quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Opostos e descombinados | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

A “guerra fria” travada nos bastidores do PSDB entre Geraldo Alckmin e João Doria Jr. pela candidatura à Presidência em 2018 está cada dia mais difícil de disfarçar com juras de lealdade e vídeos cordiais.

O tom com que aliados do governador se referem à movimentação do prefeito já não tem a condescendência de quem vê um filho rebelde ameaçar deixar o ninho, mas a de quem assiste a um ex-pupilo dar passos indisfarçados para tentar superar o criador.

Alckmistas reagiram com indignação à veiculação de enquetes feitas pela internet que mostrariam o crescimento de Doria sobre o governador. Apontam a falta de rigor científico dos levantamentos e veem sua mera realização como arma de campanha do prefeito.

Não por acaso, os conselheiros de Doria trabalham justamente para que seja essa vantagem nas pesquisas o fator a definir o candidato, e não as prévias defendidas por Alckmin.

Justamente por isso o prefeito da capital passou a defender a antecipação da escolha da nova direção nacional do PSDB. Sua ideia é desvincular a convenção do partido da tal prévia. Com uma nova cúpula escolhida em outubro, os defensores da candidatura Doria imaginam que poderão ter mais voz e, consequentemente, empurrar a decisão sobre prévias para 2018. Até lá, o cálculo é que Doria teria tempo de se tornar conhecido nacionalmente e escalar nos levantamentos de intenções de votos.

Numa reação à sanha do ex-afilhado, Alckmin passou a propagar que na eleição do ano que vem o principal atributo será experiência. Paralelamente, tem procurado a “velha guarda” da sigla em São Paulo para tentar obter apoio: esteve com José Serra, José Aníbal e outros “cabeças brancas” nas últimas semanas.

Já Doria incentiva a ascensão da ala jovem do partido, embarcando aliados seus no MBL (Movimento Brasil Livre), incentivando maior presença de jovens prefeitos na Executiva e a renovação dos diretórios municipais e estaduais.

Os movimentos de ambos, em tudo opostos e “descombinados”, mostram que a disputa pode até não se concretizar mais adiante, mas, hoje, está a todo vapor no interior do já conturbado ninho tucano.

E os supostos acenos de outros partidos a um ou outro tucano? Por ora, funcionam apenas como combustível dessa guerra fria. Nenhum dos dois vê como alternativa concreta, hoje, migrar do planeta (PSDB) para o satélite (DEM), o que implicaria perda de capilaridade, fundo partidário e tempo de TV, além de, para ser viável, depender da ainda improvável propensão real do DEM de alçar voo próprio pela primeira vez numa disputa presidencial. Ir para o PMDB, atingido pela Lava Jato e com Michel Temer a bordo, também não é o ideal. Blefam todos porque o blefe ajuda todos a parecerem estar por cima da carne seca.

CONTRA-ATAQUE
Tasso reagiu para mostrar que não é ‘rainha da Inglaterra’

Depois de aguardar calado e deixar que apenas aliados como os senadores Ricardo Ferraço e Cassio Cunha Lima o defendessem, Tasso Jereissati resolveu contra-atacar os ataques da ala governista do PSDB por duas razões: deixar claro que não é “rainha da Inglaterra” no cargo, apenas acatando ordem de Aécio Neves, e por saber que seria um desgaste para o mineiro reassumir “na marra” para designar outro interino.

PIOR QUE O SONETO
Mercado teme reforma da Previdência ‘meia sola’

Setores do mercado financeiro já avaliam em suas análises de conjuntura que uma reforma da Previdência apenas para o governo Michel Temer “cumprir tabela” e dizer que aprovou alguma mudança, mas que dilua muito as regras de transição, aprove uma idade mínima de aposentadoria entre 60 e 62 anos e jogue para a frente a necessidade de nova mudança pode ser pior que não aprovar mexida nenhuma. Isso porque, avaliam os analistas, o Congresso dificilmente encararia o desgaste de fazer toda essa discussão de novo em 2019, e a reforma “tampão” poderia virar definitiva.

NO BANCO
Bernardinho descarta Planalto, e pode sair só ao Senado

Passada a euforia inicial da filiação de Bernardinho ao Partido Novo, o próprio ex-técnico da seleção de vôlei já descarta a ideia de se lançar à Presidência. Pode ser candidato ao governo do Rio, mas integrantes da nova sigla avaliam que a possibilidade mais realista é elegê-lo senador pelo Estado.

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