quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

São Paulo, síntese do Brasil - Roberto Freire

- Diário do Poder

Milhões de paulistanos foram às ruas, às praças, aos parques, aos museus e aproveitaram o dia 25 de janeiro para celebrar o aniversário de São Paulo e expressar o seu amor pela metrópole cantada em prosa e verso por Caetano Veloso em “Sampa”. Aquela que, nas palavras do cantor e compositor baiano, é o “avesso do avesso do avesso do avesso”.

Aos 463 anos, São Paulo tem imensos problemas, mas também enormes qualidades. Megalópole multicultural, a cidade se formou e cresceu graças ao trabalho de brasileiros de todas as regiões do país, além de imigrantes e descendentes de diversos países do mundo. Pujante, rica e acolhedora, a capital paulista reúne um pouco de cada canto do Brasil, em uma mistura de etnias, cores, nacionalidades e crenças que exprime nossa diversidade cultural. São Paulo é, de certa forma, uma síntese perfeita da identidade nacional do brasileiro.

A maior cidade do país já há muito se consolidou como uma metrópole cultural que se equipara aos grandes centros do planeta. Até 2014, segundo dados do Observatório do Turismo da Cidade de São Paulo fornecidos pela SPTuris, a capital oferecia à população nada menos que 101 museus, 164 teatros, 39 centros culturais, 146 bibliotecas, 111 parques e áreas verdes e 282 salas de cinema. Nas festividades dos 463 anos, locais como o Centro Cultural São Paulo, a Biblioteca Mário de Andrade, o Theatro Municipal, o MASP e até o Mercado Municipal receberam espetáculos musicais e apresentações teatrais especialmente dedicadas aos paulistanos.

A maior cidade brasileira oferece um calendário de atrações e eventos ao longo do ano para os mais variados públicos, entre os quais se destacam a Bienal do Livro, a Bienal Internacional de Arte, o Salão do Automóvel, a Mostra Internacional de Cinema, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, a Parada do Orgulho LGBT, o Réveillon na Paulista ou a Virada Cultural. Esta última, criada em 2005 pelo então prefeito José Serra, rapidamente caiu no gosto da população e se expandiu por todo o estado, hoje mobilizando inúmeras cidades do interior.

Ainda na área cultural, é preciso lembrar que São Paulo, já há alguns anos, literalmente enterrou a fama de “túmulo do samba”. Somente neste ano de 2017, segundo dados da Prefeitura, cerca de 500 blocos carnavalescos estão cadastrados para tomar as ruas ao ritmo das tradicionais marchinhas e de sambas históricos e atuais. O carnaval de rua conquistou a cidade e vem se afirmando como um dos maiores do país, oferecendo uma alternativa para além do já consagrado desfile das escolas de samba no Anhembi.

O viés cultural de São Paulo é forte e tem crescido nos últimos tempos também devido a uma eficiente articulação entre o governo paulista e suas estatais e autarquias, incentivando parcerias para que estas invistam em projetos culturais via incentivo fiscal. Recentemente, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) manifestou interesse em patrocinar o projeto de reforma e reconstrução do Auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina, atingido por um incêndio em 2013. Estamos trabalhando para que as empresas públicas federais, que já muito contribuem nesse sentido, possam participar ainda mais e ter conosco uma interação maior, inclusive na definição de políticas públicas para o setor.

Ao contrário do que alguns apregoam, São Paulo não é conservadora, tampouco reacionária. É, fundamentalmente, uma cidade progressista e vanguardista sob todos os aspectos – morais, sociais, políticos e culturais. Em São Paulo, a diversidade é ampla e visível, há um leque infindável de opções para todas as tribos, além de um pensamento mais tolerante, avançado e conectado ao mundo do século XXI. São Paulo é contemporânea do futuro.

O Brasil está refletido em São Paulo, uma cidade do tamanho de um país. Parabéns, São Paulo.

“(...) Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas,
da força da grana que ergue e destrói coisas belas.
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas,
eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços,
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva.

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba,
mais possível novo quilombo de Zumbi.
E os Novos Baianos passeiam na tua garoa,
e novos baianos te podem curtir numa boa.”

“Sampa” (Caetano Veloso)

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Roberto Freire é ministro da Cultura

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