quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

2017 e o que vem por aí - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

Este 2017 que acaba de nascer exigirá dos analistas do Ocidente a elaboração de dois grandes balanços: o dos 100 anos da Revolução Russa e o dos 500 anos da Reforma Protestante. Estes dois megaeventos mudaram a história e continuam produzindo consequências que não serão dissipadas tão cedo.

Mas há uma enxurrada de fatos que deverão brotar de um mundo e de um ano que começa movido por enormes incertezas. (Esta Coluna limita-se aqui a examinar o cenário global.) Não se sabe, por exemplo, o que será a administração Donald Trump, nem até onde vai o expansionismo de Vladimir Putin, nem como se comportará a China, que vem sendo desafiada tanto pelos norte-americanos como pelos russos.

Independentemente dessas questões, importantes macrotendências começam a se alinhar e tomarão corpo ao longo dos próximos meses.

A primeira delas é a forte disseminação da nova tecnologia digital. O setor produtivo será redesenhado pelos aplicativos e pelas técnicas 4.0, que aumentarão a produtividade na indústria, na agricultura e no setor de serviços e pouparão mais mão de obra.

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Embora a idade do petróleo ainda esteja longe do fim, é inevitável a substituição da energia de fonte fóssil pela energia renovável. O automóvel, que dominou a indústria e a cultura ao longo do século 20, enfrenta crescente rejeição, não só porque polui, mas, também, porque atravanca as cidades. Ganham força os veículos elétricos e os movidos sem condutor.

Outra macrotendência é a gradativa perda de importância do emprego, tal como hoje conhecemos. A principal causa da destruição de postos de trabalho no Ocidente não é a agressiva atuação produtiva e comercial da China e dos tigres asiáticos, como vem denunciando o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, mas o aumento da utilização, agora inevitável, da nova tecnologia.

Os movimentos antiglobalização, a perda de importância das instituições multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), as novas afirmações isolacionistas, como o Brexit, o populismo nacionalista e a crescente rejeição da imigração são manifestações do mesmo fenômeno. A difusão desse mal estar não vem acompanhada de propostas de um modelo melhor do que esse que está aí.

A população mundial está envelhecendo rapidamente. Estudo da ONU mostra que, em 2050, o planeta terá 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 1950, eram 200 milhões (veja o gráfico). Trata-se de fenômeno demográfico destinado a produzir profundas consequências econômicas e políticas. Por toda parte, a administração pública terá, por exemplo, menos escolas para cuidar, mas terá de proporcionar mais serviços para a população mais velha. As políticas públicas de saúde terão de focar mais as doenças degenerativas do que as infecciosas. E uma população mais idosa tende ao conservadorismo, não apenas na escolha dos seus dirigentes, mas, também, na administração das finanças, com grande impacto sobre o investimento.

Os atuais mecanismos de financiamento dos sistemas de previdência estão se esfacelando na medida em que o emprego vai diminuindo e a expectativa de vida aumenta no mundo inteiro, em todas as classes sociais. E este será crescente foco de insegurança.

Pelas mesmas razões, as bases do estado de bem-estar social também começam a ser abaladas. Fica mais difícil obter recursos para o seguro-desemprego e para a universalização dos serviços de saúde e de educação.

Vem aí um admirável mundo novo, mas não necessariamente melhor.

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