segunda-feira, 20 de julho de 2015

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Quanto ao PT, uma das linhas de fuga poderá ser o cultivo da nostalgia das origens e o retorno ao “movimentismo”, de acordo com experiências que, em outros países, diagnosticam uma “crise orgânica (revolucionária) do capitalismo”. Confirmada a hipótese de uma “frente de esquerda”, com Lula à frente dos movimentos sociais a brandir um anticapitalismo retórico, dificilmente se tratará de um giro expansivo capaz de convencer, com os recursos da democracia, atores e áreas além da esquerda. Ao contrário, estará se repetindo o estágio de menoridade que já impediu ou retardou a contribuição ao País de parte das forças populares, deixando de lado, para os fins de nossa argumentação, atos de heroísmo individual em situações extremas.
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*Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil site: www.gramsci.org. Em artigo ‘A esquerda e seu déficit’. O Estado de S. Paulo, 19 de julho de 2015.

PF indicia presidente da Andrade Gutierrez e mais 8

• Delegado diz que há 'indícios veementes' de acerto entre empreiteiras

• Representação agora será analisada pelo Ministério Público, a quem caberá denunciar ou não os indiciados

Rubens Valente – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Polícia Federal indiciou neste domingo (19) o presidente da holding Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, e outras oito pessoas no inquérito aberto na Operação Lava Jato para investigar a participação da construtora em supostas fraudes em contratos, desvios de recursos da Petrobras e corrupção.

Agora a representação da PF será analisada pelo Ministério Público Federal, a quem caberá denunciar ou não os indiciados ao juiz Sergio Moro. O juiz decidirá, então, acolher ou não uma eventual ação penal contra os acusados.

O indiciamento não representa culpa formada, mas, sim, que a PF concluiu ter localizado, ao longo da investigação, indícios suficientes de cometimento de crimes.

A PF também indiciou Rogério Nora de Sá, ex-presidente da Andrade, o executivo Elton Negrão de Azevedo Júnior, os ex-funcionários Antonio Pedro Campello de Souza e Paulo Roberto Dalmazzo, o ex-prestador de serviço Flávio Lúcio Magalhães, o operador Lucélio Goes e os lobistas Mario Goes e Fernando Soares, o Fernando Baiano.

Em nota divulgada neste domingo (19), a empreiteira afirmou que "que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados".

O relatório parcial do inquérito, assinado pelo delegado Eduardo Mauat, concluiu que "há indícios veementes de ajuste" entre empreiteiras para obras que acabaram executadas pela Andrade Gutierrez, "o que se extrai não apenas da fala de colaboradores, mas de evidências apreendidas na operação".

A PF citou depoimentos de investigados que passaram a colaborar por meio de acordos de delação premiada –como o ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro Barusco–, que indicam o pagamento de propina para funcionários da estatal em troca de facilidades na obtenção e manutenção de contratos.

A investigação concluiu que a Andrade Gutierrez não conseguiu apresentar "qualquer justificativa" para o pagamento de pelo menos R$ 4,9 milhões para uma empresa de consultoria do lobista Mario Goes, a Rio Marine.

De acordo com a PF, a quebra de sigilo bancário da empresa de Goes apontou saques em espécie no total de R$ 70 milhões, uma prática "corriqueiramente aplicada em operações voltadas a ocultar ou dissimular os reais beneficiários dos recursos sacados, sobretudo em situações que envolvam o pagamento de vantagens indevidas".

Em seu relatório, o delegado reconheceu que não há uma imputação objetiva nos indiciamentos de Otávio Azevedo e de Rogério Nora de Sá. Mas diz não aceitar que os dois, para se defenderem, aleguem simplesmente que não sabiam dos fatos ocorridos.

O delegado argumenta que os "ajustes de licitações e pagamentos escusos a dirigentes da Petrobras" são atos que "em tese viriam a beneficiar a empresa, não se tratando de mera iniciativa de algum executivo de forma isolada e em benefício próprio".

Assim, concluiu a PF, são "atos de gestão do grupo Andrade Gutierrez".

No depoimento que prestou à PF após ter sido preso, Otávio Azevedo afirmou que não tinha participação "em qualquer função executiva da construtora Andrade".

Ele disse que sua atuação estava ligada à área de telecomunicações. Azevedo contou que entrou na AG em 1992, vindo dos quadros da Telebras, e que até 2007 desenvolveu projetos em telecomunicação. O executivo afirma ainda que se tornou presidente da Telemar, do Rio, um ano depois do leilão de privatização das empresas de telefonia, em 1998.

PMDB atua para liderar CPI do BNDES

Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

• Partido quer compartilhar com oposição a presidência ou a relatoria de comissão

BRASÍLIA - Partido do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), o PMDB vai reivindicar o comando da recém-criada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará as atividades do BNDES a partir de agosto. A CPI do BNDES se dedicará a aprofundar informações sobre os empréstimos feitos pelo banco público desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comissão foi criada na sexta-feira, algumas horas após Cunha anunciar seu rompimento político com o governo Dilma Rousseff.

O PMDB tem interesse na presidência ou na relatoria da CPI. Um dos cargos ficaria com o partido e o outro, com a oposição. O líder peemedebista, deputado Leonardo Picciani (RJ), deve ter uma reunião com Cunha hoje e, apesar do recesso parlamentar, o assunto pode entrar na pauta.

No mesmo dia em que a CPI foi criada, o PSDB, principal partido de oposição ao governo, indicou seus dois membros - os deputados Betinho Gomes (PE) e Miguel Haddad (SP). O bloco liderado pelo PMDB, que inclui outros 13 partidos, como PP, DEM, PTB e Solidariedade (SD), tem direito a 11 vagas. O bloco dos tucanos pode indicar mais quatro titulares. O grupo parlamentar encabeçado pelo PT tem apenas oito vagas. Há ainda outras duas vagas, destinadas ao PDT e ao PSL, que não formam parte de nenhum bloco.

No Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) deve ler o requerimento de criação de uma comissão semelhante para investigar o BNDES assim que terminar o recesso parlamentar, em 6 de agosto. Mas, até lá, os senadores ainda podem retirar suas assinaturas de apoio à comissão.

Os financiamentos do BNDES a empresas brasileiras são alvo de ataques da oposição ao governo e também de investigações no Ministério Público. A Procuradoria da República no Distrito Federal conduz apuração sobre a relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a empreiteira Odebrecht, uma das empresas com maior linha de crédito do BNDES.

Fundos. Além da CPI do BNDES, o presidente da Câmara autorizou a criação de uma comissão para investigar irregularidades envolvendo fundos de pensão, outra área considerada delicada para o governo. Para isso, Cunha atropelou requerimentos de criação de outras quatro comissões em temas relevantes - setor elétrico, mulheres em situação de violência, desabastecimento de água e telefonia.

Partidos de oposição já demonstram interesse na cúpula das duas comissões. "Defendo que a oposição tenha espaço no comando das CPIs. (Os temas) são verdadeiras caixas-pretas que geraram prejuízos impressionantes para a sociedade e para os aposentados, no caso dos fundos de pensão", afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). O parlamentar disse que conversará com a bancada assim que voltar do recesso para indicar seus representantes nas comissões. "O BNDES foi usado como biombo internacional para financiar os amigos do petismo."

O governo tenta demonstrar despreocupação. "Vamos discutir isso. Não tem que ter pressa. Estamos de recesso e isso não é assunto para recesso", amenizou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE).

Cunha e Renan aliam-se na briga com o Planalto

Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O recesso parlamentar branco que começa nesta semana pode dar a falsa impressão de esfriamento da crise política, mas, fora de Brasília, serão intensas as conversas sobre os desdobramentos da decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de formalizar o rompimento com o governo. A presidente Dilma Rousseff que se prepare para tempos ainda mais difíceis no Congresso, caso Cunha mantenha na prática essa disposição. Entre parlamentares de diversos partidos cresce a apreensão com os desdobramentos da Operação Lava-Jato e o surgimento de novas vítimas. Sobra para o governo.

Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - provável próxima vítima da Lava-Jato, segundo indicações -, tentam transformar a crise política em institucional, com o discurso de que o Poder Legislativo está sendo atacado pelo Judiciário e pelo Ministério Público, numa ação orquestrada pelo Executivo. Segundo essa versão, espalhada por seus aliados, o objetivo é desmoralizar o Congresso, para tentar reduzir o foco da crise sobre o Palácio do Planalto.

A irritação de vários senadores e de Renan com os demais Poderes já era grande na semana passada por causa da operação de busca e apreensão da Polícia Federal na casa de parlamentares, entre eles o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Além do aspecto legal, a ação policial ostensiva, com helicópteros e metralhadoras, foi criticada. Para os parlamentares, foi uma operação para "desmoralizar" e "destruir imagem".

A leitura é que um impasse institucional torna-se inevitável. "O Supremo Tribunal Federal não está coibindo, o Ministério Público não está agindo corretamente e o Ministério da Justiça não está cumprindo o que deveria: conduzir as operações de forma discreta, responsável e equilibrada", define um interlocutor de Renan.

Enquanto estiverem de pé, os presidentes da Câmara e do Senado tendem a criar mais problemas para Dilma, mas mantendo os estilos diferentes. Enquanto Cunha "esbraveja e age", na definição de aliados, Renan oscila. Às vezes solta uma farpa e, em outras, faz um gesto emblemático. "O Renan está na mesma toada [que Cunha]. Sabe que é o próximo", afirma um dirigente do PMDB, que acompanha as articulações dos presidentes da Câmara e do Senado e não consegue, ainda, prever o desfecho da crise.

Como o Congresso não está formalmente de recesso, já que o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não foi votado - exigência constitucional para a suspensão dos trabalhos -, sessões da Câmara e do Senado podem ser convocadas a qualquer momento, se os respectivos presidentes considerarem necessário reagir a algum "ataque" do Executivo, do Judiciário e do MP. Armas, eles têm.

"Nós estamos apenas em recesso branco. Cabe tudo. A toda ação corresponde uma reação. Na física, ela vem na mesma intensidade e energia. Na política, isso não é necessariamente verdadeiro. Às vezes, a intensidade é maior", define um pemedebista próximo a Cunha e Renan.

Para o segundo semestre, caso até lá a situação se arraste sem novas surpresas, a expectativa é de derrotas nas principais votações do governo, como o projeto de lei que retira a desoneração da folha de pagamento de diversos setores da economia. A proposta é parte do ajuste fiscal do governo. A Câmara aprovou e encaminhou ao Senado. Renan adiou a votação para o segundo semestre e defendeu mudanças. Se o Senado fizer emendas, o texto volta para a Câmara, cuja tendência, agora, é rejeitar, na opinião de políticos próximos de Cunha.

Sob o comando de Renan, o Senado, por sua vez, poderá nem votar a proposta que permite a repatriação de recursos depositados no exterior sem pagamento de imposto, apesar dos vários apelos de Dilma e do ministro Joaquim Levy.

Além disso, o presidente do Senado já anunciou para o segundo semestre a criação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), com potencial de dar muita dor de cabeça para o governo: a dos fundos de pensão, para investigar os desvios nos fundos de previdência privada das estatais da União, e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para apurar supostas irregularidades em contratos de financiamento do banco com grandes empresas e os destinados a obras no exterior. Cunha também autorizou a criação das duas CPIs na Câmara e de outras duas: a de crimes cibernéticos e a de maus tratos a animais.

Fora do Congresso, o comando do PMDB próximo do vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do partido, não quis embarcar na onda de Cunha, que prega o rompimento já da legenda com o governo. Pemedebistas da cúpula dizem que o problema do presidente da Câmara na Operação Lava-Jato é "pessoal", assim como o de Renan. Eles não serão execrados pela cúpula partidária, mas também não receberão solidariedade incondicional. E serão cobrados a se explicar.

Segundo um dirigente da legenda, "não há nobreza nenhuma na causa" de Cunha, acusado por um lobista, em delação premiada, de receber U$ 5 milhões de propina, e de Renan ou qualquer outro que venha a ser acusado de corrupção. E, numa época de salve-se quem puder, ninguém quer envolver-se com problemas. A presidência do partido divulgou nota na qual afirma que o rompimento com o governo, anunciado por Cunha, "é expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB".

Colocado numa saia justíssima, o comando partidário busca justificar sua posição dizendo que o PMDB é diferente do PT - que tem a corrupção como "prática institucional" -, do ex-PFL (hoje DEM), "que execra e maltrata" filiados acusados de irregularidades, e do PSDB, "que finge não ver" quando um dos seus correligionários é alvo de denúncia.

Ainda que um eventual impeachment de Dilma possa levar Temer a assumir a Presidência da República, o vice-presidente não será pego em conspiração contra ela. Mas a avaliação em parte da cúpula do PMDB é que a velocidade do agravamento da crise é tão avassaladora que o afastamento de Dilma do cargo parece o desfecho mais provável, independentemente do que acontecer a Cunha e -como temem aliados- com Renan. (Colaborou Thiago Resende)

Na TV, Renan elogia Cunha ataca ajuste fiscal de Levy

• Presidente do Senado chamou medidas do governo de ‘tacanhas’ e ‘insuficientes

Simone Iglesias / Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - Em pronunciamento na TV para fazer um balanço das ações no Senado no primeiro semestre, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez duras críticas ao ajuste fiscal do governo Dilma. Em discurso gravado na sexta-feira, chamou as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de “tacanhas” e “insuficientes”. Ele ainda elogiou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pela celeridade com que tem conduzido as votações no Congresso.

— O ajuste é insuficiente e tacanho. Até aqui, quem pagou a conta foi o andar de baixo. Esse ajuste sem crescimento econômico é cachorro correndo atrás do rabo, circular, irracional e não sai do lugar. É enxugar gelo até ele derreter. É preciso cortar ministérios, cargos comissionados, fazer a reforma do Estado e acabar com a prática da boquinha e apadrinhamento — declarou Renan, que é investigado pela operação Lava-Jato.

Em pronunciamento de quase 17 minutos, que foi ao ar na TV Senado, Renan chamou de “filme de terror” as crises política e econômica que o país enfrenta. Sem citar em nenhum momento o nome da presidente Dilma Rousseff, afirmou que o governo ignorou o pacto pelo trabalho proposto pelo Congresso, que trabalhou para minimizar as perdas dos trabalhadores e aposentados na aprovação do pacote de medidas do ajuste fiscal, que restringiram a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários.

— Estamos na escuridão assistindo a um filme de terror sem fim e precisamos de uma luz indicando que o horror terá fim. O país pede isso todos os dias.

Renan disse projeta um segundo semestre difícil e que o Congresso é contra qualquer medida do governo de aumento de impostos. A parlamentar afirmou ainda que a sociedade está no seu limite.

— Não diria que será um agosto ou um setembro negro, mas serão meses nebulosos. Os resultados do ajuste são modestos, muito aquém do prometido. O Congresso, majoritariamente, é refratário a aprovar novos tributos ou impostos. A sociedade já está no seu limite suportável com tarifaços, inflação e juros. Estamos num momento aterrador (…). Uma retração na economia. O ajuste está se revelando um desajuste social. Ele é um fim em si mesmo. Ele nem aponta, nem sinaliza, nem indica, nem sugere quando o país voltará a crescer — afirmou.

O presidente do Senado disse que os congressistas não serão “agentes da instabilidade” e que irão contribuir para proporcional tranquilidade e estabilidade.

— Diante das crises é preciso se reinventar, trabalhar e ter coragem. Negar a realidade é minimizar ou relativizar crises. É um atalho para o insucesso — disse.

Renan elogiou a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que ele impôs um novo ritmo de votações e que trabalharam juntos no primeiro semestre para otimizar os resultados das votações.

— Atuamos conjuntamente a fim de otimizar os resultados do Legislativo. Conseguimos. Um exemplo foi a Lei de Responsabilidade das Estatais, que acho muito importante para a transparência e controle social das empresas públicas — afirmou o peemedebista.

Em uma crítica à Dilma, com quem passou a ter uma relação ruim no segundo mandato da presidente, Renan afirma que sua aprovação na opinião pública “dispensa comentários”.

Lava-Jato
Renan também falou sobre a Operação Lava-Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras. O presidente do Senado afirmou que todos devem responder às demandas da Justiça e que uma investigação isenta vai comprovar o que tem dito. Segundo Renan, as denúncias contra ele são como "disco arranhado" e não trazem fatos novos. O senador disse que o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), apontado como seu intermediário no esquema, não tem autorização para falar em seu nome e que mantém uma relação institucional com as empresas públicas.

— Não tenho nenhuma relação com o que está sendo investigado — afirmou.

Em meio ao debate sobre o impeachment de Dilma, o senador defendeu o direito de o PMDB disputar a Presidência da República "nas urnas". Renan criticou a busca do poder através de medidas "à margem da legalidade". Ele disse que legitimidade é um conceito fundamental para o governo e que "democracia não se confunde com vassalagem".

— O PMDB não pode sucumbir ao aparelhamento. Não é inteligente fazer isso. Vejo com felicidade que o PMDB refuta ser coadjuvante e vai em busca do protagonismo. Não somos defensores de medidas marginais que estejam à margem da legalidade. O poder é conquistado nas urnas, no convencimento do eleitor e na credibilidade das propostas e programa de governo — afirmou.

TCU
Sobre o julgamento das contas da presidente, Renan disse que é preciso esperar o julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU), previsto para agosto. Antes disso, segundo Renan, "tudo não passará de especulação e probabilidade, que não são bons orientadores".

Ao falar sobre o processo de aprovação do nome do ministro Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF), Renan criticou a atuação da imprensa:

— Hoje está mais fácil interpretar a realidade nacional nas feiras, shoppings e ruas do que nas manchetes dos noticiários, mas o Senado será sempre guardião da liberdade de expressão em qualquer circunstância.

PMDB do Rio e bancada federal evitam solidariedade

Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - No PMDB do Rio, a maior seção estadual do partido, e reduto de Eduardo Cunha, o rompimento do presidente da Câmara com o governo federal é considerado uma atitude "pessoal", que "não tem nada a ver com o PMDB", na linha dos caciques nacionais - à exceção do presidente do Senado, Renan Calheiros, que ontem jogou água no moinho de Cunha, em vídeo repleto de críticas à administração petista.

No Rio, o presidente da Câmara não recebeu apoio das principais figuras do partido. O prefeito Eduardo Paes, cauteloso, evita confusão com a presidente Dilma Rousseff, que representa uma parceria essencial na realização da Olimpíada de 2016. O governador Luiz Fernando Pezão - cuja saída de uma crise financeira depende da ajuda da União - demonstrou, na sexta-feira, apoio à Dilma, logo após o anúncio de rompimento de Cunha. Como já fizera durante a campanha no ano passado, quando se manteve à distância do movimento Aezão - que pediu votos para ele e para o adversário de Dilma, o senador mineiro Aécio Neves.

Mesmo o setor que fez campanha contra a petista e a favor do tucano não prestou solidariedade a Eduardo Cunha. De acordo com uma fonte graduada da legenda, "não se deve misturar questões pessoais com a responsabilidade com o país e com a governabilidade".

O comportamento de Cunha é visto como uma demonstração de perda de força, pois o deputado reage "a cada fato novo" que surge no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato.

Em depoimento à Justiça Federal, o lobista e delator Júlio Camargo disse ter pagado a Cunha, em 2011, propina de US$ 5 milhões por contratos com a Petrobras, em denúncia revelada na quinta-feira.

A posição do presidente da Câmara, afirma a fonte do PMDB do Rio, é considerada como o rompimento de um deputado, senador ou político qualquer da sigla, que já tem outros dissidentes em relação ao governo. No entanto, uma decisão do PMDB como um todo, lembra o pemedebista, dependeria da convocação de instâncias partidárias superiores, como o conselho político, que reúne cerca de 60 pessoas e é composto pelos governadores, pelos presidentes dos diretórios estaduais e pelos integrantes da Executiva nacional.

Cunha teria tentado, sem sucesso, arrastar outros caciques do PMDB para fora do governo nas últimas duas semanas. E mesmo entre os deputados federais - onde tem mais influência - o apoio recebido foi modesto. De modo vago, a nota da bancada divulgada, na sexta, afirma que o colegiado só se reunirá depois do recesso parlamentar para tomar uma decisão sobre o rompimento. E talvez, até lá, nem haja necessidade de definição. "Se fosse para respaldar, teria sido no mesmo dia. [A bancada] Deixou o Cunha sozinho", afirma a fonte.

Resistência de senadores a Janot leva procuradores a cogitarem plano B

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

• Choque de poderes. Chefe do Ministério Público Federal, favorito para eleição em agosto, enfrenta clima hostil após buscas em casas de três parlamentares, o que poderia provocar rejeição à sua recondução ao cargo e comprometer andamento da Lava Jato

BRASÍLIA - Favorito dentro do Ministério Público para ser reconduzido a um novo mandato de dois anos pela presidente Dilma Rousseff, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, corre riscos reais de ser barrado em votação secreta do Senado. Diante do clima adverso, procuradores da República próximos ao chefe do Ministério Público já cogitam traçar um plano B para evitar prejuízos à Operação Lava Jato que levem à contestação da apuração do esquema de desvios na Petrobrás que financiou políticos e partidos.

O clima hostil a Janot cresceu desde terça-feira, com a Operação Politeia, primeira fase da Lava Jato centrada no núcleo político do esquema, que realizou buscas e apreensões em imóveis de três senadores. O cumprimento dos mandados contra Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) deixou o ambiente no Senado ainda mais tenso que o visto desde março, quando foram abertos inquéritos contra 13 senadores - entre eles, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), por suposto envolvimento no esquema de corrupção.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde começará a nova sabatina de Janot se ele for indicado pela presidente Dilma Rousseff, um terço dos senadores titulares está na mira da Procuradoria, o que deve acirrar os ânimos contra o chefe do Ministério Público.

Diante do clima adverso, procuradores próximos a Janot começaram a traçar, em conversas reservadas, um plano B com o objetivo final de salvar a Lava Jato, caso o atual o procurador-geral seja rejeitado pela Casa. Como plano alternativo, Janot poderia apoiar outro candidato da lista tríplice nos bastidores. Na disputa, estão os subprocuradores-gerais Carlos Frederico Santos, Mario Bonsaglia e Raquel Dodge. Janot, entretanto, vai manter o discurso público de que é candidato sem quaisquer condicionantes.

Apoiar um sucessor seria uma forma de manter o ritmo das investigações da Lava Jato. Há receio de uma descontinuidade, ainda que temporária, na condução dos inquéritos no Supremo Tribunal Federal contra deputados e senadores e no apoio as ações tocadas por procuradores da força-tarefa da operação - grupo designado diretamente por Janot e que atua na Justiça Federal de Curitiba. Um novo procurador-geral poderia, por exemplo, pedir um tempo adicional para avaliar os inquéritos da Lava Jato contra políticos.

O risco de derrota no Senado agita os bastidores do MPF. Um procurador reconhece que as recentes ações contra os senadores vão criar um clima de solidariedade entre os parlamentares na Casa. "(Janot) cutucou a onça com vara curta", disse.

Calendário. Outro componente a complicar a situação de Janot é o calendário apertado até sua recondução. A eleição interna ocorrerá em 5 de agosto e, se encabeçar a lista tríplice, Dilma deve indicá-lo para um novo mandato - o atual termina em 17 de setembro. Além do tempo curto, a investigação sobre tantos senadores cria embaraços para um corpo a corpo com os parlamentares.

Três importantes líderes governistas do Senado consultados pelo Estado avaliam que Janot terá dificuldades para ser reconduzido. Cabe aos senadores chancelar a escolha feita pela presidente.

"A busca e apreensão criou mais atrito para ele", afirmou um deles. "Essa última operação deixou um mal estar dentro do Senado", endossou outro, criticando o que considerou "demonstração desnecessária de poder" a ação que levou às batidas policiais nas residências de Collor, que foi presidente da República; Nogueira, presidente do PP; e Bezerra, ex-ministro do governo Dilma. "Como o voto é secreto, existe uma possibilidade grande de Janot não passar", disse um terceiro líder.

Até o momento, apenas Collor critica abertamente a operação autorizada pelo STF e avalizada por Janot, desafeto contra quem já moveu quatro processos que poderiam levá-lo ao afastamento do cargo. Os demais, inclusive Calheiros, reclamaram genericamente dos "excessos" da ação de busca e apreensão, sem citar Janot. Mesmo antes de uma eventual indicação do atual procurador-geral, Renan - alvo de três inquéritos na Lava Jato - afirmou que vai se comportar "com a isenção que o cargo recomenda".

"A indicação é uma faculdade da presidente da República e a sua aprovação ou não é uma prerrogativa dos senadores e das senadoras. Não posso, não tenho como nem vou predizer o que vai acontecer, nem o que não vai acontecer", disse Renan na sexta-feira, em pronunciamento transmitido pela TV Senado.

Ainda assim, publicamente, seus aliados apostam na vitória mesmo na votação secreta no Senado. "Eu penso que o Rodrigo será reconduzido, apesar do Collor, Dilma, Calheiros, deputados do PP (partido com o maior número de parlamentares investigados)", disse o subprocurador-geral da República Brasilino Santos, eleitor de Janot.

"(Ele) colocou o Senado todo de joelhos, é o nosso procurador por mais anos", aposta outro subprocurador, amigo de Janot há mais de 20 anos. / Colaborou Bernardo Caram

Crise amplia papel de Temer, diz Padilha

- O Globo

• Segundo ministro, vice-presidente fortalecerá relação com tcu e judiciário

BRASÍLIA - O rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo Dilma Rousseff aprofundará a atuação do vice-presidente Michel Temer na articulação política. Peemedebistas, entre eles Cunha, vinham defendendo nos últimos dias que Temer voltasse a se dedicar só às funções de vice, mas o agravamento da crise política o levará a fortalecer as relações com o Judiciário e com o Tribunal de Contas da União (TCU), que julgará as contas do governo.

Essa disposição foi revelada por um dos principais escudeiros de Temer: o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), que auxilia o vice-presidente na Secretaria de Relações Institucionais.

- Neste momento, a continuidade do trabalho de Temer como articulador político é indispensável para o governo, para o Brasil, e para a estabilidade das instituições - disse o ministro.

Os peemedebistas da cúpula do partido esperam que Cunha cumpra o compromisso que assumiu de não usar o seu cargo na Câmara para se vingar da presidente. Sábado, no Twitter, Cunha disse que atuará garantindo a independência e harmonia entre os poderes.

- O presidente Eduardo Cunha afirmou que seu rompimento é pessoal e que não compromete a exigência constitucional dos poderes buscarem independência e autonomia entre si. O PMDB prossegue como governo, inclusive à frente da articulação política- afirmou Padilha.

Marina defende afastamento de denunciados

José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

• Segundo a ex-ministra, o perigo é que políticos usem seus poderes para interferir em investigações

Terceira candidata mais votada na última eleição presidencial, a ex-ministra Marina Silva defendeu em artigo que políticos que forem formalmente denunciados pela Procuradoria-Geral da República se afastem dos cargos. Para ela, o perigo é que políticos usem seus poderes para interferir nas investigações.

"Devemos exigir o afastamento dos que ocupam cargos cujos poderes possam interferir nas decisões. Mas desde já precisamos estar atentos contra qualquer tentativa de sabotagem", escreveu Marina em artigo enviado ao blog do jornalista Matheus Leitão, do G1.

A ex-senadora critica o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem acusa de usar a manipulação da crise para aumentar seu poder. Segundo Marina, por isso "é normal que ele agora tente explicar as denúncias de corrupção que recebe como sendo manipulação dos outros". No entanto, Marina aponta que os que gritam "fora Cunha" querem desviar atenção dos gritos de "fora Dilma".

Na avaliação de Marina, o Congresso divide com o governo a responsabilidade pela crise. "Neste momento, deveria predominar entre eles (parlamentares) a consciência de que o Poder Legislativo é maior que seus membros, mesmo aqueles que ocupam cargos de direção", disse.

A candidata do PSB nas eleições de 2014 pede que, "ao menos em nome do bom senso", os denunciados evitem "mexer mais ainda num equilíbrio institucional que já está precário, não usando poderes públicos como navios de guerra onde os litigantes disparam contra os outros".

No texto, Marina defende a ação da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça na Lava Jato e argumenta que o Brasil é capaz de sair do momento atual para outro momento positivo, assim como na crise que culminou no impeachment de Fernando Collor. "O que está em curso no Brasil não é apenas a desconstrução de um sistema político que revela, a cada dia, sua falência. Há também uma lenta construção da democracia e de instituições independentes e fortes, instrumentos de navegação em meio às crises", argumenta.

No texto, a ex-senadora mantém a esperança de que os culpados sejam punidos. "Se temos que respeitar as instituições que eles, infelizmente, dirigem tão mal, e respeitar a população que lhes confiou seu voto, temos também que manter viva nossa esperança de que a Justiça será feita e os erros serão punidos", escreveu.

Revés de Cunha muda rumo da oposição

Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo, 19/7/2015

• Ruptura do presidente da Câmara com Planalto ajuda PSDB, mas eventual enfraquecimento dele pode alterar projetos de substituir Dilma

A crise em torno de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) preocupa o PSDB e obriga seus principais líderes a rever os estrategemas montados até agora com objetivo de substituir Dilma Rousseff na Presidência. Se, de um lado, a instalação - determinada pelo presidente da Câmara - de mais duas CPIs para investigar o governo federal ajuda a oposição, de outro, um eventual enfraquecimento do peemedebista pode tirar dos tucanos seu maior ardil institucional contra a presidente da República.

No comando da Câmara dos Deputados, Cunha sempre funcionou para os tucanos como um posto avançado de desgaste para a presidente e, agindo dessa forma, se tornou peça essencial da munição da oposição contra Dilma e o PT. Se ele deixar o cargo ou permanecer nele com um poder esquálido, os tucanos e seus aliados na oposição terão de redesenhar os projetos de voltar ao Planalto.

Segundo líderes do PSDB consultados pelo Estado, todos os interesses do partido passam, de alguma maneira, por Eduardo Cunha. Por isso, os tucanos vão aguardar os desdobramentos da crise desencada na última quinta-feira com o depoimento do lobista Julio Camargo, que acusa Cunha de ter cobrado US$ 5 milhões de propina. O efeito imediato foi uma aproximação dele com a oposição, o que resultou na criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão, duas antigas bandeiras dos tucanos.

“O caminho da oposição depende muito do que Eduardo Cunha fará. Serão três CPIs funcionando (com a da Petrobrás) contra Dilma e mais uma frente no Tribunal de Contas da União. Neste momento, Cunha dá força para a oposição”, afirma o deputado federal Silivo Torres (SP), secretário-geral do PSDB nacional.

Cenários. No longo prazo, no entanto, o desfecho da crise deve influenciar na divisão de forças dentro do PSDB. Se Cunha cair ou permenecer no poder sem força para levar adiante o ímpechment de Dilma, o grupo na legenda comandado pelo senador Aécio Neves (MG) ganhará argumentos para sua tese que defende a cassação da candidatura da presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encampada na convenção nacional do partido. Por essa via, o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) também poderia ser atingido, o que acarretaria na convocação de novas eleições. Conforme o Ibope, Aécio é o líder da mais recente pesquisa de intenção de voto para presidente.

Para o grupo do PSDB reunido em torno do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Cunha funcionou até agora como o maior entrave para que o segundo mandato de Dilma tenha alguma chance de decolar, e os entusiastas da candidatura Alckmin a presidente em 2018 esperam que Dilma permaneça desgastada no poder até lá.

Há também uma espécie de “terceira via” em curso dentro da oposição e ela passa diretamente pelo poder de Cunha e de Temer. No PSDB, aliados do senador José Serra (SP) se movimentam para que o vice-presidente assuma o lugar de Dilma Rousseff e contemple a oposição na formação de uma nova coalizão governista, nos moldes da que sustentou Itamar Franco (morto em 2011) quando Fernando Collor sofreu impeachment. Serra teria papel fundamental nesse cenário, seja como ministro e candidato de Temer em 2018, ou até mesmo como primeiro-ministro, caso avance, com apoio de um novo governo, o projeto que reestabelece o parlamentarismo.

Nesse estratagema, Cunha tem de levar adiante a subtituição de Dilma na Câmara após uma possível rejeição das contas da gestão da presidente no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Congresso. Nesta sexta-feira, Cunha também deu sinal verde para que avancem na Câmara pedidos de impeachment da presidente. Se ela for deposta por uma dessas vias, Temer estaria desimpedido para assumir.

O PSDB evitou se posicionar num primeiro momento sobre a acusação envolvendo o presidente da Câmara. Aécio, presidente nacional da sigla, divulgou nota neste sábado. “Continuaremos atentos ao nosso papel de defender as nossas instituições para que elas cumpram suas funções constitucionais. Todas as denúncias têm que ser investigadas, respeitado o amplo direito de defesa”, disse.

Reservademente, os tucanos receiam que novas denúncias da Lava Jato possam atingir representantes da oposição. Por isso também mantêm o discurso cauteloso em relação a Cunha. “Todos os envolvidos têm de responder, mas não vamos precipitar julgamento sobre nenhum ator”, disse o deputado Marcus Pestana (MG).

Principal líder do PPS, um dos partidos que compõe o consórcio da oposição, o deputado federal Roberto Freire (SP) faz um alerta para a necessidade de a frente anti-PT não perder seu foco principal. “O problema da presidente Dilma é a completa falta de condições de governabilidade. A oposição precisa estar preparados para qualquer alternativa de substituição da presidente que seja feita dentro da legalidade institucional”, diz Freire. / Colaboraram Victor Martins e Eduardo Kattah

O fio da meada assusta

• Lula é investigado por ajuda a empreiteira no exterior. Isso é legítimo para um candidato a melhor ex-presidente do Brasil. Mas há detalhes mal contados nessa história

Daniel Pereira – Veja

O ex-presidente Lula nomeou os quatro diretores da Petrobras que foram presos e acusados de participar do maior esquema de corrupção da história do país. Ele também recebeu favores pessoais de empreiteiras investigadas no petrolão e foi contratado por elas para fazer palestras no Brasil e no exterior. Em sua campanha à reeleição, em 2006, contou com uma doação de 2,4 milhões de reais da UTC, dinheiro que, segundo o próprio dono da construtora, Ricardo Pessoa, teve origem no petrolão e não foi declarado à Justiça Eleitoral. Apesar de tantas evidências, Lula não é oficialmente investigado na Operação Lava-Jato. Sua paz de espírito, porém, não está garantida. O petista confidenciou a aliados ter medo de ser preso.

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu, na semana passada, um procedimento criminal para apurar a suspeita de tráfico de influência de Lula em favor da Odebrecht, a maior empreiteira do país e cliente preferencial de recursos do BNDES. Nesse caminho, os investigadores muito provavelmente vão por uma rua sem saída. Não há nada de errado, a princípio, em um ex-presidente se tornar, para ficar na expressão usada por Lula, "um caixeiro-viajante" do Brasil no exterior — e cobrar por isso. Esse é um papel esperado de ex-presidentes dispostos a continuar construindo seu legado mesmo depois de apear do poder. Mas, como suspeitam os promotores, o diabo pode estar nos detalhes.

Ao deixar o Planalto, Lula fez viagens a países da América Latina e da África, pagas pela Odebrecht, com o objetivo declarado de abrir caminho para negócios da construtora e fazer palestras. Em 2011, Lula visitou o Panamá na companhia do ex-ministro José Dirceu — até então com a roupagem pública de consultor de sucesso — e de Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht. Com Alencar, Lula também viajou a Angola, Gana e Portugal. Houve ainda uma empreitada em que os papéis foram invertidos. Ao representar o governo brasileiro em missão oficial à Guiné Equatorial, o ex-presidente convidou Alencar a integrar a comitiva, o que causou desconforto entre funcionários do Itamaraty. A dupla dinâmica Lula e Alexandrino Alencar mostrava grande eficiência — e abria o caminho da riqueza para outras pessoas ligadas ao ex-presidente. VEJA revelou que a Odebrecht contratou Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho de Lula, para trabalhar na construção de uma hidrelétrica em Angola, obra financiada com dinheiro do BNDES. Essa cortesia ajudou a transformar o sobrinho empresário especializado na reforma de varandas de apartamentos em empreiteiro internacional de sucesso. Não deixa de ser mais um feito do lulopetismo em sua missão sagrada de promover a ascensão social das massas.

A convite de Alencar, Taiguara fez parte de uma comitiva de empresários e representantes do governo brasileiro que visitou as obras do Porto Mariel, em Cuba, também tocadas com dinheiro do BNDES. A Procuradoria da República no Distrito Federal agora quer saber que vantagens o ex-presidente obteve da Odebrecht pelos serviços de lobby. Para isso, recorrerá aos colegas que participam da Operação Lava-Jato. Se a Justiça autorizar, a Procuradoria terá acesso a documentos, mensagens, planilhas e depósitos que façam referência a obras da Odebrecht financiadas pelo BNDES ou que tenham sido negociadas com a intermediação de Lula. Haverá também o compartilhamento de depósitos feitos pelas empreiteiras investigadas no petrolão em contas de Lula, de seu instituto e de sua empresa de palestras. Os investigadores já sabem que a Camargo Corrêa repassou, entre 2011 e 2013, 4,5 milhões de reais ao instituto e à empresa de palestras de Lula, inclusive sob a sugestiva rubrica de "bônus eleitoral". Delegados e procuradores também têm dados intrigantes sobre Alexandrino Alencar.

Os delatores Alberto Youssef e Rafael Ângulo Lopez disseram que Alencar organizava o esquema de pagamento de propinas no exterior. Lopez, encarregado de entregar dinheiro vivo a beneficiários do petrolão, contou que fazia o controle dos pagamentos diretamente com Alencar na sede da Odebrecht. Ao ser abordado pelos policiais no momento de sua prisão, Alencar fez três telefonemas. Um deles para o Instituto Lula.

Telegramas indicam que Lula agiu em favor da Odebrecht no exterior

José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

• Mensagens diplomáticas trocadas entre o Itamaraty e chefes de postos brasileiros em outros países indicariam que o ex-presidente teria agido em Portugal, Cuba e África

SÃO PAULO - Uma série de telegramas diplomáticos trocados entre o Itamaraty e chefes de postos brasileiros no exterior indicariam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria agido em Portugal, Cuba e África em favor de empresas brasileiras, entre elas a Odebrecht, segundo o jornal O Globo. Os telegramas foram obtidos pelo jornal por meio da Lei de Acesso à informação.

Em uma correspondência enviada em 2014 pelo embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, se encontra um comentário sobre a atuação de Lula em Portugal. No documento, Vilalva diz que "repercutiu positivamente na mídia" a declaração de Lula dizendo que empresas brasileiras devem se engajar na aquisição de portuguesas em processo de privatização e completa: "O ex-presidente também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito brasileiro". O embaixador não explicita, no telegrama, se o pedido de Lula a Coelho foi feito de maneira pública ou particular.

Em Cuba, Lula teria participado, em 2011, de almoço oferecido por Marcelo Odebrecht, além de encontros com Raul e Fidel Castro e de um jantar em sua homenagem oferecido pelo chefe do posto diplomático. Os ex-ministros José Dirceu e Franklin Martins acompanhavam Lula na viagem.
Em 2014, o encarregado de negócios brasileiros em Cuba, Marcelo Câmara, cita uma visita de Lula ao país "em atendimento a convite do governo local e com apoio do grupo COI/Odebrecht". O motivo da visita seria, segundo o telegrama, "a prospecção de iniciativas para aperfeiçoamento da matriz energética à zona especial de Mariel e o reforço da cultura de soja no país". O petista foi acompanhado pelo senador Blairo Maggi (PR-MT) e do ex-ministro Silas Rondeau.

Outro episódio relatado pelo jornal é o agendamento de uma reunião do embaixador do Zimbábue no Brasil, Thomas Bvuma, com o BNDES em 3 de maio de 2012. Segundo o telegrama enviado pelo Itamaraty à representação brasileira no país africano, a reunião foi "organizada a pedido do ex-presidente Lula, que se dedicará ao desenvolvimento de infraestrutura na África.

Em nota, a assessoria do Instituto Lula diz que "o ex-presidente não recebeu, não recebe e jamais receberá qualquer pagamento de qualquer empresa para dar consultoria, fazer lobby ou tráfico de influência" e que os pagamentos que recebeu da Odebrecht, e de outras empresas, foram feitos por palestras com nota fiscal.

Sobre o caso em Portugal, o Instituto argumenta que o ex-presidente "comentou o interesse da empresa brasileira pela empresa portuguesa" que já era público. As visitas a Cuba, segundo a assessoria de Lula, foram públicas e "amplamente divulgadas". Assim como a reunião com o BNDES onde, segundo Lula, participaram representantes de vários países africanos.

Aliados pressionam por trocas no governo

• Ala do PMDB e Lula defendem saída de Aloizio Mercadante da Casa Civil para que Jaques Wagner assuma o cargo

• Presidente fará nesta segunda (20) reunião ampliada de sua coordenação política para discutir a crise

Mariana Haubert, Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo aumentou a pressão de aliados para que a presidente Dilma Rousseff faça mudanças no núcleo de sua articulação política.

O principal alvo é o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), que teve a saída defendida por parte do PMDB e pelo ex-presidente Lula em conversas reservadas.

Uma das opções defendidas pelos governistas seria entregar o cargo para o ministro Jaques Wagner, que comanda a Defesa, pasta que Mercadante assumiria.

Nas palavras de aliados, a troca "oxigenaria" a cúpula do governo e abriria um novo canal de interlocução com parlamentares. Dilma, no entanto, demonstra resistência.

A presidente comanda na manhã desta segunda (20) uma reunião ampliada de sua coordenação política, com ministros da chamada "cozinha" do Planalto e líderes de partidos da base aliada. Um dos temas será o agravamento da crise institucional.

Embora não seja responsável diretamente pela articulação política do governo –a função é do vice-presidente Michel Temer (PMDB)–, Mercadante é apontado, nos bastidores, como responsável por atrapalhar as relações do governo com o Congresso.

Outra demanda de governistas é para que o ministro peemedebista Eliseu Padilha (Aviação Civil) seja oficializado na função de braço direito de Temer na articulação política. Padilha nega a intenção de assumir o posto.

O governo também espera que as duas semanas do recesso parlamentar, que terminará no início de agosto, deem um fôlego para que o Planalto consiga apaziguar os ânimos no Congresso.

Outra expectativa é a de que, cumprindo a promessa de pagar as emendas a parlamentares e de nomear os cargos do segundo escalão, o governo enfraquecerá Cunha, deixando ele mais isolado.

Renan
Em vídeo de balanço do semestre divulgado na página do Senado na noite de sexta (17), o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), diz que o país está assiste a "um filme de terror sem fim" e chamou o ajuste fiscal do governo de "tacanho".

"Vemos que várias portas estão se fechando para o governo. Foi lançado um plano de emprego e as montadoras demitiram ou disseram que não iriam aderir. Na opinião pública, a aprovação popular [de Dilma] dispensa comentários. (...) Não tenho oráculo para profetizar o desfecho desta crise. Mas estamos na escuridão, assistindo a um filme de terror sem fim", disse.

Apesar de denúncias, Cunha mantém influência na Câmara

Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Se provocam desgaste perante a sociedade e os eleitores, as denúncias de que teria recebido US$ 5 milhões em propina da Petrobras devem afetar pouco a influência do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre a Casa que comanda com mão de ferro, avaliam parlamentares da base e oposição ouvidos pelo Valor.

Além dos deputados que Cunha ajudou na campanha eleitoral ao intermediar doações de empresas, o pemedebista mantém sua força no plenário ao pautar projetos de interesses das bancadas temáticas (ruralista, evangélica e da bala). Com integrantes em vários partidos, estes grupos o apoiaram na eleição para a presidência da Câmara e tiveram as demandas atendidas nestes seis meses. Sem Cunha, temem que o governo volte a mandar na agenda.

Cunha também conta com a oposição nas pautas em que há desgaste do governo e do PT. Tucanos que analisavam o novo posicionamento em conversas no fim de semana dizem que a tendência é de uma aproximação maior com o pemedebista, mas isso dependerá do não surgimento de novas denúncias. "Fica difícil cobrar ética do PT e explicar para a população porque fazemos acordos com alguém investigado", diz um tucano.

O histórico recente mostra a estratégia do pemedebista quando está acuado: bater de volta e mudar o foco das atenções. Foi o que ocorreu em março, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inquérito contra Cunha e outras 53 pessoas por suspeita de desvios na Petrobras.

No dia seguinte, Cunha pautou e a Câmara aprovou a proposta de emenda constitucional (PEC) da Bengala, que tirou da presidente Dilma Rousseff a possibilidade de indicar cinco ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF). Na outra semana, recebeu desagravo público de praticamente todos os partidos em sessão na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Com uma intensa agenda, tirou o foco das denúncias e colocou na crise do governo.

A estratégia se repete agora. Um dia depois de acusado pelo lobista Júlio Camargo, da Toyo Setal, Cunha assinou a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) dos fundos de pensão e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e prepara pauta de votações contra o governo, com a mudança na forma de correção do FGTS, a Lei das Estatais e as PECs da redução dos ministérios e do Orçamento impositivo das emendas coletivas.

Para o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), o rompimento pode transformar crise política em crise institucional. "Ele fazia uma ou outra batalha eventual contra o governo. Agora será guerra constante", afirma. Com o recesso, o desagravo público foi menor, mas parlamentares de PMDB, PSB e até do PT manifestaram, em grupos dos deputados no WhatsApp, apoio à decisão de romper com o governo.

Ainda é incerto o peso que isso terá sobre a bancada do PMDB, já dividida desde a eleição presidencial, quando parte apoiou a eleição do senador Aécio Neves (PSDB-MG). "O que Cunha vem dizendo é fato. A aliança com o PT foi bem difícil de se construir no ano passado. Boa parte da bancada, não é a maioria, se considera de oposição. Outra parte fala que é independente", disse o vice-líder da sigla, Sérgio Souza (PR).

Para outro pemedebista, há espaço para a legenda sair do governo, mas não é uma coisa tão simples - teria que deixar ministérios, a articulação política e cargos de segundo e terceiro escalão, além de rifar o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

Alguns, no entanto, avaliam que Cunha pode influenciar principalmente a ala que se declarava independente. Eles relatam que parte dos deputados do PMDB têm um "fascínio" pelo presidente da Câmara e buscam aproximação pelo poder que ele tem na Casa. "É muito forte a influência do Cunha na bancada. Muita gente já se declarava de oposição ao governo. A tendência é outra parte segui-lo", crê o deputado Manoel Júnior (PMDB-PE). A bancada pretende convocar em agosto uma reunião da direção nacional para deliberar sobre o tema.

"Lava-Jato é fator de tensão entre os Poderes", diz Padilha

Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - O ministro Eliseu Padilha, principal auxiliar do vice-presidente Michel Temer na articulação política do governo, disse em entrevista exclusiva ao Valor que a Operação Lava-Jato cria "tensão" na relação entre os Poderes Executivo e Legislativo. O ministro adiantou que deixará a função depois de arrematar as nomeações para o segundo escalão e a liberação de emendas parlamentares para se dedicar exclusivamente à Secretaria de Aviação Civil. Apesar da resistência de setores do PMDB, assegura que Temer prosseguirá na coordenação política até quando a presidente Dilma Rousseff e o vice entenderem necessário.

"Sem dúvida nenhuma, a Lava-Jato é um fator de tensão em todo o processo político, mas não em uma contraposição", diz o ministro, que integra o Diretório Nacional do PMDB e é um dos mais próximos a Temer. "Temos ministros que são citados nas investigações, temos deputados e senadores que são citados, não há discriminação", ressaltou.

Padilha conversou com o Valor na semana em que procuradores da República e agentes da PF deflagraram a Politeia, nova fase da Lava-Jato. A entrevista ocorreu na véspera da declaração do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que fará oposição ao governo. Foi a reação à acusação de um lobista, no âmbito da Lava-Jato, de que Cunha teria cobrado propina de US$ 5 milhões. Procurado depois para se manifestar sobre a atitude do correligionário, Padilha afirmou que subscreve a nota oficial do PMDB. O comunicado diz que a declaração de Cunha reflete uma "posição pessoal" e eventual decisão de romper com o governo passa pela Executiva e pelo diretório nacional.

O ministro endossa declaração recente do superintendente da Polícia Federal, Leandro Daiello, de que a investigação chegará aonde estiverem os fatos. "Significa dizer que nem o Executivo nem o Legislativo estão isentos nem podem influenciar a ação da Polícia Federal e do Ministério Público", traduz. Na nova fase da Lava-Jato, agentes da PF realizaram busca e apreensão de bens nas casas de senadores e deputados. Na esfera do Executivo, ministros do Palácio do Planalto são alvo da investigação: Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, que foi tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma, ambos citados na delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoa.

Padilha combinou com Temer que, vencida a etapa de nomeação dos cargos de segundo e terceiro escalão, e regulamentado o pagamento das emendas impositivas, voltará a se dedicar exclusivamente à Aviação Civil. "Quando tudo isso estiver rodando naturalmente, a missão que eu cumpro aqui não terá mais essa significância". O novo chefe de gabinete da Secretaria de Relações Institucionais, o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli, deve herdar parte de suas atribuições.

Embora uma ala do PMDB, encabeçada por Eduardo Cunha, cobre a saída de Temer, Padilha afirma que o vice continuará na articulação política, mas "de forma mais elevada", no diálogo com o Congresso e com as demais instituições. "A intenção é continuar atuando, até quando ela [Dilma] ou ele [Temer], ou ambos entenderem que a missão está cumprida".

Num momento em que o PMDB anuncia o fim da aliança com o PT e o lançamento de candidatura própria em 2018, Padilha diz que não vê desgaste ao partido com a baixa aprovação do governo Dilma. "A atuação no governo através de Michel Temer se constitui num dos principais trunfos do PMDB para a manutenção e ampliação da confiança da sociedade brasileira no partido", afirma. Ele observa que o governo tem seis meses, e portanto, em outros 42 meses "pode perfeitamente mudar sua aferição diante da opinião publica". Diz que é preciso reconquistar uma "confiança política mínima necessária" e a confiança dos empreendedores, para retomar a geração de riqueza e de empregos.

Padilha não teme a rejeição das contas do governo no Tribunal de Contas da União (TCU), porque estão "amplamente amparadas" nas regras em vigor. Ressalva que o Senado deveria ter criado uma nova regulamentação, o que não ocorreu. Se ainda assim, a Corte reprovar a contabilidade, Padilha, que é advogado de formação, ressalta que a lei não retroage para prejudicar. "Penso que é possível mudar o entendimento, mas essa mudança deve projetar-se rumo ao futuro e não ao passado".

Ele minimiza as sucessivas derrotas do governo no Senado, o que inclui o adiamento do último item do ajuste fiscal: o projeto que revê a desoneração das folhas de pagamento das empresas. "Claro que para o governo, quanto mais rápido o ajuste entrar em vigor é melhor para ter impacto imediato na arrecadação", diz Padilha. "Mas temos que entender também que o processo legislativo prevê esse comportamento, não há excepcionalidade".

O ministro atribui à "pressão popular" a aprovação de projetos indigestos ao governo, que implicam rombo nas contas públicas. Um deles foi o reajuste aos servidores do Judiciário, de até 78,56%, incompatível com o reequilíbrio orçamentário. "A grande pressão sobre alguns temas tem feito com que a motivação dos senadores e deputados seja mais orientada pela pressão popular que pelo zelo às contas públicas". Mas ele ressalva que o "sentimento [dos parlamentares] de que estão ajudando uma parcela dos cidadãos, acaba se constituindo em uma carga para todos".

Padilha comemora o flerte dos senadores José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (sem partido), ambos de São Paulo, com o partido. "O PMDB deve ver com bons olhos todos que tenham projetos de poder e queiram se submeter às regras do partido, nós devemos festejar". Em tempos de divórcio do PMDB com o PT, a ex-petista Marta pode ser a candidata pemedebista à Prefeitura ou ao governo de São Paulo. Num horizonte mais distante, Serra pode encabeçar a chapa pemedebista na sucessão presidencial.

Antes disso, no início de 2016, os delegados do PMDB se reúnem para eleger a nova Executiva Nacional. Padilha afirma que Michel Temer ainda é o nome que "garante a unidade nacional" da sigla, mas ressalva que "nada impede que ele conduza a sua sucessão". Se Temer renunciar a um novo mandato no comando do PMDB, Padilha é um dos cotados para sucedê-lo. Outro nome que se coloca na disputa é o vice-presidente do Senado Romero Jucá (RR).

Aumenta disputa por candidatura tucana

Fernando Taquari e Cristiane Agostine - Valor Econômico

SÃO PAULO - A um ano e dois meses da eleição de 2016, três dos quatro principais partidos cotados para disputar a Prefeitura de São Paulo concentram esforços na solução de problemas internos. A exceção é o pré-candidato Celso Russomanno (PRB). O PSDB vive uma crise em torno da escolha do candidato tucano. O prefeito Fernando Haddad (PT) traça estratégias para recuperar a popularidade e evitar a perda de aliados. Já a senadora Marta Suplicy (sem partido) trava uma batalha com integrantes do PSB para acertar sua filiação à legenda em meio a acenos ao PMDB.

O impasse no PSDB, que tem como pano de fundo a indicação de um nome do partido para a sucessão de Haddad, ganhou contornos de crise quando um grupo ligado a José Aníbal, suplente do senador José Serra, recorreu ao comando estadual para contestar a eleição da executiva municipal em um processo conduzido pelo presidente do diretório paulistano, o vereador Mário Covas Neto, tido como fiador das pretensões do vereador Andrea Matarazzo de concorrer a prefeito. Aníbal, que também tem interesse no cargo, alega irregularidades na eleição da executiva municipal.

"A pressão é para evitar que Matarazzo seja o candidato. Esse é o tipo de raciocínio que pode nos levar à derrota em 2016", afirma Covas Neto, que nega a preferência pelo colega de bancada. Em reunião na semana passada, o deputado estadual Carlos Pignatari - escolhido relator do recurso - apresentou um parecer favorável ao vereador. No entanto, o presidente do PSDB paulista, deputado Pedro Tobias, suspendeu o encontro antes que a executiva colocasse em votação o parecer de Pignatari.

"Não trataremos do assunto até que o clima esteja pacificado", diz Tobias, que pediu às lideranças tucanas no Estado - o governador Geraldo Alckmin e os senadores Serra e Aloysio Nunes Ferreira - que intermediassem o conflito, indicando o candidato da legenda.

Outra cotada, Marta tem tido dificuldade em entrar em sintonia com o PSB. As exigências da senadora - como a garantia de que o partido seja responsável por viabilizar a maior parte dos recursos da campanha - e a aproximação com o PMDB irritaram dirigentes do PSB, que cogitam a possibilidade de apoiar outro partido. Ex-prefeita, Marta acredita que o PMDB pode lhe garantir melhor estrutura, como maior tempo de TV.

Com popularidade baixa, Haddad trabalha para evitar a debandada de aliados, como o PMDB, que conversa com Marta e ameaça com candidatura própria. "É fundamental que o PMDB esteja conosco para termos êxito", diz Jorge Coelho, vice-presidente nacional do PT. "Precisamos fazer uma campanha cirúrgica em São Paulo, quadra por quadra, rua por rua, muito organizada, com boa aliança. Só um bom marketing não vai resolver", diz o dirigente. Haddad planeja oito encontros com a militância, entre agosto e outubro, para fazer um balanço da gestão e buscar apoio de seu próprio partido.

Mercado piora projeção para PIB, com recuo de 1,7%, e inflação, que chega a 9,15%

• Previsão para taxa Selic em 2016, no entanto, fica menor, segundo Boletim Focus

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - Depois da divulgação de dados ruins sobre a atividade na semana passada, os analistas do mercado financeiro passaram a esperar uma retração econômica maior neste ano. A previsão saltou de 1,5% para 1,7%. No quadro desenhado pelos especialistas, há ainda mais inflação. O impacto da recessão econômica já afeta as projeções do ano que vem, que deve ter menos crescimento. No entanto, esse freio na economia faz com que os prognósticos para a inflação em 2016 melhorem.

Segundo a pesquisa que o Banco Central faz semanalmente com os economistas das principais instituições financeiras do país, 2015 deve ser um ano de um reajuste de tarifas de serviços públicos ainda mais pesado que o previsto antes. A projeção para a alta dos chamados preços administrados chegou a nada menos que 15%. Até a semana passada, a estimativa era de 14,9%.

Esse “tarifaço” tem impacto direto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A expectativa dos economistas para a inflação oficial neste ano passou de 9,12% para 9,15%. Essa foi a 14a alta seguida da perspectiva dos analistas. Está cada vez mais distante da meta de 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Por isso, praticamente a totalidade do mercado financeiro espera mais duas altas da taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% ao ano. Com isso, os juros chegariam a 14,5% ao ano. Na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na semana que vem para decidir os próximos passos da condução da política contra a inflação.

Por causa desse aperto, a previsão para a inflação no ano que vem caiu pela terceira semana seguida. Passou de 5,44% para 5,40%. Esse remédio contra a alta de preços tem custo: a retomada do crescimento econômico deve ser bem mais lenta que o imaginado antes. Há um mês, a aposta era de um crescimento de 0,7% em 2016. Na semana passada, estava em 0,5%. Agora, é de apenas 0,3%.

No entanto, esse ajuste na economia faz com que alguns números melhores. Um dos exemplos é a atração de investimentos estrangeiros, que entram no país para aumentar a capacidade de produção das fábricas. A estimativa para este ano subiu de US$ 66 bilhões para US$ 66,25 bilhões neste ano.

Já a expectativa para a balança comercial também melhorou na esteira da cotação maior da moeda americana. Subiu de US$ 5,5 bilhões para US$ 6,4 bilhões em 2015. Foi a quinta alta consecutiva.

Tudo isso ajuda a diminuir o rombo das contas externas. A projeção para o déficit nas chamadas transações correntes _ resultado de todas as trocas de serviço e do comércio do Brasil com o resto do mundo _ caiu de US$ 80,5 bilhões para US$ 80 bilhões.

Para 2016, o mercado também reduziu a previsão para a Taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira. O número passou de 12,25% ao ano para 12%.

Aécio Neves - Qual crise?

- Folha de S. Paulo

No país das múltiplas crises, já não se sabe qual é a pior e a mais danosa: a que alcança o cotidiano dos cidadãos ou a que compromete o futuro do país?

São, como se sabe, crises diferentes, ainda que de certa forma complementares e com a mesma gênese, o mesmo ponto de partida.

A crise, vista de Brasília, é, hoje, essencialmente moral e política, mistura explosiva de aparelhamento da administração federal, compadrio político, corrupção endêmica, má gestão e, agora, risco de comprometimento de algumas das condições básicas de governabilidade.

Acuado pelos seus próprios erros e incomparável arrogância, o PT enfrenta dificuldades crescentes para governar. Acabou refém da realidade, temendo que a responsabilidade sobre irregularidades, desvios e escândalos de toda ordem se aproxime ainda mais do governo.

Enquanto o quadro se agrava, outra crise avança, atingindo inúmeros setores da economia e, especialmente, a população mais pobre. O Brasil parou, literalmente.

O cenário é de recessão com inflação alta, a pior equação entre os países emergentes. O Brasil está, de novo, na contramão da história, com o esperado crescimento negativo para este ano.

Com o país mergulhado em desconfiança e descrédito, desapareceram os investimentos e perdemos nossa dinâmica econômica, migrando para um quadro de profundo marasmo e letargia.

Assistimos agora à escalada progressiva do desemprego, que não poupa mais nenhum setor, região ou classe social.

Como se tudo isso não bastasse, no mundo real, longe de Brasília, os cidadãos estão enfrentando a forte inadimplência gerada pelo engano do crédito farto e barato. Juros na estratosfera e os drásticos aumentos das tarifas, em especial de energia, alimentam as dificuldades das famílias brasileiras.

Há ainda que se contabilizar os cortes orçamentários em áreas capitais do serviço público, como saúde e educação, a paralisia das obras públicas, e, apesar do avanço da inflação, a ausência de reajuste, já há um ano, para o Bolsa Família, do qual dependem milhões de famílias brasileiras.

Difícil saber, portanto, qual, entre tantas, é a pior crise.

Ouso dizer que talvez seja a de esperança, pois tiraram dos brasileiros a capacidade de acreditar em seu próprio futuro.

Ao final, dissemina-se a sensação de que nunca antes na história do país fomos tão iludidos pela propaganda e pela má-fé.

Não tenho dúvidas, no entanto, de que seremos capazes de superar essas graves dificuldades, que, em muitos aspectos, poderiam ter sido evitadas ou amenizadas.

E, ao superá-las, seremos um povo mais amadurecido, menos sujeito a manipulações e mais atento ao verdadeiro significado das ações e omissões dos governos.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Ricardo Noblat - Três espertalhões

- O Globo

"Se tem um brasileiro indignado sou eu. Indignado com a corrupção." Lula, um dia desses

Há mais coisas a aproximarem Lula, Fernando Collor e Eduardo Cunha do que possa supor a vã imaginação. Primeira: são amorais. Não existe o certo e o errado para eles, existe o que lhes convém. Segunda: amam o poder acima de tudo, da família, dos amigos, dos parceiros. Terceira, e paremos por aqui: no momento, reclamam da Justiça como se fossem perseguidos por ela. Quem não os conheça que os compre!

NA ÚLTIMA SEXTA- FEIRA, Lula entrou com reclamação no Conselho Nacional do Ministério Público pedindo a suspensão de inquérito aberto contra ele pelo Ministério Público Federal. Conseguiu que o inquérito corra em segredo. Lula é suspeito de tráfico de influência para favorecer aqui e lá fora a construtora Odebrecht, o maior cliente do BNDES, banco sustentado com dinheiro público.

A ODEBRECHT É também o maior cliente de Lula desde que ele se tornou lobista e palestrante de quem lhe pague, por vez, R$ 300 mil. Como presidente, Lula não se constrangia em pedir favores às construtoras, hoje, enroladas com a roubalheira na Petrobras. Desde favores pequenos do tipo o empréstimo de um helicóptero, a favores milionários que o beneficiariam diretamente.

FOI ASSIM QUE se tornou devedor de Léo Pinheiro, presidente da OAS, preso em novembro passado. Pinheiro nada cobrou para terminar a construção de um apartamento de Lula no Guarujá e reformar o sítio que ele frequenta em Atibaia ( SP). Amigos de Lula dizem que ele procede como ex- presidentes dos Estados Unidos que ganham a vida na condição de lobistas e palestrantes.

É FATO. Com algumas diferenças. A menor: ex- presidentes americanos não escondem o lobby que fazem. Lula esconde. A maior diferença: ex- presidentes americanos não podem se candidatar a nada. Lula pode — de vereador a presidente. Que tal devolvermos ao poder um ex- lobista de empreiteiras que enriqueceu a serviço delas? Já pensaram? Não seria algo promíscuo? Ou arriscado?

PERGUNTEM A Collor o que ele acharia. Não perguntem. De adversário visceral de Lula, a quem derrotou na eleição de 1989, Collor passou a seu aliado ganhando em troca duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Deuse bem. Somente em dois contratos ali, embolsou R$ 23 milhões. Mais do que o valor de toda sua fortuna declarada à Justiça.

DO ALTO DA mais cara frota particular de carros importados de que se tem notícia no Brasil, Collor miou ao discursar no Senado: "Fui humilhado. O Senado foi humilhado". Queixava- se depois que seus endereços em Brasília haviam sido revistados por ordem do Supremo Tribunal Federal ( STF). O falso ex- caçador de marajás acabou caçado como o mais descarado deles.

PARA COMPETIR com Collor e Lula em matéria de desfaçatez, somente Eduardo Cunha. Acusado de receber 5 milhões de dólares de propina, rompeu com o governo que nada teve a ver com isso. E bateu no procurador- geral da República por lhe faltar coragem para bater no STF, que o investiga. Ameaça usar o cargo de presidente da Câmara para azucrinar Dilma. Disfarça o próprio medo blefando.

É OUTRO, como Collor, que rolará ladeira abaixo. Cunha é um político provinciano que só chegou aonde está porque desmoronou a qualidade de nossos parlamentares. Serve os interessados em derrubar o governo ao mesmo tempo em que tenta tirar vantagens do governo. Em breve, ao virar réu em processo no STF, não servirá para mais nada. Corre o risco de acabar como ficha- suja.

José Roberto de Toledo - O ataque dos zumbis

- O Estado de S. Paulo

Eles respiram, movem-se – até na escuridão – e falam. Falam muito. Dão entrevistas. Tuítam. Fazem pronunciamentos. Da cadeia (de rádio e TV) ou de veículos oficiais que comandam, eles bravateiam e intimidam. Assim, parecem saudáveis e fortes. Desviam a atenção da iminente ameaça à sua sobrevivência no poder que vem do Ministério Público. Fazem do ataque a sua defesa. Alimentam-se de rivais. São os mortos-vivos da política.

Nesses dias, são mais frequentemente encontrados em Brasília do que em seriados televisivos sobre o fim do mundo tipo The Walking Dead. Deslocam-se em carros oficiais, usam terno, gravata e disfarçam a decadência da cabeleira com penteados elaborados. Manter a aparência similar aos do entorno é vital à sua camuflagem. “Se acontecer comigo, pode acontecer com você” é seu mantra. Quantos mais puderem contaminar com o medo, melhor.

O vírus que os deixou nesse estado é tão comum quanto o da gripe. Transmite-se principalmente – mas não só – durante o período eleitoral. Como vetor, usa doações legais (e nem tanto) para candidatos a todos os cargos. É incerto quantos ele infectou, mas estima-se que, no Congresso, a epidemia chegue às dezenas. Talvez às centenas. Há segurança nos números, pois um protege o outro. Maior o cardume, melhor a chance de escapar.

Por isso, organizam-se em bandos de denominações diversas. Uns referem-se ao coletivo de zumbis como “nosso grupo”, outros preferem chamar de “nosso partido”. Os mais ousados, de “nosso Poder”. A generalização exagerada faz parte da tática de parecer maior, mais poderoso, feroz e onisciente do que realmente é.

Quem olha a repetição, o volume e a riqueza de detalhes das denúncias que delatam o real estado de seu ser deve perguntar-se como é possível aos mortos-vivos políticos continuar dando as cartas para tantos deputados e senadores. Para solucionar o mistério, é preciso entender de onde vem o seu poder.

Do carisma pessoal certamente é que não é. Podem acusar os zumbis de muitas coisas, menos de carismáticos. Virá então da simpatia que despertam em quem está ao seu redor? Piada. Se há algum sentimento que acordam nos pares é o temor, não a empatia. Será então a eloquência, a facilidade para discursar e convencer? A leitura do teleprompter em pronunciamentos oficiais revela um estilo mais rousseffiano do que lacerdista.

Dilma Rousseff tampouco é carismática, nem desperta empatia entre políticos ou é craque na oratória, mas ela tem a caneta que faz nomeações e libera verbas – algo que falta aos zumbis. Pelo menos por enquanto.

O mistério permanece. A esta altura, só o Ministério Público será capaz de desvendar, com a ajuda do Supremo Tribunal Federal, a origem do poder que mantém os mortos vivos. Talvez.

Calendário da crise. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é o responsável pela investigação dos mortos-vivos da política. Ele poderá ou não apresentar denúncia contra eles ao STF. Mas há um problema de timing. Seu mandato no cargo acaba em setembro. Para ser reconduzido, depende de três coisas: ser o mais votado na eleição por seus colegas procuradores no dia 5 de agosto, ser indicado por Dilma e ser referendado pelo Senado.

Ele é o favorito na eleição, e a presidente tem dado sinais de que pretende chancelar seu nome.

O problema de Janot está no Senado. Não há prazo para que os senadores confirmem sua indicação. Não precisam nem rejeitá-la, basta que não a coloquem em votação. Se protelarem até depois de 17 de setembro, Janot sairá do cargo de procurador-geral. E daí?

Quem assume, interinamente, é o primeiro vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público, cujo mandato terá expirado em agosto. O novo terá que ser eleito pelos dez conselheiros. Nos votos deles pode estar o nome do procurador-geral que vai ou não definir o destino dos zumbis da política.

Valdo Cruz - Pausa para afiar garras

- Folha de S. Paulo

O teatro de horrores tira duas semanas de férias. Com o Congresso em recesso a partir de hoje, seremos poupados de novas bombas fiscais, de chantagens a céu aberto, de retrocessos da pauta conservadora e da hipocrisia sem fim.

Mas é só uma pausa. Tudo indica que, na volta do descanso, o que estava ruim pode ficar ainda pior.

Eduardo Cunha, aquele que foi governista sem nunca ter sido, promete que não adotará uma "pauta de vingança" depois de romper com o governo Dilma. Puro jogo de cena.

O presidente da Câmara afia suas garras para sangrar a presidente petista em praça pública, quero dizer, no plenário da Casa que preside. A dúvida é se manterá os mesmos poderes depois da acusação de embolsar US$ 5 milhões do petrolão.

Em agosto, mês do desgosto, ele deve ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por envolvimento na Lava Jato. Aí, quem adora infernizar a vida alheia terá a sua bem infernizada.

Já Dilma vai viajar pelo Nordeste, onde sua vida ficou ruim, mas ainda não é péssima, para tentar recuperar sua popularidade. Mas tem de cuidar do seu governo, que não para no recesso parlamentar, apesar de passar a impressão de paralisado.

Um dos motivos, por sinal, de sua fraqueza no Congresso. Se a economia não estivesse tão no chão por causa de um governo sem munição, Dilma estaria bem na foto e não teria virado presa fácil de infiéis aliados.

Ela terá, por sinal, de tratar de temas nada agradáveis neste período, como se reduz ou não a meta fiscal. Tema vital para recuperar a economia, sua grande salvação, mas que em parte depende da boa vontade do Congresso na volta das férias.

Até lá e depois, o maior sonho da petista é um Eduardo Cunha enfraquecido para começar a escapar de um agravamento da crise política. Enfim, o recesso é um período de refresco para Dilma Rousseff, mas o país não para, apesar de estar não só parando, mas recuando.