segunda-feira, 6 de junho de 2016

Tanto faz – Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O Peru do século 21, que elegeu seu quarto presidente desde o colapso da aventura Alberto Fujimori (2000), não tem dado bola para o chefe do Executivo. De 1997 para cá, nenhum deles sustentou aprovação popular majoritária.

A economia não explica o fenômeno. Desde 1997 o país vizinho cresceu 4,7% ao ano em média -o volume da produção mais que dobrou. Em 2000, o poder de compra da renda per capita peruana equivalia a 58% da cifra brasileira comparável. Hoje representa 84% e deverá atingir 90% no início da próxima década.


O progresso foi relativamente bem distribuído. A desigualdade dos salários caiu quase 20% desde o final dos anos 1990, retração mais acentuada que na média latino-americana. O Peru é uma das nações menos desiguais da América do Sul. A pobreza recuou 44% de 2007 a 2013.

A urbanização acelerada explica parte dos ganhos de eficiência na economia. Quase 30% dos peruanos viviam no campo há dez anos. Hoje são cerca de 20%. No Brasil, que já completou essa transição, menos de 15% estão nas zonas rurais.

Além disso, o Peru, a despeito da ideologia de seu presidente, mantém constantes, desde Fujimori, as políticas pró-negócios e pró-abertura. O comércio externo soma quase 50% do PIB, contra 25% no Brasil.

O esquerdista Ollanta Humala perfilou-se entre seus colegas de Chile, Colômbia e México na criação do liberalíssimo bloco Aliança do Pacífico. O ambiente de negócios no Peru, no Chile e na Colômbia está muito à frente do de seus pares sul-americanos, na avaliação do Banco Mundial.

A fraqueza do presidente peruano associa-se provavelmente a fragmentação partidária elevada, ausência de reeleição imediata, prerrogativas presidenciais moderadas e ao trauma pedagógico do autoritarismo após Fujimori. A atenuação do poder presidencial talvez seja parte da explicação do sucesso econômico do Peru.

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