segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cunha diz que 'despachar' o impeachment é 'obrigação'

• Deputado afirma em rede social que não vai manter pedidos na gaveta

• Auxiliares de Dilma estão se preparando para reagir a uma eventual ofensiva do presidente da Câmara

Cátia Seabra, Gustavo Uribe, Débora Álvares e Gabriel Mascarenha – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou as redes sociais neste domingo (4) para reiterar que, num eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, caberá a ele apenas aceitar ou rejeitar o pedido de instauração do caso.

"Não tenho qualquer outro papel que não seja esse. Os que falam gostariam que eu mantivesse (a representação pela abertura do impeachment) na gaveta, e isso não ocorrerá. A minha obrigação é despachar", disse.

Cunha reafirmou sua posição ao comentar reportagem da Folha neste domingo que mostrou que auxiliares de Dilma estão se preparando para reagir, caso ele se movimente para viabilizar a análise do impeachment.

"Acho engraçado que ficam achando conspiração em tudo. Se eu aceitar (o pedido de instauração) é porque estou viabilizando (o impeachment) e, se rejeitar, também estou viabilizando", criticou.

O Planalto aposta que o peemedebista pode dar andamento ao processo nas próximas semanas para diminuir o desgaste que tem sofrido desde que virou alvo das investigações do esquema de corrupção na Petrobras.

Cunha foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal sob suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção. Ele é acusado de ter recebido US$ 5 milhões em propina.
A situação do peemedebista ficou ainda mais complicada na semana passada, depois que o Ministério Público da Suíça informou ter encontrado quatro contas bancárias no país controladas por ele e familiares.

Apesar de o PMDB ter ampliado seu espaço no governo na última reforma ministerial, os impasses entre o Planalto e a bancada do partido na Câmara ainda não estão resolvidos. Por isso, Dilma pediu aos novos ministros peemedebistas que atuem para liquidar os problemas.
Na semana passada, um terço da bancada assinou manifesto no qual se posicionou contra as negociações por cargos na Esplanada.

A expectativa dos ministros peemedebistas é reverter a posição de pelo menos 14 dos 22 deputados que assinaram o manifesto.

Divergências
O ministro Celso Pansera (RJ), que assume a Ciência e Tecnologia pela cota do PMDB na Câmara, disse estar seguro que deputados da ala contrária ao governo vão reverter suas posições.

"Na quinta (1º), diversos deputados ligaram dizendo que não tinham entendido o manifesto naquele sentido e que anunciarão a retirada das assinaturas", disse Pansera.

Na Câmara, porém, há demonstrações de resistência.

No mesmo dia em que Pansera disse haver fragilidade na posição dos "rebeldes peemedebistas", dissidentes negaram a intenção de retornar à base aliada. "Apoio não se diz, se confirma no voto", afirmou um deles.

Reconhecendo as divergências, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) ressaltou a necessidade de "trabalhar pela unidade do partido".

"O presidente Michel Temer vai trabalhar no sentido de unificar o partido para que o PMDB tenha um comando só, com uma voz só", disse.

Para Padilha, o governo "fez a sua parte" ao ampliar o espaço do partido e atender as demandas da bancada da Câmara que, além de Pansera, também emplacou Marcelo Castro na Saúde.

"A presidente Dilma Rousseff foi a limites extremos. O governo federal fez o gesto. Agora, há que se esperar a correspondente reação por parte de quem foi tão beneficiado", afirmou.

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