quinta-feira, 23 de junho de 2016

Cunha também nos achaques em torno de CPIs – Editorial / O Globo

• É golpe antigo ameaçar com a convocação para depor em comissões a fim de cobrar propinas. O deputado de mandato suspenso também atua neste ramo

Não é inédito parlamentar aproveitar-se de CPI para literalmente vender a convocados em potencial a blindagem contra convocação. O primeiro-vice-presidente da CPI do Carf, Hildo Rocha (PMDB-MA), revelou ao GLOBO que um empresário lhe disse ter sido achacado por um deputado: teria de pagar propina para não ser convocado, o velho golpe. Rocha não informou nomes.

O certo é que o mercado da corrupção deve estar agitado no Congresso, porque essa comissão foi constituída na Câmara para vasculhar traficâncias milionárias que teriam sido feitas no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda, a fim de livrar grandes empresas de multas bilionárias.


Há muito dinheiro nesse entorno. As empresas que estão nesse circuito são avantajadas: bancos Safra, Bradesco, grupo siderúrgico Gerdau, por exemplo, citados na Operação Zelotes, da Polícia Federal, acusados de buscar no Carf jeitinhos de escapar de pesadas multas tributárias.

Depois da questão da suspeita de negócios escusos dentro do Ministério da Fazenda, surge essa vertente criminosa dentro da CPI do Carf. O deputado Hildo Rocha, em uma sessão, já afirmara estranhar a convocação do próprio banqueiro Joseph Safra, para explicar o aparecimento do seu banco na Zelotes, e não os executivos da instituição financeira, ligados às operações do cotidiano. Rocha suspeita de achaque.

O deputado Altineu Côrtes (PMDB-RJ), autor da convocação de Safra, considerado próximo a Cunha, é um dos investigados pelo Ministério Público sob a suspeita de, junto com o presidente da Casa de mandato suspenso, ter tentado o mesmo com o grupo Schahin, ameaçando-o com a CPI da Petrobras.

Em torno desta CPI há mais casos. Um deles, a convocação da advogada Catta Preta, responsável, entre outras, pela negociação da delação premiada de Júlio Camargo, na qual ele entregou Cunha e a história das propinas dos navios-sonda negociados com a Petrobras. Teria sido vingança do deputado suspenso. O fato é que Catta Preta fechou o escritório em São Paulo, abandonou outros clientes na Lava-Jato e foi morar em Miami. Algo aconteceu.

Outro caso de uso de CPI para fins escusos é o do operador financeiro Alberto Youssef, o marco zero da Lava-Jato, também levado à CPI da Petrobras, onde acusou o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), do grupo de Cunha, de ameaçá-lo, mostrando requerimentos para a quebra de sigilos da ex-mulher e duas filhas.

Parece caso de crime continuado. E ainda há pelo menos mais um, na CPI do DPVAT, seguro obrigatório para acidentes de trânsito, em que seguradoras, preocupadas com os achaques, impetraram mandado de segurança como defesa prévia, citando Eduardo Cunha. O grupo do deputado afastado tomou conta da CPI. Mais um capítulo para a biografia desabonadora do deputado.

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