quinta-feira, 1 de setembro de 2016

‘Golpista é você’ Na 1ª fala, Temer diz que não aceitará desaforos

• Em reunião com ministros, presidente avisa a aliados que não irá tolerar divisões na base: ‘Se é governo tem que ser governo’

Eduardo Barretto, Catarina Alencastro, Leticia Fernandes e Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- Após 112 dias de interinidade, Michel Temer assumiu ontem de forma definitiva a Presidência da República. O presidente acompanhou o julgamento de Dilma Rousseff, sua companheira de chapa nas eleições de 2014, no Palácio do Jaburu, cercado por aliados. De lá, seguiu para o Palácio do Planalto, onde foi notificado às 15h30 da decisão e seguiu para o Senado Federal, onde o Congresso se reuniu para dar-lhe posse. A primeira fala de Temer como presidente efetivo ocorreu pouco depois, já no Palácio do Planalto, ao abrir uma rápida reunião ministerial antes de seu embarque para a China. Embora curto, o pronunciamento foi duro e mudou o tom do governo.

Ele avisou que não levará “desaforo para casa” ao ser chamado de “golpista” ou por divisões na base aliada. O presidente deu orientações à equipe ministerial no Palácio do Planalto, mas o discurso não se restringiu a seus subordinados, e funcionou como pronunciamento prévio, já que foi transmitido ao vivo pela TV estatal NBR e por outras redes. Prontamente, avisou que o governo passaria a reagir abertamente às críticas dos aliados de Dilma.
— De vez em quando você vai num lugar e (falam): golpista. Golpista é você que está contra a Constituição, né? Golpe é aquele que propõe a ruptura constitucional.


Relação com a base
Cerca de duas horas antes, a ex-presidente Dilma Rousseff voltou a acusar “golpe de Estado”, também na primeira palavra depois do impeachment. Até então, nos 112 dias de governo interino, Temer e ministros adotaram um discurso de cautela e desviavam-se da alcunha de “golpista” sem rebater.

— Jamais nós retrucamos palavras, imprecações que faziam em relação ao nosso governo, à nossa conduta. Mas agora nós não vamos levar ofensas para casa. Agora as coisas se definiram e, portanto, é preciso muita firmeza, e a firmeza muitas vezes vem pela elegância da conduta, não vem pelo xingamento ou agressão, não é? — disse, irritado.

Outra mudança drástica apontada por Temer deverá ser a relação mais rigorosa com a base aliada no Congresso Nacional. Se antes seus discursos só pediam “aplausos” aos parlamentares e ressaltavam as aprovações legislativas, sempre tentando fazer um contraponto à dificuldade de Dilma de aprovar pautas do governo, ontem o presidente disse ser “inadmissível” posturas de aliados em descompasso com o Planalto.

— Hoje nós tivemos um pequeno embaraço, até na base governamental, em face de uma divisão que lá se deu. É outra divisão também inadmissível. Se é governo, tem que ser governo — afirmou, referindo-se ao fatiamento do julgamento de Dilma.

— Se há gente que não quer que o governo dê certo, muito bem declare-se contra o governo — acrescentou.

Apesar da cobrança, Temer exibiu força política ao chegar ao Senado para a posse. O presidente foi recebido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ). Temer passou pelo corredor central do plenário e foi abraçado pelos parlamentares. A opção por fazer a posse no Senado, e não na Câmara, provocou a lotação do local e parte dos parlamentares e convidados assistiu em pé a cerimônia.

A passagem de uma massa de parlamentares e jornalistas que acompanhava o presidente entre a Câmara e o Senado provocou a quebra de uma porta de vidro que divide os salões Verde e Azul. Em breve cerimônia de apenas onze minutos, Michel Temer tomou posse como presidente da República às 16h51 em um plenário sem opositores e quase todo masculino. Entre os presentes, se destacava o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, que deixou o governo Temer por envolvimento na Lava-jato.

No plenário do Congresso, entre Renan e Rodrigo Maia, Temer fez o juramento, no qual prometeu cumprir a Constituição e observar as leis, além de “promover o bem geral”. A breve cerimônia foi conduzida por Calheiros, presidente do Congresso. Depois de encaminhar a favor da manutenção da possibilidade de Dilma se eleger para cargos públicos, mas votar a favor do impeachment, Renan foi o primeiro a cumprimentar Temer, já na condição de presidente.

— Tamo junto — falou o presidente do Senado, que tem um histórico de embates com Temer.

Encerrada a posse, aplaudido pelo plenário, o presidente recebeu cumprimentos de Lewandowski e de aliados, que subiram à Mesa. O mandato do peemedebista vai até o dia 31 de dezembro de 2018.

A interlocução do Executivo com o Legislativo será, segundo Temer, algo corriqueiro. Ele afirmou na abertura da reunião ministerial que irá pessoalmente ao encontro das bases parlamentares pedir apoio a pautas vitais para o governo, como o teto para os gastos públicos, reforma da Previdência e trabalhista.

Ora falando especificamente para ministros, em tom de ordem, ora dirigindo-se à população, pela TV, Temer afirmou que a gestão será descentralizada. Ministros deverão desburocratizar suas pastas, a exemplo do que fez Blairo Maggi na Agricultura, na semana passada, e também sair do perfil técnico: interceder junto a seus partidos em prol do governo.

Para o presidente, o “amargor” da sociedade é explicado pelo desemprego “assustador”. A receita a ministros foi gerar empregos para também pacificar o país e sair com “aplausos do povo brasileiro”.

— Não será fácil. Temos uma margem enorme de desempregados, de quase 12 milhões de pessoas, uma cifra assustadora.

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