sexta-feira, 29 de maio de 2015

No senado, líderes dão aval a fim da reeleição

• Argumento de senadores é de que mandatos consecutivos levam ao uso da máquina e boicotam novas lideranças

Maria Lima, Cristiane Jungblut e Isabel Braga – O Globo

Reforma política

BRASÍLIA - Aprovado com larga folga na Câmara dos Deputados, o fim da reeleição também deve passar com facilidade no Senado. Do PT ao PSDB, passando pelo PMDB do presidente da Casa, Renan Calheiros, os líderes dos principais partidos defendem a mudança. Boa parte dos parlamentares entende que o retorno à regra antiga amplia as oportunidades de concorrer a cargos de presidente, governador e prefeito. Aliado a isso, outro fator une parlamentares da base e da oposição na trincheira contra o instituto que foi aprovado em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso: o uso abusivo da máquina para comprar apoios e massacrar adversários nas eleições, e o fato de a reeleição atrapalhar o surgimento de novas lideranças políticas.

"Sem limites"
Derrotado na eleição passada, quando entrou com várias ações contra a campanha da presidente por suposto abuso da máquina federal - inclusive dos Correios -, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, comemorou:

- O fim da reeleição, neste momento, permite o surgimento de novas lideranças políticas. Acho que a presidente da República acabou por desmoralizar a reeleição. Essa utilização sem limites, irresponsável, diria criminosa, da máquina pública foi, a meu ver, um grande estímulo para que cerca de 400 parlamentares na Câmara votassem pelo fim da reeleição, e espero um placar proporcionalmente parecido com esse aqui, no Senado.

O PSDB foi alvo de críticas internas e de algumas piadas no plenário da Câmara por apoiar o fim da reeleição agora. O partido supostamente tem maior chance de voltar ao Planalto em 2018.

O fim da reeleição, no entanto, poderá facilitar um acordo de revezamento na disputa presidencial entre Aécio e o governador Geraldo Alckmin. O senador tucano vinha defendendo a medida desde o início de seu mandato no Senado, em 2011.

Ele admitiu que a posição não é consenso no PSDB, mas lembrou que essa posição é oficial. Em seu Twitter, o ex-líder do governo FH e um dos coordenadores da campanha de Aécio, o tucano Arnaldo Madeira protestou depois de criticar também o apoio ao fim do fator previdenciário: "Difícil o PSDB. Agora é pelo fim da reeleição, que ajudou a criar no fim dos anos 1990. Argumentos: generalidades sem qualquer pesquisa".

Até mesmo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), defenderam a necessidade de pôr fim à reeleição. O petista também admitiu que essa não é uma posição consensual no PT, mas disse que muitos hoje são contra a reeleição. Segundo ele, o ex-presidente Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, são a favor de manter a reeleição.

- Deverei liberar a bancada para votar. Mas não vejo contradição na posição do PSDB, por exemplo, porque não posso dizer que o PT hoje tenha a mesma posição de quando a reeleição foi votada - disse.

Uníssonos, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apontam os abusos cometidos por parte de quem disputa o cargo já "sentado na cadeira" como a principal razão para a ampla vitória de 452 votos a favor do fim da reeleição, tendo apenas 19 votos contrários.

- Acho que o que motivou a votação maciça foi o abuso de quem disputa a reeleição no cargo - completou Cunha.

- Acho que essa é a grande reforma. A reeleição acaba sendo a fonte de todos os desvios, e já havia chegado a hora de acabarmos com ela. O sentimento do Senado é exatamente igual ao sentimento da Câmara com relação ao fim da reeleição - disse Renan.

Rejeição ao PT e a Dilma
Para muitos, o antipetismo e o antidilmismo pesaram na aprovação da mudança de regras na Câmara. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) disse ontem que já era contra o instituto da reeleição desde a Constituinte, onde a decisão foi amplamente discutida em subcomissões temáticas e, depois, votada em dois turnos. Ele contou que anteontem, após a votação da emenda constitucional, vários parlamentares postaram o resultado no Twitter, e a reação dos internautas foi de comemoração.

- A situação agora foi o espelho do que se passou quando a reeleição foi aprovada no governo Fernando Henrique e havia um favoritismo de Lula. Agora o favoritismo é do antiDilma. Como em todas as alternativas, quem decide é o povo, não há prejuízo para a democracia - avalia Miro.

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