quarta-feira, 12 de agosto de 2015

No palanque contra a crise – Editorial / O Estado de S. Paulo

Dilma repudia energicamente o “vale-tudo” na política e seu novo herói para combater a crise econômica braba que o País enfrenta é Renan Calheiros, porque ela não concorda “com nenhuma medida aprovada que leve à instabilidade, tanto econômica quanto política do País”. Vamos por partes.

Finalmente convencida por Lula de que crise é coisa que se resolve no palanque, Dilma deitou falação em mais um evento da “agenda positiva”, agora no Maranhão do aliado governador Flávio Dino (PC do B), em solenidade promovida para entregar unidades do programa Minha Casa, Minha Vida. Como se a situação geral já não estivesse suficientemente ruim, a presidente acusou a oposição de estar apostando no “quanto pior melhor” e proclamou: “Vamos repudiar, sistematicamente, o vale-tudo para atingir qualquer governo. No vale-tudo, quem acaba sendo atingido pela torcida do quanto pior melhor é a população do País, do Estado e do município”. E explicou melhor, o que nunca é demais quando se trata de seus discursos: “Quanto pior melhor? Melhor para quem? É essa a pergunta. É pior para a população, é pior para o povo. É pior para todos nós”.

Dilma certamente sabe do que está falando quando se trata de vale-tudo. Pois este foi o método político do lulopetismo, aplicado nos tempos de oposição e de governo. Estão aí o mensalão, o petrolão e outros exemplos de menor impacto policial a demonstrar que para a elite do PT vale meter a mão no dinheiro do povo para financiar seu projeto de poder e, de quebra, enriquecer antigos guerreiros desse mesmo povo brasileiro. Por mais que Dilma jure que não tem nada a ver com essa parte do vale-tudo, não tem como negar que foi protagonista do estelionato eleitoral de 2014. A candidata à reeleição foi à TV para mentir sem o menor escrúpulo, ao acusar seus adversários de estarem “tirando a comida da mesa dos pobres” e prometer o paraíso na terra, só para, depois de eleita, começar a colar remendos na economia nacional, que ela quebrou em quatro anos. Fez o diabo e valeu tudo.

Na busca desesperada de soluções que salvem seu mandato, Dilma tem agora um novo herói. Mas terá ela dado uma olhada na folha corrida de Renan Calheiros, com quem está encantada porque ele acaba de descobrir a fórmula infalível para reerguer a economia? O pacote de propostas apresentado pelo presidente do Senado – que parece ter sido cozido com a ajuda do ministro da Fazenda – pode até vir a ser de alguma valia. Mas não é disso que se trata. Dilma discursou em São Luís que “o Brasil precisa, mais do que nunca, que as pessoas pensem primeiro nele, Brasil (...) e só depois pensem em seus partidos e em seus projetos pessoais”. Não é difícil de imaginar, com base no retrospecto de sua carreira política, no que Renan Calheiros, com o rabo preso na Lava Jato, está pensando primeiro.

Finalmente, Dilma diz-se indignada com medidas que levem “à instabilidade, tanto econômica quanto política do País”. Ela se referia à “pauta-bomba” urdida por Eduardo Cunha na Câmara para comprometer o plano de ajuste fiscal e desmoralizar o governo. Justa indignação, portanto. Mas hoje ninguém leva o País “à instabilidade, tanto econômica quanto política”, porque Dilma, Lula, o PT e seus vorazes aliados já se encarregaram disso com notáveis pertinácia e eficiência. A tal indignação vem tarde e cai no vazio, portanto.

A presidente da República deveria parar um instante para refletir sobre a relação entre a sua enorme impopularidade e falta de credibilidade junto aos brasileiros e a soma de seus muitos erros com a desfaçatez com que abusa da boa-fé e do discernimento das pessoas. Subir no palanque para repetir o mesmo discurso que a levou ao descrédito só pode piorar as coisas. Principalmente quando fica óbvio que toda essa encenação é cuidadosamente planejada no que se refere à “participação popular”. Para o evento em São Luís o governo maranhense providenciou a convocação de uma claque: 2 mil beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, além de filiados a entidades e organizações sociais comprometidas com o petismo e suas linhas auxiliares, receberam transporte e, em muitos casos, lanche para aplaudir Dilma. Tudo no melhor estilo da fábrica de ilusões do PT.

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