de mandato. Tal situação só prejudica o novo governo, que tem seu início determinado por prioridades que já não são as do eleitorado.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

João Bosco Rabello: Uma nova eleição

- O Estado de S. Paulo

Com a passagem de Aécio Neves ao 2.º turno, em porcentual bem acima do que a curva ascendente de sua candidatura, na reta final da campanha, permitia enxergar, ficou bastante desconfortável a situação da presidente Dilma Rousseff na busca da reeleição.

As pesquisas projetavam para a presidente um patamar de 46% dos votos válidos como ponto de partida no 2.º turno, inferior ao de 2010, porém mais seguro que os 40% em que permaneceu, com uma possível variação, pequena, para mais (o comentário foi escrito com 90% dos votos computados).

Para Aécio projetava-se cinco pontos à frente de Marina, que acabaram se transformando em 15, superando as expectativas, enquanto a ex-senadora voltou ao seu patamar de 2010, de 20%, bem aquém do que os 24% que foram fixados como limite para sua queda.

O mais preocupante para a presidente é o cenário de São Paulo, onde a distância para Aécio é significativa, de quase dois por um. Esse quadro permite dizer que a eleição pode ser decidida pelos paulistas, cuja massa de eleitores neutraliza a vantagem de Dilma em toda a região Nordeste, embora bastante ampla.

Reversão. Para Aécio será de suma importância alguma reversão em Minas, onde está abaixo de Dilma, o que mostra que não foi a candidatura de Pimenta da Veiga que puxou sua votação para baixo, mas o contrário. Aécio deu por certa a vitória em casa e descuidou do próprio quintal.

A perspectiva de chegar à Presidência pode ajudar a reverter parcialmente esse quadro, ainda que isso não seja provável em grande escala. Mas, se livrar um milhão de votos de frente no segundo colégio eleitoral, seu berço político, ficará mais confortável na disputa.

Também é ruim para o PSDB o resultado final na Bahia, onde as pesquisas indicavam a vitória do candidato do DEM, Paulo Souto, mas que mostra o PT à frente. A Bahia é importante colégio eleitoral que Aécio esperava ter no 2.º turno a partir do efeito de uma vitória de Paulo Souto ainda no 1.º turno.

Os apoios dos governadores eleitos também serão importantes no 2.º turno para o candidato do PSDB na tentativa de reduzir a dianteira da presidente Dilma. Nesse contexto, a virada de sua candidatura na reta final, mostrando um fôlego surpreendente, pode resgatar parcialmente as alianças regionais costuradas antes da morte de Eduardo Campos, quando se teve um outro cenário eleitoral instalado.

Campos. Em Pernambuco mesmo, a boa relação com a viúva do ex-governador, Renata Campos, pode render o apoio estadual ao tucano, no que já se adiantou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), aliado de Campos, ontem logo após a confirmação da ida de Aécio ao 2.º turno.

O inesperado desempenho do peemedebista Ivo Sartori, no Rio Grande do Sul, deve projetar, em caso de consolidação de sua vitória, um apoio importante ao PSDB, a se somar ao resto do Sul, onde o tucano já recebe o apoio do eleitor de Paraná e Santa Catarina.

Em Mato Grosso do Sul e Goiás, celeiros do agronegócio, Aécio também deverá conquistar bom espaço: com Delcídio Amaral (PT) indo ao 2.º turno em curva descendente, o voto do campo tende a migrar para o PSDB. Perilo, em Goiás, por pouco não se reelege no 1.º turno, mas sua vantagem sobre Íris Resende, do PMDB é bastante acentuada, autorizando a previsão de sua vitória, o que respalda Aécio no 2.º turno.

Aécio tem justificada expectativa de um apoio formal de Marina Silva, mas, independentemente disso, estima-se que 60% dos eleitores da ex-senadora no 1.º turno migrem para o candidato do PSDB, com 20% para Dilma.

Essa migração depende muito mais do grau de motivação do eleitorado majoritário de Marina no 1.º turno - que calcula-se seja o voto antipetista -, do que da declaração de voto da candidata do PSB, embora este tenha obviamente importância consolidadora.

O PT tem, portanto, razões de sobra para começar a semana preocupado. A perda de capital político do partido se mostra maior que a avaliação interna, para o que, além do mensalão, começa a contribuir a corrupção na Petrobrás, que predominou no último debate presidencial na TV Globo.

Vinicius de Moraes: A cidade antiga

Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.

Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!

Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.

Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal

Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!

Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...

Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.