sábado, 16 de abril de 2016

Planalto faz ofensiva, mas oposição mantém vantagem

• Em vídeo, Dilma acusa adversários de planejar acabar com Bolsa Família

Governo tenta últimas cartadas a dois dias da votação do impedimento na Câmara; presidente desistiu de falar em rede de rádio e TV por receio de punição da Justiça e ressuscitou discurso de ‘terrorismo eleitoral’ de 2014 na internet

Uma ofensiva do Planalto, a dois dias da votação do impeachment, tentou estancar a debandada de aliados em favor da saída da presidente Dilma. Governadores do Norte e do Nordeste pressionaram deputados para tentar reverter votos para o governo, ameaçando, inclusive, retirar aliados deles de cargos nos estados. Levantamento feito pelo GLOBO, porém, mostra que a oposição ganhou três adesões em relação a anteontem, alcançando 345 votos pelo impeachment (são necessários 342 para aprovar), enquanto o governo ganhou quatro votos (chegou a 122). Em vídeo para ser divulgado na internet, Dilma ressuscitou estratégia de “terrorismo eleitoral” usada na campanha de 2014 e afirmou que seus adversários querem acabar com programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, revelou

Ofensiva na reta final

• Planalto pressiona deputados para tentar conquistar adesões; oposição mantém frente

Isabel Braga, Catarina Alencastro, Eduardo Barretto, Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Marcelo Remígio e Renan Xavier - O Globo

BRASÍLIA - O governo mobilizou ontem uma tropa de choque de governadores aliados do Norte e Nordeste para tentar tirar votos da oposição, a 48 horas da votação do impeachment na Câmara. Na ofensiva, foram oferecidos cargos, e governadores ameaçaram derrubar indicados de deputados federais de postos em seus estados. No meio da tarde, o governo comemorou o que considerou o início de uma virada no jogo de forças, mas à noite a oposição conquistou adesões. O vice-presidente Michel Temer, que voltou a São Paulo, onde pretendia ficar até segunda-feira, retornará hoje a Brasília para uma reunião de avaliação de cenário da cúpula do PMDB, no Palácio do Jaburu.

A oposição também pressionou deputados de seus partidos que mudaram de voto. O PP anunciou à tarde que iria punir quem votasse contra a orientação pró-impeachment, e à noite destituiu o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), do comando do diretório estadual do partido. A punição foi pelo fato de Maranhão ter gravado um vídeo anunciando que votaria contra a saída de Dilma e que estava “irmanado” com mais 11 deputados do PP.

No levantamento feito pelo GLOBO, havia 345 votos declarados pelo impeachment na noite de ontem, três a mais do que anteontem. Os votos declarados contrários ao impeachment cresceram de 118 para 122, de acordo com o levantamento. Para a aprovação do parecer pelo impeachment são necessários 342 votos.

Além de Dino, compõem a linha de frente de defesa de Dilma os governadores da Bahia, Rui Costa (PT); do Ceará, Camilo Santana (PT); do Amapá, Waldez Góes (PDT); e da Paraíba, Ricardo Coutinho (PB). Todos estiveram com a presidente ontem.
O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) também atuou em Brasília em busca de votos contra o impeachment da presidente Dilma. Sem grande influência no PR nacionalmente, Garotinho procurou deputados das bancadas fluminense e evangélica de vários partidos, onde possui aliados.

Clarissa tira licença maternidade
Filha do ex-governador, a deputada Clarissa Garotinho (PR), que votaria a favor do impeachment, pediu licença maternidade. A parlamentar nega que sua saída tenha relação com pressão feita pelo pai para que mudasse o voto. De acordo com Clarissa, recomendações médicas já apontavam para o pedido de licença de 120 dias como previsto pela legislação. A deputada afirmou ontem que passou mal na semana passada e que não havia, até então, cumprido as determinações de seu médico.

Na Câmara, aliados do vice Michel Temer admitiam que haviam perdido cerca de dez votos, embora garantissem ainda ter os 342 necessários para o impeachment. A justificativa, segundo eles, é que houve uma ofensiva do Palácio do Planalto. O vicegovernador da Bahia, João Leão (PPBA), esteve na reunião de seu partido avisando que haveria retaliação à legenda no estado, com a perda de cargos na administração do governador Rui Costa. A ameaça não foi bem recebida.

— Estamos dando um recado aos governadores do Ceará e da Bahia, que ficam pressionando o PP. Se insistirem, ficarão sem o nosso apoio na próxima eleição — disse um dirigente.

Do lado do governo, o PDT tomou posição idêntica e decidiu que caso algum deputado seu vote a favor do impeachment será submetido a um processo de expulsão. O partido autorizou a abertura de processo de expulsão contra o deputado gaúcho Giovani Cherini, que anunciou ser favorável ao impeachment.

A convocação de governadores para virar votos começou na tarde de quinta-feira, mas só ontem surtiu efeito. Reservadamente, no entanto, membros da tropa de choque de Dilma confessavam que ainda não tinham garantidos todos os votos necessários, mas se mostravam animados com os apoios que começaram a pingar ao longo do dia. Ao fim do dia de ontem, na conta reservada do Planalto, contabilizava-se um placar pró-Dilma de entre 160 e 180 votos.

— A tropa dos governadores está funcionando — comemorava um dos articuladores políticos de Dilma.

Deputados retomam mandatos
Numa demonstração de força, Rui Costa levou ao gabinete presidencial 19 deputados de partidos da base aliada. Entre eles, Félix Jr (PDT), que estava indefinido. Saiu da reunião contra o impeachment.

— Fizemos o que tinha que ser feito, muita conversa, a presidente, pessoalmente. Recebeu políticos, telefonou, é um trabalho intenso que será mantido — disse um auxiliar presidencial.

Nas conversas, segundo relatos ao GLOBO, Dilma adotou um tom de campanha, pedindo abertamente voto a seu favor. Entre os argumentos elencados pela presidente ela diz que é em defesa de seu mandato e por uma pactuação do Brasil. “Não podemos aceitar um governo dos sem voto, que prega o Estado mínimo”, tem repetido nas falas, segundo um auxiliar palaciano. Os articuladores do Planalto admitiram ontem que o jogo dos aliados do vice-Michel Temer vinha surtindo mais efeito do que esperavam e entraram em campo com armas mais pesadas na guerra de cargos e verbas.

— Perto da turma do Temer, nós somos amadores — comparou um assessor presidencial.

Outra estratégia do Planalto que já estava em prática desde o começo da semana foi acentuada: a volta de deputados titulares para votar em vez de suplentes em que há dúvida quanto a fidelidade ao governo.

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