terça-feira, 24 de maio de 2016

Governo Temer tem a 1ª baixa com 12 dias de vida

Valdo Cruz, Gustavo Uribe, Mariana Haubert, Marina Dias, Daniela Lima, Machado da Costa e Leandro Colon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Apenas 12 dias após sua posse, o presidente interino, Michel Temer, perdeu seu ministro do Planejamento. Romero Jucá não resistiu e foi obrigado a deixar o governo depois de a Folha divulgar gravações em que ele sugere um pacto para deter a Operação Lava Jato.

A queda de Romero Jucá nesta segunda (23) atinge um dos principais articuladores da aprovação do afastamento de Dilma Rousseff no Congresso e fragiliza o governo Temer logo na sua largada.
O interino apostava na capacidade de articulação de Jucá no Legislativo e no meio empresarial para dar respostas rápidas na economia.

Jucá afirmou que irá tirar uma "licença" até que a Procuradoria-Geral da República responda a uma representação de seu advogado questionando se as gravações contêm alguma ilegalidade ou crime. Na verdade, ele será "exonerado a pedido" nesta terça para poder reassumir seu mandato no Senado pelo PMDB de Roraima.


Interinamente, será substituído pelo secretário-executivo, Dyogo Oliveira, que no governo Dilma ocupava o mesmo posto na equipe de Nelson Barbosa (Fazenda).

Oliveira é investigado na Operação Zelotes, que apura supostos esquemas de venda de medidas provisórias e fraude fiscal. Ele nega envolvimento em irregularidades.

Apesar de Jucá ter anunciado que espera voltar ao cargo, a equipe de Temer avalia que isto não deve ocorrer e já começou a avaliar substitutos. Isto, porém, não será feito nos próximos dias porque o presidente não quer impor mais desgaste a seu auxiliar, de quem se sente "devedor".

Temer já sabia desde domingo (22), alertado pelo próprio Jucá, da gravação onde o senador, em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, diz que "tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria".

Machado, que fez as gravações, também registrou diálogos com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República José Sarney.

Na manhã desta segunda (23), Temer confidenciou a interlocutores que Jucá não tinha condições de ficar porque passaria a ser alvo constante da imprensa, gerando risco de imobilizar o governo.

O presidente interino esperava, contudo, que partisse do ministro a decisão de pedir um afastamento temporário da equipe, o que seria uma saída honrosa para o auxiliar.

Em reunião no Palácio do Jaburu pela manhã, Jucá prometeu dar entrevista explicando o contexto da gravação.

À Folha Temer já adiantava o futuro do ministro ao dizer que reafirmava seu "compromisso com a Lava Jato" e que, "se houver embaraços pela frente, eles serão retirados". Naquele momento, o presidente apostava na saída negociada e acreditava que Jucá entregaria o cargo.

O então ministro do Planejamento, contudo, deu uma entrevista no final da manhã na qual criticava a Folha, afirmava não ter feito nada para travar a Lava Jato e dizia que falava de economia ao comentar que era preciso tirar a petista Dilma Rousseff para "estancar essa sangria".

Temer ficou preocupado com a disposição de ele seguir no cargo. Um assessor comentou que Jucá deu sinais de que não se demitiria e transferia para Temer a decisão.

Assessores de Temer avaliaram que, depois de a reportagem publicar o áudio da gravação entre Machado e Jucá no início da tarde, mostrando que o ministro não falava de economia ao dizer que era preciso "estancar essa sangria", o caso demandava uma solução rápida.

Ali, ficou acertado que Temer não podia ir ao Congresso sem que houvesse uma definição sobre a situação de Jucá. Por volta das 17h, o presidente interino entregaria a Renan a nova meta fiscal, com previsão de rombo de R$ 170,5 bilhões em 2016.

Antes de seguir para o Legislativo, Jucá e aliados de Temer acertaram que o até então ministro do Planejamento pediria licença do cargo.

Depois de anunciar a saída, Jucá foi para o Jaburu fechar com Temer e Henrique Meirelles (Fazenda) as medidas econômicas que serão divulgadas nesta terça (24).

Outro lado
Ao anunciar a sua licença do Ministério do Planejamento, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que está "consciente" da sua inocência, defendeu a Lava Jato e alega que houve manipulação na divulgação da conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado pela Folha.

Em uma entrevista conturbada à imprensa no Congresso, Jucá afirmou que seu advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, protocolaria uma ação junto ao Ministério Público para que o órgão indicasse se houve ou não irregularidade na conversa.

Segundo Jucá, seu gesto mostra que o governo de Michel Temer é transparente. "Aguardo manifestação do Ministério Público porque sei que não fiz nada de errado. Nada melhor do que uma manifestação de um órgão isento."

Mais cedo, o principal ponto de defesa de Jucá foi dizer que quando disse "estancar a sangria" se referia à situação econômica, não à Lava Jato. O então ministro insistia que os trechos publicados pela Folha foram tirados de contexto.

"Estou dizendo que as frases que estão ali, eu tenho repetido abertamente. Disse o mesmo no Roda Viva, na 'Veja' e também na 'Isto É'", diz.

A Folha publicou os áudios de dois trechos da conversa onde fica claro que o termo "estancar a sangria" se referia à Lava Jato e que não há menção, nessa parte, à situação econômica brasileira.

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