terça-feira, 1 de novembro de 2016

Opinião do dia – Aécio Neves

"O PSDB teve a mais extraordinária vitória de toda a sua história. É um recado que, a nosso ver, vai muito além dos números. Há um recado da sociedade de aprovação à nossa conduta, nossa firmeza na condução e na liderança do processo de impeachment da presidente da República; nossa coragem de, rapidamente, apresentar ao governo Michel Temer um conjunto de reformas, mesmo não sendo o PSDB o beneficiário do êxito. Foi compreendido pela sociedade como um caminho acertado. "

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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Folha de S. Paulo, 1/11/2016

‘O PT, como força política, acabou’, diz Chico de Oliveira

Sonia Racy – O Estado de S. Paulo

Conhecido nos meios intelectuais por seu olhar rigoroso e cético quanto aos políticos e aos costumes partidários do País, o sociólogo Chico de Oliveiradiz não ter-se surpreendido com o pacote de más notícias que o domingo trouxe para os petistas – que só elegeram um prefeito no chamado “clube do segundo turno”, que reúne oas 92 cidades com mais de 200 mil habitantes no País.

“O PT como força transformadora, no sentido em que foi criado nos anos 80, já acabou”, disse à coluna o sociólogo. Sua aposta é que ele, no máximo, “possa sobreviver como um partido tradicional.”

• Depois dos avanços da Lava Jato, do impeachment de Dilma e dos maus resultados nas eleições, qual agenda o PT deveria adotar para recuperar-se no curto e médio prazo?

Como força transformadora, dentro dos ideais que o criaram, minha opinião é que o PT acabou. Quando muito, imagino que possa sobreviver como um partido tradicional, que continuará a viver seu papel de irmão gêmeo do PSDB.

• Mas o PSDB foi o principal vencedor dos dois turnos da eleição municipal e sai bem mais forte do que entrou, não?

A mim me parece que eles são gêmeos, um age e reage em função do outro. E, de um modo geral, parece-me que o panorama político aí pela frente é sombrio. Os partidos não representam hoje mais nada na sociedade brasileira. Quando muito, garantem uma certa institucionalidade que serve para se tocar a vida adiante.

• Mas, como se diz, a política tem horror ao vácuo. Alguma coisa sempre surge para preenchê-lo.

Isso é uma frase, apenas uma frase do mundo político. Já tivemos uma situação desse tipo no passado. Depois dos abalos da República Velha, até o final dos anos 1930, por exemplo, veio o período getulista – que, de modo bem amplo, foi um período de estagnação até início dos anos 50. Podemos estar começando algo semelhante – em outro tempo e outras bases, é claro. Um modelo, talvez, de americanismo tupiniquim.

• E o fator Lula? O ex-presidente pode sonhar com 2018?

O Lula como força política, a meu ver, também acabou. /

Gabriel Manzano

Freixo: esquerda vive crise profunda

Derrotado no Rio, Marcelo Freixo (PSOL) avalia que a esquerda vive o pior momento desde a ditadura, crise que, acredita, ajuda a explicar sua derrota, informam Miguel Caballero e Marco Grillo.

Freixo admite ter demorado para reagir aos ataques de Crivella.

Freixo vê pior crise da esquerda e faz autocrítica

• Deputado diz que errou no início do segundo turno e que PSOL precisa chegar à Zona Oeste

Marco Grillo e Miguel Caballero - O Globo

No day after de sua derrota na eleição para prefeito do Rio, Marcelo Freixo (PSOL) citou três principais razões para explicar o resultado. A crise da esquerda no Brasil, que ele classifica como a pior desde a ditadura militar, a incapacidade de o partido penetrar na Zona Oeste e, como autocrítica, afirmou que sua campanha ficou “atordoada” e demorou a reagir aos ataques sofridos no início do segundo turno.

Crivella diz que vitória não significa conservadorismo

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O senador e prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), afirmou que sua vitória não representa a ascensão do conservadorismo. Apesar disso, afirmou que sua eleição significa que a população quer o respeito aos "valores da família e da vida".

Bispo licenciado da Igreja Universal, o senador disse que vai ser "um inconformado com qualquer tipo de intolerância com as minorias sejam elas quais forem".

"O que o povo do Rio determinou nesse momento das urnas é que as pessoas são contra liberação das drogas, legalização do aborto e a discussão de ideologia de gênero nas escolas. Isso foi dito na minha eleição. Isso não se trata de conservadorismo. Pelo contrário. São valores e princípios da nossa cidadania que emanam do povo e o político precisa defendê-los. Precisa ser portador desses valores. Valores da família e da vida", afirmou ele.

Ele afirmou que o Rio tem uma maioria de população católica e evangélica, "80% que leem a Bíblia, que, portanto, têm fundamentos nessa cultura ocidental cristã". Mas rejeitou o termo conservador para caracterizar seus princípios.

"Por que se fala em conservadorismo se nós temos aqui, por exemplo, todo o respeito às manifestações das minorias? No Rio não há expressão de racismo. Se há algum preconceito religioso, isso vai sumir na minha administração. Se houver preconceito contra a comunidade LGBT, vamos lutar contra", disse o prefeito eleito, que afirmou que não concorreu ao cargo "para doutrinar as pessoas".

Palocci era ‘software’ e Vaccari e Di Fillipi ‘hardware’ do PT, diz delator

• Ex-líder no Senado do governo Dilma afirmou à Lava Jato que ex-tesoureiros, do partido e das campanhas presidenciais de 2010 e 2014, executavam aquilo que o ex-ministro 'pensava e estruturava' dentro e fora do governo

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

O ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado Delcídio Amaral afirmou à força-tarefa da Operação Lava Jato que o Antonio Palocci era o “software”, que pensava os projetos do governo em benefício do PT e que os ex-tesoureiros João Vaccari Neto, do partido, José Di Fillipi, das campanhas presidenciais de 2010 e 2014, eram o “hardware”, que executavam a arrecadação de propina com empresas beneficiadas no governo.

“Antonio Palocci sempre atuava na formatação dos grandes projetos do governo (estruturação dos consórcios, organização dos leilões)”, afirmou Delcídio, ouvido no dia 11 de outubro, em denúncia apresentada contra Palocci pelos procuradores da Lava Jato, em Curitiba.

Delator: Palocci pediu propina em Belo Monte

• Ex-presidente da Andrade Gutierrez afirma que R$ 128 milhões foram divididos entre PT e PMDB

Cleide Carvalho, Dimitrius Dantas - O Globo

-SÃO PAULO- Suspeito de movimentar R$ 128 milhões em propinas da Odebrecht, o ex-ministro Antonio Palocci foi apontado por Otávio Azevedo, ex-presidente da holding Andrade Gutierrez, como o responsável pela negociação de vantagens ilícitas nas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, para o PT e também para o PMDB. Em depoimento de delação premiada, Azevedo disse que Palocci pediu 1% do valor da obra, a ser dividido entre os dois partidos, e indicou que as quantias deveriam ser pagas a João Vaccari Neto, que era tesoureiro do PT, e Edison Lobão, do PMDB, então ministro de Minas e Energia.

O pedido teria sido feito em encontro ocorrido a pedido do ex-ministro, num apartamento em Brasília, logo depois de a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, comunicar que a proposta técnica da empresa para as obras da usina seria aceita e que a Andrade Gutierrez lideraria o consórcio.

Palocci intermediava dinheiro para campanhas, diz Delcídio

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-ministro Antonio Palocci era o principal interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários e intermediava o abastecimento de campanhas eleitorais. A afirmação foi feita pelo ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado e delator da Operação Lava-Jato, Delcídio do Amaral, em novo depoimento prestado à força-tarefa de Curitiba no dia 11 de outubro. As declarações de Delcídio serão usadas para instruir a acusação feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Palocci.

"Antonio Palocci tinha uma tarefa bem determinada: fazer a ponte entre o governo e os empresários, alimentar as estruturas de poder [as campanhas]. Era a prioridade de Antonio Palocci", afirmou Delcídio aos procuradores da República no Paraná.

Palocci está preso desde o dia 26 de setembro e já foi denunciado pelo MPF como o principal contato da Odebrecht para obter contratos com a administração pública federal. Ele é acusado de receber R$ 128 milhões em propinas do Grupo Odebrecht entre 2008 e 2013 e destinar os recursos para si, para o PT e a políticos. Os advogados do ex-ministro negam as acusações.

E 2018? Os ‘alckmistas’ estão chegando

• Vitórias do governador tucano em SP e derrota de Aécio em BH alteram balança de poder no PSDB

Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Fechadas as urnas das eleições municipais, o PSDB saiu como o grande vencedor, governando o maior eleitorado e comandando 30% das cidades médias e grandes. A vitória nacional só não foi mais completa em função da derrota do presidente nacional do partido, Aécio Neves (MG), em Belo Horizonte. Líder mais influente na legenda, Aécio viu seu principal rival na disputa pela vaga de candidato à Presidência em 2018, o governador paulista Geraldo Alckmin, obter vitórias simbólicas no estado mais populoso do país que ampliaram o capital político dele. Agora, diante do aumento da rivalidade, dirigentes e parlamentares do PSDB já começaram ontem a alertar para o desafio de a legenda se manter unida e, para tal, reconhecem que será necessário dar a Alckmin mais espaço nos cargos de comando do partido — hoje sob influência massiva de Aécio.

Nos próximos seis meses, os tucanos enfrentarão três disputas internas por cargos. A avaliação geral é que nos embates pela liderança do partido na Câmara e no Senado, em dezembro, e luta pela presidência da Câmara, em fevereiro, Alckmin não tem trânsito para impor um candidatos. Mas, segundo os tucanos, ele fará pressão para garantir em maio mais cargos na eleição da Executiva Nacional do partido, órgão decisivo para tentar pavimentar a escolha de seu nome como candidato a presidente em 2018.

Aécio diz que eleição de 2016 não afeta escolha de candidato presidencial

Por Vandson Lima e Fabio Murakawa – Valor Econômico

Brasília - Um dos postulantes à vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2018, o senador Aécio Neves (MG) evitou a avaliação de que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenha tomado a dianteira na disputa interna por conta do desempenho vitorioso dos candidatos que patrocinou nestas eleições municipais.

O PSDB saiu das eleições de domingo como a maior força política nos municípios brasileiros. O partido governará 806 cidades, sendo sete capitais, com 34,6 milhões de eleitores. Na capital paulista, João Doria foi eleito em primeiro turno, com forte apoio de Alckmin, enquanto o candidato de Aécio em Belo Horizonte (MG), João Leite, foi derrotado em segundo turno.

No cômputo geral, o desempenho credencia a sigla a se tornar a "bancada majoritária" na Câmara dos Deputados após a eleição de 2018, com base na conexão "cientificamente comprovada", segundo Aécio, entre as eleições municipais e a votação para o legislativo. Mas o mesmo cálculo não vale para a escolha do tucano que concorrerá à sucessão do presidente Michel Temer, defendeu. Para Aécio, o sucesso obtido nas urnas precisa ser somado a "outros fatores".

Aécio diz que não se sentiu derrotado com resultado da eleição em Belo Horizonte

Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Mesmo com o revés de seu candidato em Belo Horizonte, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), negou nesta segunda-feira (31) se sentir derrotado. Ele adotou o discurso de valorizar o crescimento do partido no Estado e no país para minimizar o resultado na capital mineira.

"Na capital [mineira], lamento que tenhamos perdido essa eleição, resultado nos desaponta, mas tivemos, mesmo em Belo Horizonte, uma vitória muito expressiva sobre tradicionais adversários. O PT, mesmo tendo o governo do Estado, não conseguiu nem de perto chegar no segundo turno. Outros partidos que se colocaram contra o nosso, também não tiveram o mesmo êxito", afirmou o tucano ao fazer um balanço do desempenho do partido nas eleições deste ano.

João Leite (PSDB) teve 47% dos votos válidos à Prefeitura de BH, enquanto seu adversário pelo PHS, Alexandre Kalil, venceu o pleito com 53%.

Questionado se o PSDB errou ao escolher um político tradicional para a disputa na capital mineira enquanto a população sai às ruas pedindo renovação na política, Aécio elogiou o apadrinhado.

Apesar da derrota na capital mineira, para o senador, o resultado em Minas Gerais foi "bastante positivo". "Vencemos em 133 municípios no Estado. Das 10 maiores cidades, governaremos sete. Já o PT viu seu número de prefeituras cais de mais de 170 para 41".

Para Alckmin, "o futuro a Deus pertence"

Por Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Fortalecido com a vitória de correligionários e aliados no Estado de São Paulo, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que as eleições municipais marcam uma "virada de página" no país. O tucano, no entanto, procurou dissociar o resultado das urnas com a corrida presidencial de 2018 ao considerar o debate prematuro.

"O que nós vimos foi uma virada de página. Acho que a resposta da população foi muito forte, dizendo 'olha, esses governos petistas levaram o país a uma recessão brutal, com 12 milhões de desempregados, uma grande crise ética e um descontrole na questão fiscal'", afirmou Alckmin, pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Durante agenda em Jaguariúna, na região de Campinas, o governador evitou estabelecer comparações entre o desempenho eleitoral de seus aliados nesta eleição com o resultado obtido em Minas Gerais por grupos ligados ao senador Aécio Neves (MG), outro nome dentro do PSDB cotado para concorrer a presidente daqui a dois anos.

‘Espólio’ do PT é ocupado por 25 siglas

• Derrota do partido nas eleições municipais traz pulverização de espaço antes controlado pela legenda; perda de eleitores governados é de 93%

Daniel Bramatti, Ricardo Galhardo, Rodrigo Burgarelli e Guilherme Duarte - O Estado de S. Paulo

O “espólio” do PT, principal derrotado nas eleições municipais de 2016, foi pulverizado por 25 partidos. Esse é o total de legendas que, a partir de 2017, vai comandar cidades conquistadas por petistas em 2012 e perdidas neste ano.

Nenhum partido teve desempenho muito distante de sua média nacional nas ex-cidades petistas. Em números absolutos, os maiores avanços foram feitos pelo PMDB (106 prefeituras) e PSDB (95). Mas eles também foram os dois maiores vencedores no conjunto de todos os municípios, e sua taxa de sucesso foi similar nas áreas governadas pelo PT ou não.

Há quatro anos, candidatos petistas venceram eleições em 638 municípios – o melhor resultado da história do partido. Dessas cidades, o partido só conseguirá se manter no poder em 109, ou 17%. No caso do PSDB, essa taxa de continuidade será o dobro (34%). Os tucanos venceram em 695 municípios há quatro anos, e conseguiram repetir a dose em 235 delas.

O recuo petista fica ainda mais evidente quando se analisa o tamanho do eleitorado que o partido perderá no conjunto das 638 cidades. De um total de 28,7 milhões de eleitores, o PT só continuará governando 1,9 milhão – uma perda de 93%.

Nova regra reduziria partidos de 35 para 9

• Proposta para acabar com farra de legendas está em discussão no Senado

Se aprovada, mudança tira repasse de recursos públicos e tempo de TV caso meta não seja atingida

Levantamento do GLOBO mostra que, se a eleição municipal fosse usada para a aplicação da regra que impede a proliferação de partidos, só nove das 35 legendas existentes hoje estariam aptas a receber recursos públicos e a ter tempo de TV, revelam Bernardo Mello e Gabriel Cariello. Para superar a cláusula de barreira, em discussão no Senado, os partidos precisariam atingir 2% dos votos válidos em todo o país, sendo distribuídos por ao menos 14 estados. A regra atingiria siglas que conquistaram prefeituras de seis capitais, entre elas o PRB de Crivella, no Rio. Sem os benefícios da lei, essas campanhas seriam inviáveis.

Aqueles 2% cláusula de barreira atingiria 26 siglas

• Resultado desta eleição para prefeito aponta que maioria dos partidos existentes não cumpriria requisitos

Bernardo Mello e Gabriel Cariello - O Globo

Levantamento do GLOBO mostra que, se estas eleições para prefeito fossem o critério para o cumprimento da cláusula de desempenho dos partidos, em discussão no projeto de reforma política que tramita no Congresso, 26 dos 35 partidos existentes não atenderiam aos requisitos. Assim, 75% das siglas registradas na Justiça Eleitoral perderiam acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de rádio e TV, o que, na opinião de analistas, ameaçaria sua sobrevivência. Manteriam, porém, o direito de lançar candidatos.

País se divide entre renovação e reeleição

• Norte e Nordeste têm comportamento oposto a Sul, Sudeste e Centro-Oeste

Silvia Amorim e Tiago Dantas - O Globo

-SÃO PAULO- Dois movimentos políticos antagônicos dividiram o país ao meio ao final das eleições nas 26 capitais. Enquanto um vento de continuidade soprou na parte de cima do Brasil (regiões Norte e Nordeste), uma onda de renovação varreu a parte de baixo (Sul, Sudeste e Centro-Oeste).

A diferença de comportamento dos eleitores nessas duas metades do país ficou nítida no domingo à noite, com a proclamação dos resultados nas 18 capitais que tiveram segundo turno. Em oito cidades, a disputa havia sido definida em 2 de outubro.

Ao reeleger 14 dos 16 prefeitos de capitais, as regiões Norte e Nordeste mantiveram no poder os grupos políticos que haviam vencido as eleições em 2012. As exceções foram Aracaju e Porto Velho.

Já no Sul, Sudeste e CentroOeste, os eleitores de nove das dez capitais optaram por mudança e disseram não à reeleições ou à vitória de indicados dos atuais governantes. Nesse grupo, o único ponto fora da curva é Vitória, onde o prefeito Luciano Cartaxo (PPS) obteve o segundo mandato.

Rio, São Paulo e Belo Horizonte aparecem como maiores expoentes desse movimento de renovação. Mais do que trocar o partido no poder, os eleitores optaram por escolher nomes que assumirão mandatos do Executivo pela primeira vez — Marcelo Crivella (PRB), João Doria (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS), respectivamente.

A insatisfação popular pode ter sido uma das razões desse fenômeno. Essas cidades receberam os maiores protestos políticos do último ano. A onda de mudança pôs fim ao domínio de grupos políticos que durava anos, como em Porto Alegre, onde o PSDB venceu pela primeira vez na sua história a disputa municipal.

Já na capital mineira, a influência do grupo dominante foi quebrada por um partido nanico. Além de se favorecer dos movimento de renovação, Kalil surfou na onda antipolítica que também atingiu São Paulo.

NO NORDESTE, MAIS REELEITOS
Com eleitores menos escolarizados e de menor renda do que no restante do país, as regiões Norte e Nordeste podem ter sido mais influenciadas pelo apelo eleitoral do uso da máquina pública. Isso pode ter sido um dos fatores da alta taxa de continuidade verificada nesses locais — 88% dos prefeitos se reelegeram. Ela foi maior do que a taxa nacional de reeleição nas capitais (75%). Em todo o Brasil, dos 20 prefeitos que disputaram a reeleição, 15 venceram. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apenas um de quatro candidatos ao segundo mandato ganhou a disputa (25%).

Só no Nordeste, oito prefeitos conquistaram mais quatro anos de mandato. Cinco deles anteontem, entre eles Roberto Cláudio (PDT), em Fortaleza. Outras três capitais da região já haviam resolvido a disputa o primeiro turno, como em Salvador, onde ACM Neto (DEM) obteve 77,99% dos votos; Natal, com vitória de Carlos Eduardo Alves (PDT); e Teresina com Firmino Filho (PSDB).

Aracaju foi a única exceção à regra no Nordeste. O atual prefeito da capital sergipana, João Alves (DEM) ficou em terceiro lugar e sequer passou para o segundo turno. Nas eleições de anteontem, Edvaldo Nogueira (PCdoB) derrotou Valadares Filho (PSB) por uma diferença de 1.744 votos.

Na Região Norte, eleitores de três capitais deram mais um mandato para seus prefeitos anteontem (Belém, Manaus e Macapá). No primeiro turno, outros três já haviam confirmado seus mandatos (Palmas, Rio Branco e Boa Vista).

Apenas Porto Velho não seguiu a tendência de continuidade da região e deixou o atual prefeito Mauro Nazif (PSB) fora do segundo turno. A disputa foi vencida por Dr. Hildon (PSDB).

Projeto reforçado - Merval Pereira

- O Globo

Saindo das eleições municipais como o que mais cresceu em número de eleitores entre os dez maiores partidos, conquistando 3,8 milhões de votos para prefeito no 1º turno, um crescimento de 51% em relação a 2012, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) viu seu projeto político nacional reforçado pela vitória do bispo licenciado Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio de Janeiro.

Em outubro de 2005, a criação do Partido Municipalista Renovador (PMR), hoje Partido Republicano Brasileiro (PRB), foi fruto de manobra do então presidente Lula para se aproximar dos evangélicos através do vice José Alencar, um dos fundadores do partido.

O partido foi criado pelos evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus para substituir a marca PL, manchada pelo escândalo do mensalão que estourara naquele ano. Em poucos dias conseguiram recolher nas igrejas espalhadas pelo país milhares de assinaturas para constituir um partido político, meta que outros, como o PSOL e a Rede, levaram quase um ano para atingir pelos métodos tradicionais.

Amigos hoje, inimigos amanhã - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• PSDB é o grande vitorioso, mas, se Temer der certo, PMDB terá candidato próprio em 2018

O poder primeiro aglutina, depois corrói e a história é recheada de aliados que viraram inimigos, como PT e PSDB, unidos no combate à ditadura militar e adversários viscerais ao longo das muitas campanhas eleitorais e dos muitos governos pós-redemocratização. A pergunta que não quer calar é até quando vai o pacto de governabilidade entre o PMDB, que tem o governo federal, ramificação e ambição, e o PSDB, que foi o maior vitorioso das eleições municipais e é a única presença garantida na eleição para a Presidência em 2018. Esse pacto vai ou não durar até 2018?

O PSDB nasceu em 1988 de uma dissidência do PMDB de Orestes Quércia e nunca deixou de disputar as eleições presidenciais (1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014) com candidato próprio – e competitivo. O PMDB virou uma confederação estadual de partidos, sem protagonismo no Planalto e um fiel da balança entre tucanos e petistas. Ora se tornava importante para os governos do PSDB, ora para os do PT. Para onde ia o PMDB, ia o poder. Ou ao contrário: para onde ia o poder, ia o PMDB.

Tico e Teco - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A exemplo da economia, a ciência política não é muito confiável na hora de fazer previsões acuradas sobre o futuro. Não é raro que os caprichos da conjuntura se somem às inconstâncias do eleitor para sabotar os mais belos modelos elaborados pelos especialistas. Ainda assim, exatamente como ocorre com a economia, existem alguns princípios muito gerais que atuam na grande maioria dos pleitos.

O algoritmo mais básico usado pelo eleitor é: se a situação está boa, mantenha o governante e seu partido; se está ruim, puna-os. Isso significa que, sempre que houver uma mudança brusca na economia, deve-se esperar um movimento correspondente na política.

Quebra de paradigmas - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Num país como o Brasil, de tantas injustiças e desigualdades, valores liberais somados à igualdade de oportunidades podem representar grande avanço

Há uma falsa lógica nas análises de que os eleitores fizeram uma opção conservadora nas eleições municipais, em razão da derrocada eleitoral do PT, na sequência do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Essa lógica mais ou menos reproduz a narrativa petista do golpe, que de certa forma servia de biombo para a legenda se esconder atrás do movimento de esquerda tradicional, no qual orbitam também outras legendas, como o PCdo B e o PSol. Essa lógica reduz a esquerda brasileira ao nacional desenvolvimentismo, ao anti-imperialismo e ao populismo e caracteriza como direita outras forças que sempre desempenharam um papel democrático e progressista no país.

A reforma possível na Previdência - Raymundo Costa

- Valor Econômico

• O governo não ganhou mas o PT perdeu a eleição

A pedido dos governadores de Estado, o presidente Michel Temer deve esperar mais alguns dias para enviar a proposta de reforma da Previdência ao Congresso. Mas a ideia é mandá-la logo. Segundo o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), os governadores querem fazer algumas sugestões ao texto, "então o presidente está esperando". O Palácio do Planalto não sabe o que os executivos estaduais vão pedir, portanto, não sabe se vai poder atender o que eles querem. Certamente não vai acatar todas as sugestões.

Padilha é o coordenador do grupo de governo encarregado da proposta previdenciária. Conhece como pouco os humores do Congresso. Com a autoridade de quem chegou há mais de 20 anos à Câmara dos Deputados, o ministro da Casa Civil afirma que a proposta de reforma da Previdência Social que o governo vai propor "já está do tamanho possível". Não vai resolver definitivamente o rombo da Previdência, que deve voltar a crescer em oito, dez anos, mas é a possível, neste momento. "Se quiser apertar mais agora, pode inviabilizar".

Agora, reconstruir o País – Editorial / O Estado de S. Paulo

O pleito municipal se encarregou de varrer do mapa o PT e demais facções de “esquerda” que, na falta de competência e credibilidade para propor medidas concretas para tirar o País da crise, vinham apelando para o escapismo irresponsável do “fora Temer”. A partir de agora, sob o risco de em 2018 serem condenados ao mesmo destino que amargam hoje os vendedores de ilusões, os representantes do povo terão que mostrar serviço e interagir positivamente com as outras forças sociais para enfrentar os gravíssimos problemas decorrentes do legado do lulopetismo. E terão que agir levando em conta que a paciência dos brasileiros tem limites, como acaba de ficar claramente demonstrado nas urnas.

O resultado do pleito nas duas maiores cidades do País ajuda a entender o sentimento com que os brasileiros foram, ou não foram, às urnas. No Rio de Janeiro, num universo de 4,9 milhões de eleitores, mais de 1,86 milhão – a soma, em números absolutos, da abstenção com os votos nulos e brancos, que superou o número de sufrágios dados ao candidato vencedor – se recusou a optar por um dos dois candidatos que representavam os extremos do espectro político-ideológico: de um lado o conservadorismo ancorado nos preconceitos do fundamentalismo religioso e de outro o voluntarismo “esquerdista” e “libertário” engajado na luta contra os “inimigos do povo”. Ao negar voto aos dois candidatos, o eleitor carioca deixou claro que repudia o radicalismo político e demonstrou, como ocorreu em maior ou menor medida em todo o País, insatisfação e descrença na política e nos políticos.

Pêndulo brasileiro – Editorial / Folha de S. Paulo

Foi necessário um terremoto como o desencadeado pela Operação Lava Jato para abalar uma das máximas da política brasileira: eleições municipais seguem uma lógica própria, provinciana até, pouco influenciada pelo cenário federal.

Com o resultado do segundo turno em várias das principais cidades do país, completa-se a estrondosa derrocada do PT. O partido que governou o país por 13 anos passou das 644 prefeituras que detinha em 2012 para 254 (-61%).

Não há dúvida de que tal decadência decorre da corrupção revelada nos governos de Lula e Dilma, bem como da crise social resultante de sua política econômica. O eleitorado responsabiliza o PT, com acerto, pelo desastre atual.

Bem mais difícil é delinear quais possam ser os ecos do cataclismo da esquerda no pleito de 2018.

As análises convergem para apontar o avanço da centro-direita, um movimento pendular que se observa em vários países.

Segundo turno consolida troca de forças nos municípios – Editorial / O Globo

• Símbolo da derrota da esquerda, PT é varrido do entorno da cidade de São Paulo, enquanto adversários tucanos têm vitórias de peso e, com o PMDB, fortalecem base de Temer

O turno inicial das eleições municipais esboçara as principais tendências do primeiro pleito realizado depois do impeachment da presidente Dilma, forte tranco no lulopetismo, agravado pelo avanço da Lava-Jato e de outras investigações sobre o ex-presidente Lula, líder supremo do PT. O segundo turno, no domingo, aprofundou a derrota do PT, varrido do entorno da cidade de São Paulo, batizado de “cinturão vermelho” devido à presença quase histórica da legenda nas prefeituras da região. Exemplar punição ao partido pelo eleitorado.

De maneira emblemática, em São Bernardo do Campo, onde Lula nasceu para a política e mora, venceu um candidato tucano, Orlando Morando Junior, na disputa com o representante do PPS, Alex Spinelli. O PT não emplacou representante na decisão das eleições, e verá o prefeito Luiz Marinho, ex-ministro de Lula e que chegou a ser cotado para disputar postos mais altos, passar o cargo ao adversário. No balanço final das eleições municipais, o PT encolheu de maneira vertiginosa: de 638 prefeituras em que venceu em 2012, caiu para 254. Governou para 27 milhões de eleitores, no domingo reduzidos a apenas 4 milhões. O PT foi levado pelos eleitores de volta à dimensão que tinha antes da primeira eleição de Lula presidente, no final de 2002. No conjunto de cidades com mais de 200 mil habitantes, em que podem haver dois turnos, o partido ganhou, e no primeiro, apenas em uma, Rio Branco, capital do Acre, com Marcus Alexandre, reeleito.

Vitória da centro-direita abre espaço para união PSDB-PMDB – Editorial / Valor Econômico

O mapa eleitoral que sai agora das urnas não poderá ser usado à risca nas eleições de 2018, mas é valioso como indicador de tendências. Era esperado que a gestão ruinosa de um governo de esquerda, em um processo tão desgastante como o do impeachment e das investigações da Lava-Jato, movesse amplamente o pêndulo para a centro-direita. A derrota do PT nas eleições municipais foi ampla, geral e quase irrestrita. Nos cinturões operários de São Paulo e tradicional bastião petista, o partido só elegeu um prefeito, em Franco da Rocha. O PSDB ganhou força e poder de gestão sobre 23,4% da população brasileira, sua melhor marca até hoje. O PMDB fez um papelão na capital do Rio, mas não na Baixada Fluminense e venceu em mais cidades acima de 200 mil habitantes do que em 2012.

O xadrez eleitoral é muito mais complexo na disputa presidencial. Como os ventos sopram para a centro-direita, PSDB e PMDB podem tentar, juntos ou separados, a conquista do Palácio do Planalto. O candidato mais bem posicionado no momento é o governador Geraldo Alckmin, que bancou, contra os velhos caciques tucanos, o lance decisivo: ganhar uma eleição em primeiro turno com João Doria. Aécio Neves, seu rival na legenda, perdeu pela segunda vez em dois anos em sua base eleitoral, Minas Gerais - no pleito presidencial contra Dilma e na disputa em Belo Horizonte para um candidato do minúsculo PHS. Alckmin é também o tucano que mantém mais distanciamento do governo Temer.

A música – Charles Baudelaire

A música me arrasta às vezes como o mar!
No encalço de um astro,
Sob um teto de bruma ou dissolvido no ar,
Iço a vela ao mastro;

O peito para frente e os pulmões enfunados
Tal qual uma tela,
Escalo o dorso aos vagalhões entrelaçados
Que a noite me vela;

Sinto que em mim ecoam todas as paixões
De um navio aflito;
O vento, a tempestade e suas convulsões

No abismo infinito
Me embalam. Ou então, mar calmo, espelho austero
De meu desespero!