segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Dados parecem indicar que o pior ficou para trás – Editorial | Valor Econômico

São inegáveis os sinais de mudança de humor na economia. Os dados disponíveis, embora ainda incipientes, parecem indicar que o pior da crise econômica ficou para trás. Há indicadores que alimentam a esperança de que a retomada do crescimento já teve início ou está próxima de acontecer.

O ânimo que começa a tomar conta dos empresários foi reforçado pela divulgação da taxa de inflação de janeiro, que ficou em 0,38%, o mais baixo para o mês da série histórica do IBGE. O indicador é importante por, pelo menos, dois motivos.

Em primeiro lugar, ele reforça a convicção de que o Banco Central poderá continuar em ritmo forte de redução da taxa básica de juros da economia (a Selic), sem que isso cause desconfiança. A constatação de que o BC está reduzindo a taxa de juros de forma sustentável melhora o ambiente de negócios, pois dá previsibilidade aos empresários.

Depois, a queda continuada da inflação resultará em aumento da renda real da população, ou seja, em aumento da capacidade de consumo das famílias. Não é possível falar em volta do crescimento econômico sem melhoria no poder aquisitivo da população. O aumento do consumo dependerá também da normalização das operações de crédito, que foram afetadas pelo elevado endividamento das famílias e das empresas

A recente melhora do ambiente foi constatada por pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). O Índice de Confiança Empresarial (ICE) - que agrega os setores de serviço, indústria, construção civil e comércio - subiu 3,8 pontos percentuais entre dezembro e janeiro. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu de 73,1 pontos para 79,3 pontos - a maior alta desde janeiro de 2006. Embora avançando, os dois índices continuam em terreno pessimista.

Os chamados indicadores antecedentes da atividade econômica para janeiro ainda não são conhecidos. Mas, em dezembro, eles apresentaram melhora significativa. A produção de papelão ondulado, caixa, acessórios e chapas, um dos indicadores clássicos do nível da atividade, apresentou um crescimento de 1,3% na comparação com o mês anterior, já dessazonalizado.

Um dos dados mais impressionantes foi a elevação de 4,8% no movimento do pedágio de veículos pesados em dezembro, em comparação com novembro. O consumo de energia elétrica, outro indicador antecedente clássico do nível de atividade, subiu 0,6%, enquanto as importações do país apresentaram elevação de 3,7%.

Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que houve crescimento de 3,9% nos investimentos em dezembro, na comparação com novembro de 2016, na série com ajuste sazonal.

Apesar da melhoria da confiança de empresários e consumidores, porém, alguns dados de janeiro não reagiram. O licenciamento de veículos (automóveis, comerciais leves, motocicletas, caminhões e ônibus) medido pela Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, recuou 3,2% de dezembro para janeiro, segundo cálculos dessazonalizados pela MCM Consultores.

O movimento das lojas da cidade de São Paulo caiu 5% em janeiro sobre igual mês de 2016, com retração de 3,8% e 6,2% nas compras a prazo e à vista, respectivamente, segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

De outro lado, o índice da FGV que mede o nível de utilização da capacidade instalada da indústria (Nuci), avançou de 72,9% para 74,6% de dezembro para janeiro.

Embora ainda contraditórios, a maioria dos dados disponíveis parece apontar na direção da retomada do crescimento. Ela pode não acontecer no primeiro trimestre deste ano, que poderá registrar uma estabilização econômica, como projeta parte expressiva dos analistas do mercado. Mas tudo indica que no segundo trimestre o país já estará crescendo.

O clima de maior otimismo parece resultar da constatação feita pelo economista Armínio Fraga, em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ele disse que "aquela sensação de que o Brasil era um trem desgovernado passou". E, convenhamos, isso não é tudo, mas também não é pouco. Cabe ao governo continuar encaminhando as reformas econômicas indispensáveis para o equilíbrio das contas públicas e para a melhoria do ambiente de negócios.

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