quinta-feira, 6 de outubro de 2016

PF indicia Lula por suspeita de corrupção

O ex-presidente é suspeito de beneficiar um sobrinho em contratos da Odebrecht em Angola.

PF indicia Lula por suspeita de favorecer Odebrecht em Angola

• Ex-presidente é acusado de influenciar liberação de recursos do BNDES à empresa

Jailton de Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA- A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva em um inquérito aberto para apurar supostas irregularidades em financiamento do BNDES para empreendimento da Odebrecht em Angola. Também foram indiciados mais sete outros investigados, entre eles o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e o dono da Exergia Brasil, Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente, Maria de Lourdes da Silva.

Lula é acusado de favorecer a Odebrecht na obtenção de financiamento do BNDES. Em troca da suposta ajuda, segundo a polícia, a Odebrecht contratou a Exergia, empresa de Taiguara. No relatório sigiloso encaminhado na terça-feira ao Ministério Público Federal, a polícia não explica, no entanto, como Lula influenciou a liberação de recursos para a empreiteira. A decisão teria como base a teoria do domínio do fato, segundo disse ao GLOBO uma pessoa com acesso à investigação.

A Odebrecht só teria contratado a Exergia porque sabia das relações de Taiguara com Lula, a quem, segundo o relatório, ele se referia como “tio”. Segundo divulgou ontem site da revista “Época”, pelas investigações, a empresa de Taiguara não teria condições técnicas e operacionais para prestar os serviços descritos no contrato com a empreiteira. A polícia suspeita que a empresa tenha sido criada apenas para receber dinheiro da Odebrecht. Não há informações de negócios da Exergia com outras empresas dentro ou fora do país.

“CARTA BRANCA"
A PF considerou ainda no indiciamento de Lula informações encontradas em caderno de anotações de Taiguara. Num dos trechos, Taiguara registra uma suposta reunião de 50 minutos com Lula em Brasília. No encontro, o então presidente teria dado “carta branca” para os negócios dele. A polícia também sustenta as acusações em troca de mensagens entre Taiguara e Valmir Moraes, um dos seguranças que acompanham Lula mesmo depois que ele deixou a Presidência. Numa das mensagens, Taiguara diz que acabara de retornar de Angola e precisava de uma reunião com o “tio”.

No relatório, a polícia cita a presença de Taiguara pelo menos duas vezes no Instituto Lula, em São Paulo, e num hotel cinco estrelas em Angola, onde o ex-presidente se hospeda. A polícia levanta a suspeita de que, nestas ocasiões, o dono da Exergia se encontrou com Lula. Segundo a “Época”, Taiguara tinha vida dispendiosa e usou dinheiro da Exergia para pagar plano de saúde de familiares de Lula.

Segundo o “Jornal Nacional”, numa mensagem de celular, Taiguara teria falado em “criar um contrato fictício da Cambambe", uma possível referência a uma hidrelétrica em Angola, cuja obra foi executada pela Odebrecht. A PF teria apurado que a empresa Exergia recebeu R$ 20 milhões em 14 contratos com a Odebrecht. A parcela repassada a Taiguara chegaria a R$ 6,5 milhões. Parte do dinheiro foi para Portugal.

O relatório tem mais de 200 páginas. Três procuradores da República vão analisar as informações e, a partir daí, decidir se apresentam ou não denúncia contra os investigados. Em nota, os advogados de Lula rebateram as acusações. Segundo eles, em depoimento prestado à polícia em 13 de setembro, o ex-presidente disse que nunca conversou com Taiguara sobre a Exergia, nem antes nem depois que esteve na Presidência. “Isso significa dizer que há exatos 16 dias úteis não havia qualquer elemento concreto nos autos do citado inquérito policial que pudesse sugerir a existência de qualquer indício da prática de um ilícito”, afirmam os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.

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