sexta-feira, 14 de julho de 2017

Em terreno movediço | Rogério Furquim Werneck

- O Globo

Há mais torcida do que análise na convicção do mercado de que, haja o que houver no Planalto, equipe econômica será preservada

A caravana de Temer avança em terreno movediço. Chama a atenção a rapidez com que o quadro político vem mudando, desde que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia criminal contra o presidente.

Passadas três semanas, o plano de jogo do Planalto já não parece tão fácil. Às voltas com um contundente parecer favorável à admissibilidade da denúncia, apresentado por relator do seu próprio partido, Temer viu-se obrigado a apelar para o jogo bruto da substituição de mais de uma dezena de titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, para impedir que tal parecer viesse a ser respaldado pela comissão. E, com a demora na discussão da questão na CCJ, o Planalto vem se dando conta de que talvez não consiga que a votação no plenário ocorra antes do recesso parlamentar.

Não são dificuldades fortuitas. Decorrem de um processo mais amplo de crescente desalento do Congresso com a capacidade de resistência do presidente às sucessivas denúncias da PGR, em meio a prováveis delações premiadas de figuras que lhe eram muito próximas. Não vendo mais em Temer perspectiva de poder atraente, boa parte da base governista passou a apostar no seu afastamento. Tendo trocado Dilma por Temer, parece cada vez mais propensa a trocar Temer por Rodrigo Maia.

Ainda é cedo para afirmar que o presidente será de fato afastado e interinamente substituído por Rodrigo Maia, até que seja julgado pelo STF. Mas é com este cenário que grande parte do sistema financeiro e do empresariado passou a trabalhar. E, para manter um mínimo de tranquilidade, diante da perspectiva de mais um solavanco político de grandes proporções, o mercado agarra-se agora à narrativa de que a equipe econômica de Temer será integralmente mantida por Rodrigo Maia e que, portanto, a condução da política econômica não será alterada.

Noticiou-se até que, para ser mantido como ministro da Fazenda durante a administração de Rodrigo Maia, Henrique Meirelles exigiria autonomia ainda maior do que já tem, inclusive para escolher a “cúpula do BNDES” (“Folha”, 9/7). Com esse último floreio, a narrativa ofereceria tranquilidade aos que se alarmaram com a dissonância que o novo presidente do BNDES trouxe à condução da política econômica do governo Temer.

Uma das qualidades mais notáveis da atual equipe econômica tem sido sua capacidade de se manter coesa e de agir de forma coordenada, voando em perfeita formação, sem deixar que conflitos internos comprometam a eficácia de sua atuação, diante da enormidade das dificuldades e dos interesses contrariados que vem tendo de enfrentar.

É por isso que tem sido fonte de grande apreensão ter o presidente do BNDES se permitido manter plano de voo próprio, ostensivamente divergente. Seu protagonismo na inconveniente reunião com os governadores no Alvorada, em meados de junho, para discutir a renegociação das dívidas dos estados com o BNDES, já não causara boa impressão.

Mas o que deixou a equipe econômica alarmada foi sua disposição de dar ressonância a críticas especialmente virulentas do esforço de reconstrução do BNDES e reabrir a discussão sobre a substituição da TJLP pela TLP, no momento em que a medida provisória pertinente está tramitando no Congresso.

Há dois dias, contudo, o presidente do BNDES resolveu dar o dito pelo não dito. Declarou-se agora “totalmente vinculado” ao plano de voo da equipe econômica. Mas as acrobacias a que se permitiu nas últimas semanas estão longe de terem sido sem custo. Impuseram à equipe econômica a lamentável perda de dois excelentes diretores do BNDES, Vinicius Carrasco e Claudio Coutinho Mendes.

Certamente, há mais torcida do que análise na convicção do mercado de que, ocorra o que ocorrer no Planalto, a equipe econômica será preservada. Mas não há dúvida de que, para que o país tenha alguma esperança de chegar a bom destino, na difícil travessia até 2018, a equipe econômica terá de ser preservada. Mantê-la íntegra tornou-se crucial. Todo cuidado é pouco.

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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

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