segunda-feira, 20 de junho de 2016

Temer estabelece diretrizes para evitar que Lava-Jato 'contamine o governo'

Por Andrea Jubé e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - Depois da demissão de três ministros implicados na Operação Lava-Jato, em 35 dias de governo, o presidente interino Michel Temer estabeleceu diretrizes para impedir que a investigação embarace o governo. Temer não quer o rótulo de "faxineiro" que caracterizou Dilma Rousseff em seu primeiro mandato: quer fazer o contraponto à petista, que blindou ministros na mira da investigação, e espera que os demais ministros envolvidos no esquema peçam para sair antes que seja preciso afastá-los. Temer empenha-se em implantar pautas positivas, como a reunião de hoje com os governadores, mas o decreto de calamidade pública no Rio de Janeiro complicou a agenda.

"É prioridade zero impedir que a Lava-Jato contamine o governo", explica um assessor presidencial, sobre a reunião do presidente interino na sexta-feira, em que discutiu o impacto das futuras delações premiadas sobre a sua gestão. Preocupa o entorno de Temer, sobretudo, as colaborações premiadas do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, de Marcelo Odebrecht e do ex-presidente da construtora OAS José Adelmário "Léo" Pinheiro.


Oito ministros tiveram os nomes de alguma forma envolvidos na Lava-Jato. Há sobressaltos com as menções a ministros alocados em pastas estratégicas, como Geddel Vieira Lima (PMDB), na Secretaria de Governo, José Serra (PSDB), nas Relações Exteriores, e Bruno Araújo (PSDB), nas Cidades. Nenhum deles é investigado e todos negam qualquer irregularidade. Seus nomes aparecem em esboço de delação da OAS (no caso de Geddel e Serra), que ainda não foi homologada, ou na planilha de repasses da Odebrecht.

Temer rejeita a imagem de "faxineiro" que catapultou a popularidade da presidente afastada Dilma Rousseff no primeiro mandato. Somente em 2011, Dilma demitiu seis ministros por envolvimento em denúncias de corrupção. Não hesitou em cortar na carne, já que o primeiro a cair foi o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, espécie de primeiro-ministro do governo. Na sequência, foi demitido o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR) - que cinco anos depois, votaria favoravelmente ao impeachment, surpreendendo a petista. O terceiro a cair foi Nelson Jobim, então ministro da Defesa, não por malfeitos, mas por comentários inconvenientes sobre a então colega de Esplanada, Ideli Salvatti (PT).

Nas palavras de um assessor presidencial, Temer quer mesmo fazer um "contraponto" a Dilma e mostrar que não está "refém das delações". Um assessor presidencial lembra que Dilma levou a investigação para dentro do Planalto, ao nomear o ex-tesoureiro de sua campanha Edinho Silva (PT) para um ministério, conferindo-lhe foro privilegiado, num momento em que o Ministério Público Federal investigava irregularidades na campanha. "Temer vai afastar o governo da Lava-Jato", diz este auxiliar.

A diretriz estabelecida por Temer é a de que não bastam citações sem fundamento para afastar ministros do cargo, é preciso que as acusações se tornem "públicas" e sejam "consistentes". Além de responder a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal e ser mencionado na delação de Sérgio Machado, o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves teria pedido demissão porque provas robustas - uma conta na Suíça - despontariam a qualquer momento.

Ministros e aliados do núcleo próximo a Temer avaliaram, ainda, que começam a surgir "fragilidades" na delação de Sérgio Machado no trecho em que cita o interino. O delator teria descrito uma sala que "não existe" na Base Aérea em Brasília, onde teriam se encontrado para discutir uma doação para a campanha de Gabriel Chalita, ex-PMDB, à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Como afirmou na solenidade de anúncio de novas vagas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), Temer quer mostrar que o "governo não para, age permanentemente". Mas a agenda positiva que tenta implantar já na largada da semana - a reunião com os governadores - esbarra na calamidade pública das contas do Rio de Janeiro. Temer reuniu-se com o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e com o governador em exercício Francisco Dornelles (PP) na quinta-feira para discutir o problema, e deve ser editada uma medida provisória liberando recursos emergenciais para o Estado.

Depois da visita ao Parque Olímpico, também há novas viagens no radar. Temer cogita retornar ao Rio de Janeiro na sexta-feira, para uma cerimônia do programa Minha Casa, Minha Vida. Ao lado do ministro Bruno Araújo, quer anunciar o programa em gestação de liberação de recursos para reforma de residências de famílias com renda mensal de até três salários mínimos. No dia 28, desembarca em Curitiba (PR), para inaugurar a Casa da Mulher Brasileira, que abriga vítimas de violência doméstica. (Colaborou Carmen Munari, de São Paulo)

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