terça-feira, 13 de setembro de 2016

Opinião do dia - Ulysses Guimarães

Tem significado de diagnóstico a Constituição ter alargado o exercício da democracia. É o clarim da soberania popular e direta tocando no umbral da Constituição para ordenar o avanço no campo das necessidades sociais.

O povo passou a ter a iniciativa de leis. Mais do que isso, o povo é o superlegislador habilitado a rejeitar pelo referendo os projetos aprovados pelo Parlamento.

A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos. Do Presidente da República ao prefeito, do senador ao vereador.

A moral é o cerne da pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune toma nas mãos de demagogos que a pretexto de salvá-la a tiranizam.

Não roubar, não deixar roubar, por na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública. Não é a Constituição perfeita. Se fosse perfeita seria irreformável.

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Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, no discurso de promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988.

450 a 10 Cunha é cassado e será julgado por Moro

Réu em dois processos da LavaJato, acusado de receber propina de corrupção na Petrobras, o ex-presidente da Câmara e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve o mandato cassado e deixou o plenário sob gritos dos colegas de “Fora, Cunha”. Dos 470 deputados presentes, foram 450 votos pela cassação, apenas dez contra e nove abstenções (o presidente, Rodrigo Maia, não votou). O ex-todo-poderoso dirigente da Câmara perdeu o mandato e os direitos políticos por quebra de decoro, por ter mentido sobre contas na Suíça, depois de 11 longos meses de manobras contra a cassação. Em seu último discurso, continuou negando o dinheiro no exterior e afirmou sofrer retaliação pelo processo de impeachment da ex-presidente Dilma, aberto por ele. “Por mais que o PT chore, esse criminoso governo foi embora e graças à atividade que foi feita por mim!”, disse, acusando depois também a gestão Temer de ficar contra ele. Com a perda do mandato, os processos a que responde no STF irão para o juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato, em Curitiba.

Fim da linha

  • Isolado e sem o poder que exibiu até aceitar o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi cassado ontem pelo voto de 450 deputados. Apenas 10 o apoiaram. Sem o foro privilegiado, Cunha terá seus processos, atualmente no Supremo Tribunal Federal, encaminhados para o juiz Sérgio Moro

Júnia Gama, Isabel Braga, Eduardo Bresciani, Cristiane Jungblut, Evandro Éboli, Letícia Fernandes Renan Xavier - O Globo

-BRASÍLIA- Com 450 votos a favor, 10 contrários e 9 abstenções, a Câmara cassou ontem o mandato do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), interrompendo a trajetória política de quase 25 anos daquele que se celebrizou como o principal algoz de Dilma Rousseff no processo de impeachment. Com uma carreira construída nas sombras do poder e que ganhou os holofotes nacionais desde que assumiu a presidência da Câmara, no ano passado, Cunha, que colecionou inimigos na vida política e ontem se viu abandonado por praticamente todos os partidos, passará agora a enfrentar o seu mais temido adversário: o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná.

Na posse de Cármen, ataque a ‘marginais da República’

Ao assumir a presidência do STF, a ministra Cármen Lúcia inverteu a ordem da saudação para cumprimentar primeiro o “cidadão brasileiro”. Na presença dos ex-presidentes Lula e Sarney, do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do presidente Michel Temer, a cerimônia foi marcada por duros discursos contra a corrupção, como o feito pelo decano Celso de Mello, que condenou os “marginais da República”, sem citar nomes.

Cármen Lúcia admite rever reajuste salarial

• Ao assumir, nova presidente do Supremo faz saudação ao cidadão, ‘senhor do poder da sociedade democrática’

André de Souza, Carolina Brígido, Vinicius Sassine, Catarina Alencastro e Renata Mariz - O Globo

-BRASÍLIA- Empossada ontem presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) numa solenidade com a presença de políticos dos mais variados partidos, advogados e artistas, a ministra Cármen Lúcia disse que poderá rever a proposta de reajuste salarial para os ministros da Corte, que atualmente ganham R$ 33,7 mil por mês.

A declaração da ministra foi dada em entrevista à GloboNews. É uma postura diferente da de seu antecessor no cargo, o ministro Ricardo Lewandowski, que tentou articular a aprovação do aumento no Congresso. O eventual reajuste teria impacto bilionário, porque implicaria aumentos para todos os juízes do Brasil, cujos salários são vinculados aos rendimentos de ministros do STF.

A base do governo vinha defendendo o reajuste dos ministros do STF, mas, em entrevista ao GLOBO publicada domingo, o presidente Michel Temer se posicionou contra o aumento, como medida de contenção dos gastos públicos.

Ministro condena ‘os marginais da República’

• Diante de investigados, Celso de Mello cita Ulysses: ‘Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube’

André de Souza, Carolina Brígido, Catarina Alencastro, Renata Mariz e Vinicius Sassine – O Globo

-BRASÍLIA- Ao discursar na posse da ministra Cármen Lúcia, o mais antigo integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, condenou duramente a corrupção no país. Na presença de muitos políticos investigados na Operação Lava-Jato, ele condenou a “delinquência governamental”, atacou os “marginais da República” e defendeu a prisão de quem rouba.

O tema da corrupção também dominou o discurso do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que enalteceu as investigações do Ministério Público na Lava-Jato e o combate aos corruptos. Entre as autoridades investigadas estavam presentes o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

‘O Judiciário brasileiro reclama mudanças’

- O Globo

• Em seu discurso, Cármen Lúcia reconheceu que a Justiça não atende às expectativas da população e, mais do que uma reforma, precisa passar por transformação

“O tempo é de esperança. Quer-se um Brasil mais justo e é imprescindível que o construamos”

“Justiça não é milagre, nem jurisdição é mistério. De tudo se dará ciência e transparência”

Moro julgará casos de Cunha após cassação

• Deputado cassado é alvo de três ações penais e sete inquéritos no Supremo Tribunal Federal, parte deles relacionada à Operação Lava Jato

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Dos sete inquéritos de que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF), cinco deles têm relação com a Operação Lava Jato e devem ser encaminhados para o juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, responsável pelas investigações na primeira instância.

Isso ocorre porque, com a cassação do mandato aprovada pelo plenário da Câmara, Cunha perde o direito ao foro privilegiado e, consequentemente, a prerrogativa de ser julgado pelo Supremo.

O peemedebista é réu em dois processos oriundos de desdobramentos das investigações sobre o esquema de corrupção da Petrobrás. A primeira denúncia contra ele foi feita em fevereiro, em que é acusado de ter recebido US$ 5 milhões em propina relacionada a contratos de navios-sonda para a Petrobrás.

Crítica à corrupção marca posse de Cármen Lúcia

• Supremo. Em cerimônia com a presença de políticos investigados na Lava Jato, ministra assume presidência do STF; decano da Corte e Janot falam em ‘delinquência governamental’

Beatriz Bulla, Rafael Moraes Moura, Fábio Serapião, - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Discursos contra a corrupção no País dominaram aposse da ministra Cármen Lúcia como presidente do Supremo Tribunal Federal na tarde desta segunda-feira, 12. O decano da Corte, ministro Celso de Mello, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fizeram críticas à “delinquência governamental”. Os discursos foram ouvidos por uma plateia de políticos investigados na Operação Lava Jato, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) – sentado ao lado de Cármen –, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Câmara cassa o mandato de Cunha; peemedebista fica inelegível até 2027

Ranier Bragon, Débora Álvares, Marina Dias, Mariana Haubert, Laís Alegretti

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite desta segunda-feira (12) a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), colocando um ponto final em um conturbado processo iniciado em novembro de 2015.

Anunciado às 23h50, o placar mostrou 450 votos pela cassação –193 a mais do que o mínimo necessário–, contra apenas 10 pela absolvição. Houve nove abstenções.

O caso foi marcado por protelações desde o ano passado. Cunha era formalmente acusado na Câmara de mentir aos colegas ao negar, em março de 2015, ter "qualquer tipo de conta" no exterior - frase dita meses antes de vir à tona a existência de dinheiro atribuído ao peemedebista na Suíça.

Em discurso, Cunha afirmou "pagar o preço" por ter autorizado a tramitação do processo de impeachment de Dilma Rousseff da presidência. "O PT quer um troféu para dizer que é golpe", ressaltou.

Em posse no STF, Cármen Lúcia pede nova Justiça

Gabriel Mascarenhas, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A ministra Cármen Lúcia, 62,assumiu a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (12) com o discurso de que a atuação do Judiciário ainda está aquém das necessidades da população.

Segunda mulher a ocupar o comando da Suprema Corte -a primeira foi Ellen Gracie, entre 2006 e 2008- Cármen Lúcia disse que o país atravessa tempos de "águas em revolto" e que o cidadão comum "não há de estar satisfeito" com o Poder que ela irá presidir por dois anos em substituição ao ministro Ricardo Lewandowski.

Diante de Temer e Lula, ministro critica 'organizações criminosas' em posse

Gabriel Mascarenhas, Mariana Haubert, Bernardo Mello Franco – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A ministra Cármen Lucia assumiu a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) nesta segunda-feira. Segunda mulher a ocupar o posto - a primeira foi a ex-ministra Ellen Gracie, entre 2006 e 2008 - ela substitui o ministro Ricardo Lewandowski.

Entre os convidados, estavam o presidente Michel Temer, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Sarney, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Agripino Maia (DEM-RN), e Eunício Oliveira (PMDB-CE).

A convite da nova presidente, Caetano Veloso cantou o hino nacional, no início do evento, sentado num banco no plenário do Supremo.

Coube ao decano da Casa, ministro Celso de Mello falar em nome dos seus pares. Na presença de políticos investigados pela operação Lava Jato, como Renan e Sarney, ele fez um enfático discurso contra a corrupção e classificou quem comete crimes contra o erário como marginais da República.

Cunha culpa o governo Temer por ter ‘aderido à agenda da cassação’

Por Thiago Resende, Raphael Di Cunto e Fábio Murakawa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Após ter o mandato cassado, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) culpou o governo do presidente Michel Temer pela derrota na Câmara, às 23h50 de segunda-feira.

“Culpo o governo hoje não porque tenha feito nada para me cassar, mas quando apoiou o presidente [Rodrigo Maia (DEM-RJ)]que se elegeu em acordo com o PT, de certa forma aderiu à agenda da cassação. “Quem elegeu o presidente da Casa foi o governo. Quem derrotou Rogério Rosso [líder do PSD e candidato de Cunha na disputa] foi o governo”, disse o pemedebista.

Porém, ele negou ter sido abandonado ou traído pelo Palácio do Planalto.

Ele anunciou que irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão da Câmara que, por 450 votos a 10 (e nove abstenções), aprovou a perda de mandato do pemedebista.

“Certamente vou buscar recursos judiciais. O regimento foi descumprido várias vezes, violentamente, e hoje também várias vezes”, acrescentou.

Cunha voltou a dizer ser vítima de vingança por ter aberto o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e reconheceu ter cometidos vários erros. “Mas não foram os meus erros que me levaram a cassação. Foi a política. Fui vítima de uma vingança politica perpetrada em meio ao processo eleitoral”, declarou.

Cármen Lúcia condena reajuste do STF

Por Carolina Oms e Letícia Casado – Valor Econômico

BRASÍLIA - A nova presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, afirmou que irá reavaliar pedido de aumento dos salários dos ministros do Supremo. Em entrevista ao canal de televisão "GloboNews", Cármen Lúcia afirmou que o aumento pode ter "consequências graves e nefastas para o país". Antes, no entanto, afirmou que vai estudar os motivos que levaram seu antecessor, Ricardo Lewandowski, a apoiar o aumento e prometeu diálogo. Cármen Lúcia também reforçou sua posição a respeito da ilegalidade do caixa dois, e contra a tentativa de políticos de tentarem conseguir uma "anistia" para a prática.

Na entrevista, a presidente do Supremo, que está na corte desde 2006, também afirmou que é a favor do fim do foro privilegiado e contra a tentativa de políticos de tentarem conseguir uma anistia para delitos de financiamento de campanha, associados ao caixa dois. Cármen Lúcia também evitou uma posição definitiva sobre o fatiamento do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff.

‘Visão pessimista sobre o futuro não se justifica’, diz Serra

• Desafio de Temer é aprovar mudanças complexas com uma base heterogênea e oposição atuante, diz ministro

Lu Aiko Otta – O Estado de S. Paulo

A estreia do presidente Michel Temer no cenário internacional foi positiva, avaliou o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que o acompanhou na visita recente à China para a reunião do G-20. A despeito de Venezuela, Bolívia e Equador haverem retirado seus embaixadores do País em protesto contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff, na avaliação do ministro houve manifestações favoráveis de parceiros importantes, como os Estados Unidos e a Rússia, além das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Porém, os desafios à frente não são fáceis. “Como para todo governo, o mais difícil é governar”, afirmou. Segundo ele, Temer tem em sua agenda alterações importantes na Constituição, a serem discutidas num Congresso onde a base governista ainda é heterogênea e a oposição, atuante.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

Marcelo Cerqueira

Coluna do Estadão – Estado de S. Paulo

» Olha ele! A presença do advogado Marcelo Cerqueira, que se recupera de um acidente, no STF foi tão festejada quanto a posse de Cármen Lúcia. Ele e Carminha, como a chama, se conhecem de longa data. José Serra e os ex-ministros Eros Grau e Nelson Jobim se emocionaram ao verem o amigo.

Olga Benário

Ponto Final – Ancelmo Gois / O Globo

Dia 23, agora, completam-se 80 anos de uma página triste da nossa História. Foi extraditada para a Alemanha nazista, onde foi executada na câmara de gás, aos 34 anos de idade, a militante comunista Olga Benário Prestes. A extradição será tema de um debate, dia 29, no salão nobre do IFCS, da UFRJ, com a participação da filha de Olga e Luís Carlos Prestes, Anita, 79 anos, nascida no campo de concentração de Barnimstrasse.

O que é pouco explorado nessa história é que o Supremo Tribunal Federal, de quem os brasileiros muito esperam neste momento, aprovou o pedido de extradição feito por Getúlio Vargas. Aliás, o atual decano do STF, Celso de Mello, disse que a extradição foi um erro, porque “permitiu a entrega de uma pessoa a um regime totalitário, uma mulher que estava grávida”.

Gambiarra no centro do mundo – Alberto Aggio

- Revista Será? (PE)

Os Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro, ao contrário de alguns prognósticos, não arrastaram para nossas terras o flagelo do terrorismo. Talvez seja a confirmação da suposição de que o Brasil está mesmo fora da tenebrosa rota que o terrorismo vem traçando em várias partes do mundo ou que as medidas tomadas no plano da segurança, antes e durante a realização dos Jogos, revelaram-se eficazes. Ao que parece, nesse quesito fomos tão vitoriosos quanto os melhores atletas que por aqui desfilaram, e, ao final, respiramos aliviados. O fato é que as Olimpíadas nos colocaram no centro do mundo e, nessa posição, integrados a sistemas de segurança globalizados, conseguiu-se afastar a terrível ameaça que ronda o início do século XXI.

Em defesa de um governo republicano – Marco Antonio Villa

- O Globo

• É inegável que a tarefa de Michel Temer não é fácil. O panorama de hoje é muito distinto em relação a 1992

O governo Michel Temer tem apenas duas semanas. Não parece. Dá sinais de envelhecimento precoce. O curioso é que a área econômica vai bem. O mesmo se aplica às relações exteriores. Já no restante dos ministérios vai muito mal. A falta de coordenação política sinaliza para a sociedade que Temer ainda é apenas o presidente interino. Cada ministro administra a sua pasta como se não houvesse uma autoridade maior, o presidente da República. Continuam enclausurados, não viajam, não divulgam suas ações e, mais grave, priorizam cada um o seu projeto político. Assim, o ministério assemelha-se a uma federação de ministros, isolados uns dos outros, sem uma ação coletiva.

A fábula do golpe - *Zander Navarro

- O Estado de S. Paulo

• Qual será o preço da farsa ora em curso, seja a artimanha do Senado ou o delírio golpista?

Em 1571 Michel Eyquem, conhecido como Montaigne, o nome das terras que herdou, decidiu dedicar-se à interpretação da natureza humana. Legou-nos um livro brilhante, Os Ensaios” (Companhia das Letras). Foi escolarizado primeiramente em latim e leu todos os clássicos do pensamento social. O volume deveria ser leitura compulsória para todos os que almejam desvendar os mistérios e significados da ação humana.

A versão definitiva e póstuma é de 1595 e nela Montaigne impôs a si próprio explicar por que “os que se empenham em examinar as ações humanas jamais ficam tão atrapalhados como para juntá-las sob a mesma luz, pois comumente elas se contradizem de modo tão estranho que parece impossível que venham da mesma matriz”. A inconstância humana foi um dos seus temas favoritos, pois “nosso modo habitual é seguir as inclinações de nosso desejo, para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, conforme nos leva o vento das ocasiões”. Em consequência, “não vamos, somos levados, como as coisas que flutuam, ora suavemente, ora com violência”.

Festa da democracia - Merval Pereira

- O Globo

Uma festa de gala para a democracia brasileira. Cármen Lúcia assumiu a presidência do Supremo em estilo muito próprio, de comportamento, mas, sobretudo, literário. Em momento de conturbado clima político e social, deixou para o decano Celso de Mello e para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, as referências mais diretas aos casos de corrupção que abalam a sociedade, e tratou de conceituar o que entende por Justiça, conceitos que balizarão a gestão à frente da mais alta Corte.

Começando por saudar “o cidadão brasileiro”, colocando-o no topo da hierarquia das autoridades que lotaram as dependências do STF, a nova presidente do Supremo deixou claro, em linguagem às vezes figurada, às vezes objetiva, mas com a suave severidade que lhe é peculiar, que, se o sistema judiciário não serve ao cidadão, ao jurisdicionado, com presteza e eficiência, não faz Justiça.

Aos ‘indignos do poder’ - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Com um discurso planejadamente morno, próprio talvez de uma ex-aluna de colégio interno, aplicada e chegada aos clássicos e à poesia, a nova presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, abriu espaço para que o decano da Corte, ministro Celso de Mello, desse todos os recados políticos com o calor e a contundência que o momento merece e as barbaridades havidas exigem. Enquanto Mello falava, a ilustre palestra fazia um silêncio sepulcral.

Ao lado do também ex-presidente José Sarney (que nomeou Mello para o STF), Luiz Inácio Lula da Silva (autor da nomeação de Cármen Lúcia) ouviu calado, quase sem se mexer, não fosse o tique de cofiar o bigode. Na terceira poltrona, o governador de Minas, Fernando Pimentel. Na mesa de honra, o presidente do Senado, Renan Calheiros. Mais adiante, o ex-ministro Edison Lobão. O que não faltou na posse da nova presidente do Supremo foi político enrolado de alguma forma com a Justiça.

O Supremo da Lava-Jato - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• A grande missão da ministra Cármen Lúcia será o julgamento dos políticos envolvidos na Operação Lava-Jato

A ministra Cármem Lúcia tomou posse ontem como segunda mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal (STF) numa cerimônia marcada pela Operação Lava-Jato, seja pela presença de políticos investigados no escândalo da Petrobras, como o presidente do Congresso e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seja em razão dos discursos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, do decano da Corte, ministro Celso de Mello, e da própria presidente do STF, que pretende pautar sua gestão pela austeridade, eficiência processual e rigor com os crimes de colarinho branco. O presidente Michel Temer (PMDB); Renan Calheiros e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sentaram ao lado da nova presidente do Supremo durante a posse.

Fora da ordem – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A posse da ministra Cármen Lúcia virou um grande encontro de investigados e investigadores da Lava Jato. Seguindo o protocolo, a nova presidente do Supremo convidou os próceres da República para a solenidade. O plenário do tribunal ficou pequeno para tantos personagens do petrolão.

Do lado direito da ministra, sentou-se o senador Renan Calheiros, indiciado em oito inquéritos. Do esquerdo, o presidente Michel Temer, citado por ao menos três delatores. Outros alvos da operação, como os ex-presidentes Lula e José Sarney, circularam pela corte recebendo abraços e tapinhas nas costas.

Uma mulher na Corte - Míriam Leitão

- O Globo

Posse foi marcada por cerimônia com tom político. O Supremo Tribunal Federal passa a ser presidido por uma mulher pela segunda vez na história da Corte. Isso significa um passo a mais no esforço de se quebrar o espaço de poder quase que completamente masculino, mas não significa que ela deva ser cobrada ou elogiada por ser mulher. O que levou Cármen Lúcia ao posto é sua competência jurídica. Sua posse foi um ato político, pelos discursos e ambiente.

O presidente Michel Temer e o ex-presidente Lula ficaram na mesma sala antes de entrar no plenário. Lula chegou antes. Os dois sequer se olharam durante os minutos que aguardaram o início da cerimônia. O discurso do ministro Celso de Mello deu o tom político. Fez uma longa e forte condenação da corrupção, com palavras contundentes. Atrás dele, estava o ex-presidente Lula. O discurso do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi na mesma linha, acrescentando a defesa das 10 medidas anticorrupção. O representante dos advogados também falou do tema, mas argumentando que não se pode aceitar provas de origem ilícita mesmo que de boa-fé. A Lava-Jato estava presente o tempo todo, nas entrelinhas, ou em referências diretas.

O pós-Cunha para Temer e as reformas - Raymundo Costa

- Valor Econômico

• A dúvida é se Cunha tem poder de fogo para alvejar governo

Confirmada, a cassação do mandato de Eduardo Cunha pode livrar o presidente Michel Temer de um aliado politicamente incômodo, espécie de inimigo público nº 1, mas também abrir um período de insegurança no governo e no Congresso que deve ter repercussão sobre a votação das propostas de reforma que compõem o ajuste. A aprovação de medidas como teto para os gastos públicos, reforma da Previdência e flexibilização da legislação trabalhista já eram consideradas complicadas para um governo fraco, sem apoio popular. A situação tende a piorar se Eduardo Cunha efetivamente fizer uma delação premiada para evitar ser preso e preservar a família, como acreditam seus antigos aliados e os partidos.

Tempo de reconstruir – Editorial / O Estado de S. Paulo

Reconstruir o País e abrir caminho para uma nova etapa de vigor, dinamismo e criação de oportunidades é a grande tarefa, depois de rompido o desastroso domínio do PT. Não basta haver encerrado a longa fase de populismo, mentira, irresponsabilidade e pilhagem do Estado. O resgate só será completo com a retomada do trabalho, interrompido por mais de dez anos, de modernização das instituições, de reforma do governo e de revalorização da seriedade e do esforço produtivo e criativo em todos os setores de atividade – públicos e privados. Tirar da UTI a economia nacional é o desafio mais urgente, mas o novo governo e seu sucessor terão de levar em conta uma pauta muito mais complexa e ambiciosa.

Os grandes temas dessa agenda serão explorados peloEstado na série A Reconstrução do Brasil, iniciada na edição do último domingo. A reforma política, a modernização trabalhista, a revisão das normas da Previdência, a atualização do sistema tributário, a reavaliação das funções do Estado e da operação do governo são temas obrigatórios de qualquer discussão consequente sobre o futuro do País. Serão, portanto, explorados de forma ampla e articulada nesse conjunto de reportagens.

Falta de afinação política aflige o governo Temer – Editorial / Valor Econômico

O governo de Michel Temer continua a se mover em terreno pantanoso, após uma sequência de tropeços que não eram esperados em uma equipe de veteranos articuladores políticos. Os erros do núcleo político de Dilma Rousseff, logo após ela vencer o pleito da reeleição, foram, no contexto da acirrada disputa, o início do fim de seu governo. No caso de um presidente que assume após um turbulento processo de impeachment, erros podem cobrar um preço igualmente alto no futuro.

Diante do pandemônio partidário no Congresso, cuja base de apoio ao novo governo é semelhante à do que sai, e da formação em mutirão do ministério, trombadas entre objetivos e realidade são inevitáveis. Não deveriam, porém, resvalar para o amadorismo, como sugerem.

Expectativas otimistas com Cármen Lúcia no STF – Editorial / O Globo

• Posse de ministra na presidência da Corte permite que sejam dados duros recados contra a corrupção, na presença de vários interessados no tema

Em entrevista ao GLOBO publicada no domingo, véspera da posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da República, Michel Temer, se colocou contra o aumento dos ministros da Corte, cujos vencimentos subiriam de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. O argumento de Temer, correto, é que estes R$ 5,5 mil de reajuste provocariam uma “cascata gravíssima” sobre as finanças públicas em todos os níveis, União, estados e municípios, devido aos mecanismos de atrelamentos salariais. Aumente-se um juiz que o salário do porteiro do fórum seguirá o reajuste e assim por diante em toda a burocracia.

Ora, não há qualquer sentido, na situação de crise fiscal em que se encontra o país, em patrocinar-se um ato que representaria, para a Federação, uma despesa a mais, por ano, de algo acima dos R$ 4,5 bilhões. Um despautério.

Recado dado no STF – Editorial / Folha de S. Paulo

Poucas vezes a posse de um presidente do Supremo Tribunal Federal se revestiu de tanto simbolismo quanto a de Cármen Lúcia, cuja chegada ao comando do órgão de cúpula do Judiciário se consumou nesta segunda-feira (12).

Em uma cerimônia simples, a ministra quebrou o protocolo já no início de seu discurso. Em vez de cumprimentar primeiro o presidente da República, Michel Temer (PMDB), Cármen Lúcia considerou que a maior autoridade presente era "Sua Excelência, o povo" —e, por isso, saudou antes de todos o "cidadão brasileiro".

Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse ser considerado mero populismo; vindo da nova presidente do STF, guarda coerência com outras iniciativas de valor simbólico semelhante, como abrir mão de carro oficial com motorista ou dispensar a festa em sua própria posse.

O Brasil não pode "ficar como está" - Yoshiaki Nakano

- Valor Econômico

• A reforma fiscal será a mãe das demais reformas. Os juros poderão cair e a taxa de câmbio se tornará mais competitiva

Parece que tudo está caminhando no Brasil para uma recuperação econômica. O "fundo do poço" já teria ficado para trás e alguns economistas chegam até a projetar um crescimento do PIB no próximo ano em 2%.

Depois da queda nos termos de troca, o crescimento da economia brasileira sofreu uma forte desaceleração já em 2013. A reação infantil do governo, ao diagnosticar a desaceleração como um problema simples de insuficiência de demanda agregada, e sua insistência numa política fiscal expansionista (combinada com uma mortal politica monetária de taxa de juros elevada) para promover o crescimento, gerou uma profunda crise de confiança, contração nos investimentos produtivos e do PIB, a partir de 2014.

A ascensão de Michel Temer à Presidência, com a nova equipe econômica prometendo promover reformas institucionais, trouxe uma recuperação da confiança e, neste primeiro semestre, a economia brasileira teria atingido seu pior nível.

Anjos ou Deuses – Fernando Pessoa (Ricardo Reis)

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.