quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Salários têm 1º ganho real após 20 meses

Por Camilla Veras Mota | Valor Econômico

SÃO PAULO - Os reajustes salariais negociados em convenções e acordos coletivos no país tiveram em janeiro o primeiro ganho real em 20 meses, de 0,4%, conforme o boletim Salariômetro, a ser divulgado hoje pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Em termos nominais, o aumento mediano foi de 7%, diante de uma inflação de 6,6% acumulada nos 12 meses até dezembro.

A análise de 1.194 documentos protocolados no sistema Mediador do Ministério do Trabalho mostrou ainda que a proporção de correções abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) atingiu o menor nível em pelo menos um ano, 25,9% do total. No mesmo período do ano passado, quando a inflação passava de dois dígitos, essa fatia chegou a 67,9%. A mediana dos pisos salariais, por sua vez, ficou em R$ 1.011, 7,9% mais do que o salário mínimo vigente no período, R$ 937 - que cresceu 6,5% sobre o nível de 2016, de R$ 880.


O dado positivo do mês passado é resultado direto da desaceleração forte da inflação nos últimos meses, afirma o coordenador do boletim e professor da FEA/USP, Helio Zylberstajn. O desempenho ainda bastante incipiente da atividade, acrescenta, segue limitando o poder de barganha dos sindicatos e não justifica a reversão da tendência que permeou praticamente os últimos dois anos. "Mas [o ganho real] não deixa de ser boa notícia", diz ele, que espera novos dados positivos nos próximos meses.

No ano passado, os acordos e convenções assinados entre janeiro e março, levando em conta a mediana, tiveram perda real de 0,7%, de 0,3% e de 0,4%, nessa ordem. Em todos os meses seguintes, até dezembro, a correção nos salários empatou com o INPC.

O ramo de condomínios e edifícios está no topo do balanço de reajustes por setor nos últimos 12 meses, com ganho real mediano de 1,42% observado entre 143 acordos. Os bancos e serviços financeiros vêm na sequência, com 0,44%, mediana das informações coletadas em 49 documentos. Funcionários de cemitérios e funerárias auferiram ganho de 0,36% e os de confecção e vestuário, 0,18%.

Na outra ponta estão os trabalhadores do segmento de artefatos para pesca e esporte, com perda real de 12,3% nos salários e dois documentos protocolados no ministério, seguidos pelos funcionários de empresas jornalísticas (-3,3%) e da área de extração e refino de petróleo (-2,9%).

A estimativa da folha salarial dessazonalizada trazida também pelo boletim mensal dá ideia de como a deterioração do mercado de trabalho ainda afeta o consumo. Em novembro, último dado disponível, a folha recuou 0,08% sobre outubro e passou a somar R$ 98,95 bilhões, 4,7% menos do que no mesmo intervalo do 2015, R$ 103,8 bilhões. O exercício é feito a partir dos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) feitos pelas empresas à Caixa, que corresponde a 8% do salário bruto dos funcionários.

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