terça-feira, 30 de maio de 2017

Com crise política, mercado já prevê queda mais gradual de juros

Analistas estimam que Banco Central reduzirá taxa em 1 ponto amanhã

Gabriela Valente | O Globo

-BRASÍLIA- A instabilidade do presidente da República, Michel Temer, já contaminou as expectativas em relação à economia brasileira. Os especialistas alteraram as previsões para a condução da política de controle da inflação. As apostas são que o Banco Central será mais conservador, e a queda dos juros se dará de forma gradual. Essas previsões podem continuar a mudar a partir de amanhã, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgar suas considerações sobre os impactos da crise no cenário econômico do país.

Na reunião, os diretores devem optar por manter o ritmo de queda da taxa básica (Selic) em 1 ponto percentual. Com isso, o juro cairia dos atuais 11,25% ao ano para 10,25% ao ano. Daí para frente, os cortes devem ser reduzidos.

A ideia é que o BC chegará até dezembro com uma Taxa Selic de 8,5% ao ano. O que mudou na cabeça dos economistas — ouvidos na pesquisa semanal Focus, feita pela própria autoridade monetária —é o caminho que será traçado para alcançar esse patamar.

Até a semana passada, os analistas previam uma nova queda de mais 1 ponto percentual, em julho, e outras duas de 0,5 ponto percentual em seguida. Agora, projetam que o BC diminuirá o ritmo para 0,75 ponto percentual em julho. Em seguida, reduziria o passo para 0,5 ponto percentual e finalizaria o ciclo de queda da Selic com duas baixas de 0,25 ponto percentual.

À ESPERA DA REUNIÃO DO COPOM
Essas expectativas podem mudar ao sabor do comunicado do Copom, que será publicado logo após à reunião. Na quarta-feira, às 18 horas, o mercado deve ter uma leitura melhor do que o BC enxerga pela frente. Até lá, as transações estão sensíveis ao noticiário político.

“No Brasil, o mercado deve seguir atento ao ambiente político. O mercado de juros deve reagir à evolução das projeções do Boletim Focus (pesquisa do Banco Central com integrantes do mercado financeiro), também à espera da reunião do Copom, com decisão de política monetária a ser anunciada na quarta-feira”, resumiu o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, em comunicado aos clientes.

Toda essa turbulência política causa uma insegurança nos analistas por um simples motivo: o governo já não teria mais força para aprovar a reforma da Previdência, necessária para equilibrar as contas públicas e fazer com que a dívida do país pare de crescer. A reorganização das aposentadorias era vista como a possibilidade de ser feito um relevante corte de juros.

— O estrago feito até agora é o adiamento ou até o possível cancelamento da reforma da Previdência. O Banco Central pode rever o fim do ciclo de corte dos juros — disse a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, que complementou. — A queda dos juros está condicionada à reforma e à amplitude dela. O fim do ciclo pode ser até em 9,5% ao ano porque, hoje, o mercado acredita que alguma parte da reforma ainda vai ser aprovada, não necessariamente com o presidente Temer no poder.

Com toda essa incerteza no cenário, os analistas revisaram as estimativas para a inflação. Após onze semanas de queda, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017 registrou uma leve alta: subiu de 3,92% para 3,95%. Já para o ano que vem, a estimativa passou de 4,34% para 4,40%.

Mesmo com a alta das expectativas, a inflação deve encerrar 2017 e 2018 dentro da meta para os dois anos, que é de 4,5%.

Os efeitos da crise também são sentidos em relação à atividade. Na perspectiva do mercado financeiro, a recuperação será ainda mais lenta. Houve pequeno recuo para as taxas de crescimento da economia brasileira. A estimativa é que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) fique em 0,49% em 2017 — ante 0,50% na semana anterior — e em 2,48% em 2018 — frente a 2,50% na semana anterior.

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