sábado, 1 de outubro de 2016

Dizimado nas urnas

• Sem doações de empresas e com a imagem ligada a escândalos de corrupção, má gestão e desemprego, legenda de Dilma e Lula sai das eleições municipais como a maior derrotada

Mel Bleil Gallo - IstoÉ

Na primeira eleição municipal em que os candidatos não puderam contar com doações de empresas, e para a qual dispuseram de apenas 35 dias de horário eleitoral gratuito, há muitos vencedores, mas um só perdedor: o Partido dos Trabalhadores. As pesquisas de intenção de voto asseguram que os petistas e seus aliados saem das urnas no dia 2 com o pior desempenho dos últimos 20 anos. O fracasso na disputa pelas 463.374 cadeiras de vereador e 5.568 prefeituras do Pais é capaz de comprometer não apenas os planos do PT para 2018 como a própria existência do partido — que corre o risco de perder seu registro na Justiça.

O deputado federal Paulão terminou a campanha com 3% das intenções de voto
A novela petista segue um roteiro desenhado na origem do processo que levou ao impeachament da ex-presidente Dilma Rousseff. A impopularidade de seu governo, que levou a economia brasileira à pior recessão da história, contaminou não apenas as candidaturas de seus correligionários como levou para o debate eleitoral temas nacionais, com destaque para corrupção, desemprego e inflação. As denúncias da operação Lava Jato, cujas investigações fecham cada vez mais o cerco em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, somada à inépcia do governo Dilma para retomar o crescimento econômico, forneceram munição de sobra para as campanhas dos candidatos do PSDB e do PMDB, principais adversários do PT no Congresso Nacional. Enquanto isso, os petistas veem seu mais tradicional eleitorado de esquerda migrar para outras siglas. No Rio de Janeiro e Salvador, capital de um estado governado pelo PT, o partido sequer lançou candidato próprio.

“Fernando Haddad, candidato petista à reeleição em São Paulo, se manteve na rabeira nas pesquisas e com o maior índice de rejeição: 40%”
Em São Paulo, maior cidade do País, o candidato petista à reeleição, Fernando Haddad, só liderou as pesquisas em um aspecto: é dele o maior índice de rejeição, acima de 40%. Longe de ajudá-lo a decolar, como na disputa de quatro anos atrás, o apoio do ex-presidente Lula parece incomodar. Desta vez, o ex-sindicalista não apareceu em nenhum programa exibido por Haddad e restringiu sua participação à campanha de rua. Lula também não participou da campanha em São Bernardo do Campo (SP), cidade onde criou a base da militância petista. Nas últimas pesquisas, o candidato aparecia em quarto lugar, atrás de João Dória (PSDB), Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB).

Na capital fluminense, o PT perdeu sua principal aposta local quando Alessandro Molon trocou a legenda pela Rede Sustentabilidade, com a qual disputa a prefeitura. Os petistas decidiram então apoiar a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que se destacou entre os parlamentares pela defesa acirrada a Dilma Rousseff na votação do impeachment. O arranjo também esbarrou na alta rejeição à candidata. Ao todo, 38% do eleitorado dizem não votar de jeito nenhum na comunista. A participação da própria Dilma na campanha de Jandira, nos últimos dias, funcionou como uma pesada âncora a jogar a candidata do PC do B ainda mais para baixo nas pesquisas. Em capitais do Nordeste, como Maceió e João Pessoa, os candidatos do PT tiveram campanhas pífias, alcançando apenas 3% das intenções de voto. Em Natal, pesquisas apontam 5%.

SEM MÁQUINA
Sem o financiamento privado, a expectativa de muitos candidatos era de que a máquina pública fosse contribuir positivamente nas eleições. “Em tese, uma campanha modesta favorece quem tem a máquina. Mas, neste momento de grande crise e desgaste do Executivo, vai haver uma alta renovação”, afirma o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR). Em Porto Alegre, o candidato Raul Pont chegou permaneceu boa parte da campanha na segunda posição, atrás de Luciana Genro (PSOL). Ambos foram ultrapassados por Sebastião Melo (PMDB) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Entre os prefeitos de capitais com chances reais de reeleição, apenas um é petista. Trata-se do acreano Marcus Alexandre, de Rio Branco. Em João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD-PB), que chegou à prefeitura pelo Partido dos Trabalhadores, deixou a legenda após as denúncias da Lava Jato. O caso é semelhante em Belém, onde o favorito nas pesquisas é o atual deputado pelo PSOL Edmilson Rodrigues (PA), que por duas vezes foi prefeito da cidade pelo PT.

“O fracasso na disputa municipal compromete não apenas os planos do PT para 2018 como a própria existência do partido”
Entre os demais candidatos à reeleição com chances reais de vitória estão atuais adversários petistas: ACM Neto (DEM), em Salvador; Geraldo Júlio (PSB), no Recife; Rui Palmeira (PSDB), em Maceió; João Alves (DEM), em Aracaju; Luciano Rezende (PPS), em Vitória, entre outros. Para ex-prefeitos e importantes quadros que já brilharam à sombra da estrela petista, como Luizianne Lins, de Fortaleza, João Paulo, de Recife, e Fernando Haddad, de São Paulo, a chama vermelha de outrora parece definitivamente apagada.

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