sábado, 11 de abril de 2015

José Roberto de Toledo - Sempre aos domingos

- O Estado de S. Paulo

No que depender da internet, o 12 de abril deverá ser menor do que o 15 de março. Duas pesquisas independentes mostram uma queda significativa no interesse dos internautas em relação à manifestação programada para este domingo. Dilma Rousseff é um alvo menor na rede do que era um mês atrás - e não só pela presidente ter emagrecido. Outros temas disputam a atenção do público: dos ratos na Câmara à PEC da terceirização.

A pedido desta coluna, o Ibope DTM comparou o volume de tuítes publicados no Brasil sobre assuntos relacionados à política no período anterior aos protestos de 15 de março com os dias que antecederam as manifestações de amanhã. Ou seja, 8 a 12 de março versus 5 a 9 de abril, sempre de domingo a quinta-feira. Quase tudo caiu a menos da metade - menos as críticas ao PT.

As citações a Dilma no Twitter pré 15 de março eram três vezes mais numerosas do que foram no pré 12 de abril: 684 mil contra 217 mil. Em março, em 61% das vezes em que a presidente foi citada o contexto era negativo. Isso caiu para 51%. Ainda é muito se comparado aos 27% de citações positivas, mas a proporção diminuiu. De 3 tuítes negativos a cada 1 positivo para 2 a 1.

A diminuição do volume e da intensidade das críticas a Dilma no Twitter não é suficiente para caracterizar um interesse menor pelos protestos. Mas rareou também a palavra "manifestação". Foram 59 mil tuítes com ela em abril, contra 122 mil em março. Queda de 52%. Longe da timeline, longe das ruas? É uma máxima em busca de comprovação.

Pode-se argumentar que o Twitter é só uma de muitas redes sociais, nem é a maior delas. Mas a perda de interesse também se verifica no Google. As buscas pelas palavras "protesto" e "manifestação" - medidas pelo Google Trends - caíram à metade nesta quarta-feira (último dado disponível) em comparação à quarta-feira anterior a 15 de março.

É significativo que a proporção das quedas no Twitter e no Google por "manifestação" seja igual. O interesse diminuiu. Talvez porque uma parte de quem foi às ruas um mês atrás considere que já tenha feito a sua parte. O sucesso do 15 de março, dada a multidão que protestou, pode ser, paradoxalmente, motivo para uma eventual desmobilização neste domingo.

Do MPL à CUT, do MTST aos sindicatos mais pelegos, todos que organizam movimentos sociais sabem que, se é difícil levar um monte de gente para a rua, ainda mais difícil é mantê-lo lá. A dispersão é sempre tentadora. Para combatê-la são necessários palavra de ordem forte e unificadora, meta objetiva e tangível, compromisso e dedicação dos manifestantes - não só aos domingos.

Nada mais objetivo do que "Fora Dilma". Traduz o desejo da maioria de quem protesta. Mas a meta não se tornou mais tangível desde março. A perda de popularidade da presidente é condição necessária, mas insuficiente para o impeachment. Falta o Fiat Elba de Collor, a arma fumegante. Além, é claro, da necessidade de o PMDB e companhia decidirem que a fumaça não é de gelo seco.

Há sempre a possibilidade de as ruas contradizerem a internet e uma multidão recorde tomar a Avenida Paulista novamente. Mas, se esse cenário não se confirmar, se a participação for menor até na conta da PM paulista, Dilma pode espocar a Coca Light?

Só se acreditar que corre uma prova de 100 metros rasos e não uma maratona por seu mandato. As menções a "impeachment" no Twitter caíram 82% de março a abril: 91 mil para 16 mil. Mas o PT continua citado em mais da metade dos tuítes sobre política, e não é para elogiar: 370 mil tuítes negativos em cinco dias. Nenhum outro termo supera o volume das críticas ao partido.

Por falar em partido e Twitter, as citações ao PMDB dobraram e superaram as ao PSDB. Já há mais buscas por "Eduardo Cunha" do que por "Aécio Neves". Na internet, parece que a oposição trocou de comando. Em Brasília também.

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