terça-feira, 21 de junho de 2016

Sujeito Oculto - Rosângela Bittar

• Por dois anos, pelo menos, a Lava-Jato governará o Brasil

- Valor Econômico

A dois anos da data aproximada para escolha do candidato a presidente nas eleições de 2018 (maio/junho) e para registro do nome (agosto), não há um só disponível, apto ou visível, em nenhum dos 35 partidos brasileiros. Nem nos partidos que forneceram candidaturas nas disputas após a democratização, o PT, o PMDB, o PSDB, o PDT, o Rede, o PSOL, o PSB, o PV, o PCdoB, entre outros menos votados. Os que fizeram campanhas do jeito tradicional estão sem fichas para o eleitorado de 2018. Os candidatos viáveis estão escondidos à espera de descobridores.

Políticos conhecidos, com carreira estabelecida e várias campanhas eleitorais na biografia, estão, todos, subjudice. Não se pode ter dúvida: é a Operação Lava-Jato que dá as cartas da política, controla o jogo, domina o governo, e bate com todas.

Não há nome acima de qualquer suspeita em todos os partidos que forneceram discursos e promessas de campanha patrocinadas por financiadores, nos últimos anos.


Até as verbas legalizadas com o registro no Tribunal Superior Eleitoral foram criminalizadas. Os doadores não as isentam da marca da propina, da roubalheira, e da ilegalidade.

Apropriar-se, desde o estágio atual da onda das denúncias, do título de probo, também não vai colar. O eleitorado parece ter se transformado e amadurecido, todos os que já fizeram campanha eleitoral financiada pelos corruptores de sempre estão sujeitos, mesmo que não sejam ainda ficha-suja, à propaganda negativa de seus adversários e da sociedade, que irá às ruas, de onde não saiu desde 2013.

Jactar-se é para os boquirrotos, os ladinos de sempre. Seu truque deve ser percebido, nessa pré-campanha que se mistura com as notícias confusas das investigações. Mais ou menos citados na Operação Lava-Jato estão todos.

Ciro Gomes, cuja candidatura foi lançada ontem em entrevista ao Valor, já passou por um lote de partidos para abrigar as disputas anteriores que protagonizou, inclusive para presidente da República.

Ao longo dos anos, em alguma delas teve a tesouraria administrada por Sérgio Machado, o capo da Transpetro que sustentou as eleições do PMDB. Ciro vai surfando na comparação entre os desafetos e ele próprio, mas tem que ver se vão mesmo esquecer dele neste festival de denúncias, pois também fez muita campanha.

Já esteve no Ministério da Integração, administrou a Transposição do São Francisco, foi titular de campanhas nacionais, todas atividades onde as empreiteiras atuaram desde sempre e sem restrições.

Agora que essas empresas confessam ter dado dinheiro para campanhas registrarem no TSE como limpo, quando a sua origem era a propina, vai ser difícil alguém ficar de fora.

A candidata Marina Silva já foi citada, e já foi vice em uma chapa com numerosas citações.
No PSDB, que há seis eleições teve candidato a presidente, não tem sucessão segura. José Serra está não muito bem citado, só um pouquinho; Aécio Neves está muito bem citado, em boa quantidade; Tasso Jereissati, até agora, não foi citado, mas é político de várias campanhas na terra de Ciro Gomes e Sérgio Machado. Geraldo Alckmin não apareceu nas delações (as duas grandes empreiteiras financiadoras, OAS e Odebrecht, ainda estão entregando seus financiados e seremos soterrados pelas novidades) mas fez várias campanhas a presidente e a governador, e não deve ter sido com recursos próprios.

O PMDB não tem candidato, nem citado nem não citado. Eduardo Paes, que vinha sendo embalado em papel de candidatura, já não tem a menor chance ou força dentro ou fora do partido. Aliás, nenhum político do Rio que já tenha feito campanha está livre de imputações, estão todos no olho do furacão, no centro nervoso da Lava-Jato, na vizinhança das saqueadas Petrobras e Transpetro, o governador e o prefeito são do partido de Sérgio Machado e Eduardo Cunha.

A esquerda vem aparecendo mais a cada semana, e a esquerda do Rio seguirá o arrastão, sua proximidade com o epicentro da crise nas empresas afetadas pela corrupção dificilmente a preservará.

Qual a saída? Onde os partidos poderão buscar candidatos para essa nova fase do país que vai emergir certamente, com esperança, para tempos melhores, com nova a forma de fazer campanha, sem os milhões de dólares de corrupção e os programas marqueteiros folheados a ouro?

"A saída é buscar um candidato entre os empresários, até um prefeito de ficha limpa deve haver, um professor universitário que nunca tenha se candidatado", recomenda o cientista político da Universidade de Brasília, David Fleischer.

Em sua opinião, temos ainda dois anos até junho de 2018. "O registro de candidatura é em agosto. O candidato ainda está escondido". O fato de as empresas estarem fora do financiamento é uma novidade nas próximas eleições que forçará a busca de criatividade, de modernização e criação de campanhas em novas bases.

É por essa razão, também, que uma nova eleição, no momento, não sensibiliza os partidos e menos ainda a sociedade. Além de ser de difícil realização, pois pressupõe renúncias de quem não vai renunciar. Se já existissem candidatos visíveis, a ideia de nova eleição agora talvez não parecesse tão estapafúrdia. Mas é uma saída honrosa apenas para Dilma Rousseff e o PT.

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A Procuradoria- Geral da República denunciou Fernando Collor, com base na Operação Lava-Jato, em agosto de 2015, há dez meses. Até agora o STF não se moveu para o julgamento. O deputado Eduardo Cunha foi denunciado em março de 2016, há três meses. Seu processo está pautado para esta semana.
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O chanceler José Serra pediu à assessoria técnica do Itamaraty um parecer sobre o projeto de emenda constitucional do licenciamento ambiental, que tramita no Senado, Casa a que ele pertencia até o início do governo Temer. Os diplomatas estranharam a encomenda. O comentário é que estão sendo utilizados como uma grande e bem preparada assessoria parlamentar.

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