quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Em meio a protestos, governo do Rio recompõe base para votar pacote

Lucas Vettorazzo – Folha de S. Paulo

RIO - A sessão que marcou o retorno do recesso do Legislativo no Rio pareceu um dia de 2016. Enquanto parlamentares reelegiam Jorge Picciani (PMDB) para o sexto mandato à frente da Alerj (Assembleia Legislativa), servidores e policiais entravam em conflito do lado de fora.

Radicalizados em razão dos salários atrasados e da possibilidade de terem descontos ainda maiores em seus vencimentos em razão do pacote de ajuste financeiro do Estado, servidores forçaram as grades instaladas no entorno da Alerj, no centro.

Homens da PM e da Força Nacional reagiram com bombas de gás lacrimogêneo, efeito moral e balas de borracha. Parte dos servidores revidou com pedras e rojões.

A polícia avançou com força, empurrando para longe da Alerj o protesto, que tomou as principais ruas do centro.

A situação fugiu do controle em diversos pontos. Um ônibus foi incendiado.

A PM divulgou que prendeu um policial civil que participava da manifestação e supostamente disparou uma pistola de munição letal.

BASE RECOMPOSTA
O início do ano legislativo marcou também o movimento de recomposição da base parlamentar que dá sustentação ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O pacote de ajuste apresentado no ano passado para debelar a grave crise financeira no Estado encontrou resistência no Parlamento –10 das 21 propostas foram rejeitadas.

O governo do Rio partiu, então, para a negociação bilateral com a União e fechou um acordo em janeiro. Ficou acertado que o Tesouro vai repactuar a dívida do Estado e dará aval para empréstimo, em troca de contrapartidas.

Elas incluem a venda da Cedae, a empresa de água e esgoto, cujas ações seriam dadas como garantia de um empréstimo. A venda, avaliada em R$ 3,5 bilhões, pagaria três folhas salariais do Estado.

Há também a proposta de aumento do desconto previdenciário no salário dos servidores, dos atuais 11% para 14%. Seria acrescida ainda mais uma alíquota de 8% nos próximos três anos.

Os parlamentares começarão a analisar as medidas no dia 7. A avaliação nos bastidores é que a aprovação do pacote é a última tábua de salvação de Pezão no cargo.

Ao ver sua proposta inicial de ajuste naufragar, Pezão abriu mão das propostas que visavam "cortar na carne".

Revogou a redução de seu próprio salário e voltou atrás na extinção de secretarias. Pezão, que afirmou que cortaria de 20 para 12 secretariais, manteve 18 pastas.

Houve também trocas de cadeiras no Parlamento que favoreceram que a balança pendesse para o Executivo.

Três deputados foram nomeados secretários estaduais. Outros dois que ocupavam cargos no Executivo –Rafael Picciani (PMDB), que era secretário de Eduardo Paes, e André Correa (DEM), que foi secretário de Pezão– retornaram à Assembleia e vão votar com o governo.

A própria eleição de Picciani mostrou a correlação de forças na Assembleia –foram 64 votos a favor de sua recondução, em chapa única, e apenas 6 contra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário