segunda-feira, 8 de junho de 2015

PT faz congresso sob desgaste e risco de deserções

• Partido está dividido quanto à política econômica do governo, e rejeição popular leva parlamentares a cogitar saída

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - Há três anos, o PT administra Itupeva e possui a maior bancada na Câmara de Vereadores da cidade de 60 mil habitantes no interior de São Paulo. Mas essa hegemonia está com os dias contados. Pressionados pela rejeição da população à legenda, o prefeito Ricardo Bocalon e três dos quatro parlamentares locais devem anunciar nos próximos dias a saída da sigla. A debandada de quadros no município do maior estado do país ilustra a crise que o partido levará para o seu 5º Congresso, a partir de quinta-feira, em Salvador.

Divididos sobre a política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, os 800 delegados do PT vão tentar ainda encontrar saídas para a série de escândalos que a legenda vem enfrentando nos últimos anos.

Enquanto isso, em São Paulo, a ordem é conter as deserções. O presidente do partido no estado, Emídio de Souza, fez um périplo por cidades do interior para conversar com prefeitos e vereadores.

- Não tem essa história de debandada. Alguns prefeitos podem sair, o que é natural num partido como o nosso, na situação que estamos vivendo - minimiza Emídio.

Mas o fato é que, pelo menos em Itupeva, está difícil ser petista. O prefeito Ricardo Bocalon evita falar dos problemas que tem enfrentado, apesar de admitir a negociação para mudar de legenda.

- Cada hora aparece um escândalo novo contra o PT. Aqui eles não ganham mais eleição - afirma Jonas Moreira, de 31 anos, gerente de uma loja de material elétrico na cidade.

- Eu sofro bastante na rua. Todos os dias escuto as pessoas dizendo que, se eu continuar no PT, não votam mais em mim. Em encontros sociais, quando conheço alguém e perguntam o que eu faço, peço para mudar de assunto - conta a vereadora Tatiana Salles (PT).

Por orientação de seu advogado, a vereadora está fazendo um dossiê: toda vez que surge uma nova denúncia contra a legenda, ela anota os constrangimentos que enfrenta nas ruas por causa do episódio. A ideia é usar o documento para evitar uma eventual ação de cassação do mandato por parte do comando da sigla.

Com medo de que os desertores articulem as saídas com as direções municipais, Emídio de Souza decidiu que todas as expulsões do PT devem passar pelo Diretório Estadual. Em caso de expulsão, o partido não pode requerer o mandato na Justiça Eleitoral.

Os problemas do PT em São Paulo não se resumem às eventuais deserções. Em São Bernardo do Campo, berço do partido no ABC paulista, o prefeito Luiz Marinho enfrentou, até a semana passada, uma greve de 22 dias comandada por um sindicato filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidido por um filiado ao PT. Foi a primeira paralisação da gestão de Marinho, ex-presidente da central sindical e ex-ministro do Trabalho do governo Lula.

No plano nacional, o conflito entre a CUT e o governo petista ganhou novo capítulo na semana passada, com a divulgação do documento assinado pelo presidente da central, Vagner Freitas, para ser levado ao congresso em Salvador. O texto diz que o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda) coloca o partido contra a classe trabalhadora.

Os ataques do dirigente da CUT dão combustível para a ala do PT que planeja dar ao documento final do encontro uma rejeição contundente à política econômica da presidente Dilma.

Todas as teses das correntes petistas para o encontro de Salvador traziam críticas às medidas adotadas pelo governo na economia. Mas esses documentos estão sendo revisados, e novas versões devem ser apresentadas até quarta-feira.

- O partido deve ter um posicionamento crítico sobre a condução da política econômica do governo. Isso é uma crítica à direção, porque o partido está sendo omisso em relação ao programa pelo qual foi eleito - afirma o secretário de Formação Política do PT, Carlos Árabe, da chapa Mensagem ao Partido.

Com a missão de administrar os embates internos, o presidente do PT, Rui Falcão, cita que 200 mil pessoas pediram filiação à legenda este ano.

- Isso não é um partido em crise, como a mídia monopolizada tenta nos caracterizar - afirma Falcão.

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