terça-feira, 28 de abril de 2015

Opinião do dia – César Benjamin

Especialista em fazer o marketing do otimismo sem projeto, Lula foi uma espécie de Eike Batista da política. Também encantou multidões e, com isso, arrastou grande parte da esquerda. Entre os atores políticos, ela será a maior perdedora.

Ao longo da história, a esquerda resistiu a diversas tentativas de aniquilação, vindas de fora para dentro. Ao aderir ao lulismo – que abria aos seus quadros generosas oportunidades de ascensão social e poder – ela se deixou sucumbir por um processo inédito, lento e profundamente corrosivo: a dissolução de dentro para fora, pela perda de seus valores fundamentais.

Embora abrigado em legendas de esquerda, o lulismo sempre foi, na essência, um movimento conservador, que reduziu a idéia de justiça social apenas à dimensão do consumo individual e à conquista de votos a ela associada. O fortalecimento da coisa pública e das instituições republicanas, o desenvolvimento moral, intelectual e cultural das pessoas e o aperfeiçoamento do ambiente social em que se dá a convivência humana - que são essenciais em qualquer projeto progressista – sempre estiveram fora de seu horizonte ideológico.

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César Benjamin é um cientista político, jornalista, editor e político brasileiro. Durante a Ditadura Militar Brasileira, participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Co-fundador do Partido dos Trabalhadores, foi também filiado ao PSOL, tendo se desligado dos dois partidos. Trecho do artigo ‘É pau, é pedra, é o fim de um caminho’. Revista piauí, nº 103, Abril, p. 16.

Caixa reduz para 50% valor máximo do financiamento de imóvel usado

• Restrição ocorre em meio a forte saída de recursos da poupança, principal fonte de crédito

• Mudança vai exigir entrada mais alta e beneficiar construtoras, que estão com estoque elevado de novos

Toni Sciarretta, Joana Cunha - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Caixa Econômica Federal, responsável por 70% do crédito imobiliário no país, decidiu reduzir de 80% para 50% o valor máximo do financiamento dos imóveis usados de até R$ 750 mil com os recursos da poupança.

A mudança, que vale a partir da próxima segunda (4), ocorre em meio a forte saída de dinheiro da poupança (os saques superaram os depósitos em R$ 23 bilhões de janeiro a março), principal fonte de financiamento do setor.

A alteração exigirá um valor maior de entrada nos financiamentos de imóveis usados (veja simulação), beneficiando diretamente as construtoras e incorporadoras, que estão com estoque elevado de imóveis encalhados. O setor responde por 5% do PIB, segundo o Sinduscon-SP (sindicato da construção).

Para os imóveis acima de R$ 750 mil, que não têm o dinheiro carimbado da poupança, a Caixa reduziu o valor máximo de financiamento de 70% para 40%.

Além de estimular a construção civil, a mudança tem o potencial de diminuir o ritmo de venda e até os preços dos imóveis usados no país, principalmente se a Caixa for seguida pelos demais bancos.

Segundo especialistas, o financiamento de usados poderá virar um nicho de maior atuação dos bancos privados, que, sem a concorrência da Caixa, poderão trabalhar com taxas e margens ligeiramente maiores de ganho.

Questionados pela Folha, só o Bradesco informou que as condições seguirão as mesmas (80% de financiamento máximo). O Santander informou que, até o momento, o limite será de 80%. Itaú e BB não se manifestaram.

Novos x usados
O segmento de usados sempre predominou no crédito imobiliário no país. No ano passado, do total de R$ 112,9 bilhões de financiamentos concedidos com dinheiro da poupança, 72,2% foram destinados a imóveis usados e 27,8% para a construção.

De janeiro a março deste ano, os imóveis novos só levaram 23,2% dos R$ 24,1 bilhões concedidos para a casa própria. O desempenho de março, que será divulgado nesta semana, mostrará uma retração de 4,6% no volume de empréstimos concedidos.

Para Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon, a restrição da concessão de crédito terá impacto generalizado no mercado de imóveis novos e usados.

Mercado travado
"Primeiro, a medida vai tirar a liquidez do mercado de usados. Se eu tenho mais dificuldade para vender o meu velho, vou ter menos dinheiro para comprar um novo."

"O mercado de usados vai travar. O comprador do novo não conseguirá fechar o negócio com a construtora sem vender o imóvel antigo", disse Celso Amaral Neto, da Amaral d'Avila Avaliações.

Flávio Prando, vice-presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação), negou que o setor tenha feito lobby pela medida. "Vai afetar a todos. Para quem tem recursos, será um bom momento para a compra de usados", disse.

Colaborou Deise de Oliveira, editora-adjunta de 'Imóveis'

Compra da casa própria fica mais difícil

Casa própria longe do bolso

• Caixa exigirá entrada de 60% para financiar imóveis com valor acima de r$ 750 mil

Geralda Doca, Clarice Spitz e Marcello Corrêa - O Globo

Aperto no crédito

BRASÍLIA e RIO - Menos de um mês após elevar os juros e aumentar as exigências do financiamento da casa própria, a Caixa Econômica Federal voltou a apertar as condições do crédito imobiliário. Desta vez, a medida vai atingir os contratos de financiamento de imóveis usados e exigir da maioria dos compradores uma entrada de pelo menos metade do valor do imóvel. Para a classe média, o aperto será ainda maior. A compra pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) - para imóveis avaliados em mais de R$ 750 mil - exigirá que o mutuário pague, à vista, 60% do valor. Antes, a Caixa exigia uma entrada de apenas 30%. E as compras pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), para imóveis de até R$ 750 mil, precisarão de uma entrada de 50% do valor. Antes, a exigência era de apenas 20%. As mudanças valerão para os contratos que seguem o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que a prestação vai caindo ao longo do tempo.

A Caixa é responsável por 70% dos empréstimos para casa própria do país. Em 13 de abril, além de elevar a taxa de juros para imóveis novos e usados em 0,3 ponto percentual, a Caixa já tinha aumentado a exigência de entrada nas operações do SFH, de 10% para 20% para os contratos que utilizam o SAC, e de 30% para 50%, nos casos onde se aplica a tabela Price (prestações fixas), tanto para imóveis novos quanto usados. Em janeiro, o banco elevou os juros do crédito imobiliário de forma geral.

Menos recursos na poupança
Para o vice-presidente do Secovi-SP, Flávio Prando, a redução da cota do financiamento habitacional vai afetar as famílias de classe média, principalmente as que procuram a Caixa para financiar um imóvel entre R$ 200 mil e R$ 500 mil. Num financiamento de R$ 500 mil, por exemplo, antes a Caixa financiava R$ 400 mil e o interessado, os R$ 100 mil restantes. Agora, o banco só vai emprestar R$ 250 mil.

- Esses 30% a mais que as pessoas terão que dar como entrada, seja utilizando recursos próprios ou do FGTS, são significativos e podem tirar a possibilidade de aquisição da casa própria de muita gente - Prando.

Segundo ele, as medidas anunciadas pelo Caixa ocorrem em um momento inadequado para o mercado imobiliário, que, desde o ano passado, registra queda nos lançamentos de imóveis novos e usados. Ele destacou que o segmento de usados é importante porque ajuda a movimentar todo o setor. As pessoas costumam vender um imóvel usado para quitar outro novo, comprado ainda na planta, explicou.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, destacou que o impacto para as famílias de maior renda será ainda maior:

- A maior parte do financiamento passa a ser do consumidor e isso exigirá uma economia maior para entrada.

Para comprar de apartamento de dois quartos, na Tijuca, avaliado em R$ 700 mil, a entrada passa de R$140mil para R$ 350 mil, por exemplo. Simulações feitas por Oliveira mostram que, para economizar esse dinheiro numa caderneta de poupança, seria preciso depositar R$ 8.739,02 por mês durante três anos. Pelas regras antigas, o comprador precisaria poupar mensalmente R$ 3.495,61. Se o prazo fosse maior, de cinco anos, seria preciso poupar R$ 4.863,49 por mês para dar a entrada. Pelas regras antigas, essa economia mensal era de R$ 1.945,40.

Se o objetivo for adquirir um apartamento de dois quartos em Botafogo, com valor de R$ 1 milhão, o esforço será ainda maior, porque o empréstimo terá que ser feito pelo SFI. Nessa modalidade, a Caixa agora só entra com 40% ou R$ 400 mil. Para juntar os outros R$ 600 mil, em três anos seria preciso poupar mensalmente R$ 14.981,17. Num prazo de cinco anos, esse valor passa de R$ 4.168,71 nas regras antigas para R$ 8.337,42.

Em nota, a Caixa justifica que o foco da instituição em 2015 será os imóveis novos, principalmente o programa Minha casa Minha Vida (valor até R$ 190 mil). Não haverá mudanças nos financiamentos com recursos do FGTS. "A Caixa informa que estas operações de habitação popular não tiveram nenhuma alteração", diz o texto.

Segundo especialistas, a tendência é que os bancos privados sigam o movimento das instituições públicas, principalmente em um momento em que a poupança perde recursos. A caderneta é a principal fonte de recursos usada pelos bancos para o financiamento imobiliário. No primeiro trimestre do ano, os saques superaram os depósitos na poupança em R$ 23 bilhões.

Procurados, os principais bancos privados não acenaram com mudanças imediatas como a promovida pela Caixa. O Santander informou que "o limite de financiamento continua sendo de 80% tanto para o SFH quanto para o SFI". No Bradesco, a informação é de a entrada exigida também continua em 20%. O Itaú-Unibanco, através de nota, informou que não comentaria o assunto porque está às vésperas de divulgar seu balanço. A assessoria do Banco do Brasil informou que a instituição também reajustou "mais de uma vez" a taxa de juros dos financiamentos habitacionais, mas que manteve as exigências de entrada.

Caixa só vai financiar 50% do valor de imóvel usado

• Para driblar falta de recursos, banco público vai reduzir a 50% o limite de financiamento para operações com base na poupança; regras para habitação popular permanecem inalteradas

Aline Bronzati, Renée Pereira - O Estado de S. Paulo

Em menos de duas semanas, a Caixa anunciou três medidas que vão dificultar a vida do brasileiro na compra da casa própria. Primeiro reduziu o limite de financiamento para imóveis em geral de 90% para 80% e elevou a taxa de juros. Nesta segunda-feira, diante da escassez de dinheiro por causa da queda nos depósitos da caderneta de poupança (principal fonte de recursos do crédito imobiliário), o banco foi mais radical e derrubou de 80% para 50% o limite de crédito para quem quiser comprar um imóvel usado dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH); e de 70% para 40% para imóveis usados enquadrados no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).

No SFH, o valor máximo do imóvel financiado é de R$ 750 mil nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal; nos demais Estados, o valor é de R$ 650 mil. No SFI, estão os financiamentos que não se enquadram no SFH, como os imóveis com valores superiores ao estabelecido pela lei. A mudança nos porcentuais da Caixa – que financia 70% do crédito imobiliário do País – vale a partir de 4 de maio, para operações com recursos da poupança no chamado Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, financiadas pelo Sistema de Amortização Constante (SAC).

Os empréstimos de habitação popular, como o Minha Casa Minha Vida, continuam com a regra anterior, assim como as operações da Caixa que usam a linha de crédito formada por recursos do Fundo de Garantia (FGTS) para financiar imóveis. Para os empréstimos do SFH que seguem o sistema de amortização da tabela Price, a cota máxima de financiamento já havia sido reduzida de 70% para 50% em meados do mês.

“A medida anunciada nesta segunda-feira deve retirar do mercado um número grande de famílias que estava planejando a compra de imóvel de menor valor”, afirma o vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP, Flávio Prando. Na avaliação dele, a redução nos limites de financiamento faz uma diferença enorme no planejamento da população de renda menor.

Antes, uma família poderia comprar um imóvel de R$ 500 mil dando apenas R$ 100 mil de entrada e financiando R$ 400 mil. “Agora ele tem de ter em mãos R$ 250 mil e financiar outros R$ 250 mil”, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira. “O brasileiro preferia pagar um pouco mais de juros e dar uma entrada menor. Agora ele está sendo punido duas vezes: tem de pagar mais juros e ainda ter mais dinheiro para dar de entrada.”

Uma das explicações para o corte no financiamento foram os saques feitos na poupança nos últimos meses. Apenas no primeiro trimestre, as retiradas somaram R$ 23,2 bilhões.

Sob protesto, Temer deixa feira agrícola sem discursar no interior de SP

• Vice-presidente pretendia falar no evento, mas desistiu por causa de um buzinaço no qual manifestantes pediam impeachment de Dilma

Gustavo Porto - O Estado de S. Paulo

RIBEIRÃO PRETO - Sob protesto de um grupo de cerca de 50 manifestantes, o vice-presidente Michel Temer precisou deixar a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), logo após a cerimônia de abertura, sem fazer discurso ou mesmo conceder entrevista aos jornalistas.

Até então, estava previsto um pronunciamento do vice-presidente mas, no local onde ocorreria o discurso, os manifestantes faziam buzinaço e pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e de também de Temer.

A própria cerimônia de abertura foi prejudicada pelo barulho dos manifestantes e nenhuma das autoridades presentes no evento fez qualquer tipo de pronunciamento. Além de Temer, estavam presente os ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) - estes dois últimos foram aplaudidos. Apesar dos protestos, não houve qualquer incidente durante a feira.

Após 'panelaços', Dilma desiste de fala na TV

Dilma desiste de pronunciamento na TV no 1º de Maio

• Por receio de novos panelaços, esta será a primeira vez desde que assumiu que a presidente não se dirigirá aos trabalhadores

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após ter sido alvo de um “panelaço” em diversas cidades do Paísquando falou pela última vez em cadeia de rádio e TV, no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, a presidente Dilma Rousseff desistiu de fazer o tradicional pronunciamento à Nação no 1º de maio, Dia do Trabalho.

A decisão foi tomada nesta segunda-feira, 27, durante reunião da presidente com o seu núcleo político. Desde que assumiu o primeiro mandato, em 2011, esta será a primeira vez que Dilma não se dirigirá aos trabalhadores na data. A comunicação será feita via redes sociais, mas o modelo a ser usado ainda vai ser definido.

Apesar da decisão inédita, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, negou que a presidente tenha desistido de ir à TV por temor de que haja novos panelaços. O episódio precedeu os atos do “Fora Dilma” de 15 de março.

“A presidenta não teme nenhum tipo de manifestação da democracia. Toda manifestação que é oriunda da construção de um Brasil democrático a presidenta não tem temor com isso”, disse Edinho. “A presidente vai dialogar com o trabalhador pelas redes sociais.”

Segundo o ministro, a necessidade de uma nova estratégia de comunicação foi “unânime”. “A presidenta só está valorizando um outro modal de comunicação. Ela já valorizou as rádios, valoriza todos os dias a comunicação impressa, ela valoriza a televisão e ela resolveu, desta vez, valorizar as redes sociais”, afirmou o ministro, escalado para falar ao final da reunião no Palácio do Planalto.

Na avaliação de integrantes do governo, conforme relatos colhidos pelo Estado, não havia anúncio de medidas a serem feitas, caso Dilma se optasse pelo pronunciamento, o que poderia ser um motivo a mais para reacender a reação negativa contra o governo.

A última vez que um presidente não foi à TV para falar no Dia do Trabalhador foi em 2009, quando o ex-presidente Lula optou por comparecer a uma cerimônia alusiva à data, no Rio de Janeiro.
Em 2003, no seu primeiro ano de governo, Lula também não foi à TV, mas esteve presente à uma missa em homenagem aos trabalhadores, em São Bernardo do Campo, em São Paulo.

Lula usava bem menos a estratégia dos pronunciamentos que Dilma. Em quatro anos e quatro meses de governo, a presidente já igualou o número de pronunciamentos dos oito anos do Lula.

Lula. Nesta segunda-feira, 27, Dilma se reuniu por cerca de duas horas com Lula da Silva em um hotel de São Paulo. Dilma chegou à capital paulista pouco antes das 14 horas, após visitar a região de Xanxerê (SC), que foi atingida por um tornado na semana passada.

Antes de deixar Xanxerê, a própria presidente disse que iria fazer uma “parada” em São Paulo e depois retornar para Brasília. Sua agenda oficial foi alterada para a inclusão da passagem pela capital paulista. No entanto, não foi citada a reunião com o ex-presidente.

Na sexta-feira passada, Lula cobrou, pela primeira vez em público, que sua afilhada política diga o que pretende fazer neste segundo mandato. “Temos de dizer em alto e em bom som dentro do PT, para a companheira Dilma ouvir e para os nossos deputados e militantes ouvirem, nós precisamos começar a dizer o que nós vamos fazer neste segundo mandato, qual é a nossa política de desenvolvimento que nós vamos colocar em prática”, disse Lula em evento do PT. /Colaborou Carla Araújo

TSE ouvirá delatores em ação do PSDB que pede cassação de Dilma

• Youssef e Costa vão depor sobre financiamento da campanha de 2014

Julianna Granjeia – O Globo

Escândalos em série

SÃO PAULO - O corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro João Otávio de Noronha, determinou que dois delatores da Operação Lava-Jato sejam ouvidos em um processo em que o PSDB pede a investigação de abuso de poder econômico na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Em decisão publicada anteontem, Noronha determinou que sejam tomados os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) foi protocolada no fim do ano passado, antes da diplomação da presidente, pela coligação do candidato derrotado à Presidência Aécio Neves (PSDB) e pelo diretório nacional do PSDB contra a coligação da presidente, contra o vice Michel Temer (PMDB) e seus respectivos partidos. Os tucanos alegam que "a eleição presidencial de 2014 teria sido manchada pelo abuso do poder econômico e político", e pedem cassação dos registros dos candidatos.

Inicialmente, Noronha decidiu em 16 de abril não acatar os pedidos para obter provas e ouvir testemunhas na ação. O PSDB, então, entrou semana passada com um recurso, e o corregedor refez sua decisão. Ele determinou o envio de carta ao juiz da 13ª Vara Criminal do Paraná, Sérgio Moro, para solicitar os depoimentos de Costa e Youssef. Noronha quer que os dois façam "esclarecimentos capazes de influir" no processo.

"(...) Considerando o princípio da economia processual e visando ao melhor exame das alegações articuladas pelos representantes, reconsidero a decisão e defiro a produção das provas requeridas", escreveu Noronha em seu despacho. O objetivo é perguntar a Costa e Youssef se eles fizeram repasse de propina para o financiamento da campanha de 2014.

No recurso, o PSDB alega que o TSE deve "prover os meios para a revelação da verdade, garantindo-lhes a possibilidade de produzir a prova testemunhal na forma requerida, sob pena de "nítida violação ao devido processo legal e à ampla defesa"". Além disso, o partido pede investigação sobre "suposta obtenção de recursos de forma ilícita de empresas prestadoras de serviço à Petrobras, repassados aos partidos integrantes da coligação" de Dilma.

Na delação premiada da Operação Lava-Jato, Costa declarou que recebeu um pedido de Youssef e que autorizou o uso de R$ 2 milhões destinados ao PP, desviados de contratos da estatal, na campanha de 2010 de Dilma. O pedido teria partido do ex-ministro Antonio Palocci, segundo Costa. Youssef desmentiu o depoimento do ex-diretor.

O TSE também quer ouvir um servidor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O PSDB acusa o órgão de ocultar dados econômicos e sociais negativos durante a campanha petista de 2014. Na mesma ação, os tucanos pedem documentos sobre eventos realizados no Palácio da Alvorada e sobre gastos com publicidade para apurar o uso da máquina administrativa federal. Procurada, a assessoria jurídica da campanha de Dilma não foi encontrada.

Gráfica sob suspeita recebeu R$ 1,8 mi do governo federal

• Empresa controlada por sindicatos da CUT recebeu verbas de publicidade oficial

• Ministério Público aponta Atitude como canal de distribuição de propina e propõe nova ação contra petistas

Flávio Ferreira – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Uma gráfica apontada pelo Ministério Público Federal como um dos canais usados para distribuir recursos desviados da Petrobras para o PT recebeu R$ 1,8 milhão em pagamentos do governo federal e de empresas estatais que ele controla nos últimos anos.

Com sede em São Paulo, a Editora Gráfica Atitude é propriedade de sindicatos ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e também recebeu R$ 2,4 milhões de duas empresas ligadas ao esquema de corrupção na Petrobras.

O governo e as estatais que fizeram pagamentos à gráfica afirmam que o dinheiro foi para pagar a veiculação de publicidade oficial na "Revista do Brasil", que é editada pela Atitude. A gráfica diz que a tiragem da publicação é de 200 mil exemplares por mês.

O Ministério Público Federal soube recentemente da existência da Atitude, ao descobrir pagamentos que ela recebeu de duas empresas controladas pelo executivo Augusto Mendonça, do grupo Setal Óleo e Gás, que tinha negócios com a Petrobras.

Em depoimento prestado em março, Mendonça afirmou que os pagamentos foram feitos de 2010 a 2013 a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba por suspeita de envolvimento com a corrupção na estatal.

Segundo Mendonça, que no ano passado fez acordo para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato, os pagamentos eram parte das comissões que a Setal devia pagar ao PT para garantir seus contratos com a Petrobras.
O executivo disse ter assinado contratos com a Atitude para justificar os pagamentos à gráfica, mas afirmou que não conhece a revista e nunca viu um anúncio de suas empresas na publicação.

Denúncia
Nesta segunda-feira (27), o Ministério Público apresentou à Justiça Federal nova denúncia criminal contra Mendonça, Vaccari e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que é ligado ao PT e também está preso em Curitiba. Os três são acusados da prática de lavagem de dinheiro por causa dos pagamentos à gráfica.

O Ministério Público não sabe o que a Atitude fez com o dinheiro que recebeu das empresas de Mendonça, mas já começou a investigar outros pagamentos que a gráfica recebeu, incluindo os feitos pelo governo e pelas estatais.

Segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a Petrobras pagou R$ 872 mil à Atitude nos últimos sete anos, o Banco do Brasil repassou R$ 364 mil e a Caixa Econômica Federal, R$ 176 mil.

A Secom e as agências de propaganda que cuidam da veiculação dos anúncios do governo federal repassaram mais R$ 215 mil à Atitude.

Segundo o Ministério Público, os pagamentos feitos por Mendonça à gráfica são associados a obras realizadas pela Setal para a Petrobras na refinaria de Paulínia (SP) e na Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em Araucária (PR).

Na ação proposta à Justiça, o Ministério Público pede o confisco de R$ 2,4 milhões do patrimônio de Vaccari e Duque, e que eles sejam condenados a pagar uma indenização de R$ 4,8 milhões à Petrobras, o dobro do valor que teria sido desviado da estatal.

Em nota, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, lembrou que o esquema de corrupção descoberto na Petrobras não envolve apenas o PT, mas também outros partidos, como o PMDB e o PP. "A partidarização do olhar sobre as investigações prejudica os trabalhos, porque tira o foco do que é mais importante, que é a mudança do sistema, o qual favorece a corrupção seja qual for o partido", disse.

Marta formaliza saída do PT após 33 anos e diz que sigla 'renega' princípios

Painel / Folha de S. Paulo

PT Saudações A senadora Marta Suplicy formaliza nesta terça-feira sua desfiliação do PT depois de 33 anos. Na carta em que justifica a saída Marta diz: “No meu sentir, e de toda a nação, os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente”. Para se precaver de uma esperada tentativa do partido de reivindicar seu mandato, a senadora afirma que o PT “se afastou completamente” dos princípios que a levaram a ajudar a criá-lo.

O dono Na carta, de quatro páginas, Marta discute a titularidade do mandato ao afirmar que teve em 2010 mais de 8 milhões de votos e, por isso, deve fidelidade primeiro aos eleitores.

Sujeitos ocultos No documento —que será protocolado à tarde, simultaneamente nos diretórios municipal, estadual e nacional do PT e na Justiça Eleitoral— Marta não cita nem Lula nem a presidente Dilma Rousseff.

Intervalo A senadora não anunciará imediatamente seu destino. Ficará sem partido por algum tempo, enquanto prepara sua filiação ao PSB.

PSDB discute pedido de impeachment de Dilma nesta terça-feira

• Na semana passada, bancada tucana na Câmara declarou-se favorável; no sábado, Aécio afirmou que posicionamento está restrito a deputados

Chico de Gois - O Globo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP), têm reunião agendada para esta terça-feira para discutir a posição do partido sobre um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, a bancada tucana na Câmara declarou-se favorável a ação. No entanto, no sábado, Aécio divulgou nota na qual deixa clara que, por enquanto, a defesa do impeachment está restrita aos deputados da legenda e não representa o posicionamento oficial do partido.

Parlamentares do PSDB disseram que Sampaio apenas expressou a vontade da maioria na Câmara, mas, depois da declaração de Aécio, fizeram questão de destacar que é importante toda a legenda se manifestar sobre o assunto e que o posicionamento oficial só ocorrerá após deliberação da executiva – que não tem data ainda para se reunir. Além disso, observaram, uma ação drástica como essa não pode ter apenas a digital do PSDB, mas, sim, o apoio da oposição – inclusive do PMDB que, embora pertença à base de apoio de Dilma, tem uma considerável ala independente.

– Tomamos uma posição praticamente unânime na bancada, que será levada para o presidente do partido. Na nossa opinião, há ingredientes suficientes para o pedido de impeachment, mas a ação tem que ser partidária. O impeachment não é uma questão jurídica, mas política – disse o vice-líder do partido, Nilson Leitão (MT).

Para o parlamentar, Aécio está sendo cauteloso ao tratar do assunto. Leitão defende o apoio da oposição para que uma eventual ação de impeachment tenha mais força.

– Não podemos apresentar um pedido apenas para aparecer no noticiário.

Marcus Pestana (PSDB-MG) afirmou que a declaração de Sampaio, que externou o que a maioria dos deputados tucanos pensa, é mais um passo para a construção do processo de impeachment. Ele disse que a bancada está auxiliando a executiva do partido na discussão.

– Há consistência jurídica para o pedido, conforme parecer de nossa assessoria jurídica e do advogado Ives Gandra Martins – afirmou.

Aécio tem dito que vai aguardar o parecer encomendado pelo partido ao jurista Miguel Reale Júnior. Este teria sustentado a tese de que o mandado anterior não pode ser usado para justificar o pedido de impeachment do atual mandado.

– Não é a bancada da Câmara que vai decidir. Quem vai tomar uma decisão é a executiva nacional. Não cabe à bancada ter papel isolado num assunto dessa gravidade – afirmou Pestana, que é favorável ao impeachment de Dilma.

PSDB terá de construir maioria para levar impeachment adiante, diz Eduardo Cunha

• Tucanos pretendem protocolar pedido ainda nesta semana

Daiene Cardoso e Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse na noite desta segunda-feira, 27, que se o PSDB decidir encaminhar o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, ele se limitará a analisar o parecer sob a luz da argumentação jurídica. Contrário à tese do impedimento da presidente da República, Cunha não deu sinais de que acolherá o pedido e lembrou que os tucanos poderão recorrer ao plenário em caso de indeferimento, mas que para isso precisão construir uma ampla maioria na Casa.

"O recurso para recorrer ao plenário demanda ter urgência, demanda ter apoiamento, demanda ter maioria. Se ele conseguir construir maioria para levar ao plenário, ótimo. Senão vai ficar a decisão nossa sem ter condição de ser recorrida porque não vai ter urgência para levar ao plenário", ressaltou. Para aprovar o pedido de urgência e votar o recurso em plenário, o PSDB precisaria ter pelo menos 257 votos.

A bancada do PSDB na Câmara estuda apresentar nesta semana o pedido de impeachment por crime de responsabilidade, com base nas chamadas "pedaladas fiscais", e por suposta omissão da petista no esquema de corrupção da Petrobrás. O líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP) disse que trabalhará para convencer juridicamente o presidente da Câmara e que caberá ao plenário decidir.

O peemedebista disse que o partido tem "todo o direito" de apresentar o pedido e como agora haveria um "caso concreto", ele não vai mais "ficar dando opinião" sobre o assunto. "Se vier com parecer, nós vamos estudar e vamos decidir à luz da argumentação correta. Depois se quiser recorrer ao plenário, é um direito dele (PSDB)", respondeu Cunha.

Terceirização. Cunha deu por encerrada a polêmica em torno dapossibilidade do Senado engavetar o projeto que regulamenta a terceirização no País. Para ele, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou claro que não pretende engavetar a proposta aprovada na última semana pela Câmara.

O peemedebista enfatizou que o Senado terá liberdade para fazer a revisão que achar necessária no texto, mas que a matéria "terminará na Câmara", ou seja, a última palavra no Legislativo será dos deputados. "O Senado tem todo o direito de fazer a revisão que ele achar que entende, assim como a Câmara tem o direito de confirmar, ou não, parte ou totalidade da revisão", disse.

Desemprego sobe para 6,2% em março, a maior taxa em 4 anos, e renda cai

• Foi a terceira alta seguida do índice, que foi divulgado nesta terça-feira pelo IBGE

Clarice Spitz – O Globo

RIO - O mercado de trabalho voltou a apresentar alta do desemprego. Em março, a taxa de desocupação nas seis regiões metropolitanas (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE de Emprego, ficou em 6,2%. A expectativas de analistas de mercado ouvidos pela agência Bloomberg variavam entre 5% e 6,4%, com o centro das projeções em 6,1%. Foi a terceira alta consecutiva do desemprego. É a maior taxa para o mês desde março de 2011, quando foi de 6,5%, e, considerando todos os meses, a mais alta desde maio de 2011 (6,4%).

Segundo Maria Lucia Vieira, gerente do IBGE, a alta do desemprego está ligada a um movimento típico que ocorre nos três primeiros meses do ano e à conjuntura econômica mais difícil. A ocupação registrou a quarta queda consecutiva em relação ao mês anterior.

— Nem todos que estão perdendo o emprego estão conseguindo se recolocar. Existe um efeito de dispensa de temporários e da conjuntura econômica — afirma.

A renda média do trabalho ficou em R$ 2.134,60, em queda real de 2,8% frente ao mês anterior. E 3% em relação a março de 2014. A renda caiu em todas as regiões na comparação com fevereiro. A maior queda percentual ocorreu em Salvador (-6,8%). No Rio, o rendimento médio ficou em 2,6% menor.

O contingente de desocupados nas seis regiões era de 1,5 milhão de pessoas em março. Houve queda na ocupação nas duas comparações, enquanto a força de trabalho registrou alta de 0,1% frente a fevereiro e de 0,3% em relação a março de 2014, o que o instituto considera estatisticamente estável.

Houve recuo no emprego com e sem carteira assinada, ao passo que aumentou número de trabalhadores por conta própria: frente a fevereiro, alta de 2% e a março de 2014, de 2,3%.

Em fevereiro, taxa havia ficado em 5,9%
Por grupamento de atividade, o comércio registrou queda de 1,9%, o que significou menos 83 mil postos a menos em relação a fevereiro, alta de 0,6% em relação a março de 2014. Já a indústria teve avanço de 0,6% frente a fevereiro e queda de 6,3% em relação ao mesmo mês de 2014.

Em fevereiro, a PME tinha apontado uma taxa de 5,9%, a maior taxa para meses de fevereiro desde 2011, quando foi de 6,4%. Considerando todos os meses mês, foi a mais alta desde junho de 2013 (6%). Em janeiro deste ano, havia sido de 5,3%.

Nessa mesma pesquisa, o rendimento médio real dos trabalhadores caiu 1,4% frente a janeiro e 0,5% em relação a fevereiro de 2014, para R$ 2.163,20. Foi a primeira variação negativa na comparação interanual desde outubro de 2011, quando houve recuo de -0,3%. É também a maior desde maio de 2005, quando o recuo no rendimento chegou a 0,7%.

Em outra pesquisa, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal, que cobre cerca de 3.500 municípios, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em fevereiro foi de 7,4%. A taxa de desemprego no Brasil tinha sido de 6,8% no trimestre encerrado em janeiro.

No trimestre encerrado em fevereiro do ano passado, também tinha sido de 6,8%. Entre setembro e novembro, o desemprego havia ficado em 6,5%. O objetivo do IBGE é substituir a PME pelo levantamento nacional, criado em 2012 e que, até ano passado, não contava com números sobre a renda.

Serra critica custo fiscal de swaps e da política monetária. Entrevista

• “Não estou aqui para absolver o governo Dilma, mas não foi ela quem deu o nó fiscal, que veio com aumentos anteriores”

- Valor Econômico

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Romário vai dissolver diretórios municipais do PSB/RJ, para garantir controle da legenda

Romário desponta como candidato a prefeito do Rio

• Ex-jogador dissolveu diretórios do PSB e larga na frente como principal nome para a Prefeitura em 2016

Eduardo Miranda e Nonato Viegas – O Dia

RIO - O senador Romário Farias (PSB-RJ) decidiu pavimentar o caminho rumo à Prefeitura do Rio, na disputa do ano que vem. Depois de assumir a presidência do PSB no estado, o ‘Baixinho’ vai promover a dissolução geral dos diretórios municipais em todo o Rio e garantir, com isso, o controle da legenda nas negociações de apoio eleitoral. A decisão ainda precisa ser comunicada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ).

A medida, porém, não agradou a cúpula da sigla. No ano passado, a reboque das feridas causadas pelo apoio ao tucano Aécio Neves no segundo turno das eleições, a direção nacional destituiu o então presidente regional, o deputado federal Glauber Braga (RJ).

Depois de conquistar quase cinco milhões de votos, Romário acabou no comando do partido no Rio. “Ele foi nomeado, mas não estamos de acordo com a destituição dos diretórios”, afirmou Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB.

Para Romário, no entanto, o total de votos da legenda nas últimas três eleições constata “a decadência” do partido. Até 2014, o PSB do Rio tinha três deputados federais e três estaduais. No ano passado, elegeu apenas um representante fluminense para a Câmara e outro para a Assembleia Legislativa (Alerj).

Roberto Amaral, o ex-presidente nacional da sigla e, hoje assessor parlamentar na Alerj, como mostrou O DIA semana passada, classifica de golpista e covarde a medida e acusa a Executiva de usar o Baixinho para “destruir a esquerda no Rio”. “A dissolução ilegal dos diretórios não me surpreendeu. Esse rapaz (Romário) está sendo utilizado pelo grupo mais reacionário para destruir o que havia de esquerda no Rio.”

Retirado da presidência regional, o deputado Glauber Braga negou qualquer irregularidade sob sua gestão. Braga também duvida que Romário consiga se lançar à prefeitura por conta da indicação de Marcos Braz, ex-presidente do Flamengo, para a Secretaria de Esportes de Eduardo Paes (PMDB).

“Para quem está começando, ele está demonstrando ser um bom aprendiz de Eduardo Cunha (PMDB)”, provocou.

Desde que assumiu a presidência do PSB no Rio, o ex-jogador tem apresentado movimentos contraditórios sobre a prefeitura. Ao mesmo tempo que seus aliados garantem que ele não desistiu de concorrer em 2016 e que a medida tem a ver com seus planos, Romário sinalizou, em janeiro, apoio a Pedro Paulo (PMDB), secretário-executivo do governo de Paes.

Encontrei o PSB em queda livre

1)Por que houve intervenção nos municípios?
— Analisei as estatísticas e verifiquei que o patrimônio eleitoral do PSB está em queda livre. Há algo de muito errado aí. Uma resolução do ano passado autoriza a dissolução de diretórios que não tenham atingido 2% dos votos. No da cidade do Rio, foram constatadas irregularidades.

2) Tem a ver com as eleições de 2016?
— Tem a ver com um vigoroso processo de reorganização. As mudanças são para acabar com a farra. O partido agora é sério. Muita gente vai espernear porque estava se beneficiando de alguma irregularidade.

3) Por que tem administrado a sigla da Barra?
— Encontrei a sede em estado deplorável: aluguel atrasado seis meses, contas de luz, internet e telefone cortados por falta de pagamento; e funcionários sem salários. Por isso o local não é utilizado para reuniões. E, fato inédito, nossos horários de TV foram usados como forma de pagamento de dívidas com o TRE.

4) Por que deixaram Roberto Amaral de lado?
— O Amaral não pode falar em eleição democrática. Eles atropelaram os concorrentes. Ao contrário da gestão anterior, que sufocava e matava o partido, estou agindo dentro do estatuto. Se o Amaral está preocupado em perder o salário e o cargo que ocupa na Alerj sem trabalhar, ele pode ficar tranquilo, porque o salário dele vai continuar em dia. Até porque, está na cota do deputado.

Merval Pereira - Com medo do panelaço

- O Globo

Se a presidente Dilma tinha dúvidas sobre o discurso de 1º de maio, ontem elas devem ter se dissipado ao saber que o vice-presidente Michel Temer foi impedido, pelo temor das vaias, de discursar na abertura do Agrishow 2015, em Ribeirão Preto, a mais importante do setor agropecuário, onde a própria Dilma e o ex-presidente Lula já estiveram anteriormente sem o menor problema. Daí à decisão de não usar pela primeira vez a cadeia nacional de rádio e televisão, com receio de um panelaço, foi um pulo.

Ontem, os manifestantes traziam cartazes contra Dilma, Lula, o PT e até o ex-tesoureiro João Vaccari. A presidente Dilma encontra-se no governo, mas não tem mais poder, exagerou a revista britânica "The Economist" ao registrar a terceirização da economia para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um liberal da escola de Chicago, e a política para o vice Michel Temer, que personifica o poder do PMDB na coalizão governamental que se desmancha a cada dia. A aparência de normalidade que já começava a entusiasmar alguns militantes petistas, especialmente aqueles que têm blogs a serviço do governo, desvaneceu-se no ar com a certeza de que seria politicamente inviável um pronunciamento da presidente Dilma no Dia do Trabalho, que os governos petistas aproveitam há 12 anos para fazer proselitismo político, por uma cadeia nacional de rádio e televisão convocada regularmente para isso.

O receio de receber um panelaço como resposta popular desaconselhou a tentativa, assim como faz com que tanto Dilma quanto Lula só apareçam em público em situações controláveis por seus esquemas políticos. Em Ribeirão Preto, a presidente Dilma já sabia que não seria possível essa blindagem, e mandou Temer , uma figura neutra politicamente , como seu representante . Mas nem o vice-presidente nem a ministra da Agricultura, Kátia Abreu — uma legítima representante do setor —, escaparam das vaias, dirigidas especificamente ao PT e a Lula e Dilma. Até o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, que não tinha nada a ver com a história, achou prudente não ler o discurso que preparara.

Ontem, fora da agenda, Dilma encontrou-se com Lula em São Paulo, provavelmente no intervalo dos exercícios físicos do ex-presidente, que se prepara para disputar a eleição de 2018 como os grandes líderes populistas e autoritários costumam fazer para demonstrar sua capacidade física. Putin cansa de aparecer sem camisa, cortando lenha ou mergulhando em águas geladas. Mao nadou há 49 anos no Rio Yang Tsé, o mais longo da Ásia, para demonstrar que continuava sendo capaz de governar a China. Collor corria, dirigia lanchas velozes e praticava esportes. Pois consta que Lula e também o marqueteiro João Santana eram contra a aparição de Dilma na televisão a 1º de maio. Talvez o ministro do Trabalho, do PDT, faça o papel de Dilma no horário oficial, oferecendo-se para receber o panelaço em seu lugar.

Seria uma punição interessante para o partido, cujo presidente, Carlos Lupi, deu entrevista no fim de semana dizendo que o PT "exagerou" no roubo e que o PDT se preparava para deixar a coligação governista, porque o tempo do PT já passou. Depois de ter conversado com o ministro Manoel Dias, mudou de ideia e anunciou que o partido continuaria na coligação, isto é, à frente do Ministério do Trabalho. Pelo menos para levar um panelaço em nome da presidente. Em meio a essa situação embaraçosa, semelhante em tudo ao último ano do ex-presidente José Sarney, em que não pôde sair do Palácio sem arriscar-se em praça pública, a presidente Dilma ainda tem poder para definir uma série de coisas, inclusive as privatizações, isto é, concessões do setor de infraestrutura, mas não tem condições políticas de abrir a boca em público sem levar uma vaia ou um panelaço. Vamos ver o que acontecer á com a aparição na internet. O perigo é algum hacker antipetista armar uma armadilha para a presidente.

Bernardo Mello Franco - Uma mulher contra a ditadura

- Folha de S. Paulo

O Brasil deve a Inês Etienne Romeu, a ex-presa política que morreu ontem em Niterói (RJ), um dos relatos mais importantes sobre os crimes da ditadura militar.

Inês foi a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis. Graças a ela, sabe-se que o Exército manteve um centro clandestino na região serrana do Rio para torturar e matar adversários do regime. Por lá passaram ao menos 20 desaparecidos, cujos corpos nunca foram localizados.

Presa em 1971, Inês ficou na casa por 96 dias. Oito anos depois, entregou um relatório à OAB. Revelou a existência do local, apontou os codinomes usados pelos torturadores e narrou os suplícios que viveu.

"Fui várias vezes espancada e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios", contou. "Um dos mais brutais torturadores arrastou-me pelo chão, segurando pelos cabelos. Depois tentou estrangular-me e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e me deram pancadas na cabeça".

"Fui estuprada duas vezes por Camarão [codinome de um militar] e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades os mais grosseiros".

Abalada pelas sessões de tortura, Inês tentou se matar quatro vezes. Sobreviveu. Conseguiu sair porque prometeu agir como infiltrada para delatar colegas. Não cumpriu o acordo e voltou a ser presa até 1979. Deixá-la viva foi "uma das maiores mancadas" da repressão, diria depois o ex-sargento Marival Chaves.

Antes do fim da ditadura, a ex-presa identificou a casa e dois algozes. Sua coragem impulsionou outras investigações sobre crimes do regime.

Nos últimos anos, Inês conviveu com graves limitações físicas. Falava e se locomovia com dificuldade. Mesmo assim, ajudou a Comissão Nacional da Verdade a identificar mais seis torturadores. Em depoimento ao órgão, o coronel Paulo Malhães reconheceu seu papel na história: "Foi a Inês Etienne Romeu que derrubou a Casa de Petrópolis".

Raymundo Costa – O que está em jogo na guerra do PMDB

• O vice Michel Temer agora é sócio do PT também nas vaias

- Valor Econômico

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José Casado - Gestão temerária

• Avesso à fiscalização e alérgico à crítica, Gabrielli estabeleceu na Petrobras um novo paradigma administrativo: perdas diárias de R$ 17,4 milhões, em seis anos e sete meses

- O Globo

É recorde: R$ 17,4 milhões em perdas por dia, ou R$ 726,4 mil por hora, durante seis anos e sete meses seguidos.

Essa é a herança administrativa deixada por José Sérgio Gabrielli depois de 2.370 dias no comando da Petrobras.

Na semana passada, a companhia informou que seu patrimônio encolheu em R$ 47,4 bilhões, por desvalorização de ativos e cancelamento de projetos considerados inviáveis há pelo menos meia dúzia de anos.

Desse total, R$ 41,2 bilhões têm origem em iniciativas danosas ao patrimônio da estatal anunciadas na gestão de Gabrielli (a conta não inclui o custo do repasse da corrupção).

De cada real registrado como perda no balanço da empresa, 87 centavos correspondem a prejuízos produzidos sob a presidência de Gabrielli.

Puro desastre gerencial. O buraco cavado nas finanças da Petrobras é maior que a soma das vendas realizadas pelas redes de supermercados Carrefour e Walmart em 2013. Equivale à receita anual conjunta de três montadoras de veículos, a General Motors, a Mercedes Benz e a Honda. E supera em 15% o exuberante lucro somado do Bradesco e do Itaú no ano passado.

Ao aterrissar na diretoria financeira da Petrobras, na quinta-feira 22 de janeiro de 2003, Gabrielli tinha 53 anos e portava duas credenciais: professor de Economia e militante do Partido dos Trabalhadores na Bahia. Sua escolha ocorrera durante a montagem do governo Lula, quando atuou no mapeamento de cargos disponíveis em empresas e bancos públicos.

A companhia havia sido entregue ao ex-senador José Eduardo Dutra, geólogo, antigo dirigente da CUT que acabara de ser derrotado na disputa pelo governo de Sergipe. Dutra marcara data para sair, porque sonhava com o Senado na eleição seguinte (ele perdeu em 2006, de novo). No páreo da sucessão despontou Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, logo defenestrado pela ministra e presidente do conselho Dilma Rousseff. Em julho de 2005, Lula nomeou Gabrielli.

A Petrobras começara a concentrar gastos em plataformas, navios e sondas de perfuração, em contratos controlados por diretores indicados pelo PT e pelo PMDB. O novo presidente multiplicou dívidas com projetos em série, como as refinarias de Pernambuco, Ceará, Maranhão e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

Com um estilo personalista (referia-se à empresa usando o pronome “eu”), Gabrielli alinhou a publicidade da estatal à propaganda do partido, exibindo-se na televisão com a estrela-símbolo do partido na lapela do paletó.

Alérgico à crítica, reagia com agressividade aos jornalistas que iam à Petrobras em busca de explicações sobre a partilha da estatal entre aliados do governo: “Você não é bem-vindo aqui.” Avesso à fiscalização, fez do sigilo uma rotina. Gracejou do Tribunal de Contas que lhe pediu as memórias dos custos de duas plataformas, enviando ao TCU uma montanha de papel — planilhas Excel impressas.

Metade da sua diretoria está no alvo de investigações por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça. Na semana passada, virou recordista em prejuízos na administração pública: sob o seu comando, as perdas patrimoniais cresceram à média de R$ 12,1 mil por minuto durante seis anos e sete meses. Estabeleceu um novo paradigma em gestão temerária.

Celso Ming - Asfixia tarifária

• Uma das razões pelas quais a indústria está sendo esvaziada é a cobrança de elevadíssimas tarifas de energia elétrica, 338% superiores às pagas pela indústria nos Estados Unidos

- O Estado de S. Paulo

O Ministério de Minas e Energia confirma que o governo federal está estudando a proposta de redução das tarifas de energia elétrica para a indústria. Nesse caso, a diferença seria repassada para a conta de luz das famílias.

Se for isso, não será apenas nova supertarifa a ser cobrada sobre o atual tarifaço; será, também, mais um remendo na acidentada política energética do governo Dilma.

Uma das razões pelas quais a indústria está sendo esvaziada é a cobrança de elevadíssimas tarifas de energia elétrica, 338% superiores às pagas pela indústria nos Estados Unidos, como apontam dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) – veja o gráfico abaixo.

No dia 30 de março, a Alcoa, gigante do setor do alumínio, anunciou que está abandonando suas instalações no Maranhão porque já não consegue competir com o resto do mundo.

A Alcoa é uma indústria eletrointensiva, ou seja, seu principal custo é a energia elétrica utilizada no sistema de eletrólise da alumina (óxido de alumínio) obtido por redução da bauxita. Mas há outros setores altamente dependentes da energia elétrica, como a química básica, a metalurgia de não ferrosos (cobre, zinco, níquel, além do alumínio), a indústria do vidro e a da cerâmica.

A obtenção de gás natural a baixo custo nos Estados Unidos, graças à exploração das reservas de xisto, derrubou em dois terços o custo final da energia elétrica. Toda a indústria eletrointensiva do Brasil dificilmente poderá competir nessas condições. Aos atuais custos da energia, ficou mais em conta importar metais ou produtos gerados por eletrólise do que produzi-los aqui. Nesse caso, se quiser continuar no negócio, a indústria teria de se contentar com atuar na área comercial.

O problema de fundo não está nesse alto custo da energia elétrica no Brasil, mas nas enormes deficiências da política energética. O governo Dilma insiste em afirmar que os atuais problemas provêm apenas da estiagem prolongada. Foi a seca, repetem as autoridades do setor, que obrigou o governo a acionar as termoelétricas, que queimam derivados do petróleo e, por isso, produzem energia a custos muito mais altos do que a produzida nas hidrelétricas.

A estiagem provocou, sim, a disparada das tarifas, mas não é a causa dos altos custos. Eles são consequência das omissões do governo que vacila em criar condições para desenvolver a produção de gás de xisto e tem inibido o desenvolvimento de energia elétrica não convencional, especialmente, a energia solar.

O Brasil só não sofrerá um apagão neste ano porque a atividade econômica está em retração. Se o PIB avançasse ao ritmo de 3% ao ano, como tanto se esperou, o suprimento de energia elétrica não daria conta da demanda. Ou seja, a geração de energia elétrica é hoje um fator limitador do crescimento do PIB.

Mais cedo ou mais tarde, os efeitos da estiagem passarão, as tarifas serão submetidas a certa redução, mas os problemas do setor elétrico continuarão aí e a indústria eletrointensiva seguirá sendo empurrada para fora do Brasil – ou, então, novos investimentos não se realizarão por aqui.

Míriam Leitão - Ajuda externa

- O Globo

A queda do dólar chega em boa hora para a inflação. Pelo cálculo do mercado financeiro, o país terminará o ano com o IPCA em 8,2%. Em junho e julho, chegará ao pico de 8,5%. Há quem calcule mais de 9%. A redução dos preços das commodities e a diminuição da pressão cambial ajudam, portanto, nessa tarefa de conter a taxa. Esta semana os juros devem chegar a 13,25%, apesar do ambiente recessivo.

O dólar está em queda porque os últimos dados da economia americana mostraram que a recuperação não está tão forte quanto se imaginava. Esta semana será divulgado o PIB do primeiro trimestre, que deve ter ficado em nível mais baixo do que nos últimos trimestres. Sendo assim, os juros na economia dos Estados Unidos não vão subir a curto prazo, como se pensava. O mercado avalia que a alta vai ficar para o final do ano. Com isso, o dólar, que vinha se valorizando em todo o mundo, voltou a perder valor.

Para o Brasil, essa nova tendência do câmbio ajuda a evitar a piora das expectativas. A partir de um determinado ponto, a inflação contamina outros preços e deteriora o ambiente econômico. Em relatório enviado ontem a clientes, o economista Fábio Silveira, da GO Associados, disse que em junho, julho e agosto a taxa pode ficar entre 9% e 9,3%. Outros economistas não trabalham com números tão altos, mas concordam que o pico será em meados do ano e deve chegar a 8,5%.

Mesmo com a nova tendência do dólar, a moeda americana permanece num valor que mantém os produtos brasileiros muito mais competitivos do que no ano passado. No dia 25 de abril de 2014, o dólar estava em R$ 2,23. Em um ano se valorizou 30%. Mas o pico foi no dia 19 de março de 2015, R$ 3,26. Uma queda de 10% desde então.

Nos outros países aconteceu o mesmo movimento, mas com altas e quedas menos acentuadas. O Banco Central americano calcula um indicador que mede a variação do dólar frente a uma cesta de moedas pelo mundo. De julho de 2014, quando o mercado começou a prever uma elevação dos juros pelo Fed, até março deste ano, o índice subiu de 101 pontos para 117 pontos. Uma alta de 15% a favor do dólar. De lá para cá, houve uma queda em torno de 2,5%, de acordo com o economista Rodolfo Oliveira, da Tendências Consultoria.

- Após a reunião do Fed de março, que adotou um tom mais cauteloso pelo aumento de juros, o dólar parou de se fortalecer e começou a cair um pouco no mundo. Também contribuíram para isso alguns indicadores mais fracos do que o esperado na recuperação americana - explicou Rodolfo.

No Brasil, o sobe e desce da moeda americana é mais forte porque há motivos internos. A crise política neste começo de governo Dilma e os riscos que rondaram a Petrobras acentuaram a desvalorização do real. Agora, a avaliação do mercado é que a crise política deu uma trégua. Além disso, foi afastado o risco de a Petrobras enfrentar uma corrida de credores caso não conseguisse ter um balanço auditado.

A valorização do dólar também estava provocando preocupações na economia americana, avalia o economista da Tendências. As exportações do país, que vinham ajudando na recuperação, começaram a perder fôlego. Quanto mais forte a moeda, menor a competitividade para se exportar. Outro problema é o impacto sobre o preço do petróleo, que é cotado em dólar. Se a moeda americana sobe, o petróleo cai. Com isso, investimentos no setor de petróleo e gás, em especial nas novas tecnologias de extração de gás de folhelho, começaram a ficar mais incertos nos EUA.

O recuo do dólar por aqui e a cotação mais baixa das commodities aliviam a inflação brasileira, que subiu para um nível bem acima do teto da meta com o tarifaço da energia determinado pelo governo. Um dólar menor ajuda também as contas da Petrobras. A maior parte do endividamento da empresa é em moeda estrangeira e subiu muito com a desvalorização do real.

O Banco Central deve decidir amanhã a quinta elevação consecutiva da taxa de juros. Se o BC fizer o que a maioria dos analistas está prevendo, os juros subirão mais 0,5 ponto percentual e irão para 13,25%, uma taxa inimaginável para um país em recessão. A queda do dólar frustra um pouco os exportadores, mas ajuda na tarefa mais difícil na economia brasileira. A de reduzir a taxa de inflação.

Vinicius Torres Freire - Retratos da pindaíba

• Arrecadação de impostos do governo continua no vermelho em 2015, e recessão ainda vai durar

- Folha de S. Paulo

Tantas são as notícias de escândalos e mumunhas políticas que até o tão dramático ajuste fiscal tem andado meio esquecido. O assunto continua dramático, porém. No primeiro quarto do ano, a arrecadação federal caiu 2%, já descontada a inflação. Não é pouco. Extrapolando o resultado do trimestre para o ano inteiro, daria pouco mais de 0,4% do PIB.

Recorde-se que o governo federal pretende deixar de gastar 1% do PIB, afora as despesas com juros, que serão outra vez especialmente horrorosas neste ano. Note-se ainda que algum dinheiro dos aumentos de impostos deste ano já começou a pingar (IOF e Cide, que, no entanto, decepcionaram, devido à lerdeza econômica).

Além do desvio de atenção provocado pelo noticiário deprimente de sensacional, essa conversa do ajuste anda meio esquecida porque as raras pessoas que se ocupam rotineiramente do assunto também estão meio deixando como está para ver como é que fica, antes de dizer se a coisa desanda.

Primeiro, porque ainda ninguém sabe como vai ser a programação financeira do governo, que está para sair, em maio.

Segundo, porque o governo ainda não fechou as contas do primeiro trimestre.

Terceiro, porque o pacote de arrocho, de corte de gastos e aumento de receitas, ainda deve começar a tramitar no Congresso, talvez nesta semana.

Quarto, muita gente acredita que Joaquim Levy vai cortar o que for preciso, mesmo a machadadas, não importa o tamanho da receita de impostos ou de que tamanho o pacote fiscal vá sair do Congresso. Se for preciso, vai cortar até os lenços em que outros ministros enxugariam as lágrimas do choro que virá, nos próximos dias, quando virem o talho nos seus orçamentos. No entanto, muita gente boa do ramo estima que Levy não vai conseguir entregar um superavit primário de 1% do PIB.

Feitas as contas mês a mês, um otimista pode dizer que a arrecadação do governo está despiorando, que o resultado horroroso de janeiro contaminou o trimestre, tendo havido aumentou real de receita em fevereiro e março (quase 0,5%, ante o mesmo mês do ano anterior). Mas estamos ainda apenas no outono da recessão. O inverno ainda virá.

Considere-se o caso da arrecadação da Previdência, que tem levado tombos feios, mês a mês deste ano, quedas de 2% a 4%. Isso ainda é resultado de desoneração (baixa de contribuição previdenciária das empresas). Mas deve ser também desemprego e informalização do trabalho (o saldo de empregos formais está no vermelho pela primeira vez em cerca de 15 anos). Infelizmente, ainda haverá mais desemprego.

Do lado da despesa, convém esperar ao menos pelos resultados de março. Mas a gente fica a se perguntar se o economistas de Dilma 2 vão continuar a regularizar a pendura dos economistas de Dilma 1, pedaladas e restos a pagar em geral, atitude correta que, no entanto, vai fazer com que as contas pareçam ainda mais esburacadas, mesmo que o presente governo seja mão fechada.

Dados os bafafás jurídico e político causados pelas pedaladas e esqueletos deixados por Dilma 1, talvez Dilma 2 se sinta mais inclinado a apresentar contas mais limpinhas. Melhor assim, mas o balanço no curto prazo vai parecer mais feio.

Roubar, só na medida certa – Editorial / O Estado de S. Paulo

Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre a honestidade do governo do PT, alguém que sabe o que está falando esclareceu o assunto: "A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram". É o que garante um dos principais aliados do PT, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que foi ministro do Trabalho de Lula e por indicação deste permaneceu à frente da pasta no início do primeiro mandato de Dilma, até ser forçado a demitir-se pela "faxina" que atingiu vários outros ministros sob suspeita da prática de "irregularidades". As declarações de Lupi foram gravadas durante encontro com correligionários na última quinta-feira, em São Paulo, e confirmadas ao Estado pelo próprio. Não obstante, o presidente do PT, Rui Falcão, declarou na segunda-feira que Lupi desmentiu essas declarações, alegando que "foram pinçadas" fora do contexto. E o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), reagiu acusando Lupi de ser "boquirroto".

A declaração de Lupi, na verdade, não revela segredo nenhum, mas é alarmante pela falta de pudor que demonstra. Das palavras do ex-ministro do Trabalho a seus liderados, pode-se inferir que roubar até que pode, desde que não se roube "demais", com exagero. É mais um exemplo cínico da relativização dos valores éticos que passou a predominar ostensivamente na cena política a partir da chegada do lulopetismo ao poder.

Como não podem contestar o fato de que estão envolvidos até o pescoço no assalto aos cofres públicos, os petistas argumentam em defesa própria que seus antecessores, em governos federais e estaduais, também são alvos de acusações de corrupção. Invertem o senso comum, querem fazer crer que um erro justifica outro. Invertem também a proposta original de serem "um partido diferente", para se eximir de culpas sob o argumento de que o PT "faz apenas o que os outros também fazem". A mais recente manifestação nesse sentido coube ao ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, em entrevista ao Estado publicada no domingo.

Respondendo a perguntas sobre o escândalo do petrolão, Berzoini, que priva da intimidade tanto de Lula como de Dilma, insinuou que o PT é perseguido pela mídia, pela PF e pelo Ministério Público: "As notícias existem, não há invenções. Mas há, evidentemente, uma seletividade da divulgação ou uma seletividade na investigação". E acrescentou: "O curioso é que ninguém se pergunta: será que isso acontece só na Petrobrás? Será que grandes estatais estaduais de governos de outros partidos não estiveram envolvidas também nisso? Será que não cabe um paralelo entre o que aconteceu no Metrô de São Paulo, o que aconteceu no governo de Minas em anos anteriores?". Cabe, então, perguntar ainda: caso as investigações em curso venham a comprovar corrupção no Metrô de São Paulo ou no governo de Minas, isso eximirá ou diminuirá a responsabilidade do governo do PT pelo assalto de mais de R$ 6 bilhões aos cofres da Petrobrás? Definitivamente, um erro não justifica outro.

Enquanto isso, Lula continua agindo como se não tivesse nada a ver com a corrupção no governo, cuja existência chega a negar em ocasiões e ambientes propícios. Muito bem protegido em espaços blindados contra vaias e preocupado em vender saúde com exibições de halterofilismo, Lula prefere cuidar de sua escancarada ambição de voltar à Presidência da República em 2018, exercitando sua conhecida habilidade de dizer o que as pessoas querem ouvir. Falando a correligionários reunidos no 3.º Congresso de Direções Zonais do PT-SP, na sexta-feira em São Paulo, Lula reiterou o mantra de que o governo precisa se dedicar a uma "agenda positiva": "Nós temos de dizer em alto e bom som para a companheira Dilma ouvir (...) que nós precisamos começar a dizer o que nós vamos fazer neste segundo mandato". Faz sentido, já que aquilo que prometeu na campanha Dilma renegou até mesmo antes da posse.

Abusando da imodéstia, Lula proclamou em tom triunfante: "Se Dilma fracassar é o PT quem fracassa (...) e eu não vim ao mundo para fracassar". Como diria Carlos Lupi: menos, Lula!

Arnaldo Jabor - A alma republicana

• A Flórida dos anos 1950 já revelava a alma republicana do americano médio

- O Globo

O mundo está mergulhado em crises sem solução, e isso provoca uma fome de simplismo e irracionalismo na política interna e externa dos países. O caos é hoje uma trágica novela sem fim, como vemos na TV: Islã virado em barbárie, Oriente Médio enterrado no lixo da primavera árabe, a miséria se afogando em barquinhos de borracha na costa da Itália, a progressiva impotência de Barack Obama nos Estados Unidos, sabotado pelo rancor até racista dos republicanos. A chamada “direita” (mesmo disfarçada de “esquerda”, como no Brasil) renasce em todo o mundo sem barreiras de contenção. 

A América se prepara para um tempo de boçalidade e desprezo pela “sensatez” dos “fracos e covardes” democratas. A paranoia está de volta. O cowboy vingador já montou em seu cavalo de batalha. A verdade é que o americano médio tem a “alma republicana”.

Eu vi isso na Flórida, onde morei no fim dos anos 1950. A cidade era igual àquela do “Show de Truman”. Ruas, pessoas, rituais, sorrisos e lágrimas, tudo parecia programado por uma máquina social obsessiva. A vida e a morte eram padronizadas, previstas: abraços gritados, roupas iguais, torcidas histéricas no beisebol, finais felizes, alegrias obrigatórias, formando uma missão comunitária cheia de fé, como um carrossel de certezas girando para um futuro garantido. 

A violência dos alunos me assustava. Eu era um nerd comprido e meio bobo nos meus 15 anos de virgindade e me chocava com as botas de cowboy marchetadas de estrelas de prata, as facas de mola de onde a lâmina pulava, os casacos de couro negro que já vestiam a chamada “juventude transviada”, uma rebeldia reacionária e “republicana” dos anos de Eisenhower. 

Vi brigas de ferozes galalaus se arrebentando até o sangue no focinho e o desmaio, onde nem os diretores do colégio podiam interferir, pelo sagrado direito da porrada, na cultura de vaqueiros e pioneiros. Não havia espaço para dúvidas naquela cidade, mas dava para sentir que a solidez de certezas, se rompida, provocaria um grave desastre. Os ídolos da época eram Elvis Presley rebolando na TV e James Dean, cadáver presente nos gestos e roupas. 

Pairava um clima de intolerância entre os próprios brancos; eram os fortes contra os fracos, eram as meninas bonitas contra as feias, eram as sérias contra as “galinhas”. Eu, turista tropical, era um tipo misterioso; tímido, fraco mas, como era estrangeiro e falava bem inglês, provocava um respeito cauteloso, e os machões me poupavam por minha habilidade em dar-lhes cola em spelling, soletrando palavras de raiz latina que, para eles, eram enigmas.

Algumas meninas saíram comigo para beijos na boca e nada mais, claro. Mas Brenda, mais pirada e sexy, me largou e sumiu com Warren Caputo, que tinha um Hot Rod com pneus de trator. Eu não era “legível” para eles. Eu navegava naquela cultura obsessiva e, bem ou mal, conseguira namorar Melinda Mills, loura pálida, filha de um ex-Marine que estivera no Rio durante a guerra e que me mostrou um cartão-postal do Mangue, onde ele certamente conhecera a zona e as polacas.

Mas havia uma outra América dentro da cidade: os negros. Eles passavam de cabeça baixa, o rosto torcido de humilhação, num ódio sufocado e inútil. Amontoavam-se no fundo dos ônibus, em pé, mesmo com os carros vazios e moravam num bairro de madeira e terra, perto do braço de mar onde fediam os barcos pesqueiros de camarão.

Aquela injustiça tipicamente “republicana” me espantava pela falta total de compaixão, eu que vinha de babás negras me beijando, eu que amava as mulatas lindas que já povoavam meus desejos aos 15 anos.

Eu só via gente negra moldada pelo sofrimento e exclusão, disformes, deprimidos, frágeis mulheres engelhadas, jovens pretos trêmulos e esfarrapados. No ônibus amarelo do colégio, meus colegas louros e brutos berravam contra os negros que passavam: “Hey, nigger, por que teu nariz é tão chato? Hey, nigger, por que teu cabelo é pixaim?” Depois, na época da “integração racial”, vi os mesmos negros sendo espancados pela ousadia de se banhar em piscinas públicas. Eu tinha medo era dos brancos.

Até que um dia chegou a notícia devastadora. Tinha subido aos céus o satélite russo Sputnik, girando como uma bola de basquete na órbita da Terra. Pânico na cidade. Desde 1949, com a explosão da bomba H pelos soviéticos, destronando a liderança dos destruidores de Hiroshima, os americanos esperavam outra catástrofe, que viria como um filme de ficção cientifica tipo “A invasão dos feijões gigantes”. Em minutos, a cidade parecia um campo de refugiados, com cabeças inchadas, humilhados pelos comunistas invasores. No colégio, começaram fire drills incessantes, alarmes evacuando os alunos para porões e abrigos atômicos. O então senador Lyndon Jonhson berrou: “Brevemente estarão jogando bombas atômicas sobre nós, como pedras caindo do céu...”

No alto, o satélite Sputnik humilhava os americanos, com seus “bip-bips” como gargalhadas de extraterrestre. A partir desse dia, lá embaixo, na cidadezinha da Flórida, eu mudei. Não para mim, mas para os outros. Os colegas porradeiros me investigaram com perguntas: “Que você acha? Teu país gosta dos russos?” Eu tremia e escondia minha vaga admiração juvenil pelo socialismo. Eles me olhavam desconfiados: brasileiro, latino, sabe-se lá? Depois disso, não me pediam mais cola de palavras, mal me olhavam. O pai de Melinda, putanheiro do Mangue, não me cumprimentou de sua poltrona esfiapada. Melinda ficou mais pálida e nosso namoro definhou.

Há muitos anos, eu vi o “choque e pavor” da América profunda. Essa era a época da chamada “silent generation”, passiva e ignorante. Sua reação é a mesma dos fundamentalistas do Tea Party hoje. Sempre que algo acontece fora de seu controle, eles bloqueiam o presente e querem voltar ao passado. São mais perigosos que os islamitas guerreiros, que explodem trens e aviões mas não destroem o Ocidente, por rancor, vingança e racismo, como fez o Bush, ídolo dos pequenos canalhas que humilhavam os negros na Flórida, quando eu apareci por lá.