quinta-feira, 28 de maio de 2015

Míriam Leitão - Começo difícil

- O Globo

O PIB do primeiro trimestre vai ser divulgado amanhã e deve mostrar o ano começando com o nível de atividade em retração. As estimativas apontam para quedas espalhadas entre os principais setores da economia: indústria, serviços, investimentos e consumo das famílias. Os investimentos podem registrar a sétima redução trimestral consecutiva.

O PIB mais fraco vai dificultar o ajuste fiscal e, desta vez, está tendo impacto sobre o mercado de trabalho. Depois de um crescimento de 0,3% no quarto trimestre de 2014, o ano de 2015 começou frio, mas há muita divergência nas previsões sobre qual exatamente foi a temperatura. A Tendências Consultoria estima uma retração de 1% no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco projeta queda de 0,6%; enquanto o Itaú Unibanco prevê contração de 0,4%. O Ibre/FGV tem um número melhor, apenas ligeiramente negativo (-0,1%).

A economista Silvia Matos, do Ibre, explica que a previsão para o ano completo de 2015 é de retração de 1,5% no PIB brasileiro. O Bradesco está prevendo -2%. Silvia diz que o primeiro trimestre será ruim em vários tipos de comparação: sobre o trimestre anterior; sobre o mesmo trimestre de 2014; e no acumulado em 12 meses. O momento mais agudo da contração no ano, segundo Silvia, será o segundo trimestre, para um período de baixíssimo crescimento até dezembro. Por isso, essa projeção negativa para o ano completo.

O grande problema desse cenário traçado pelos economistas é o efeito da conjuntura sobre o mercado de trabalho. Em outros momentos de crise, a indústria teve recessão, mas o setor de serviços continuou crescendo e preservando empregos. Para 2015, explica Silvia Matos, as projeções apontam para a primeira retração do PIB dos serviços desde 1997:

- Nossa estimativa é que o PIB dos serviços caia 0,5% no primeiro trimestre e termine 2015 com retração de 0,8%. Essa é uma grande diferença para outros períodos. Em 2009, por exemplo, o PIB diminuiu 0,2%, mas os serviços cresceram 1,9%. Com isso, o mercado de trabalho não sofreu tanto o impacto. Este ano, será diferente, haverá fechamento de vagas na indústria e nos serviços - disse.

Esse efeito já pode ser percebido nos indicadores. A taxa de desocupação medida pela PME em seis regiões metropolitanas subiu a 6,4% em abril, 1,5 ponto acima do mesmo mês do ano passado. O dado do mercado formal, divulgado pelo Ministério do Trabalho, no Caged, apontou redução de 97 mil vagas em abril. A indústria fechou 50 mil postos, e o setor de serviços começou a demitir, com fechamento de 7,5 mil empregos com carteira assinada.

O consumo das famílias deve se contrair 1% no primeiro trimestre, segundo a projeção do Ibre, e 1,7%, pela estimativa do Bradesco. As explicações já são conhecidas: queda da renda, crédito mais caro, inflação elevada. A redução generalizada da confiança dos empresários e dos consumidores está tendo um efeito devastador sobre os investimentos. O Itaú Unibanco projeta que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 3,6% no primeiro trimestre, o que vai significar a sétima contração consecutiva desse indicador. O Ibre estima que o ano de 2015 terá colapso de 8,8% dos investimentos, depois de um forte tombo de 4,4% no ano passado.

Todos esses números significam que será cada vez mais complicado para o governo atingir a meta de superávit primário, porque o nível mais fraco de atividade vai afetar a arrecadação. A piora do mercado de trabalho também pressiona os gastos com seguro-desemprego e diminui receitas que financiam o déficit da Previdência, explica Silvia Matos.

Os números negativos do PIB neste primeiro trimestre ainda não têm relação com os apertos fiscal e monetário que estão sendo implementados pela nova equipe econômica. São herança do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Efeitos da condução desastrosa da economia pela equipe anterior. Infelizmente, não deve ser o único trimestre negativo do ano. As previsões de vários bancos e consultorias são de que o encolhimento do PIB continuou no segundo trimestre. Este, definitivamente, foi um difícil começo de ano.

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