domingo, 11 de junho de 2017

O papel do BC | Míriam Leitão

- O Globo

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que o sistema financeiro é resiliente e robusto e informou que têm sido feitos testes de estresse, olhando a situação de hoje, para verificar a situação dos bancos. Ele acha que a economia brasileira tem todas as condições de passar bem pela crise política que o país vive. “O BC tem um papel a cumprir e vai seguir este caminho”, disse.

Ilan completou, na sexta-feira, um ano no cargo no meio de uma situação de total incerteza política. Tanto que essa palavra apareceu 17 vezes na última Ata do Copom, mas ele diz que a instituição está “serena”. Sobre a mudança do ritmo de corte da taxa de juros, admite outros cenários para a política monetária:

— A queda de um ponto ninguém pode dizer que é um ritmo fraco, é veloz em qualquer medida. Agora, a gente avalia se pode continuar na mesma velocidade. A nossa questão nunca é política, e sim econômica, olhando a inflação.

A inflação está em 3,6% em 12 meses. Quando ele assumiu, estava em 9,3%. O quadro é o melhor possível neste momento para a queda de juros e o país ainda está com um nível de atividade muito fraco. Por isso, perguntei a Ilan se, do ponto de vista dos fundamentos econômicos, fazia sentido reduzir o ritmo de queda dos juros:

— Nós sempre falamos que, se o governo conseguisse passar as reformas e ajustes, isso permitiria a inflação cair e ficar sustentável. Agora as probabilidades de ajuste e reformas ficaram menores e não podemos ignorar o fato porque essas reformas são importantes para reduzir a taxa de juros estrutural da economia. O sinal que o Banco Central deu é de pensar um pouco mais. Não dissemos que, com certeza, vamos tomar certa atitude na próxima reunião. A gente disse que isso é o mais provável, mas vamos olhar a situação da economia e inflação. Isso vai ser o nosso guia. Indicamos apenas o que é o mais provável.

Ele diz, contudo, que, se não houver reformas, é normal que isso afete as expectativas. E que não dá para achar que a variável fiscal, que é o sustento da estabilidade, não terá influência.

Perguntei se era possível permanecer a atual equipe, mesmo na eventualidade de queda do governo Temer:

— O BC tem um papel a cumprir e vai seguir este caminho. A minha posição é técnica e de tentar contribuir. O BC tem um papel a contribuir, mesmo quando tudo está perfeito. Se há incerteza e volatilidade, esse papel aumenta.

Ilan acha que a economia brasileira, neste momento, tem muitos pontos positivos em comparação a outras crises:

— Temos uma situação robusta e com mais amortecedores que tinha antes. No passado, qualquer crise tinha a ver com balanço de pagamentos. Eram as crises gêmeas. Desta vez, temos um déficit (externo) de 1% do PIB, mas temos 4,3% de Investimento Direto Estrangeiro. Quatro vezes mais. Temos US$ 377 bilhões de reservas. O swap cambial saiu de US$ 110 bilhões para US$ 18 bilhões no dia 17 de maio, quando foram divulgadas as gravações. Obviamente, o BC deixará o câmbio flutuar. Se há risco, ele sobe; se não, ele cai. Mas o swap dá o conforto de não ter exageros e pânicos. No dia 18 isso foi importante porque todos os mercados bateram no limite de alta, não havia preço, ninguém sabia a que preço vendia e a que preço comprava.

Na quinta-feira, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef ) se reuniu para avaliar mais uma vez o sistema bancário. E o que ele faz, segundo Ilan, é análise constante da solidez do sistema financeiro:

— Nós vivemos um teste de estresse vivo e real nos últimos dois anos e o sistema se comportou muito bem.

Perguntei sobre as decisões dos bancos públicos de se proteger contra o risco JBS. Ele disse que todas as decisões precisam ser tomadas de forma técnica e por razões técnicas. Seja nos bancos privados ou públicos. Ilan disse também que a MP que foi baixada dias atrás, e que aumenta os poderes do BC de punir os bancos, vinha sendo discutida desde 2012 e não tem a ver com a conjuntura. Ilan Goldfajn explicou que a lei que estabelece essas punições para o mercado financeiro, por crimes como lavagem de dinheiro, é de 1964. Limitava as penas a R$ 250 mil. Pela nova MP, que aliás foi criticada pela Lava-Jato por dar ao BC o direito de celebrar acordo de leniência, a punição pode chegar a R$ 2 bilhões.

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