quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Jogo de cena – Editorial / O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff e o PT precisam urgentemente decidir se querem resolver os problemas do País ou cuidar de suas próprias imagens. São fartas as informações sobre intenções e planos que o governo espalha, como se constituíssem uma consistente política para superar a crise. Mas não passam de medidas isoladas, quase sempre demagógicas ou de escassa eficácia diante da gravidade da crise.

Vejamos quais foram elas nos últimos dias: 1) o Planalto decidiu apostar na construção civil, que julga capaz de reagir mais prontamente a “estímulos” oficiais, como símbolo de um “novo PAC”; 2) Dilma está disposta a ressuscitar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, para obter o aval das “forças vivas” do País à luta contra a crise econômica; 3) a direção do PT – Lula, portanto – vai exigir da chefe do governo uma Carta ao Povo Brasileiro às avessas, agora destacando o compromisso do lulopetismo com “o povo”, o que significa, entre outras coisas, acabar com essa história de priorizar ajuste fiscal; e 4) líderes destacados do petismo estão enfurecidos com o aparente sincericídio cometido dias atrás pelo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, ao admitir que o PT “se lambuzou” no poder.

Enfim, os petistas – o atual governo ainda é petista – aparentemente só se entendem quanto à necessidade urgentíssima de remendar a imagem pública de um governo cujo prestígio está ao rés do chão. E, como são visceralmente incompetentes no trato da coisa pública, não produzem senão casuísmos de pífio valor prático.

O desespero dos frustrados salvadores da Pátria com o destino que os eleitores brasileiros parecem lhes reservar já nas eleições municipais deste ano revela que não se poderá contar com o governo que aí está para enfrentar a crise econômica, política e moral que assola o País. E a situação se complica porque o PT não se decide se continua a arcar com o ônus de ser um governo fracassado ou se opta por virar partido de oposição.

Enquanto perdurar a ambiguidade, o País não terá saída para a crise econômica e por uma simples razão: crises graves exigem remédios amargos e, portanto, inevitavelmente impopulares. E o lulopetismo jamais terá a coragem de contrariar os interesses imediatos de suas “bases populares” – na verdade, entidades e organizações sociais em sua maior parte controladas pelo próprio partido. Prefere proclamar que não é justo que as “classes populares” arquem com o ônus do combate à crise econômica.

E assim, por omissão e por falta de coragem para fazer o que as circunstâncias exigem, os petistas deixam que a crise deite raízes e se perenize. Falta-lhes uma noção social básica: numa sociedade democrática as crises precisam ser enfrentadas solidariamente pelo conjunto do corpo social, na medida justa da possibilidade de cada um. Isso deve ser feito com a urgência possível, pois são os mais pobres que sofrem mais pesadamente os efeitos perversos da inflação e do desemprego. É para o bem-estar das camadas menos favorecidas, portanto, que se impõem remédios eficientes, embora amargos, para sair da crise.

Dilma Rousseff, se ainda tiver resquícios de espírito público, precisa decidir de uma vez por todas se vai efetivamente enfrentar a crise com as medidas pontuais e as reformas que sabe que são indispensáveis ou dar ouvidos a Lula e a seus sequazes, para os quais a prioridade absoluta são as “boas notícias”, ou seja, aquelas que os desavisados gostam de ouvir.

Pois é exatamente sob a orientação de Lula que sua versão envernizada, o ministro-chefe da Casa Civil, não para de tagarelar, dando a impressão de que faz a autocrítica do lulopetismo, enquanto atribui a terceiros e a fatores externos uma crise que foi engendrada pelo PT para ganhar eleições. A falação de Jaques Wagner parece ser diferente dos habituais faniquitos da ala “ideológica” do partido. Mas não é. São vertentes da mesma estratégia marqueteira com que o Planalto tenta convencer chefes de família e jovens – que veem se aproximar o desemprego e a perda de renda e se afastar as perspectivas de um futuro melhor – de que o PT, no governo há mais de 13 anos, nada tem a ver com esse desastre.

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