sábado, 2 de janeiro de 2016

Míriam Leitão: Metas das empresas

- O Globo

Empresas adiam investimentos e recuperação para 2017. O ano de 2016 mal começou, mas as empresas já jogam para 2017 o início da recuperação na economia. Até lá, a meta é manter dinheiro em caixa e investir apenas o necessário, com foco na redução de custos. As projeções mostram que o clima de desconfiança continua forte. A discussão do impeachment aumentou a paralisia, o ajuste fiscal saiu da pauta, e ninguém sabe em que condições poderá ser retomado.

O presidente da General Electric (GE) do Brasil, Gilberto Peralta, conta que há setores da empresa indo bem, como o que fabrica turbinas de avião para exportação, o que produz motores para energia eólica, e o segmento de transporte ferroviário, por causa de um programa do governo de renovação da frota. Mas a queda do preço do petróleo e as investigações na Petrobras travaram o setor de óleo e gás. A alta do dólar e o déficit do governo afetaram o segmento que produz equipamentos para a saúde.

— Muita gente tinha uma visão de que a partir de julho de 2016 a economia já poderia ter uma recuperação. Agora, o mais provável é que isso não aconteça, somente em 2017. Essa é a má notícia, devemos ter um ano inteiro de baixa — disse.

A boa notícia, ressalta, é que apesar de toda a crise política as instituições do país estão funcionando como se espera. Há “solidez institucional”, nas palavras do executivo. A recessão está sendo forte e prolongada, mas, ao contrário de outros momentos, os economistas e os empresários têm noção do que precisa ser feito para retomar o crescimento.

— A gente avalia tudo com cuidado, mas ninguém pensa em deixar o país. O Brasil é o terceiro maior mercado da GE no mundo, a oitava maior economia. Hoje, todos sabem o que precisa ser feito. Em outros momentos, nem isso se sabia — afirmou.

A Fenabrave, que representa as concessionárias de veículos, calculou retração de 25% nas vendas de janeiro a novembro do ano passado, e espera uma nova queda este ano, em torno de 5%. Segundo Alarico Assumpção, presidente da entidade, o mercado automotivo só voltará ao nível de 2014 daqui a 2 a 4 anos. Quase 1.000 concessionárias já foram fechadas e 31 mil empregos foram perdidos.

— Em 50 anos de Fenabrave, nunca houve um ano no setor como o de 2015. A crise política agora parou tudo. O primeiro trimestre de 2016 já está perdido, somente a partir de abril será possível ter algum horizonte à frente — afirmou.

Com a disparada da inflação, o Banco Central tem dado sinais de que poderá elevar a Selic nas próximas reuniões do Copom. Segundo o economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV, a interpretação do mercado é que os juros podem subir cerca de 1,25 ponto. O aumento da expectativa de inflação está derrubando os juros reais e por isso o BC pode se ver obrigado a elevar novamente a Selic, para compensar. Com isso, aumenta o risco de uma recessão mais profunda. Alarico diz que os financiamentos para compra de veículos praticamente secaram:

— De cada 10 pedidos de financiamento de veículos, apenas três estão sendo aprovados. No caso de motocicletas, a média é 1,8, porque esse é um bem mais difícil de ser recuperado e requer uma cautela ainda maior por parte dos bancos.

Manoel Flores, superintendente executivo da Astra, empresa que fabrica materiais de construção, perdeu a confiança no governo para lidar com a crise, mesmo que o processo de impedimento da presidente não avance.

— Dilma não tem mais articulação política. Mesmo que consiga barrar o impeachment, as suas lideranças estão demolidas. Ainda está difícil dizer quando será o ponto de inflexão na economia para uma melhora — disse.

A empresa mantém recursos em caixa para financiar clientes e já viu a inadimplência subir de 5% para 10% da carteira de pedidos. O quadro de funcionários foi reduzido de 2.400 para 2.100:

— O segundo semestre de 2015 foi mais fraco do que o primeiro, tanto em volume de vendas quanto em receitas. O primeiro deste ano será ainda mais.

Os empresários fazem a constatação das dificuldades, esperam um ano duro, mas continuam achando que será possível a superação.

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