sábado, 25 de fevereiro de 2017

Deputado que peitou Temer brada contra governo no Carnaval baiano

Daniela Lima | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Todo mundo ouviu um pedaço da história repetida animadamente pelo deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) a políticos e empresários, na noite de quinta (23), enquanto circulava por um dos mais badalados camarotes do Carnaval de Salvador.

Alçado recentemente à vice-presidência da Câmara, narrou a mais de uma dezena de pessoas a discussão que teve na véspera com o presidente Michel Temer.

Na tarde daquele mesmo dia, inconformado com a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, Ramalho deu entrevistas avisando que havia rompido com o governo.

À noite, já em Salvador, subiu o tom das ameaças ao falar num ambiente com deputados federais, estaduais, prefeitos e empresários.

Um dos presentes conta que Ramalho disse ter sido responsável pela queda de Dilma Rousseff e ameaçou fazer o mesmo com Temer. "Quem tem voto na Câmara sou eu", bradou, de acordo com os relatos.

Questionado pela Folha sobre a noite de fúria no camarote em Salvador, Ramalho usou de ironia. "Não tô me achando forte, não", disse. "Hoje eu tô fraco. Há oito anos eu era forte. Há oito anos eu era mais próximo de Michel." O deputado negou que tenha dito que vai "derrubar" o presidente.

"Aqui não é lugar de derrubar ninguém. Quem falou isso é mentiroso e vagabundo. Quem falou isso? Bota na minha frente!"

Ramalho afirmou que "gosta muito" de Temer e que vai ajudá-lo "naquilo que achar bom para o Brasil". "Mas vou ter, sim, diferenças políticas", concluiu.

Segundo os relatos, ele encerrou a noite dizendo que se lançaria a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018.

"Eu não falei que queria ser vice, não. Mas se o Lula quiser conversar comigo, eu tô aberto pra falar."

PORCO NO ROLETE
Fabinho Ramalho, como o deputado é chamado na Câmara, é mais reconhecido pelos colegas pelas recepções que oferece do que pela atuação parlamentar.

É quase tradição que, em dias de sessões longas, o deputado ofereça um jantar aos seus pares –seu prato mais conhecido é o porco no rolete. Recentemente, porém, o "Fabinho boa praça" saiu de cena. Colegas de bancada dizem que ele mudou depois que deixou o "baixíssimo clero" para ocupar a vice-presidência da Câmara.

Eleito com 264 votos, após se lançar para o cargo à revelia do partido, passou a se considerar um influenciador dos rumos da Casa.

As negativas do deputado não impediram que os relatos sobre a noitada chegassem ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Integrantes do PMDB dizem que Ramalho "sempre foi louco", mas "agora está com mania de grandeza".

Passaram a compará-lo com Waldir Maranhão (PP-MA), o deputado pouco expressivo que foi eleito vice de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e chegou à presidência da Casa quando o peemedebista foi afastado pela Justiça.

Durante seu curto mandato, Maranhão anulou o impeachment de Dilma com uma canetada. Ramalho, no entanto, diz que faz política "como Juscelino Kubitschek, ouvindo". "Sou católico, correto. Tem que conhecer um homem como eu."

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