quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Oposição unifica estratégia e decide esvaziar plenário

Sem votos para aceitar denúncia, deputados tentarão evitar quorum

Catarina Alencastro e Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- Após duas reuniões na véspera da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, a oposição resolveu que não entrará no plenário para marcar presença na sessão de hoje e assim prejudicar a estratégia do governo de ter quorum para terminar a votação. Ficou resolvido que pelo menos durante a parte da manhã — a sessão começará às 9h — os deputados oposicionistas não marcarão presença. Além de parlamentares do PT, PSOL, Rede, PCdoB, PDT, PSB e PTdoB, integrantes do PSDB e do PSD também participaram das reuniões e podem aderir à estratégia.

A oposição sabe que não conta com o número de votos para acatar a peça acusatória e lança mão do plano para expor o governo, que, sem os deputados adversários, terá dificuldade em juntar no plenário 342 deputados, quorum necessário para votar o caso.

— Nós não temos os 342 votos de jeito nenhum, mas temos o número para não dar quorum. A gente tem que ter juízo e não dar quorum — disse o deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE).

A ideia é que, após a sessão da manhã, a oposição se reúna novamente na hora do almoço para reavaliar o cenário. Muitos defendem que, caso fique claro que haverá votação, a manobra dos deputados oposicionistas passará a ser a de jogá-la para a noite, quando a maior parte da população está em casa e, portanto, estaria mais disponível para acompanhar a sessão e pressionar os deputados nas redes sociais.

Entre os dissidentes da base aliada que participaram das discussões sobre a obstrução estiveram os deputados Daniel Coelho (PSDB-PE), Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) e Expedito Netto (PSD-RO). O tucano Daniel Coelho disse, no entanto, que o partido não deve embarcar na onda da oposição.

— Não queremos o caos de deixar esse processo sem votar indefinidamente. Nós vamos aparecer para votar. Queremos resolver o assunto o mais rapidamente possível — disse Coelho, que votará a favor da denúncia.

MAIORIA TUCANA CONTRA TEMER
A conta da bancada é que entre 25 e 30 dos 46 deputados tucanos votem contra o governo, ou seja, pela aceitação da denúncia. Os ministros tucanos que são deputados, casos de Bruno Araújo (Cidades) e Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), devem se licenciar dos cargos para votar a favor do governo. Até ontem à noite, 23 tucanos já haviam dito publicamente na enquete do GLOBO que votariam contra o governo, 11 diziam que votariam a favor e 12 continuavam sem declarar.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que houve uma decisão entre os partidos de oposição de atuarem “unificados” e que a oposição vai questionar o rito previsto pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerado apressado.

— Nossa primeira decisão é que vamos trabalhar unificados, porque precisamos ter força nesse processo. Segundo, vamos questionar o rito imposto pelo presidente da Câmara, que não permite debate, nem que a sociedade acompanhe. Precisamos mostrar quem são os cúmplices do Temer — afirmou Jandira.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS), vice-líder da minoria, demonstrou sintonia com essa estratégia. Após a reunião, ele afirmou que a oposição usará todo o tempo necessário para garantir maioria.

— Está crescendo o número de deputados dispostos a votar pelo afastamento de Temer. Já temos maioria, mas ainda não temos segurança dos 342 votos de que precisamos. Vamos usar todo o tempo necessário para garantir maioria e afastar Temer da Presidência, que é a melhor solução para o Brasil neste momento — afirmou.

Em resposta à oposição, Rodrigo Maia disse que cumprira o regimento da Casa e as regras definidas no rito divulgado por ele ainda no recesso. Maia lembrou que a oposição não quis fechar um acordo para a votação da denúncia antes do recesso de julho, insistindo para que ocorresse agora, no dia 2 de agosto.

— Tudo que está no regimento será cumprido. Não acho que é chororô da oposição, eles estão certos. Tentei construir um acordo fora do regimento, mas não foi possível. Se a oposição quisesse ter votado naquela sexta-feira (antes do recesso), talvez tivéssemos dado mais tempo (a eles). Lá atrás, a base tinha interesse em ter um debate maior, mas a oposição disse que não — disse Maia, que acrescentou. — Sou de um partido da base, aliado do presidente Michel Temer, mas sou presidente da Câmara e vou respeitar o regimento. Vai votar amanhã, tenho esperança.

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