quarta-feira, 20 de julho de 2016

Capitalismo e População Mundial - Raymundo de Oliveira*

Prefácio

Muito se tem escrito sobre a população mundial, sua evolução no tempo e os problemas que seu crescimento vem trazendo e trará para esta e para as gerações futuras. Entretanto a quase totalidade desses escritos os analisam a partir da variação das taxas de natalidade, mortalidade e esperança de vida, o que limita tais estudos a uma avaliação puramente quantitativa.

Sergio Moraes traz uma nova abordagem, ao fazer uma análise paralela dessa evolução e do processo de reprodução do capital, com ênfase na Europa e nos EUA, do inicio da revolução industrial até nossos dias, buscando as causas de tal fenômeno.

No inicio deste período o Autor assinala que a transição do modo de produção feudal ao capitalista não foi um “mar de rosas”. Nela conviveram expulsão violenta dos camponeses de suas terras, invenção de máquinas aumentando a produtividade e os lucros e liberando mão de obra para a indústria. Nesse processo de mão dupla, as cidades atraem as indústrias e a indústria provoca a urbanização. “Deste modo, as transformações urbanas atraem ou não o capital, facilitam ou não sua implantação, mas não jogam o papel decisivo na reprodução da população sob o capitalismo”. Então como isto acontece? Sergio não se limita a mostrar números, trata de indicar as razões e as alterações na sociedade que dão base a tais transformações.


Após uma breve apresentação da composição orgânica do capital é apresentado o papel da evolução desta variável no século XX que vai desembocar na Revolução Técnico-Científica ; o capital fixo crescendo mais rapidamente que o capital variável, o trabalho humano , não somente o esforço dos braços mas também o de varias funções cerebrais , sendo substituído pela máquina e os reflexos disto na reprodução da população: “onde o capitalismo mais se desenvolveu e, portanto onde a composição orgânica do capital é mais alta, como a Europa e os EEUU, a taxa de crescimento da população é menor, especialmente a partir da década de 1960, e que na Europa a população se estabiliza e tende a decrescer. .e, por outro lado,... nos continentes onde persistem setores da economia com modos de produção pré-capitalistas, como na África e na Ásia, as taxas de crescimento populacional permanecem altas.”

Neste quadro cresce a expectativa de vida: ”na Europa ela passa de 46,9 anos nos anos 1950 para 75 em 2005/2010, nos países em desenvolvimento passa de 41,6 para 67 e nos países mais pobres de 36,4 para 55,9 anos no mesmo período”. Como resultado, nos países desenvolvidos, tem-se uma diminuição relativa do exército industrial de reserva o que não favorece o crescimento da taxa média de lucro do capital. Como ele reage a isto é um dos assuntos mais dramáticos de nossos dias e Sergio os revela com abundância de dados.

Numa informação ousada e até certo ponto surpreendente para muitos, Sergio discorda de Malthus e afirma que “a produção de alimentos vem, há décadas, crescendo a taxas superiores àquelas da população mundial”. E mais, no próximo decênio a produção de alimentos deverá crescer à taxa de 1,5% e a população à taxa de 1,15%. Infelizmente isso não implica que a fome deva acabar em curto prazo, pois a riqueza está concentrada em 1% da população (70 milhões), desigualdade essa ampliada após a crise de 2008. Para acabar com a fome, enfatiza Sergio Moraes, há condições materiais, mas faltam condições políticas.

Na conclusão, ao contrário do que é lugar comum, Sergio destaca que epidemias, catástrofes naturais, guerras, melhoria da educação tudo isso é importante para explicar a evolução da população, mas, em última análise, não são estas as causas de fundo que determinam tal fenômeno.

Trata-se de um texto onde são apresentados dados numéricos emblemáticos relativos à evolução da população, porém, mais que isso, busca-se interpretar as causas do que tem acontecido com essa evolução. A densidade do tema torna, às vezes, o texto um pouco árido mas quem se dispuser a superar esta pequena dificuldade enriquecerá ou até poderá renovar sua visão de um dos principais problemas de nossa época.

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*Raymundo de Oliveira é engenheiro, foi presidente do Clube de Engenharia/RJ

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