sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Desemprego cai para 12,8%

Por causa do aumento de vagas de trabalho informal, a taxa de desemprego caiu a 12,8% no trimestre encerrado em julho. Analistas preveem recuo para 12% no fim do ano.

Puxado pelo trabalho informal, desemprego cai para 12,8%

Resultado surpreende, e analistas já veem índice a 12% no fim do ano

Marcello Corrêa | O Globo

O mercado de trabalho está se recuperando de forma mais rápida do que o inicialmente esperado por analistas, ainda que essa retomada seja puxada pela informalidade. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, a taxa de desemprego caiu para 12,8% no trimestre encerrado em julho — atingindo 13,3 milhões de pessoas —, abaixo da projeção do mercado. A surpresa positiva provocou uma série de revisões para baixo nas previsões, e alguns analistas já esperam que a taxa fique na casa dos 12% no fim de 2017. Um número ainda alto, mas um alívio para o país que viu o índice chegar a 13,7% no primeiro trimestre. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal.

A melhora da taxa é explicada pelo aumento do número de brasileiros com algum tipo de trabalho. Na comparação entre julho e abril — o último mês estatisticamente comparável, segundo o IBGE —, 1,4 milhão de brasileiros ingressaram no grupo dos ocupados, que já soma 90,7 milhões de trabalhadores. Isso significa uma alta de 1,6%, a maior nesse tipo de comparação desde junho de 2012, início da série histórica da pesquisa. Em relação ao mesmo período de 2016, a alta de 0,2% é a primeira desde agosto de 2015.

Se os números são positivos, o perfil das vagas geradas mostra um mercado de trabalho ainda fragilizado, marcado pela informalidade. A recuperação em julho foi puxada principalmente por três segmentos: trabalho sem carteira, por conta própria e contratações no setor público. As vagas geradas nesses três setores representaram 86,3% do aumento de 1,4 milhão no contingente de pessoas ocupadas.

FORMAIS: MENOS 1 MILHÃO
A maior contribuição foi do emprego sem carteira, que registrou crescimento trimestral de 4,6%, o que representa um acréscimo de 468 mil trabalhadores nessa categoria, para 10,7 milhões de pessoas. Na comparação anual, a alta é ainda maior, de 566 mil. O crescimento no trimestre foi favorecido ainda pelo acréscimo de 423 mil trabalhadores no serviço público, movimento puxado por contratações municipais, depois de um ano eleitoral, segundo o IBGE.


Enquanto isso, o país perdeu um milhão de trabalhadores com carteira desde julho de 2016. Na avaliação de Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, o dado é preocupante:

— Existe, sem dúvida, uma recuperação acontecendo, só que essa recuperação se forma sobre uma plataforma de emprego e trabalho informal. Temos hoje, no Brasil, um processo de recuperação em termos quantitativos, mas a qualidade é questionável. Isso, a longo prazo, tem um efeito para a Previdência.

Para Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, o movimento é normal em momento de saída da crise:

— O emprego informal tende a reagir de forma mais rápida à melhora da atividade econômica. O aumento da ocupação informal pode ser um prenúncio do caminho de melhora da dinâmica do mercado de trabalho.

Com a ressalva sobre esse perfil precário da retomada, a recuperação mais rápida que o esperado é vista com otimismo por analistas. Xavier, da Tendências, é um dos que vão revisar para baixo sua projeção para o fim do ano para próximo de 12%.

Bruno Ottoni, economista do Ibre/FGV, também deve mudar seus cálculos. Antes da divulgação de ontem, ele esperava que o desemprego encerrasse o terceiro trimestre em 12,8%, número alcançado já em julho. Agora, estima que possa chegar ao fim do ano entre 12% e 11,9%:

— Estamos numa trajetória de recuperação lenta e gradual da economia. Em geral, o emprego informal é mais difícil de ser projetado. O emprego formal segue mais de perto a atividade econômica.

O especialista alerta, no entanto, que a taxa de desemprego deve voltar a subir no início do ano que vem, por causa do movimento tradicional de dispensa de temporários contratados no fim do ano, o que não deve mudar a leitura de melhora gradual do mercado de trabalho.

André Garmerman, economista da Opus Gestão de Recursos, usa outra medida para estimar o ritmo da retomada: a diferença entre taxas de desemprego no período de um ano. Em julho, o indicador estava 1,2 ponto percentual maior que no mesmo mês de 2016. Em janeiro, essa diferença anual era de 3,1 pontos. No início de 2017, o analista estimava que a taxa de desemprego só começaria a cair no último trimestre do ano, estabilizando-se em 13%. Agora, ele também acredita que o número fique perto dos 12%:

— Parece difícil que a taxa volte a subir nos próximos meses. Tudo indica que o pior já passou, e mais rapidamente do que a maioria das pessoas esperava.

Em relatório, a Rosenberg Associados também estima taxa menor. A consultoria prevê desemprego em 12,4% no fim deste ano: “Para 2018, a perspectiva é de continuidade da melhora, com a taxa rumando a 11,6% na média do ano”, diz.

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