sábado, 29 de agosto de 2015

Míriam Leitão - Tristeza dos números

- O Globo

É uma recessão. Ontem, acabaram todas as dúvidas que alguém pudesse ter. Não são apenas dois trimestres negativos, nos três trimestres anteriores os resultados foram também negativo ou zero. Vários economistas acham que vai continuar assim. Será um longo tempo de encolhimento. O desafio do país será reconstruir lentamente a confiança na recuperação.

Desde ontem os economistas dos departamentos econômicos dos bancos e consultorias voltaram para seus modelos de cálculo do PIB. Alguns já projetam uma queda de 3% para este ano. Os indicadores antecedentes do terceiro trimestre mostram nova redução, segundo a análise do economistachefe do Banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho. O banco francês é um dos que preveem uma retração de 3% em 2015 e um novo recuo de 1% no ano que vem. O economista-chefe do Banco Modal, Alexandre de Ázara, tem projeções de números negativos para os próximos dois trimestres.

Em palavras, o que os números dos economistas mostram é que está ruim e permanecerá ruim. Nada disso aconteceu por acaso ou pelas turbulências que sempre acontecem no mundo. Não é o mundo o nosso problema. A crise foi feita aqui, como efeito de decisões erradas. Os alertas foram dados, mas foram ignorados. As medidas econômicas equivocadas, e que foram aprofundadas no ano passado, deixaram uma herança amarga. O gráfico abaixo é a melhor síntese do que foi feito com a economia no governo Dilma Rousseff, com seus experimentos da tal “nova matriz”: PIB no chão, e inflação nas alturas. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses chega a 9,56% até julho, o PIB encolheu 1,2% em 12 meses até junho.

Mas não é tudo, porque ontem também foram divulgados os dados fiscais mostrando que o país teve um novo déficit primário, de R$ 10 bilhões, em julho. Nos últimos 12 meses, o rombo primário chegou a R$ 51 bilhões, ou 0,89% do PIB. O déficit nominal foi a 8,81%, e a dívida bruta saltou para a 64,6% do PIB. As contas públicas estão em um processo acelerado de deterioração. Os gastos crescem, enquanto a arrecadação cai por causa da recessão, colocando o país em um círculo vicioso.

A grande preocupação dos economistas é o de rebaixamento da nota de crédito do governo, que aprofundaria a recessão. Alexandre de Ázara explica o que acontece se o Brasil voltar para o grupo de países de nível especulativo: haverá uma “liquidação” de ativos, os investidores estrangeiros venderão, rapidamente, títulos do governo, de empresas, reais, e ações na bolsa. Será um movimento financeiro brusco, que colocará pressão, ao mesmo tempo, sobre o dólar, as contas públicas, inflação e taxa de juros.

Para evitar isso será preciso tentar melhorar as contas. Este é o contexto em que o governo decidiu ressuscitar a CPMF. Só que o fez da forma mais atabalhoada possível. Em vez de explicar para o país, tentar convencer o contribuinte, preparar a opinião pública, o governo simplesmente incluiu o imposto no Orçamento do ano que vem e deixou a notícia circular como fato consumado. Ontem, tentava reduzir o estrago.

Ao mesmo tempo, o país se viu às voltas com a notícia de que entrara oficialmente em recessão, que as contas públicas pioraram ainda mais e que a CPMF seria recriada. Para ficar na frieza dos números, o PIB do primeiro trimestre foi revisto de -0,2% para -0,7%, e o segundo trimestre ficou em -1,9%. Os últimos três trimestres de 2014 foram: -1,1%, 0,1% e zero respectivamente. É um tombo forte. É hora de parar de improvisar e de as autoridades terem um plano para tirar o país do buraco em que o governo Dilma nos colocou.

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