sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

PT vive dilema entre manter cargos ou coerência na eleição do Senado

• Lula defende apoio a candidato do PMDB para não isolar o partido

Fernanda Krakovics | O Globo

O PT vive um dilema em relação à eleição para a presidência do Senado, que acontecerá no dia 2 de fevereiro. Os petistas temem aumentar seu isolamento, caso não respeitem a tradição da Casa de eleger presidente um senador do partido com a maior bancada, no caso o PMDB. Por outro lado, senadores do PT receiam que o apoio à candidatura de Eunício Oliveira (PMDB-CE) provoque um desgaste junto à militância e aos movimentos sociais, por ir na contramão do discurso de que a ex-presidente Dilma Rousseff foi vítima de um golpe dos peemedebistas.

O assunto extrapolou a bancada e está sendo tratado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo petistas, Lula defende o apoio a Eunício, argumentando que seria muito ruim o PT perder cargos na Mesa Diretora do Senado e o comando de comissões relevantes, como ocorreu na Câmara em 2015. Ainda de acordo com integrantes do PT, Lula tem afirmado que não quer repetir esse erro.

Para o ex-presidente, o lançamento da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, em 2015, contra o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está na origem dos problemas enfrentados pelo governo Dilma, que culminou na aceitação, pelo peemedebista, do pedido de impeachment.

A tendência do PT é apoiar Eunício, mas não há consenso. Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PTPR) querem que o partido apoie outro candidato.

Além do discurso do golpe, Lindbergh e Gleisi argumentam, nas discussões internas, que seria ruim para o PT se associar ao PMDB no momento em que a gestão Michel Temer promove medidas que, para eles, significam perda de direitos, como a emenda constitucional que limita o crescimento dos gastos do governo por 20 anos e a reforma da Previdência. Procurados, Gleisi e Lindbergh não retornaram.

Líder do PT, o senador Humberto Costa (PE) defende o apoio a Eunício, mas afirmou que o assunto ainda não foi discutido pela bancada.

— Não é questão de apoiar o PMDB, é questão de defender a proporcionalidade. O PMDB está aí (como maior bancada) pelo voto popular. Não estamos fazendo favor a eles nem eles a nós (com cargos na Mesa e comissões) — disse Costa.

Os cargos da Mesa Diretora e o comando das comissões são distribuídos conforme o tamanho das bancadas dos partidos, quando há acordo em torno da presidência do Senado.

Com atuação alinhada a do PT, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que não vale a pena lançar um candidato para perder, apenas para marcar posição. Para ela, é mais importante garantir espaços de atuação política no Senado:

— O PMDB, como maior partido, tem direito à presidência. A tendência é manter o diálogo, o que não significa arrefecer a luta política. Enfrentamento para marcar esse tipo de posição é bobagem.

Apesar de ter como praxe o respeito à proporcionalidade, é comum o lançamento de candidaturas alternativas. Em 2015, Renan Calheiros (PMDB-AL) enfrentou o então senador Luiz Henrique (SC), da ala independente do PMDB.

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