quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Placar elástico. Até ex-ministros votaram contra Dilma

• Renan, que se comportava como aliado da petista, votou pelo impeachment e disse a Temer: ‘Tamo junto’

Evandro Éboli, Cristiane Jungblut e Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- A ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada definitivamente do cargo por um placar muito largo, com 61 votos “sim”, sete a mais que o necessário para sua saída, e 20 votos “não”. Para chegar a essa diferença, uniram-se contra a petista, além da oposição, seis ex-ministros de suas duas gestões e integrantes de velhos aliados do PT, como o PDT, partido no qual Dilma militou por mais de uma década.

Na votação, foi conhecido também o voto do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), que nos últimos meses figurava como um dos aliados mais presentes de Dilma, mas acabou engordando a ala contrária à petista.

Os seis ex-ministros de Dilma — Edison Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB-PA), Eduardo Lopes (PRB-RJ), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Garibaldi Alves Filho (PMDBRN) e Marta Suplicy (PMDB-SP) — evitaram discursar nos dias de sessões do impeachment. Defensores da ex-presidente, como seu advogado José Eduardo Cardozo, os citavam em suas falas. Fiel a Dilma até recentemente, o PDT votou em massa contra a petista. Seus três senadores — Acir Gurgacz (RO), Telmário Mota (RR) e Lasier Martins (RS) — votaram pelo impeachment, enquanto o presidente do partido, Carlos Lupi, acompanhava o julgamento no Palácio da Alvorada, ao lado da presidente.


Para evitar “desconfianças”
Depois de guardar por dias sua decisão de votar no julgamento de Dilma, Renan decidiu declarar seu voto pelo impeachment para se realinhar com Michel Temer e para evitar “desconfianças” na relação que terá daqui para frente com o novo presidente. A decisão pelo voto foi fechada no fim da tarde de anteontem, depois de Renan construir uma narrativa para justificar a saída de uma posição de neutralidade para a escolha de um lado. Horas depois de votar, ao dar posse a Temer, Renan o abraçou e soltou um comentário captado pelo microfone: — Tamo junto! Para Renan, mais importante a partir de agora é dar uma demonstração de unidade e de que ele será parceiro de Temer na votação dos projetos de ajuste e das reformas.

— O voto do Renan é para não eternizar a desconfiança com que todos olham a relação entre ele e Temer — disse um aliado do peemedebista.

Nos últimos dias, Renan passou a ajudar ativamente Temer na busca de votos a favor do impeachment, levando até ele senadores que se diziam indecisos. No Palácio do Planalto, o voto de Renan não foi uma surpresa.

— O voto estava dentro do previsto — disse um ministro palaciano.

A relação entre os dois sempre foi de altos e baixos e de algumas brigas públicas. Em vários momentos, Renan se posicionou ao lado de Dilma. Uma exemplo foi a crítica que ele fez à carta enviada por Temer a Dilma queixando-se de não ter atuação no governo. Ontem mesmo, Renan embarcou com Temer para a China.

Logo que foi conhecido o resultado, os senadores pró-impeachment, e também muitos deputados que estavam presentes no plenário do Senado, cantaram o Hino Nacional. Alguns aliados de Dilma levaram um pequeno cartaz com a inscrição “Não vou colocar meu nome nessa farsa”, e houve bate-boca.

Durante a sessão, os debates foram calorosos e houve muitos apelos. Aprovado o impeachment, senadores discursaram a favor e contra a abrandar a pena de Dilma e permitir que ela possa ocupar cargos públicos e disputar cargos eletivos. A senadora Kátia Abreu argumentou até que a presidente precisa voltar a trabalhar para alcançar sua aposentadoria:

— Não apliquem a pena de inabilitação. A presidente é correta e não cometeu erros. Com certeza, ela será convidada para dar aulas em universidades por algum governo de estado. Ela me autorizou a dizer que já fez as contas para sua aposentadoria. Falta pouco tempo e teria uma aposentadoria em torno de R$ 5 mil.

Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi contra aliviar a pena de Dilma e disse que ela não ficará sem oportunidade de trabalho.

— A sua inabilitação não a impedirá de fazer concurso público ou assumir uma assessoria. É possível ocupar cargo público, sem ter função pública — disse o tucano.
Logo após o resultado, Aloysio defendeu a perda do mandato de Dilma.

— Esse Senado não protagonizou nenhuma farsa. Talvez, no máximo, um filme e que vai terminar num plano fixo: fim. Estamos aplicando a Constituição, que diz que essas penas devem ser aplicadas conjuntamente — disse ele.

Apesar de uma ou outra provocação entre senadores pró e contra Dilma, não houve agressões verbais. Primeiro senador a chegar no plenário, Sérgio Petecão (PSD-AC) sentou-se na primeira fila do plenário e estendeu uma bandeira do Acre, que tem as cores verde e amarela e uma bandeira vermelha. Petecão votou a favor do impeachment de Dilma.

Resultado da votação

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