sexta-feira, 23 de junho de 2017

Arminio vê política pior do que a economia

Lisboa, do Insper, diz que sociedade precisa se manifestar ou será cúmplice

Ana Paula Ribeiro, O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga vê a crise política como mais preocupante e séria que a situação econômica e, em um cenário de baixa previsibilidade, a saída é torcer para “alguma coisa dar certo”. Em sua visão, o ideal é que a atual situação abrisse espaço para o surgimento de lideranças políticas que tivessem uma visão de maior eficiência para o Brasil.

— O governo está em uma trajetória insustentável. O problema político no Brasil é muito maior que o econômico, que não é pequeno. Não existia respeito nos políticos, mas ao menos as instiseria tuições vinham funcionando. De repente, além de um zigue-zague na economia, vimos um ziguezague na estabilidade das instituições. Resolver esse problema deveria sair na frente para, aí sim, destravar a economia — afirmou, acrescentando que as decisões do Judiciário não podem ser pautadas por visões políticas ou econômicas.

Durante palestra promovida pela XP Investimentos, em São Paulo, Arminio afirmou que, no cenário atual, o que se vê são políticos do “Brasil Velho” tentando se salvar e que, embora algumas medidas econômicas positivas, como o teto dos gastos, tenham sido aprovadas e farão efeito em cerca de cinco anos, não há uma previsibilidade para o curto prazo, incluindo aí o período eleitoral, no ano que vem.

— Não conseguimos enxergar os próximos 18 meses. Os partidos estão todos enrolados, e é preciso torcer para alguma coisa dar certo. O melhor cenário dar espaço para lideranças que tenham uma visão de maior eficiência para o Brasil — disse Arminio, sem citar nomes e lembrando que, mesmo que surjam essas lideranças, os políticos do “Brasil Velho” ainda estarão presentes.

O presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que o Brasil estava em uma trajetória de recuperação econômica com ajuste fiscal mais consistente até a divulgação da delação premiada dos executivos da JBS, em 17 de maio. Após essa data, porém, a agenda de reformas deixou de avançar.

— A política fiscal e a monetária estavam funcionando, e a agenda de reformas avançava. Agora temos o risco de chegar em 2018 com a casa mais desarrumada, e a política ficará ainda mais imprevisível — afirmou Lisboa.

Ele ainda fez uma crítica à sociedade civil, que deveria cobrar as reformas e não se calar quando grupos organizados tentam manter seus benefícios:

— Vemos uma resistência às mudanças por parte das corporações e um silêncio da sociedade civil. Se a sociedade civil não se manifesta, ela é cúmplice de seu fracasso. Não vamos ter um ajuste fiscal se não fizermos muitas reformas.

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