segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

A emergência da era Trump, com seus desastres anunciados – os muros materiais e espirituais de contenção, o recuo em temas vitais, como energia e clima, a sintonia com líderes “providenciais” –, abre a possibilidade de entendimento entre forças e personalidades da mais variada inspiração, inclusive uma esquerda majoritariamente renovada. Em outros tempos cultivou-se a ideia do diálogo e do respeito, que nos permitiu atravessar o “deserto do real”, preservando os valores das modernas democracias. Os bárbaros parecem estar de novo às portas, o que reatualiza estratégias semelhantes às que nos levaram a vencê-los antes.

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Luiz Sérgio Henriques é tradutor, ensaísta e um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. ‘Depois do choque’, O Estado de S. Paulo, 20/11/2016

Ex-assessor de Picciani na mira da Lava Jato

• José Orlando Rabelo, que deixou o gabinete de Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, é suspeito de receber propina para Hudson Braga, ex-secretário de Obras do Governo Sérgio Cabral

Julia Affonso, Fausto Macedo, Ricardo Brandt e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

A Operação Calicute, etapa da Lava Jato que prendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), capturou também um ex-assessor de seu aliado, o deputado Jorge Picciani (PMDB). José Orlando Rabelo atuou no gabinete do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com salários de cerca de R$ 10 mil. Orlando foi citado por dois executivos da Carioca Engenharia, como encarregado de pegar propina para Hudson Braga, ex-secretário de Obras do Governo Cabral.

O Ministério Público Federal afirma que, após Hudson Braga deixar o governo do Rio, José Orlando passou a ocupar cargo em comissão na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, vinculado ao gabinete do deputado Jorge Picciani.

Sérgio Cabral negociou venda de empresa suspeita

Italo Nogueira, Lucas Vetorazzo, Estelita Hass Carazzai e Renata Agostini – Folha de S. Paulo

RIO, CURITIBA, SÃO PAULO - O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) intermediou a negociação para a venda da Rica Alimentos, que comercializa frango, para a JBS. O negócio não se concretizou.

A intermediação ocorreu quando o peemedebista, preso na quinta (17), já não era mais governador. Ela revela parte das atividades de Cabral na iniciativa privada.

O Ministério Público Federal identificou pagamentos da Rica para a LRG Agropecuária, de Carlos Emanuel Miranda, e a CSMB, de Luiz Carlos Bezerra. Os dois são apontados como operadores de Cabral e também foram presos.

Ela também fez depósitos para uma empresa de Cabral, a SCF Comunicações, e o escritório da ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo, também sob investigação. As transferências somam R$ 2 milhões.

Relatórios do Coaf apontaram movimentação atípica de dinheiro em espécie da empresa. O presidente da Rica, Luis Alexandre Igayara, foi alvo de mandado de condução coercitiva na operação.

Consultoria de Sérgio Cabral recebeu R$ 638 mil da Band

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - A TV Bandeirantes no Rio aparece como responsável por quase metade do faturamento da empresa aberta por Sérgio Cabral (PMDB) após sair do governo.

O Ministério Público Federal do Rio suspeita que a Objetiva Gestão e Comunicação Estratégica, do peemedebista, tenha sido usada para lavar dinheiro de propina. A procuradoria, contudo, não investiga a emissora de TV.

De acordo com relatório da Receita Federal, a Objetiva emitiu notas fiscais de serviço para apenas dois clientes desde fevereiro de 2015, quando foi criada.

A TV Bandeirantes repassou R$ 638.993 em 2016. Segundo nota da emissora, foram "pagamentos referentes a contrato de consultoria na área comercial e de análise conjuntural".

Esquema de Cabral teve propina paga no exterior

• Delação da Odebrecht vai revelar depósitos constantes

Novo conjunto de colaborações na Lava-Jato deverá ampliar as provas e comprometer mais envolvidos

As delações de dois ex-executivos da Odebrecht, Benedicto Júnior e Leandro Andrade Azevedo, vão revelar as contas internacionais do esquema de corrupção que seria comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral, revela CHICO OTÁVIO. A Odebrecht participou de grandes obras do governo fluminense, como a reforma do Maracanã e a construção do Arco Metropolitano. Os investigadores da Lava-Jato acreditam que mais provas e novos personagens surgirão das delações.

Contas internacionais

• Delação da Odebrecht vai apontar depósito de propinas em bancos fora do país

Chico Otavio - O Globo

Os investigadores da Lava-Jato no Rio esperam que uma nova remessa de delações premiadas — a começar pela Odebrecht, provavelmente esta semana — amplie o conjunto de provas e os personagens envolvidos no esquema de propinas comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Uma das informações mais quentes é esperada de Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, e de Leandro Andrade Azevedo, ex-diretor da empreiteira no Rio: as contas internacionais do esquema, nas quais a empresa teria depositado regularmente a taxa de 5% cobrada por Cabral pelas grandes obras que executou no estado.

PMDB do Rio tenta evitar destino do PT

Por Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - Hegemônico no Rio desde 2003 - ano em que o PT chegava ao poder federal - o PMDB fluminense enfrenta sua maior crise, sob a ameaça de repetir no plano regional o que aconteceu com os petistas nacionalmente.

Com os mesmos fatores como pano de fundo - crise fiscal sem precedentes e Operação Lava-Jato - o PMDB do Rio tenta evitar destino idêntico ao do PT, o que se tornou muito difícil depois da perda da disputa pela capital, que detém 40% do eleitorado do Estado; da prisão de seu maior cacique político, o ex-governador Sérgio Cabral, acusado de chefiar uma organização criminosa; e do desmantelamento do pacote de austeridade do governador Luiz Fernando Pezão, cuja aprovação ganhou contornos dramáticos na Assembleia Legislativa, com reveses na Justiça e protestos diários de servidores. Isso sem contar Eduardo Cunha, símbolo do poderio do PMDB do Rio, apeado da presidência da Câmara, cassado e depois preso pela Lava-Jato.

Com terremoto de tamanhas proporções, a única esperança do PMDB para se manter no Palácio Guanabara, na eleição de 2018, é Eduardo Paes, o prefeito da capital, ele próprio chamuscado por ter apostado num candidato à sua sucessão que sequer chegou ao segundo turno. Diante da necessidade de se reinventar e da dificuldade de o PMDB tirar o Estado da ruína fiscal, a grande expectativa é se Paes vai trocar de legenda para viabilizar sua candidatura. É um movimento camaleônico usual na política brasileira, utilizado em massa neste ano até por integrantes históricos do PT. E Paes já foi do DEM (então PFL), PV, PTB e PSDB, até se filiar ao PMDB em 2007.

Produtos brasileiros sofrem com medidas de defesa comercial

Raquel Landim – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os exportadores brasileiros se tornaram alvo de um ataque de medidas de defesa comercial ao redor do planeta. Somente neste ano foram implementadas 14 novas barreiras contra produtos feitos no Brasil e existem mais 20 investigações em curso.

O aumento expressivo de novos casos elevou o número de produtos nacionais afetados por sobretaxas para 31.

Em 2010, 9 itens sofriam barreiras, conforme o ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

"O que estamos sentindo agora é apenas o início do processo. 2017 e 2018 serão anos de intensa pressão contra os exportadores brasileiros", diz Welber Barral, sócio do Barral MJorge Advogados, um dos escritórios mais atuantes no assunto.

As empresas brasileiras estão sendo investigadas e punidas por suposta prática de dumping —que é vender abaixo do preço praticado no mercado local— e por receber subsídios do governo.

Estados podem receber cerca de R$ 5 bilhões em ajuda do governo

• Planalto avalia antecipar recursos do programa de repatriação de 2017

Geralda Doca, Martha Beck - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer se reúne com os governadores amanhã para discutir soluções que ajudem os estados a fechar as contas deste ano. O Palácio do Planalto avalia uma série de possibilidades, dentre as quais antecipar ainda em 2016 uma parte dos recursos que o governo espera arrecadar com a reabertura do programa de repatriação em 2017. Integrantes do governo falam em cerca de R$ 5 bilhões.

Essa não é a solução preferida da equipe econômica, mas os técnicos admitem que as saídas são limitadas. O Ministério da Fazenda defende que estados em maior dificuldade, como o Rio, usem estatais para captar recursos no mercado financeiro. O ministro Henrique Meirelles já afirmou que o Rio Previdência, uma estatal não dependente, poderia fazer uma emissão dando como garantias direitos de royalties.

Banco do Brasil quer aposentar 18 mil e fechar 402 agências

BB vai incentivar aposentadoria de até 18 mil funcionários e fechar 400 agências

• Em grande reestruturação, Banco do Brasil espera economizar R$ 2,7 bilhões no ano que vem, apurou o ‘Estado’

Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Banco do Brasil (BB) anuncia hoje uma grande reestruturação que reduzirá o número de agências e oferecerá um plano de aposentadoria incentivada para até 18 mil funcionários. Como a adesão ao plano é voluntária, o banco não tem uma estimativa oficial da economia que será feita. Simulações obtidas pelo Estado apontam uma economia total de R$ 2,7 bilhões no caso de adesão de 10 mil funcionários e de R$ 1,85 bilhão, com a adesão de 5 mil empregados. No cálculo, está incluído a economia com redução da estrutura física.

Os servidores que aderirem ao plano receberão 12 salários mais indenização pelo tempo de serviço, que vai de um a três salários. A despesa do BB com os atuais 109 mil funcionários é superior à média da dos concorrentes privados. No ano, até setembro, o BB gastou R$ 15 bilhões com pessoal, expansão de 5,3% ante mesmo período de 2015.

Receita das empresas cai e mostra crise persistente

Por Juliana Machado - Valor Econômico

SÃO PAULO - No terceiro trimestre, pela primeira vez em mais de quatro anos, a receita líquida de 278 empresas de capital aberto no país apresentou queda nominal, de 3%, na comparação com o mesmo período de 2015, para R$ 335,3 bilhões, devido à combinação de fatores negativos como desemprego, juros e inflação altos e riscos no cenário externo. Somada a inflação, a queda real da receita passa dos 10%.

O levantamento feito pelo Valor Data exclui Petrobras e Eletrobras, que com baixas contábeis gigantescas distorcem os dados. Com as duas estatais, a queda na receita chega a 5%.

Neste cenário, as companhias precisaram fazer uma série de ajustes para driblar as dificuldades macroeconômicas. Com cortes de custos, redução de investimentos e racionalização de gastos, elas conseguiram, apesar da queda na receita, registrar crescimento de 7,3% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) e de 17,4% no lucro antes de juros e impostos, com alguma recomposição de margens.

Última chance – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Nesta quarta-feira, dia 23, o Senado dará um passo fundamental para a reorganização do nosso processo político partidário ao votar, em segundo turno, proposta que visa fortalecer a representatividade dos partidos políticos no Brasil, iniciativa já aprovada em primeiro turno por ampla maioria e que aguarda esta votação para seguir para a Câmara dos Deputados.

É preciso que o Congresso enfrente a situação caótica de 35 partidos registrados e mais de 30 em processo de regularização, em uma imensa pulverização de siglas que aos olhos da opinião pública mais parece uma feira de negócios, moldada para servir ao oportunismo político-eleitoral de ocasião.

Às vésperas do incêndio - Ricardo Noblat

- O Globo

“Receber o salário indevido também é corrupção.” Kátia Abreu, senadora, que investiga salários altos de servidores

Fica combinado assim: anistia-se quem cometeu crime de caixa dois — a doação e o uso de dinheiro não declarado à Receita e à Justiça para financiar campanhas eleitorais. Anistia-se também quem cometeu o crime de lavagem de dinheiro. E para que não reste brecha, anistia-se quem cometeu crime de corrupção. Que tal? É isso o que a Câmara dos Deputados ameaça aprovar, se possível, ainda esta semana.

LAMENTAM OS que desejam anistia para seus crimes que ela não tenha sido aprovada na semana passada. Teria provocado a ira da opinião pública? Certamente. Mas nada que não pudesse ser aplacado em seguida pela onda de satisfação que se levantou no país com a prisão num período de 24 horas de dois ex-governadores do Rio de Janeiro — Sérgio Cabral e Garotinho, acusados de corrupção.

De ladeiras e pudins - Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Lá vem o Geddel, descendo a ladeira – do “La Vue”. Cabe a Michel Temer decidir se acompanhará seu ministro ladeira abaixo ou se vai dar um empurrão para a descida ser mais rápida. Não é fácil, porém, para o presidente abandonar quem gerencia a articulação política (quando não está empenhado em aprovar projetos imobiliários no Iphan). O dilema de Temer deve-se menos ao futuro do que ao passado. Sua ligação com Vieira Lima sobrevive há duas décadas, passou por quatro presidentes da República.

Na era FHC, em meados dos anos 90 do século passado, ambos faziam parte da Turma do Pudim. Reunidos semanalmente em torno de um prato de comida, Temer, Geddel, Renan Calheiros, Eliseu Padilha e Jader Barbalho decidiam o que o PMDB queria do governo tucano. Quem transmitia os recados era Henrique Eduardo Alves.

O atraso no comando - Marcos Nobre

- Valor Econômico

• A ameaça vem em forma de chantagem: anistia geral ou caos

Ainda ontem se podia consultar no site oficial do PSDB a transcrição de uma conversa entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o então senador pelo PT Cristovam Buarque. Está datada de 29 de novembro de 2004. Cristovam já era ex-ministro da Educação do governo Lula e viria a sair do PT no ano seguinte, quando do aparecimento da denúncia do mensalão.

Na conversa, FHC responde nos seguintes termos a uma pergunta de Cristovam sobre as brigas entre PT e PSDB impossibilitarem "um trabalho": "Não discutimos nem disputamos ideologia. É poder, é quem comanda. Minha ideia para o Brasil é a seguinte: você tem uma massa atrasada no país, e partidos que representam esse atraso, clientelismo. Os dois partidos que têm capacidade de liderança para mudar isso são o PT e o PSDB. Em aliança com outros partidos. No fundo, disputamos quem é que comanda o atraso. O risco é quando o atraso se comanda. É um pouco o negócio do pacto com o diabo, do Fausto, não é? Você pode perder a sua alma nesse processo, porque o atraso pode te comandar".

Apertem os cintos, Trump vem aí! - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Entre a perplexidade e o temor pelo futuro, o mundo recebeu a notícia sobre a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas. Trump fez uma campanha em tom de populismo autoritário, contra o establishment, contra os políticos (já vimos esse filme perto de nós, radicalizando o discurso conservador, mas fora dos padrões tradicionais, em que não foram poucas as declarações desastradas). Trump derrotou não só o Partido Democrata, Hillary Clinton e Obama. Derrotou também todo o sistema político, inclusive o comando institucional do próprio Partido Republicano.

A vitória de Trump revela, em meu ponto de vista, um fenômeno universal das democracias contemporâneas: o distanciamento crescente da sociedade do quadro partidário clássico. Há hoje na Europa e nos Estados Unidos um mal-estar com os caminhos da civilização. Os riscos são enormes.

Caldeirão de incertezas – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Se o final de ano já estava com pinta de ser pior do que o previsto, a semana passada lançou ainda mais ingredientes neste caldeirão de incertezas. Para o governo Temer e, principalmente, para o mundo da política brasileira.

Era para ser uma semana tranquila, com feriado no meio. Mas dois ex-governadores foram presos, protestos estouraram nas ruas do Rio e um grupo radical invadiu o plenário da Câmara pedindo a volta dos militares ao poder.

Para complicar ainda mais a semana, o governo bateu cabeça na sexta-feira (18). Ministros falaram línguas diferentes sobre o socorro aos Estados falidos. Eliseu Padilha falou em usar recursos do BNDES. Henrique Meirelles disse que não é possível porque gera despesa.

A globalização sob ataque - Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

• Os líderes populistas sempre acabam por agir de acordo com suas ideias básicas de campanha

A eleição inesperada de Donald Trump reforçou a percepção de que vivemos um forte sentimento de questionamento das condições econômicas e sociais criadas pelo fenômeno da globalização. Uma das causas mais importantes do inesperado sucesso de Trump foi o apoio que sua mensagem de volta a um passado glorioso para a América obteve na sociedade. Ora, volta ao passado glorioso implica naturalmente reconhecer que por trás do voto de protesto exercitado por 40% dos americanos está o repúdio ao fenômeno da globalização econômica e tudo que ela representa para uma parcela importante da classe trabalhadora, que vem se marginalizando, na última década principalmente.

Esta conclusão sobre o sucesso de Trump na última eleição ainda representa uma posição minoritária entre os analistas, mas faz todo o sentido para mim. Por isto é preciso aprofundar a reflexão sobre este fenômeno pois, se ele de fato ocorreu, estamos diante de um evento da maior importância para o futuro da economia mundial. Afinal, todo o arranjo institucional nas relações comerciais, entre países e blocos de países, tem como objetivo fortalecer e intensificar sua integração econômica. Ora, se uma parcela importante da população - com força suficiente para eleger um presidente da República - se posiciona contra este movimento então temos um grande problema pela frente.

A República em fatias – Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O instinto do escorpião é ferroar. O ministro Geddel Vieira Lima acha normal ter uma conversinha sobre imóvel de seu interesse, encrencado no patrimônio histórico, com o colega da Cultura.

Às favas as cautelas do decoro. Que se dane a hiper-reatividade da opinião pública às carteiradas das autoridades. Os tempos sugerem recato aos poderosos, em nome da sua própria sobrevivência, mas ainda assim o escorpião ferroa.

Momento exige humildade e serenidade dos Poderes – Editorial/Valor Econômico

Na última semana, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mais uma vez se engalfinharam em praça pública, enquanto o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, assestou suas baterias na direção do Congresso Nacional, transformado no vilão da crise moral que permeia as instituições. O momento delicado por que passa o país exige mais serenidade e humildade dos homens públicos. O nível de esgarçamento nos Poderes - e entre eles - atingiu níveis intoleráveis.

Não é a primeira vez que uma artimanha surpreende em julgamento do STF. Há poucos dias, o tribunal julgava se réus na Justiça podem ou não assumir a Presidência da República. O alvo original do Rede, partido autor da representação, era o ex-deputado Eduardo Cunha, que até perder o mandato era o segundo na linha sucessória da Presidência da República. O segundo agora é Renan Calheiros, presidente do Senado. O STF caminhava para aceitar a representação, quando o ministro Dias Toffoli resolveu pedir vistas ao processo.

Socorro irresponsável – Editorial/Folha de S. Paulo

Não deveria causar surpresa, mas nem por isso menos indignação, que o governo federal assuma outra vez o custo da irresponsabilidade criminosa de vários governos nos Estados.

A União vai aumentar a sua enorme e também crescente dívida a fim de cobrir o deficit de administrações estaduais, em particular o do Rio de Janeiro, o caso mais escandaloso de todos.

O governo previa receber antecipadamente recursos que emprestara ao BNDES, R$ 100 bilhões. Tal dinheiro abateria dívida federal.

Não mais. Pelo menos parte dos recursos cobrirá gastos correntes dos governos estaduais deficitários. Parte das multas sobre recursos declarados sob o guarda-chuva da Lei da Repatriação, a serem arrecadadas talvez em 2017, também serviriam para atenuar a ruína.

Sofisma no debate – Editorial /O Globo

• O tema do ajuste, aí incluído o orçamento da Saúde, precisa ser discutido sem paixões ideológicas

A opção dos grupos que se opõem ao irrecorrível ajuste das contas públicas (matéria amplamente discutida e em tramitação no Congresso), à luz de dogmas em lugar de argumentos sólidos, faz levar o debate deliberadamente para o terreno do sofisma. Isto porque partem, certamente por má-fé, de um pressuposto equivocado — o de que a PEC 241 (agora, no Senado, renumerada para PEC 55), já aprovada em duas rodadas de votação na Câmara, reduzirá os investimentos públicos na Saúde. Falso.

O ajuste proposto pelo governo não congelará os repasses para o setor. Apenas muda o critério de cálculo das verbas a ele destinadas, passando a reajustá-las pela variação da inflação passada. É uma opção orçamentária correta para um país que, submetido a seguidos anos de degradação das contas, promovida pelo lulopetismo, precisa encontrar um ponto de apoio a partir do qual seja possível estancar a gastança. Uma simples, mas eficiente questão de gerenciamento.

Supersalários – Editorial/O Estado de S. Paulo

Pautada pelo princípio da moralidade na administração pública, a Constituição de 1988 estabeleceu a regra para definição do teto salarial do funcionalismo público no artigo 37, inciso XI, que determina o subsídio pago mensalmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal – hoje fixado em R$ 33.763,00 – como valor-limite para remuneração de todas as demais categorias dos Três Poderes da República.

Apesar do propósito que animou o legislador constituinte, tal norma é letra morta desde sua edição, mais uma a compor o esdrúxulo rol de leis que “não pegam” no País. Jamais foi respeitada. Seja pelo emaranhado de leis que compõem o complexo ordenamento jurídico brasileiro, e que dá azo às mais criativas interpretações, seja pela ineficiência da fiscalização pelos órgãos de controle, milhares de funcionários públicos, hoje, recebem vencimentos muito acima do teto legal. De ascensoristas da Câmara dos Deputados e do Senado a professores de universidades federais, juízes e promotores, a farra imoral dos supersalários, que afronta não apenas o Orçamento, mas a decência dos contribuintes, não é prerrogativa de uma categoria ou de um Poder.

Crise 'federal' sacode ministério de Temer - Angela Bittencourt

- Valor Econômico

• "Não se usa receita variável para despesa corrente", diz Fitch

É cedo para encontros de confraternização de fim de ano. Mas, de tão congestionada, a agenda de autoridades de áreas pública e privada parece antecipar o Natal. Sem entusiasmo ou harmonia. A demissão do agora ex-ministro da Cultura Marcelo Calero e sua fulminante substituição pelo deputado Roberto Freire (PPS-SP) na sexta-feira instauram uma crise de dimensão federal no governo Temer formalizado, em definitivo, há três meses.

Calero deixou a pasta acusando o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria do Governo e muito próximo de Michel Temer, de tê-lo pressionado a elaborar parecer técnico favorável para viabilizar projeto imobiliário em Salvador, Bahia. Geddel negou ter feito pressão sobre o ex-ministro da Cultura que considera "claramente um caso de corrupção" a pressão que diz ter sofrido do colega da Esplanada.

Nesta semana, o ministério de Michel Temer estará desfalcado devido à Missão de Alto Nível a França e Espanha para apresentar as oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil. Compõem a comitiva o ministro Moreira Franco, que lidera o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), o ministro dos Transportes, Maurício Quintela, e o ministro de Minas e Energia Fernando Coelho, além dos secretários Marcelo Allain e Rogério Teixeira Coimbra.

Resta Um – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

Até há pouco, Calicute, para mim, era uma cidade na costa oeste da Índia por onde o Fantasma, personagem de Lee Falk nos quadrinhos, às vezes perambulava em sua luta contra falsários, contrabandistas e bandidos em geral, abundantes por aqueles mares. Quase sempre, o Fantasma chegava até lá na sua identidade de Mr. Walker - óculos escuros, capa xadrez e chapéu -, seguido por seu cachorro Capeto.

Várias aventuras tinham a ver com arcas cheias de joias roubadas, que o Fantasma recuperava e devolvia a seus donos. Não desviava nem um anel para sua noiva Diana Palmer.

Mas, agora, Calicute dá nome à operação da Polícia Federal que prendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral - não por causa da fixação do casal Cabral em colares, relógios, brincos, pulseiras e anéis de luxo, mas por Calicute ter sido onde Pedro Álvares Cabral, à frente da mesma frota que nos descobriu em 1500, viu-se em águas de bacalhau, atacado por piratas árabes que tentavam impedi-lo de negociar com o governo local. Sim, é uma ligação tênue, a dos sobrenomes iguais. Mas de uma sofisticação a toda prova.

Aliás, quem dá os nomes às fases dessas operações? Só pode ser um intelectual da polícia, porque eles são surpreendentes, emprestados do latim ou do grego, tirados de títulos de óperas ou de romances clássicos, e só fazem sentido quando se sabe quem é o alvo da busca e apreensão, condução coercitiva ou prisão preventiva naquele dia. Pouco depois, a cada nova fase, os nomes anteriores voltam a ficar incompreensíveis.

Alguns deles: My Way, Erga Omnis, Politeia, Pixuleco (um dos mais famosos), Nessum Dorma, Crátons, Vidas Secas, Catilinárias, Triplo X, Acarajé, Xepa, Aletheia, Vitória de Pirro, Janus, Sepsis, Pripyat, Caça-Fantasmas, Metis, Omertà, muitos mais.

Mas meu favorito continua sendo o Resta Um.

A Chuva Cai Sobre o Recife – Mauro Mota

A chuva cai sobre o Recife devagar,
banha o Recife, apaga a lua, lava a noite, molha o rio,
e a madrugada neste bar.
A chuva cai sobre o Recife devagar.
A chuva cai sobre o telhado das casinhas de subúrbio,
canta berceuses a doce chuva. É a voz das mães
que estão no canto de onde a chuva agora veio.
A chuva cai, desce das torres das igrejas do Recife,
corre nas ruas, e nestas ruas, ainda há pouco tão vazias,
agora passam, de capote, transeuntes
do tempo longe, esses fantasmas de mãos frias.