sexta-feira, 6 de março de 2015

Luiz Carlos Azedo - Não vai acender agora

• O Palácio do Planalto se movimentou como quem tinha prévio conhecimento da lista de políticos citados nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa

Correio Braziliense - 05/03/2015

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidirá até amanhã se derruba o segredo de Justiça dos pedidos de inquérito feitos pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, para investigar 54 suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Como na melô Malandragem dá um tempo, do falecido sambista Bezerra da Silva, Janot pediu a abertura de inquérito, mas não revelou o nome de ninguém.

O vazamento seletivo de nomes de políticos envolvidos — alguns dos quais atribuídos ao Palácio do Planalto — pôs a cúpula do Congresso na defensiva, mas desgastou ainda mais a relação da presidente Dilma Rousseff com o Congresso. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), depois de devolver a medida provisória que acaba com as desonerações das folhas de pagamento, diz que não aprova o ajuste fiscal se o governo não cortar na carne, leia-se extinguir ministérios e cargos comissionados ocupados pelo PT.

Para aumentar a tensão, ontem o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), resolveu afrontar a Câmara, ao afirmar que, na Casa, há entre 300 e 400 “achacadores”. O presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já estava invocado por seu nome ter sido vazado pelo governo, articulou a convocação do ministro para dar esclarecimentos. Foi aprovada por 280 votos de deputados.

Na lista de Janot, estariam também na berlinda os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ), Humberto Costa (PT-PE), Ciro Nogueira (PP-PI), que é presidente nacional do PP, e a ex-ministra da Casa Civil e senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), entre outros. O procurador-geral da República, porém, pediu o arquivamento das investigações contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN), contra os quais não se justifica a abertura de inquérito.

Na próxima semana, Janot deverá encaminhar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) os pedidos para investigar os governadores suspeitos de participação no escândalo de pagamento de propina na Petrobras. O relator é o ministro Luís Felipe Salomão. A tendência é de que o ministro derrube o sigilo das investigações. Vão para o pelourinho os governadores do Acre, Tião Viana (PT), e do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O ministro Teori Zavascki, relator do caso, não quis dar entrevistas sobre o assunto. No intervalo da seção da Corte, o ministro Marco Aurélio Mello foi o único a dar declarações: “Enquanto mantiver o sigilo, a suspeição recai sobre todos os políticos. A sociedade está esperando essa revelação, e essa revelação serve até para afastar o sentimento de impunidade, que é péssimo”, disse.

Terra arrasada
Com vários de seus líderes citados, a desorientação do PT ontem era monumental. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), um dos nomes vazados, defendia a abertura imediata do sigilo e se queixava dos vazamentos seletivos. Já o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), pregava com ardor o sigilo total sobre os inquéritos. No fim da tarde, o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, revelou a posição do governo: quebra do sigilo o mais rápido possível.

A presidente Dilma Rousseff chamou o vice-presidente Michel Temer para uma conversa no fim da tarde, a primeira entre ambos desde a posse. Não foi uma conversa muito fácil. Temer desistiu de ser bombeiro, prefere ser porta-voz do PMDB, que tem um diagnóstico muito negativo sobre a atuação do PT e da presidente da República. Além de reivindicar mais participação no governo, desconfia que Dilma tentou pescar em águas turvas para enfraquecer a legenda.

Tanto na eleição da Câmara, como na eleição do Senado, o Planalto se movimentou como quem tinha prévio conhecimento da lista de políticos citados nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Ou seja, trabalhou com um cenário de desmoralização do Congresso por causa do escândalo da Petrobras. Ao mesmo tempo, o governo tenta abafar a crise da estatal, salvar as empreiteiras envolvidas no escândalo e manter sua imagem ao largo da Lava-Jato.

Um comentário:

  1. Anônimo9/3/15 15:37

    Honestamente não tenho mais fé na política do Brasil, deixa impune os corruptos e punem os que trabalham. Pezão é um governador que tem feito muito pelo Rio, lamentável.

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