quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Para analistas, BC deve iniciar novo ciclo de queda de juros

• Taxa Selic de um dígito volta ao horizonte de projeções para 2017 e 2018

Ana Paula Ribeiro - O Globo

-SÃO PAULO- O ambiente econômico mais favorável e a menor incerteza quanto aos rumos da inflação abrem espaço para uma redução mais agressiva dos juros por parte do Banco Central (BC) nos próximos meses. Com isso, o retorno da Taxa Selic para o patamar de um dígito voltou ao horizonte das projeções dos economistas. O novo ciclo de queda da Selic deve ter início hoje, com o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciando o primeiro corte de juros no país depois de quatro anos.

E crescem as apostas de que esse primeiro corte seja de 0,5 ponto percentual, o que derrubaria a taxa básica dos atuais 14,25% para 13,75% ao ano.

IMPACTO DAS REFORMAS
Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, a economia se encontra em um ponto de virada e, com a inflação em queda — agora com a ajuda, mesmo que pequena, do preço dos combustíveis —, há espaço para uma sequência de cortes sucessivos de hoje até a última reunião do Copom de 2017. Ou dez cortes seguidos de 0,5 ponto, levando a Selic a 9,25%.

— Com a queda do IPCA, o juro pode ser cortado agressivamente. A expectativa é de uma redução muito grande, de 500 pontos básicos (5 pontos percentuais) até o fim do ano que vem — disse.

A última vez que a Selic chegou a um dígito foi em novembro de 2013, a 9,5% ao ano. Carvalho admite que parece cedo para pensar na Selic em um dígito já em 2017, mas acredita que, com o avanço das medidas de controle das despesas públicas, como a aprovação também no Senado da proposta de emenda constitucional (PEC) dos gastos e o encaminhamento da proposta de reforma da Previdência, essa tendência ganhará força.

A média das expectativas dos analistas, medida pelo boletim Focus do Banco Central, aponta para uma Selic de 11% ao fim do ano que vem, mas diversos analistas já trabalham com um juro abaixo desse número para o fechamento de 2017.

José Pena, economista-chefe da Porto Seguro, projeta uma taxa de 10,5% em dezembro de 2017.

— O tamanho do ciclo é mais relevante do que como esse ciclo vai começar, se com um corte de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto. Acredito que o BC possa começar de forma mais suave e, com a confirmação de algumas expectativas em relação à economia, aumente o ritmo do corte— afirmou.

Entre essas “confirmações”, está a expectativa de aprovação de uma reforma da Previdência. Por isso, ele acredita que, em algum momento do próximo ano, os cortes possam atingir a magnitude de 0,75 ponto. Chegar a um dígito, no entanto, dependerá não só das reformas, mas também da manutenção de um ambiente de alta liquidez no exterior e uma economia ainda crescendo pouco, diz o economista.

ESFORÇO FISCAL
Na avaliação do Bradesco, o Copom também cortará os juros em 0,5 ponto hoje, e a Selic terminará 2017 a 10,25%. Taxa de um dígito, apenas em 2018.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Pine, espera dois cortes de 0,5 ponto neste ano e a Selic a 11% no fim do ano que vem. No entanto, acredita que o corte poderá ser maior e trabalha na revisão dessa projeção para baixo nas próximas semanas.

— A inflação para 2018 já está ancorada mais perto do centro da meta, que é um IPCA de 4,5%, e o BC deve passar a levar em conta a atividade econômica. Como o desemprego ainda vai demorar para chegar ao seu ponto de equilíbrio, é possível ver taxas mais baixas de juros — avaliou, reforçando que cair abaixo de 10% dependerá do esforço fiscal do governo.

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