quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Em laudo, PF vê lobby internacional do governo Lula para a Odebrecht

Por André Guilherme Vieira e Fernando Torres – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em análise de troca de e-mails do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, datados de 2009, a Polícia Federal (PF) vê suspeitas de irregularidades nas gestões feitas pelo governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em favor da empreiteira no projeto da Hidrelétrica Binacional Baynes, na Namíbia. E aponta o então chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, tratado nas mensagens por "seminarista", como o principal ponto de contato da Odebrecht na defesa de seus interesses no governo. A PF, no entanto, afirma que a perícia ainda não é conclusiva.

O laudo diz que e-mail trocado por executivos da Odebrecht (Marcelo Odebrecht, Marcos Wilson, Luiz Antonio Mameri) com Miguel Jorge, mostra que o então ministro do Desenvolvimento de Lula confirmou ter estado com os presidentes do Brasil e da Namíbia e que o "PR fez o lobby", em referência a Lula, segundo a PF.

Em e-mail enviado em fevereiro de 2009 a Miguel Jorge, Marcos Wilson, da Odebrecht, solicita: 

"Miguel, se você estiver hoje com o presidente Lula e o da Namíbia é importante que esteja informado sobre esta negociação e, se houver oportunidade, manifestar sua confiança na capacidade desta multinacional brasileira chamada Odebrecht. Há um interesse em continuar participando do consórcio brasileiro na etapa de implantação do empreendimento binacional".

Miguel Jorge respondeu ao e-mail da seguinte forma: "Estive e o PR fez o lobby. Aliás, o PR da Namíbia é quem começou - disse que será licitação, mas que torce muito para que os brasileiros ganhem, o que é meio caminho andado".

A análise da PF revela ainda que Alexandrino Alencar, então diretor de relações institucionais da Odebrecht, seria o responsável por passar as mensagens da empresa a Gilberto Carvalho.

Em setembro de 2007, Marcelo Odebrecht escreve: "Alex, o [ex-ministro de Minas e Energia, Nelson] Hubner está querendo jogar o PR ainda mais contra nós. Importante você fazer esta mensagem chegar no seminarista ainda hoje".

Nos e-mails, há a reprodução de matéria em que o à época ministro Hubner diz que ação judicial envolvendo a Odebrecht e a Secretaria de Direito Econômico poderia atrasar o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio.

Em outra troca de e-mails, de janeiro de 2008, executivos da Odebrecht se mostram preocupados com a possibilidade de José Antônio Muniz Lopes, ex-presidente da Eletronorte, ser nomeado secretário executivo de Minas e Energia.

Atual diretor de transmissão da Eletrobras, Lopes já trabalhou para a Camargo Corrêa.

"Existem condições pelo histórico de trazê-lo para o nosso lado, ou pelo menos deixá-lo neutro? Caso não haja condições é melhor queimá-lo logo", orienta Marcelo Odebrecht. Em seguida, acrescenta: "Neste caso talvez a melhor forma seja uma mensagem do Alexandrino ao seminarista dizendo que se este cara pegar o cargo pode colocar o Madeira em risco (...) visto que trabalhou para a CCCC [ Camargo Corrêa ] nos últimos anos."

Ao Valor, Miguel Jorge confirmou o lobby. "O ministro do Desenvolvimento, nas suas missões oficiais, tem a obrigação institucional de trabalhar pelas empresas brasileiras. E eu sempre fiz lobby em favor das empresas do Brasil. Embora neste caso nem tenha sido necessário fazer lobby, porque o próprio presidente da Namíbia estava interessado", disse.

O Instituto Lula informou que "o ex-presidente Lula tem orgulho de ter atuado fortemente em seu governo para ampliar o espaço do Brasil e de empresas brasileiras nos mercados internacionais, sem ter jamais recebido nenhum favor ou pagamento por isso".

Em nota, Gilberto Carvalho "nega categoricamente que recebeu diretamente de Marcelo Odebrecht ou Alexandrino Alencar qualquer sugestão para discursos em agendas internacionais ou assuntos relativos à Odebrecht".

Segundo a Odebrecht, "os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa e sua participação nos debates de projetos estratégicos para o país - nos quais atua, em especial como investidora". A empresa diz que o projeto Baynes não foi realizado.

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