sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sob nova direção - Míriam Leitão

- O Globo

Maria Silvia fala com o entusiasmo de sempre sobre a equipe e planos para o BNDES. Perguntei como via o fato de estar num governo provisório. “Sinceramente, eu não vejo. Eu não tenho tempo. Eu estava no banco como diretora no impeachment de Fernando Collor. Trabalhei até o último dia. Agora vou fazer o melhor que posso durante o tempo em que estiver no cargo”.

Entre as várias áreas que a nova presidente considera que o BNDES pode atuar está a de privatização e de concessões. Ela disse, no dia da posse, que já estava em contato com o governador do Rio:

— Agora há governadores me procurando, querendo fazer concessões na área de saneamento, além do Rio. Isso pode ser uma ferramenta importante na renegociação da dívida dos estados.


O BNDES recebeu de repasses do Tesouro, durante os governos Lula e Dilma, meio trilhão de reais. Era para garantir o investimento e o crescimento. Isso foi feito à custa de um brutal aumento da dívida pública. Mesmo assim, o investimento cai a 10 trimestres e o país está na pior recessão de sua história. Perguntei para ela, na entrevista que me concedeu para a Globonews, como isso pode ter acontecido:

— Estudos mostram que esses recursos que as empresas tomavam no BNDES elas teriam acesso em outras fontes, e muitos desses investimentos já seriam feitos. Em muitos casos, o BNDES apenas substituiu a fonte e não houve aumento do investimento na margem. Acabou inibindo o mercado de crédito. Uma parte desses recursos, e não foi pequena, já veio com uma destinação. Era para o Programa de Sustentação do Investimento ou para a compra de ações de empresas públicas, como Petrobras e Eletrobras.

Ela acha também que o banco deveria ter outras fontes de financiamento:

— Hoje as fontes do BNDES são o Tesouro e o Fundo de Amparo ao Trabalhador, ou seja, recursos públicos, mas nem sempre foi assim. Eu mesma quando fui diretora do banco participei de road show para lançar bônus no exterior. Se a economia retomar o crescimento, é muito natural fazer um mix de fontes. O banco tem que ser um indutor do crescimento, ajudar a reduzir a dívida do país e trabalhar pelo desenvolvimento do mercado de financiamento de médio e longo prazos.

O BNDES terá que devolver nos próximos três anos R$ 100 bilhões do dinheiro transferido pelo Tesouro, e a grande dúvida é se isso fará com que o banco fique sem recursos para emprestar.

Maria Silvia explicou que a devolução dos recursos foi uma decisão de governo, da qual participou assim que foi nomeada, e que foram os técnicos do BNDES, olhando as regras prudenciais e os requerimentos do Índice de Basileia, que concluíram o volume e o cronograma das devoluções. Serão R$ 40 bilhões este ano:

— Costumo dizer que se faltar recursos é sinal de que a demanda pelos nossos empréstimos reaqueceu. Quando isso acontece é que estamos entrando num ciclo positivo da economia.

Nesta primeira semana desde a posse, Maria Silvia se ocupou em montar uma equipe e quis falar dela na entrevista. Montou um time de peso com pessoas de experiência diversificada. Alguns do próprio banco, como a chefe de gabinete, que é Solange Paiva, ex-diretora da Anac. Entre os diretores, está a engenheira Marilene Ramos, ex-presidente do Ibama, que foi para a área de infraestrutura. A economista Eliane Lustosa, ex-diretora da Petros, assumirá o BNDESPar e cuidará também da área de Recursos Humanos, onde está o fundo de pensão dos funcionários, a Fapes. O professor da PUC Vinícius Carrasco, que tem vários estudos sobre o banco, assumiu a área de planejamento. Ricardo Baldin que foi da PriceWaterHouse, assumiu a nova estrutura de controle. Claudio Coutinho, que foi do BBM, vai para a área de crédito.

Maria Silvia disse que a equipe econômica está trabalhando afinada, com os mesmos objetivos:

— O diagnóstico é que a questão crucial é reduzir a trajetória da dívida bruta, que cresce a um ritmo insustentável e é parte da nossa perda de credibilidade.

A economista disse que no banco e na área econômica estão todos trabalhando intensamente para tirar o país da crise, apesar de a economia estar atrelada à questão política.

— Talvez tenhamos chegado ao fundo do poço, mas vai ser um ano difícil.

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