sexta-feira, 3 de junho de 2016

A chance da Petrobras - Míriam Leitão

- O Globo

O olho do furacão que nos arrastou está na Petrobras. Foi lá que o PT errou mais e lá foi descoberto o maior esquema de corrupção que o país já viu. No discurso de posse, Pedro Parente disse o que precisava ser dito. Que “a Petrobras foi vítima de uma quadrilha organizada para obter os mais escusos, desonestos, antiéticos e criminosos objetivos”. Assim mesmo, sem meias palavras. Como deve ser.

A Operação Lava-Jato tem um volume tão grande de provas que não há como duvidar. O PT dividiu a Petrobras em campos para serem explorados pelos partidos da base, como se fossem capitanias, principalmente as diretorias de abastecimento, de serviços e internacional. Os principais beneficiários foram o PT, PP e PMDB. Mas houve também erros de gestão, escolhas insensatas e dogmáticas. Tudo isso jogou a estatal no redemoinho que a levou a perder o grau de investimento e a contrair uma dívida mastodôntica.


Pedro Parente vai enfrentar o maior desafio corporativo da economia brasileira. Algumas soluções ele está apontando nas suas primeiras manifestações públicas como as que fez durante a transmissão de cargo ontem. A mais importante delas, que mostra um divisor de águas, é a garantia, ainda na posse, no Planalto, de que “acabou a indicação política”. Como mostra claramente a delação do ex-diretor Paulo Roberto Costa, a indicação política transformava o indicado num servo do partido para cumprir a ordem de saquear a empresa.

Houve muitas escolhas erradas, como mostrou Parente. “Quase 45% dos investimentos entre a megacapitalização da empresa em 2010 e 2014 foram destinados a projeto downstream, como grandes refinarias que nem de longe geraram o retorno compatível com o custo de capital da empresa”. Os governos Lula e Dilma quiseram construir quatro refinarias ao mesmo tempo. Abreu e Lima virou um case de insucesso. O preço saiu de US$ 2,5 bilhões para US$ 18 bilhões, duas outras foram simplesmente abandonadas, e o investimento jogado a prejuízo. É uma espantosa coleção de erros.

No discurso de transmissão de cargo, Pedro Parente visitou com franqueza cada um dos erros da empresa, da “desenfreada corrupção” à “euforia e o triunfalismo no discurso” para esconder o “verdadeiro descalabro que vitimou a companhia”. Fez elogios a algumas mudanças recentes, como a criação do Comitê Especial Autônomo comandado por Ellen Gracie e outros esforços para melhorar a governança.

Parente defendeu a mudança na legislação do présal que determina que a Petrobras tenha que forçosamente estar em todos os projetos de exploração e com 30% de cada negócio. Uma lei, como disse o novo presidente, que não serve nem à empresa, nem ao país. Com a estatal ainda superendividada e com todos os problemas que está enfrentando, ela não consegue investir em todos os projetos em que haja viabilidade e pode não estar interessada em todos eles.

Sobre a lei de conteúdo nacional, Parente disse que a Petrobras com o seu tamanho — movimenta 13% do PIB — tem um papel importante no desenvolvimento de um setor industrial competitivo, mas defende que a empresa que entre no mercado “prevaleça pela competência, que lhe permita passar pelo teste ácido da concorrência, e não pela constituição de reservas de mercado”.

Parente reservou elogios ao último presidente que tentou corrigir alguns dos problemas que encontrou, principalmente o fato de a empresa não ter balanço público. O próprio ex-presidente Aldemir Bendine elogiou sua gestão na carta de renúncia. Ele disse que saneou a empresa e a entregou com R$ 100 bilhões em caixa, mas quando chegou havia R$ 80 bilhões em caixa e a dívida era R$ 50 bilhões menor. A redução de custos foi basicamente a menor distribuição de royalties e participação especial provocada pela queda do preço do petróleo. A produção caiu 7% e as despesas de juros subiram. Ele vendeu alguns ativos, mas nunca redirecionou a empresa, movimento necessário depois de uma crise desta dimensão.

E a empresa teve também enormes prejuízos, como os R$ 40 bilhões de 2015 e os R$ 4 bi no primeiro trimestre.

Foram muitos os erros de todos os gestores da empresa nos últimos 13 anos e meio. Esta é a chance de a empresa reencontrar-se com o seu potencial.

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