sábado, 28 de maio de 2016

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira

Quanto ao eventual aproveitamento da crise para impulsionar o sempre tão acalentado fortalecimento das esquerdas, seria preciso que viessem à tona ao menos duas coisas: a superação do revanchismo e o compromisso explícito com a democracia. Uma esquerda raivosa, dogmática e fanatizada pelas simplicidades do “golpe” e do “ataque à democracia latino-americana” não terá como dialogar nem com o País real nem com as necessidades do futuro. Precisará se livrar daquilo que a puxa para baixo: kirchneristas, bolivarianos, chavistas, a retórica vazia contra o “capital”, o latino-americanismo à moda antiga, o populismo demagógico, a improvisação, o doutrinarismo. Não avançará se permanecer instrumentalizando, em nome de uma democracia mal ajambrada, os espaços e os aparelhos públicos a que tem acesso e controle. E precisará, sobretudo, encontrar meios de multiplicar, nos círculos de esquerda, o número de ativistas que se disponham a fazer da democracia a pátria comum dos reformadores mais radicais ou menos.

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*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais-neai da Unesp. ‘Quinze dias depois’, O Estado de S. Paulo, 28/5/2016

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