sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Governo confia que PIB reage no fim do ano - Claudia Safatle

- Valor Econômico

• Há esperança de resultado melhor que zero no 4º trimestre

O mau desempenho dos principais indicadores do nível de atividade em agosto não demoveu os economistas do governo de esperar uma reação positiva para o último trimestre do ano. Pelos prognósticos dos técnicos a reação será tênue, algo pouco melhor do que zero - um crescimento de 0,20% a 0,25% - mas deve marcar o fim da recessão e a virada da atividade econômica.

Para o terceiro trimestre do ano as expectativas ainda eram de retração. "Nosso cenário base é de que só no quarto trimestre a economia vai dar sinais mais concretos de reação, ainda mais agora que o Banco Central começou a cortar os juros", disse uma graduada fonte oficial.

Os preços dos ativos melhoraram bastante entre o começo do ano e agora. A Bolsa de Valores saiu de pouco mais de 37 mil pontos para quase 64 mil pontos, os juros de um título prefixado (LTN) com vencimento em 2021 tiveram queda de mais de 500 pontos básicos entre o seu pico (16,65% em janeiro) e ontem (11,28%). A confiança também aumentou substancialmente, tanto dos empresários quanto dos consumidores, mas o setor real continua com comportamento contraditório.

A produção industrial cresceu por cinco meses e em agosto teve retração de 3,8% sobre julho, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa foi a maior queda desde janeiro de 2012, quando a produção caiu 4,9% em comparação com o mês de dezembro do ano anterior.

Os números do varejo também decepcionaram. Em agosto, as vendas em volume do comércio ampliado, que inclui veículos e material de construção, tiveram recuo de 2%. Sinal de que a economia ainda procura o fundo do poço. A expectativa é de que as vendas tenham prosseguido em queda no mês passado e que encerrem 2016 com queda recorde, superando a maior retração já ocorrida, de 4,4%, no ano passado.

Tal como ocorre com a produção industrial, o aumento da confiança dos consumidores não se refletiu em maior demanda. Escassez de de crédito, juros elevados, desemprego e queda da renda real explicam a cautela do consumidor.
Os economistas do governo consideram que a contradição dos dados de produção e venda não comprometem o prognóstico de que a recessão que começou em meados de 2014 termine no fim deste ano. Avaliam que essas idas e vindas dos indicadores é um comportamento natural quando a atividade, que estava em queda prolongada, se estabiliza.

"A economia vinha ladeira abaixo. Agora esperamos que ela pare de cair e, em seguida, volte a crescer. Como estamos tratando de uma virada, é razoável ter indicadores que apresentem sinais trocados", avalia um graduado assessor.


"Reconheço que a produção industrial e as vendas do comércio não foram encorajadores, mas não dá para dizer que houve uma quebra dos sinais de recuperação que estávamos vendo. Temos que aguardar um pouco mais para ver se houve de fato a interrupção da recuperação ou se agosto foi apenas uma acomodação", disse.

O alto grau de endividamento das empresas é uma questão que preocupa o governo. No caso das famílias,. a percepção é de que a trajetória insustentável de endividamento ocorreu em 2010, quando o crédito para automóveis crescia 35% e Banco Central adotou o pacote de medidas macroprudenciais. O ciclo de endividamento começou a cair nos anos seguintes, mas o comprometimento da renda aumentou por causa da elevação da taxa de juros.

As fichas da equipe econômica continuam sendo colocadas no crescimento da indústria e na próxima safra de grãos que pode aumentar 14% depois da quebra de 10% da safra deste ano, por causa da seca.
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Entre os riscos para a inflação o Comitê de Política Monetária (Copom) identificou que "há sinais de pausa recente no processo de desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à meta", no comunicado da reunião de anteontem, em que cortou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano. O comitê se referia à inflação de serviços que vinha em queda no começo do ano, mas interrompeu. Na abertura da inflação de serviços realmente a pausa é nítida, assim como a elevação de preços. Isso fica claro, por exemplo, no item empregada doméstica, que foi objeto de mudança metodológica do IBGE em abril.

Em abril deste ano a inflação das domésticas caiu para 7,62%, se confrontado com 9,71% de igual mês do ano passado. Cinco meses depois, em setembro, esse mesmo indicador voltou a subir para 9,50%. Para a economista e pesquisadora do Ibre-FGV, Sílvia Matos, que faz coleta própria, a variação, porém, foi de 6,26%, bem inferior à do IBGE. Suspeita-se, portanto, que a mudança da metodologia acrescentou alguns pontos na já resistente inflação de serviços.

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