sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Retomada do crescimento é adiada, mas está a caminho – Editorial / Valor Econômico

As expectativas de recuperação econômica no terceiro trimestre, que não eram firmes, se desvaneceram. Os primeiros indicadores do mês de setembro, como vendas do comércio, e o resultado da indústria em agosto, com a interrupção de uma sequência de cinco meses de melhoria, levaram à revisão negativa do desempenho da economia. Com isso, as previsões para o último trimestre do ano, que flertaram com a confirmação de que a economia estaria definitivamente na rota da recuperação, foram adiadas para o primeiro trimestre do ano que vem.

O avanço dos índices de confiança criaram um ambiente muito otimista sobre a possível evolução da economia real, que ainda carrega o peso de uma recessão pesada. A desaceleração da indústria e das vendas do comércio são um lembrete de que as condições que jogaram o país na crise persistem, embora contem pouco sobre o que será o futuro. Podem sugerir que as chances de uma retomada lenta aumentaram em relação às de outra, vigorosa, prestes a se iniciar. Há, porém, movimentos promissores que mostram virada em breve.

Do lado da oferta, a produção industrial sofreu um triplo freio, dos ramos que têm forte influência no resultado geral - da performance ruim do setor alimentício (-8% em agosto, em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal), da indústria de petróleo (-1,9%) e da automobilística (-10,4%). O recuo deles explica metade (2,65 pontos) do recuo no índice geral da indústria na comparação de agosto contra agosto de 2015 (-5,2%). O setor de bens duráveis, onde se incluem carros, vai demorar bastante a se recuperar, pois depende do crédito, sob severa retração de oferta pelos bancos. Já o setor mais dependente da renda, como bens duráveis e semiduráveis deve tomar a dianteira, porque o rendimento médio habitual do trabalho parou de cair.

Há dois fatores favoráveis a uma recuperação ainda modesta em ação - investimentos e renda. Após quedas espetaculares (21,9% em doze meses), a produção de bens de capital foi positiva em agosto tanto em relação ao mês anterior como ante o mesmo mês de 2015. Diante da grande capacidade ociosa na indústria, está descartado um forte impulso dos investimentos, que, porém, terão alguma reação. A rearrumação das finanças da Petrobras dá mais confiança de que seu plano quinquenal de inversões será executado e é possível que a reação das exportações esteja contribuindo para a melhoria de atividade no setor de máquinas e equipamentos. Estímulos mais vigorosos virão apenas em 2017, se vierem, com o deslanchar dos programas de concessões e privatizações do governo federal. O investimento público, por outro lado, continuará retraído.

Observando-se as médias móveis trimestrais da performance das principais categorias de bens industriais, houve nítida tendência de queda só para bens não duráveis e semiduráveis, que poderá ser revertida a curto prazo. O impacto dos aumentos de preços ao consumidor tanto das matérias primas como dos produtos alimentícios acabados foram fortes (pelo IPCA, 9,11% de janeiro a agosto) e tiveram um repique importante em julho. Salvo algum acidente, os preços dos alimentos se comportarão com mais previsibilidade e menor intensidade - além de a inflação rumar em direção à meta em 2017.

A perda de força da inflação será uma alavanca importante para reerguer a economia. Não apenas por criar as condições para quedas relevantes da taxa de juros, importante para dinamizar investimentos e negócios em geral, mas porque estanca a perda de poder aquisitivo dos consumidores. A média móvel trimestral do rendimento médio real habitual mostra quase estabilidade nos três meses encerrados em agosto (-0,1%), com aumento mês a mês desde junho.

O rendimento médio real efetivo mostra algo animador, embora com dados até julho. A remuneração média aumentou no trimestre 0,2% em reais (e 9% em dólar). A massa salarial diminuiu apenas 0,47%. Em geral, o aumento do desemprego pode aumentar a média de remuneração dos que permanecem ocupados, pela demissão dos menos qualificados. O retraimento da diminuição real dos salários é, por seu lado, uma âncora para a retomada do consumo, sem incorrer no crédito proibitivo e restrito. Os números sobre o comportamento da indústria e salários são voláteis e não permitem apostas firmes. Mas dão alguma confiança sobre o futuro.

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