quinta-feira, 4 de maio de 2017

Desemprego, moeda única e UE são centro de debate agressivo na França

Le Pen e Macron, que disputam o segundo turno da eleição presidencial francesa no domingo, opuseram visões antagônicaso: uma protecionista, outra pró-globalização

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

PARIS - O desemprego, o euro e o futuro da União Europeia marcaram nesta quarta-feira o único debate antes do segundo turno da corrida ao Palácio do Eliseu entre Emmanuel Macron e Marine Le. Em um debate marcado por acusações mútuas, os candidatos opuseram duas visões antagônicas sobre o mundo: uma protecionista, outra pró-globalização.

O debate entre dois turnos é uma tradição que há décadas mobiliza a França. Em 2017, a linha do confronto entre Macron e Le Pen foi clara: o primeiro a acusou de não dispor de um projeto, de ser despreparada e de apelar a mentiras e à política do medo. Ela tentou colar em seu oponente a imagem elitista, de herdeiro do governo do socialista de François Hollande.

Le Pen iniciou o debate com uma apresentação que se transformou em ataque frontal ao rival. “Macron é a escolha da globalização selvagem, da uberização, da precariedade, da guerra de todos contra todos, do saque econômico, em especial do desmantelamento dos grandes grupos da França.”

Macron demonstrou pouca paciência com a estratégia de Le Pen. “Você é a herdeira de um sobrenome, de um partido político, de um sistema que prospera nas costas da cólera dos franceses há muitos e muitos anos”, afirmou Macron, referindo-se ao líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, pai de Marine. “Frente a esse espírito de derrota, eu porto o espírito de conquista dos franceses. A França sempre foi bem-sucedida nesse mundo.”

Após um momento de intensa troca de farpas, os dois candidatos foram instigados a falar sobre seus programas econômicos. Macron explicou seu projeto de reforma do mercado de trabalho. “Eu desejo um Direito do Trabalho que não seja como hoje é, determinado para todos os lados, mas que possa deixar espaço para os acordos majoritários com os sindicatos nas empresas e nos setores da economia”, explicou Macron, garantindo priorizar “a luta contra o desemprego”.

Le Pen tomou a palavra a seguir, mas não apresentou seu programa de governo, preferindo atacar as medidas do adversário, lembrando de seu balanço como ministro da Economia de Hollande. “Seus resultados foram extremamente ruins. Essa é a única verdadeira questão que devemos nos colocar. Você teve as mãos livres para aplicar sua proposta política. Essa política foi catastrófica. Você privilegiou os grandes grupos”, disparou.

Le Pen abordou então o tema da saída da UE e da zona do euro, proposta pela nacionalista. A estratégia de Macron foi deixá-la falar, aproveitando-se das recentes contradições da candidata. Em certo momento, a representante da Frente Nacional cometeu um erro crasso, ao afirmar que o Reino Unido havia “deixado a zona do euro” – quando o país jamais adotou a moeda única.

“O euro é a moeda dos banqueiros, não é a moeda do povo. É preciso que arranquemos essa moeda”, voltando a defender o retorno do franco, a moeda francesa. “A senhora propõe sair do euro. Eu digo que é um projeto fatal”, respondeu Macron.

Os candidatos discutiram ainda temas como a reforma do seguro social, educação e política externa, e voltaram a se chocar frontalmente sobre terrorismo. “Você não apenas não tem projeto, mas é complacente com o fundamentalismo islâmico”, acusou Le Pen. Macron respondeu: “Não diga besteiras e fale de seu projeto”.

Uma primeira pesquisa de opinião realizada pelo instituto Elabe a respeito da performance dos candidatos, indicou que Macron teria vencido o embate segundo 63% dos franceses, contra 34% que teriam apontando Le Pen como melhor no encontro. O segundo turno da eleição presidencial francesa ocorre no domingo.

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